Existiria um aspecto essencial da educação grega que norteasse a formação humana? Segundo os textos antigos o estado do homem que alcança a virtude é a Paidéia, ou seja, é a formação total tanto no sentido físico como no espiritual. Uma formação que não visa um fim específico, mas que percorre o tempo se tornando uma matriz que até hoje serve como base para os cursos de humanas. Tanto que o próprio Platão também afirmava que a essência de toda verdadeira Paidéia é que o homem deseje se tornar um cidadão perfeito.
Esse então seria o processo educativo Paidéia. Mas como essa idéia só aparece no séc. V a. C. a melhor maneira para encontrarmos um veio principal, ou, um eixo fundante dentro da dinâmica da educação grega analizaremos um outro conceito identificado como Areté. Palavra esta que trata do cultivo de algumas virtudes humanas tendo em vista um tipo humano idealizado, que oferece um modelo de homem que visa como fim a formação de um ser humano de valor. De maneira que, se aproximando ou se afastando desse ideal se faz com que um homem seja entendido como melhor ou pior.
Quando observamos os pais valorizando uma ação diante dos filhos, eles estão se pautando em um comportamento adequado para censurar outro, ou mesmo estão procurando criar nos filhos um juízo de valor, construindo assim um arquétipo.
A história da educação da educação grega se inicia com a elaboração de um modelo humano de herói, muito presente nas obras de Homero. Por isso é que se pode afirmar que primeiramente a poesia e o mito foram a fonte educadora, se tornando de suma importância para a formação e a valorização das virtudes heróicas.

"Uma educação consciente pode até mudar a natureza física do homem e suas qualidades, elevando-lhe a capacidade a um nível superior. Mas o espírito humano conduz progressivamente a uma descoberta de si próprio e cria, pelo conhecimento do mundo exterior e interior formas melhores de existência humana." ( JAEGER, p. 3, 1995)

Homero também é considerado por isso interprete e fomentador da cultura grega, delineando o imaginário dos gregos. Tanto que na Ilíada o grande herói da obra é um homem corajoso, que enfrenta o perigo sem se furtar às suas obrigações de nobreza.
Outro modelo é Ulisses que tem a astúcia e a sagacidade como elementos característicos, enfrentando o inimigo por sua capacidade de raciocínio, ligado à métis, sendo a capacidade de elaborar saídas. Este último é muitas vezes julgado como sofista e por isso colocado como corruptor, num segundo escalão de anti-herói.
Vemos aqui que o mundo Homérico celebra as lutas dos heróis, expressos em valores por seus feitos, ou seja, é um mundo pautado nas ações. Portanto, para esta sociedade o que importa é a atitude, de forma que o homem se destaca por aquilo que faz, onde o importante é a obra do homem, ainda que esta não seja necessariamente tão grande no sentido moral. O que vale então é o homem capaz de realizar ações memoráveis.
O conceito de Areté está associado à palavra virtude, ainda que esta não seja apropriada para traduzir de forma fiel o conceito, pois virtude está também ligada a uma idéia moral, enquanto que Areté não. Porém ligada à cultura latina, quando se refere a um homem definindo-o como virtuoso, se quer dizer que o mesmo corresponde ao que se espera dele. Assim, Areté é entendida como potência, força, capacidade de ação que leva à eficiência.
Dentro do universo homérico a virtude é um atributo próprio da nobreza. Na cultura grega antiga somente o homem de família nobre é que podia ser capaz de grandes realizações, isso porque o mesmo tinha antepassados ligados aos deuses, descendência por sangue, por isso já nasce herói.
Outro motivo é que só os nobres tinham tempo para o ócio ( ecolé), tempo para o estudo, para a criatividade. No entanto, o fato de se ter nascido nobre não garantiria o postulado de herói, era preciso que se confirmasse isso por ações.
Quando se diz que o homem é ágatos não significa que esteja isento de sentimentos maus, mas que tem capacidade de grandes ações.
O conceito do herói é uma das grandes dificuldades da cultura antiga, pois o impasse está nas leis que determinam sua valoração. É o incrível da ação que leva a espécie humana a outro patamar, como, por exemplo, pode ser observado nas competições olímpicas, onde o atleta se mostra heróico por sua capacidade de suportar sacrifícios para realizar proezas.
