A mente como um livro em branco e o processo de construção dos preconceitos - Richard Batista Silveira 

É convencionado que nós seres humanos não nascemos prontos, somos imperfeitamente inacabados em essência e perspectivas. Não temos a “vocação” objetiva como de fatos os objetos, um fogão e uma geladeira nascem prontos, não existe um processo de aperfeiçoamento gradual para torna-los um fogão melhor, ou uma geladeira maior, muito pelo contrário, o processo temporal só exerce a função de depreciação, de tal forma que uma geladeira e um fogão são concebidos – fabricados – novos e passam por um processo de deterioração – envelhecimento – até o momento que não cumprem mais sua funcionalidade e deixam de possuir determinada serventia.

O ser humano por sua vez não é concebido “pronto”, ao contrário, nós passamos por um longo processo de formação político, educativo e social. Aprendemos a conviver em família e a desenvolver determinadas especialidades que serão aceitas ou reprovadas em sociedade. Sociedade que, por sua vez, que possui determinadas convenções acerca das formas aceitáveis ou não de convivência, tais instituições possuem o poder de construir e desconstruir nosso ser – O “quê” da questão encontra-se na construção de pré-conceitos e da arrogância humano, pois, os indivíduos arrogantes desenvolvem a capacidade de acreditar que estão prontos, que não precisam mais aprender.

É no meio dessa arrogância e pré-conceitos formulados pelo indivíduo que se considera socialmente “pronto” afirmando-se nas convenções e discursos pré-concebidos que beiram o dogmatismo, que nascem os processos de violência física e psicológica vivenciada pelos coletivos de minorias na atualidade. Quantas vezes fundamentalistas religiosos não consideram homossexuais “pecadores inveterados” pelo simples fato de repetirem inúmeras vezes que “Deus criou o homem e a mulher para um completar o outro.” Ou de forma mais satírica, porém não menos preconceituosa: “Se Deus quisesse que homem casasse com homem, teria criado Adão e ‘Ivo’”.

Também vítimas do processo de preconceito e do racismo velado nos discursos da sociedade brasileira está os negros e não distante dessa realidade os adeptos das religiões de matriz Africanas, que são perseguidos constantemente sob o julgo de participarem de seitas voltadas ao satanismo – entretanto, basta uma breve pesquisa em obras dos mais diversos antropólogos para compreendermos melhor a dinâmica e os dogmas das religiões de matriz Africana e como fruto do processo de construção de conhecimento: A quebra dos paradigmas dos conceitos erroneamente pré-estabelecidos.

Diante do exposto, podemos notar que além do processo educacional, os discursos convencionados pelas famílias e pelos grupos sociais (Igreja e trabalho) fazem parte de nossa formação intelectual ao passo de tornarmo-nos repetidores de tais discursos, e alguns devido ao erro das convicções tornam-se ícones da representação desses discursos, pois não muito distante de nossas realidades “surgem” sujeitos que defendem tais convicções ao passo de desrespeitar e agredir a individualidade de outros coletivos.

Pelo pressuposto de que nascemos como um “livro em branco”, e que vamos adquirindo conhecimentos e formulando nossa personalidade durante toda a vida, e que por mais “Velho” – no contexto temporal – que sejamos ainda não podemos nos considerar “prontos”, pois enquanto houver pulso vital haverá capacidade de aprender algo, construir e descontruir determinados conceitos. A compreensão desse fato é essencial para a nossa compreensão de mundo e construção de uma sociedade que preza a dignidade da pessoa humana, enquanto não nos vermos mergulhados em uma educação libertadora e autônoma (que nos faça refletir sobre nossa realidade, levando em consideração nosso cotidiano e nos proporcione a capacidade de gerar nossas próprias conclusões de determinado fato) continuaremos a repetir discursos intolerantes e difundir em forma de piadas (de péssimo gosto) preconceitos, racismos, xenofobia e homofobia, demonstrando que, por trás de cada uma dessas piadas existe uma realidade violenta de uma educação acidentada.