A METAFÍSICA DE ARISTÓTELES

 

Luiz Tiago Vieira Santos[1]

 

 

Em Metafísica, mais precisamente no Livro I (A), Aristóteles propõe uma discussão acerca do conhecimento humano. Para tanto, faz uma série de análises dialéticas acerca do projeto filosófico dos seus principais predecessores, dos pré-socráticos a Platão. Inicia sua obra discorrendo sobre a essência do conhecimento, evidenciando como característica inerente à condição humana o desejo natural pelo conhecimento.

O autor enfatiza, sobremaneira, as sensações por intermédio dos sentidos, privilegiando a visão em detrimento dos outros e corrobora que, mesmo sendo despretensiosas de qualquer utilidade, as sensações nos agradam. Ao privilegiar a visão, Aristóteles mostra que a visão atua, dentre todos os sentidos, como aquele que melhor permite perceber as diferenças entre as coisas, facilitando-lhes assim o seu conhecimento.

Em seguida afirma que a sensação gera memória e que esta estabelece uma relação direta com a capacidade de aprender, pois dela desdobra-se a experiência. Especifica, então, os graus básicos do conhecimento, a saber: sensação, memória, experiência, arte e ciência. Sendo esta e a arte, decorrentes da experiência. Para ele, a experiência é o conhecimento dos singulares, já a arte dos universais. Aos dominadores da arte, por possuírem a teoria e o conhecimento das causas, lhes são facultados a capacidade de ensinar.

A Filosofia, para Aristóteles, ciência e último grau do conhecimento, é o maior estágio do conhecimento dentre os anteriormente citados e caracteriza-se como o saber por excelência e se configura como essencialmente livre, pois procura a priori determinar não só “o quê”, mas também “o porquê” das coisas, isto é, as causas primeiras de todas as coisas. Destaca, pois, a capacidade de admiração como intrínseca ao filósofo que, através dela, foi motivado a filosofar diante dos problemas existenciais da vida.

Aristóteles utiliza o conceito de causa em quatro sentidos bem distintos: material, concernente ao substrato; formal, relativo à forma; eficiente, princípio do movimento produtor do ser; e final, que pode ser caracterizada como a razão de ser do objeto.

Ao realizar suas análises acerca das teses de seus antecessores, buscando verificar se seus argumentos se sustentam, percebe que nenhum deles conseguiu englobar as quatro causas simultaneamente. Dessa forma, o autor afirma que os principais grupos de filósofos, em suas determinadas épocas, privilegiaram somente uma ou duas causas, como é o caso de alguns dos Filósofos Pré-socráticos, que determinavam a causa de todas as coisas à matéria e, portanto, delimitaram apenas o aspecto de causa material.

Como exemplo, cita o pensamento de Tales de Mileto, com a teoria de que a matéria constituinte de todas as coisas é a água; Anaxímenes e Diógenes, o ar, como anterior a água e princípio por excelência; Hípaso e Heráclito de Éfeso, o fogo; Empédocles (primeiro a reconhecer duas causas a material e a eficiente), a junção destes elementos descritos com a terra, adicionado por ele e formando quatro elementos constituintes de todas as coisas; Anaxágoras, com a ideia de que os princípios são infinitos, baseando-se ainda nos elementos; Parmênides, reconhecendo não apenas uma causa, mas sim duas, além da material, a eficiente. Este último, juntamente como Hesíodo, propunham a presença do amor ou do desejo como a causa ou princípio de movimento e ordem às coisas; Leucipo e Demócrito, com a atomística, reconhecem apenas como elementos o pleno (átomo) e o vazio e que a diferença entre as coisas ocorre pela ordem diversa de suas partes e pela densidade.

Mais adiante, o autor afirma que, antes dos atomistas, os pitagóricos elencaram os princípios matemáticos como as causas de todos os seres, sobretudo, destaca dois princípios: o finito, o infinito e o uno, sendo a junção dos dois últimos a própria substancia das coisas. Aristóteles teceu várias críticas aos pitagóricos, afirmando suas definições serem demasiadamente simples e superficiais.

Por fim, o autor confronta a teoria das ideias de Platão. Segundo esse filósofo, de caráter inatista, é das ideias que as coisas recebem ou percebem suas formas, julgando assim, que a constituição de todos os seres partiria das ideias. Ainda, de acordo com Platão, que concebe dois mundos: inteligível e o sensível, sendo este o das coisas concretas e, aquele, o de suas causas, a origem das ideias se dá no inteligível. Entretanto, despreza a experiência, esta somente servindo para nos lembrar das ideias já concebidas no mundo inteligível. Logo, analisando sob esse aspecto dualístico, é evidente que Platão privilegia apenas as causas formal e material.

Aristóteles, por sua vez, empirista, refuta a teoria das ideias, repleta de fundamentos matemáticos que prescindem de experiência, e que, para ele, não explica claramente o mundo real. Ao contrário de Platão, ele defende que a origem das ideias decorre da observação, diga-se experiência. Na concepção de Aristotélica, a teoria Platônica não permite o acréscimo de novas ideias no inteligível, uma vez que estas, segundo Platão, são inatas. Entretanto, para Aristóteles, através da experiência, a introdução de novas idéias é perfeitamente possível, pois estas se geram da própria experiência no mundo sensível. Para o autor, é inconcebível conhecer as coisas concretas apenas no mundo das idéias, desprezando a experiência. Destarte, desmonta a teoria platônica das idéias de seu mestre.

REFERÊNCIAS

ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução de Vincenzo Cocco e notas de Joaquim Carvalho. São Paulo: Abril Cultural, 1973 (Coleção “Os Pensadores”).



[1] Possui LICENCIATURA PLENA EM CIÊNCIAS NATURAIS pela UNIVERSIDADE TIRADENTES UNIT (2009), com experiência docente na Educação Básica (Ensino Fundamental e Médio) nas disciplinas Ciências e Biologia respectivamente e na Educação Técnica (área da saúde) na disciplina Microbiologia e Parasitologia Humanas. Atualmente é graduando do BACHARELADO EM DIREITO pela UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE - UFS