“Manual para aprender a entender o discurso dos políticos”

                                         Djalmira de Sá Almeida[1]

Ultimamente, a tendência tem sido globalizar: globalizar a economia, globalizar a educação, globalizar a saúde, globalizar a floresta, globalizar a vida e, dentro desta, as ações, globalizar a política e o direito, principalmente, o direito à corrupção. Com essa crônica pretende-se defender os corruptos da lógica globalizada, pois esses são severamente criticados, esculachados, sem nenhuma piedade, pelos magos da moralidade e bons costumes, pelos intelectuais das CPIs, pelo povo e, especialmente, pela imprensa. Estou me referindo à crueldade que está sendo praticada contra os nossos representantes, nos três poderes: legislativo, executivo e judiciário. Em síntese, costumam-se classificar todos eles, erroneamente, como classe política, o que nó mínimo é exagero, é radicalizar na globalização, pois considero que eles são autênticos, diga-se de passagem, eles cumprem realmente seus propósitos e lutam fielmente pelos seus interesses e pelos interesses  daqueles que estão de fato representando.

Em primeiro lugar, peço, encarecidamente, ao povo, categoria da qual, às vezes, faço parte, que seja compreensivo, aprenda a entender o discurso das autoridades, seja oral seja escrito. Isto porque, existe uma lógica interna na essência da sua mensagem, uma lógica naturalmente globalizada na cabeça delas, que não é facilmente percebida pelo cidadão comum, esse sim que não tem conhecimento semiótico dos elementos significativos dessa linguagem. Enfim, aprendam comigo a entender o discurso dos políticos, aqui se entendendo como ‘políticos’ todos os que fazem algo em prol de algo ou alguém. Sem querer ser prolixa, afirmo que a classe política tem sido alvo de injustiças, maledicências e ingratidões de toda natureza. Pouca gente tem se mostrado com paciência e condições psicológicas e sociológicas para entender o discurso dos políticos que elegem para lhes representar,quando não o julgam de corruptos, mentirosos, safados e enganadores. Eles não são nada disso. Um exemplo é que, cada vez que elegemos um cidadão para alguma situação importante, tudo muda em volta porque a vida dele muda. E vai dizer que não!

Quero aqui lançar o meu protesto em defesa das autoridades, pois nós as colocamos no poder em que situação estava e por que, para que, como. Essa pobre rica categoria que tão bem tem defendido seus interesses e dos seus mais próximos não merece ser desrespeitada nem reconhecida pelos atos de coragem e altruísmo no sentido de valorizar os seus, até mesmo os que não têm nenhum valor. Ao contrário do que meus amigos e minhas colegas pensam, está aí grandeza dos nossos políticos, no enfrentamento pelo seu direito a ’ ter direitos’, afinal, quem consegue ganhar causa perdida pode até fazer chover em área tórrida!Sendo assim, aconselho a humanidade a refletir acerca das frases de efeito e expressões de persuasão dos líderes de partidos, congressos, câmaras e dirigentes dos poderes constituídos, por várias razões:

1)    São eleitos pelo povo para fazer o que sempre fazem, pois sua função já está definida no próprio do senso comum;

2)    Nunca deixam de apoiar seus amigos nas horas mais difíceis;

3)    Procuram incessantemente valorizar o serviço público e de qualidade, adotando-o desde em sua própria casa, desde sua sala de estar, cozinha, jardinagem e situações de festa, guarda e limpeza, democraticamente;

4)    Usam da franqueza quando aumentam seus próprios salários, através de decretos, portarias e resoluções, oficialmente, assumindo publicamente sua natureza carente de ‘direito’ adquirido, tudo autorizado por lei;

5)    Nunca lembram as promessas de campanha anteriores que ameaçam exterminar os problemas necessários à existência da campanha seguinte;

6)    Sempre lembram apenas os que no momento os rodeiam: familiares, cabos eleitorais, correligionários e simpatizantes, pois levam à risca a noção bíblica de ‘meu próximo’;

7)    Jamais esquecem os cabos eleitorais que brigaram por eles durante as campanhas e, logicamente concedem cargos de confiança;

8)    Conhecem bem as necessidades do ‘seu povo’ (pai, mãe, sogro, sogra, mulher, genro, nora, filho, filha, neto, neta, amigos e não o’ povo dos outros’. Afinal, eu e você temos que nos enxergar que não pertencemos ao povo deles;

9)    Sabem afastar com diplomacia toda ameaça de conquista ao seu eleitorado como uma fera que defende com garra seu território, o gado que conhece seu curral;

10) Preferem os mais humildes aos mais sábios pela dificuldade de conduzir pessoas com mais escolaridade, até porque esses podem ler além do seu discurso e ninguém gosta de ser mal interpretado.

