A longa fila

 Eu olho para você e fico observando, prestando atenção ao que você está fazendo, como está agindo em relação à vida, às pessoas. Analiso, julgo, comento, sem sequer pensar se estou certa ou errada. Só vejo você errando. Agindo como não devia agir. E eu... Eu sequer percebo que você é o meu espelho e é a mim que vejo... E não me dou conta de que muitas pessoas fazem o mesmo em relação a mim.                                                                                     É uma fila interminável de curiosos, de maledicentes, de pessoas que preferem enxergar o problema do outro a ver o seu... Como eu... A ver o seu, que é tão grande, tão difícil de resolver... Tão doído de ver...                                                                                                      E pensa e julga que é tão mais fácil, que é tão melhor cuidar do problema do outro, poder falar o que pensa em qualquer lugar, falar a vontade, com quem quiser. Falar, falar mesmo, sem medir as palavras, falar alto e depois correr a esconder a cabeça na areia... Para que ninguém veja, para que ninguém tome conhecimento de nada do que é seu...  Só seu.                                                          Seu, até que surja alguém que dele fale a quem quiser ouvir, aos quatro ventos...  Que espalhe pelo mundo, que jogue na lama, sem se importar com nada, com ninguém. É a lei do Talião.                   Aí... Aí vem o sofrimento, a dor, a amargura, por tamanha injustiça cometida relação à sua pessoa, que é tão humana, tão boa, que só quer colaborar e ninguém entende... E que quando observa... Só tem a intenção de ajudar... Incompreendida que é... Pobre coitada... Que quando fala...  Fala sempre visando o bem... Para não ser como os outros... Tão maledicentes... Mas para ser o diferencial... Aquele ser maravilhoso, perfeito, como todos nos julgamos ser e que infelizmente o julgamento é só nosso.

Heloisa