A música entre os gregos, tanto no canto como nos versos, estrutura a razão simbólica proposta pelos mitos à cerca da heroicidade, fazendo com que a eleição daquele homem excelente tenha necessariamente de passar pelo crivo da beleza, ou seja, não basta realizar obras e proferir palavras, estas têm de possuir beleza. Nota-se aqui, que o princípio da excelência e da virtude gregas não está tão ligado à moral, mas a uma natureza estética.
Este princípio pode ser resumido da seguinte forma: Não fazer nada que não possa ser considerado belo.
Não é de forma alguma um juízo pessoal, mas coletivo. O que quer dizer que é a sociedade que reconhece o valor do homem através dos seus feitos, pois, para a cultura grega antiga, quem estima a si próprio deve ser desprezível perante seus pares. Essa era a essência do conceito de formação humana para os gregos antigos. O sujeito não é educado para ter boa vida, nem para ser um homem no sentido religioso, mas para ser um grande homem, ainda que para isso o mesmo tenha que ter uma vida difícil. Isto é, educar para ser uma pessoa no máximo grau possível.
O que mais importa ao grego é que seu nome seja reconhecido, pois para o grego o nome é tudo, de forma que os mesmos zelavam por ele ? o nome.
Aqui cabe falarmos sobre o Kleos (a fama), que diz do sujeito, segundo os gregos de então, o que realmente ele é, pois o reconhecimento como dissemos, é o que confere a própria consciência de sua grandiosidade. Contudo não basta a intenção, mas o êxito final. Essa é de fato uma mentalidade competitiva.
Assim, ao mesmo tempo que se tem uma educação que impulsiona o homem a ser melhor e se superar, se afirma que o homem que se compara aos deuses merece punição. De forma que esse impasse só é superado na sociedade arcaica.
Que virtudes então deve se dotar a criança e o jovem para que se torne de fato humana, cidadã? No caso da educação no Brasil esta é uma questão que ainda não encontrou resposta definitiva, principalmente com relação ao ensino público.
Apesar das diretrizes do MEC, existe a falta de um plano eficiente de atuação, específico e que valorize o magistério no Brasil, pois hoje se observa que para o professor só é destinada a responsabilidade de exercer a função, de educar a qualquer custo e de recolher material mais realista para ministrar as aulas.
O governo tem trabalhado para reverter a situação fazendo a maior compra de livros do mundo, disponibilizando livros para todos os professores da rede pública. Mas outra necessidade é a de ampliar os salários e as vagas para professores, buscando equacionar o problema.
Mas qual seria a maneira ideal de se melhorar o ensino público no contexto escolar? Qual seria a resposta? Qual a verdadeira identidade do ensino hoje diante desta problemática?
Como fazer? Como equacionar o ensino com a falta de estrutura?
O docente terá que assumir um certo posicionamento, tendo claro o sentido do que seja o magistério, e para isso caberá uma coerência que garanta um trabalho visando à ligação entre as etapas do curso. Por isso cabe aqui se assumir uma postura, sabendo o porquê, o como, e o para que do ensino e da atividade dentro de sala de aula que provoque o "espanto" como na filosofia, ou seja, a sensibilidade que conduz as experiências próprias de cada contexto em que se está inserido e os temas que nos provoquem.
A realidade presente no entorno da comunidade escolar demanda propostas tangíveis para o enfrentamento das experiências políticas, culturais e topológicas, que reivindicam as respostas da atividade escolar, indicando um lugar de tensão, onde se arrastam as demandas sociais, longe de serem temas puramente teóricos, fazendo com que o ensino seja marcado pela preparação para a vida, tanto no que tange a questão humanística, quanto do ensino mais técnico, voltado ao mercado de trabalho.
É possível assim manter o ensino pela realidade bruta e escancarada que nos salta aos olhos, principalmente nos lugares onde se evidencia a diferença social.
O que se espera então do ensino público?
Garantir a diversidade cultural
Política curricular, fruto da experiência cultural, ou seja, brotando da própria experiência particular onde se tange o singular.
A multiplicidade de perspectivas próprias do ensino público como riqueza diante da unilateralidade.