 

Aqui, mai uma vez, apelo: sejamos francos e conscientes em assumir que somos todos culpados, ignorantes e imprudentes, tanto por não termos paciência de refletir sobre o que almejam nossos representantes durante a primeira abordagem, como também por não sabermos interpretar o que realmente nossos políticos tanto se esforçam, durante anos, ao manifestar seus anseios e pretensões, através de suas palavras, seus gestos, seu olhar, sua postura no palco, diante dos microfones ou na ausência deles. Observem que nenhum político sai sozinho para campanha, pois ele precisa saber se prometeu o que prometeu e a quem, e isto seu assessor ou acompanhante tem o dever de registrar para ver até onde pode ou não descumprir. Nenhuma autoridade vive sem as brechas da lei, de modo que a lei deve ser aplicada contra o inimigo, adversário ou concorrente, mas nunca aos companheiros. Os opositores e a própria imprensa não os perdoam interpretam malÉ aí que a brecha da lei ajuda, pois se assim não fosse, não precisaria o judiciário, e assim desembargadores, juízes, promotores, advogados e outros afins fariam parte das profissões extintas. Nesse sentido, os três poderes sobrevivem dessas brechas, talvez por isso as leis sejam escritas numa linguagem que o cidadão comum não entende principalmente as lacunas, as brechas. No  o judiciário poderá ser denominado o poder de julgar as brechas ou ‘brecheiros’, o legislativo poderá ser chamado de brechadores ou fazedores de leis com brechas; e o executivo que hoje se conhece como o poder que faz, poderá ser lembrado como o brechador, o que fazia tudo que estivesse previsto nas brechas. Aí as novas gerações começariam a pensar em fazer leis, julgá-las e cumpri-las, sem brechas.

 

Deixando de lado a divagação sobre o futuro das brechas da corrupção, vejamos algumas frases de políticos que as pessoas in suas ‘falas’, depois dizem que os políticos é que prometem e não cumprem. O certo é que nós não temos discernimento do sentido das palavras deles para nos conformar com as expressões, do tipo:

“Minha gente! Se eleito for, garanto moradia, saúde, educação, transporte e segurança para todos.”

Vamos convir, todas as autoridades eleitas ou concursadas cumprem essa regra. Nenhum de nós está na mente de quem diz isto, para saber se no balãozinho da mensagem implícita do político está à gente dele ou a gente dos outros, isto é, se eu ou você fazemos parte do ‘todo’ do imaginário dele. Aqui, nossos representantes falam das famílias e eleitores deles, o que é óbvio! Se já não cumpriam com seus deveres com sua família não é depois de eleitos ou promovidos que irão cumprir com deveres para com as famílias dos outros. Vamos refletir de modo otimista: se o cidadão promovido cumprir seus deveres para com sua família já é um grande ganho!Se não cumprir com as famílias dos outros, o ideal é esperar o próximo pleito e eleger outro na próxima campanha, de preferência de seu grupo de amizade e por que não de sua família.

“Companheiros e companheiras! Todos terão terra, alimento e água em abundância no meu governo”. Embora pareça óbvia, essa é uma idéia futurista! Uma mensagem metafísica de quem crê em vida após a morte para os pobres brasileiros!Está evidente aqui até a idéia de preservação da Amazônia para garantir o oxigênio a todos os que já não tem floresta (ambientalistas, ONGs, estrangeiros, etc.) e de despojamento dos habitantes dessa floresta em aceitar ser extintos, pelo bem da ciência. Pesquisas comprovam que o ‘pum’ das amazônicas à base de farinha, o fedor das axilas dos pecuaristas e o cujo das vacas é que estão exterminando a camada de ozônio e provocando o aquecimento global. Também as pegadas do gado e as plantações de macaxeira estão contribuindo para o desmatamento da maior floresta do mundo. Sugere-se que os habitantes da Amazônia Legal busquem alternativas em outra vida, pois no paraíso não precisarão criar gado, se plantará melhor, se colherá mais e lá, garante-se, que pobres, negros e índios, todos serão realmente iguais. Já se podem prever pesquisadores e turistas visitando cemitérios e ruínas de fazendas, madeireiras e garimpos, além de restos de choupanas e cabanas, para alegria dos historiadores que poderão mostrar ao mundo a decadência da quase civilização anterior de colonos e ribeirinhos. Tem coisa mais bonita do que isto! O Brasil precisa de cultura, qualquer uma!

