A mentira começa como que não querendo nada. E num crescendo, vai fazendo de quem a diz, alguém preso para sempre em suas armadilhas, alguém que não pode nunca, nunca abaixar a guarda. O descuido é seu inimigo mortal. Ela começa pequena e se aceita, vai passando por muitas fases, até que dela não se tenha mais o controle. De controlada passa à controladora. Domina pensamentos, posturas e atos. Direciona olhares, gestos, tons de voz e assim dá-se a conhecer. E só o outro a percebe. Quem a diz pensa a todos enganar e com o tempo passa a enganar-se, tendo certeza de dizer a verdade mais pura, mesmo não sendo verdade o que pensa saber. E assim segue o seu caminho, sem poder voltar atrás de tantas palavras "mal ditas", que dele fizeram um enganador de si mesmo. Boicota-se, sem ir a lugar nenhum.
O mentiroso menospreza aquele a quem dirige sua palavra, tenta subestimar a inteligência do outro, mas escorrega sempre em seus gestuais tão claros, para quem tem sensibilidade para entendê-los. E são tantos que a têm.
Uma mentira leva a outras dez e para mantê-las, precisa-se, para cada uma, de mais dez... E assim a bola de neve por elas formada, aumenta de tal forma, que se torna impossível voltar atrás para saber como tudo começou e o porquê.
E aí... A vida passa a ser de eterna vigilância, de insegurança ao menor sinal. E a tranquilidade... A tranquilidade passa ao longe, a perder de vista.

Heloisa/2010