As demandas sociais requerem uma atitude crítica, reflexiva, própria, que possa ser incentivada no ensino público, mediante uma pesquisa científica ética, ligada à prática política e aos meios de comunicação para fazer frente ao quotidiano da comunidade.
Deve se garantir uma formação ética, intelectual, para o desenvolvimento da cidadania. Isso nos permite retornar nesta questão para a convivência política, unitária, marcada por uma série de interesses, mediante, é claro, uma postura compromissada com a realidade.
Mas qual seria esta cidadania? Tradicionalmente se entenderia isso por inserir o aluno ao mundo do trabalho, regido pela lógica do capitalismo, estando os demais (aqueles desprovidos de oportunidade) fadados ao isolamento, não estando eles contados entre os "produtivos". Por isso, o reconhecimento do ambiente de tensão na comunidade inclui diferentes concepções de experiência de cidadania. Assim, a idéia de cidadania poderia ser concebida de maneira politicamente incorreta, diante de uma realidade que pudesse ser injusta e ao mesmo tempo legal.

Neste contexto da história real, a educação é interpelada pela dura determinação dessa realidade, no que diz respeito às condições objetivas da existência. Numa profunda inserção histórico-social, a educação é serva da história. Aqui se paga tributo a nossa condição existencial de seres encarnados e, como tais, profundamente predeterminados. (SEVERINO, P.21, 2010)


Existe realmente um atraso no ensino público, pois o mesmo ficou por muito tempo a quem da realidade do povo, gerando uma falta de material e subsídios específicos que fornecessem real ligação para com a sociedade atual.
Como então se daria o ensino na rede pública? Pergunta que não cessa de ser apresentada pela demanda que se nos coloca à frente.
Primeiramente uma formação adequada de professores
Pesquisa de qualidade no que tange o ensino, pois os que já existem estão de tal forma desatualizados devido à realidade atual.
No entanto, não é suficiente estar munido de esquemas e recursos didáticos, mas sim ter um conteúdo apropriado para o ensino. Isso para que o método não permita bloquear a prática do aprender. Buscando dessa forma provocar o prazer do enfrentamento das condições históricas mediante o pensar.
Quanto à identidade do Ensino Público, qual seria o elemento que faria com que o mesmo possa ser reconhecido? Diante dos diferentes modos com os quais se pode ensinar, o elemento principal é o "estudo especulativo", ou seja, seria um debruçar-se sobre o que já foi dito, decidido. Procurando explicações ou mesmo novas propostas para a análise dos problemas já apresentados. Uma reflexão feita com rigor, persistência diante do enfrentamento com os problemas reais, buscando um rumo firme e objetivo do que seria o ensino em si. Esse "estudo especulativo" não é apenas uma atividade racional da realidade, mas que é feita de modo inteiro, como um todo, em conjunto com todas as matérias ministradas. Assim, é necessário que se tenha conhecimentos específicos para que a atividade de ensino faça sentido para o aprendiz. De maneira que, sem isso, não haveria significado para o ensino, ou seja, esta atividade deve ser marcada pela utilidade real de interesse pelo conhecimento e sua transmissão.
Os objetivos do ensino estão intimamente ligados às articulações entre as disciplinas, que por sua vez são mais duradouras por darem sentido às coisas e às realidades, por estarem intrinsecamente ligadas à vida, geradas sim pelo "espanto" como se diz na filosofia, que em si carrega a provocação para a reflexão, onde o observador acaba por se tornar sujeito do começo ao fim de todo posicionamento tomado diante de uma experiência. Por isso cabe aqui salientar a responsabilidade do docente em estimular a descoberta e o aprofundamento do aluno no universo acadêmico, crítico-reflexivo, que o leva a auto-formação do censo crítico, constituindo um sujeito autônomo, alguém capaz de conduzir-se a si mesmo, que simplesmente depende apenas de um primeiro auxilio do docente para que o aluno possa estabelecer o diálogo entre suas apreensões e inquietações diante da realidade em seu entorno.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
JAEGER, W. ? Paidéia, A Formação do Homem Grego, Tradução Artut M. Parreira, Martins Fontes, São Paulo, 1995.
SEVERINO, Antônio Joaquim - Formação política do adolescente no ensino médio: a contribuição da Filosofia. Pro-Prosições, Campinas, v. 21, n. 1, abr. 2010.