“Brasileiros e brasileiras, em nossa gestão as coisas vão mudar, o Brasil vai crescer e a renda dos pobres vai aumentar.”

Nesse caso, houve apenas uma simples omissão do que vai crescer no Brasil, em que aspecto e de que pobre e de que renda foi falada. O Brasil já é grande em população e em território, mas pode ser maior ainda em problemas ou gigantesco em número de autoridades, programas, projetos e propostas de mudanças, nem que sejam propostas de mudanças para fazer o contrário do que está sendo feito ou deixar de fazer algo que foi combinado a fazer. Se a renda do emissor deste enunciado aumentar, acredita-se que não houve mentira, pois algo muda e se explica o crescimento do capital e, assim, o Brasil também cresce afinal nosso líder é, por lei, um brasileiro. Trata-se de uma metonímia em que se toma a parte pelo todo. Assim, quanto à renda do pobre, todos sabem que pobre no Brasil é o que não tem renda, é nada, e se nada aumentar, não se pode dizer que esta promessa não se cumpriu. A frase não diz que a renda do pobre, que é nada, vai ser tudo, doravante. No entanto, a interpretação leva ao extremo, com dois lados: para o pessimista, é que a pobreza vai aumentar e para o otimista, é que o que não tem renda, vai passar a ter alguma qualquer que seja.

“Meus amigos, avante! Vamos juntos construir nossas casas, escolas, praças, clubes, fechar prisões, educar nossos jovens e proteger nossas famílias”.

De fato, é possível e agradável trabalhar em conjunto, principalmente com amigos que vão à frente, entusiasmados, fazer o nosso serviço. Nesse caso, a proposta corresponde a um convite, revela otimismo, confiança no trabalho coletivo, parcerias, convênios e não se compromete em fazer algo sozinho, justificando até o caso de não fazer algo por falta de colaboração. A idéia é que a ação depende do esforço de todos e não só do líder. Se você não fizer sua parte, ele não tem nada para fazer. Nos dias atuais essa proposição está na moda no âmbito dos sindicatos, das associações e das empresas entre os empregadores, empregados e dirigentes. Entretanto, o significado é: estou fazendo por mim e pelos meus, o que você deve fazer por você mesmo e pelos seus. Em outras palavras, vire-se, como eu estou me virando ou estou fazendo a minha parte.

“Trabalhadores unidos jamais serão vencidos”

                               Como se sabe, é difícil unir uma categoria e mais difícil ainda unir diversas classes de trabalhadores, ideal de todo líder. Porém, se alguém conseguir uni-los é claro que será mais difícil combatê-los. A lógica é juntar em número, mas em ideologia nem tanto, pois a igualdade ideológica, do mesmo modo que constrói, também destrói. A proposta é ideal para reivindicar direitos, cobrar cumprimento de deveres ou conseguir benefícios. No caso de discurso político, a interpretação mais uma vez joga para o povo a responsabilidade com a tarefa de arranjar saídas para seus problemas. Se você achar mais gente para votar comigo seu pedido será atendido. Se você está sozinho, está morto, pois quem só tem seu voto não merece representante. Quando se trata de luta ou campanha que parta do povo, (um líder de campanha ou sindicalista) tanto pode estar induzindo a procurar seus iguais ou aliar-se aos que pensam do mesmo modo para ganhar força e alcançar beneplácitos, em detrimento dos outros que não compartilham do movimento (grevistas), quanto pode referir-se aos diferentes que, juntos podem, cada um na sua, buscar sozinho uma forma de ‘se dar bem’ (os fura-greve) os que conversam com o líder nos bastidores.

   Para concluir, quero ressaltar a necessidade de esforço e compreensão do povo insatisfeito e da população opositora, para aprender a entender a linguagem dos políticos, das autoridades e dos líderes de modo geral. Peço isto, tanto pelo respeito às instituições e suas competentes autoridades constituídas, bem como pelo reconhecimento de nossa incompetência lingüística de interpretar suas palavras tão bem intencionadas. Também peço desculpas pelas vezes que falei mal meu líder político, porque só agora entendi que, no mínimo, todos só querem bem ao seu próximo, o que já é muito cristão, que não significa ser sua companheira de partido ou seu vizinho. No máximo, cada um quer combater o mal em sua casa. Basta agora que cada um cumpra seu dever e se esforce para aprender a ler e interpretar, ao pé da letra, as palavras de seus líderes, dando o braço a torcer e tirando o chapéu, respeitosamente.

Palavras - chave:  filosofia - corrupção – política – moral – ética.



[1] Professora de Português e Inglês do IFPA – Campus de Itaituba-Pará.