Abandonada no fundo da prateleira mais alta do armário embutido e toda empoeirada, a máquina de escrever se lamentava consigo mesma:

- "Eu acho que isso que fizeram comigo é uma grande ingratidão ... Afinal de contas eu sempre trabalhei duro e nunca reclamei de nada ... Sempre fiz o meu trabalho bem feito, limpo e organizado ... Sem rasuras e sem embolar o papel ... E também sempre aproveitei a fita ao máximo ... Só porque eu fiquei mais velha e porque apareceu uma máquina mais moderna chamada computador ?... Mas ela também vai envelhecer um dia e ficará desatualizada também !... E o que será então que vão fazer com ela ? ... Vão aposentá-la também ?" ...
E foi então, quando ela estava pensando assim, que ela ouviu um barulho como se fosse alguém arrastando uma escada e subindo nos seus degráus à procura dela ... E ela estava certa !... Era um menino que estava procurando a máquina de escrever para treinar nela e aprender a digitar no seu teclado ...

Êle a encontrou, tirou-a lá de cima do armário e deu uma limpeza geral nela, que até ficou parecendo uma máquina nova e, então, começou a exercitar-se nela ...  

E foi então que o computador, que estava todo prosa e achando-se o tal pelo fato da máquina de escrever ter sido trocada por êle,  fez o seguinte raciocínio:

- "Mas espera aí ! ... Se quando eu fui inventado aposentaram a máquina de escrever, chegará também um dia em que inventarão alguma coisa mais moderna do que eu e me aposentarão também, não é ?"  ...
E foi pensando assim que êle fez a seguinte reflexão:

- "Nesse mundo é tudo passageiro: o tempo, os dias, os meses, os anos, as estações, todas as coisas ... e as pessoas também ... Tudo é passageiro ... Tudo é transitório ... E em mim só o que não passa são as lembranças dela, que se renovam em mim todos os dias, pois que eu ainda  a amo" ...