A Linguagem sob uma Perspectiva Antropo-Filosófico

Por Ginó Guinda Muanima Jó | 21/02/2021 | Filosofia

 Índice

Resumo. ii

Introdução. 3

1. A Contextualização sobre a questão da Linguagem.. 4

2. Origem e História da Linguagem.. 4

3. Importância da Linguagem.. 6

4. Funções da Linguagem.. 6

4.1. Função Descritiva. 7

4.2. Função comunicativa. 7

Conclusão. 8

Referências bibliográficas. 9 


Resumo 

As questões relacionadas a linguagem têm sido objecto de incursões diversas no âmbito da filosofia, da etnografia e da linguística. Como o tema em toda sua magnitude é complexo, restringimos nossa exposição ao domínio da Antropologia filosófica, desde a Antiguidade Clássica até o período moderno, em que pontificam figuras incontornáveis ao domínio antropológico, cuja figura de proa é Mondin. A questão da origem, história, importância, assim como funções da linguagem tem constituído objecto de reflexão para investigadores dos mais diversos domínios do saber. Não só linguistas, mas filósofos, psicólogos, sociólogos, etnólogos, entre outros, têm reflectido acerca do problema, na medida em que, a certa altura de seus estudos, vêem-se obrigados a pensar na faculdade humana da linguagem. Não raramente, a discussão sobre a linguagem e seus assuntos subsequentes é a que primeiro se impõe. Nestes casos, a perspectiva da qual a linguagem é estudada depende fundamentalmente das directrizes doutrinárias que balizam os estudos.

Palavras-chave: Linguagem; Antropologia Filosófica; Comunicação; Funções da Linguagem.

 

Introdução

Desde os primórdios a linguagem foi e ainda constitui um factor decisivo para o aprimoramento e o desenvolvimento da sociedade como um todo. Neste caso, pretendemos, aqui, apontar possível surgimento, definição, assim como a importância e funções da linguagem numa relação intrínseca com a Filosofia, em geral, e com a Antropologia Filosófica, em especial. O que não é nosso propósito, no caso, tecer profundas considerações, mas o suficiente que permitam vislumbrar a interdisciplinaridade com tal. A concepção da língua como produto histórico-social implica, antes de tudo, a dimensão do homem como ser de linguagem e como ser social, no contexto da Antropologia Filosófica. O homem revela-se e revela a realidade do mundo perante a linguagem.

Ao debruçarmos destes aspectos, estamos buscando o princípio do Ser; na Antropologia Filosófica, indagamos a posição do homem no mundo. Assim, a linguagem compreende a relação do homem com todas as coisas. A linguagem envolve o Ser em toda a sua plenitude, como diria Heidegger: a linguagem é a casa do ser.

Isto é, o Ser está na linguagem e vice-versa. Todo o homem diz, faz ou pensa, está presente à linguagem. É pertinente a relação da mesma (linguagem) com toda produção cultural humana.

Para a realização do trabalho foi imprescindível a utilização do método hermenêutico, que consistiu na leitura e interpretação das obras e dos textos disponíveis.

 

1. A Contextualização sobre a questão da Linguagem

O surgimento da linguagem é um facto fundamental na história humana. Não seria possível a organização dos seres humanos em sociedade sem a linguagem e vice-versa. Isso indica que a linguagem e a vida em sociedade devem ter surgido praticamente ao mesmo tempo. É difícil determinar qual a origem da linguagem, pois não há muitas pistas a seguir.

Para Mondin (1980, p. 132), Uma das acepções que hoje aparece mais frequentemente, porém, é a que caracteriza o homem como ser falante: homo loquens. Essa é uma definição particularmente bem ajustada, porque, de facto, a propriedade de falar distingue nitidamente o homem dos animais e de qualquer outro ser deste mundo e faz dele um ser totalmente singular.

Esta questão também foi digno de realce pelos filósofos gregos e medievais mas sem atribuir-lhe muita importância. Mas ele polarizou, pelo contrário, a atenção dos filósofos do nosso século sobre si, de tal modo que se tornou o assunto principal das suas investigações.

2. Origem e História da Linguagem

Há várias teorias que procuram explicar a origem e a história da linguagem humana. Não é fácil, porém, determinar com certeza a origem da linguagem.

As primeiras tentativas de explicação da origem da linguagem são de natureza religiosa, incluindo o relato da Torre de Babel. Na verdade, quase todas as sociedades antigas se valem de uma narrativa mítica para explicar a origem da linguagem ou a diversidade das línguas. Encontramos também explicações provenientes da filosofia, como veremos a seguir:

O filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) supôs que a linguagem humana teria evoluído gradualmente, a partir da necessidade de exprimir os sentimentos, até formas mais complexas e abstractas. Para Rousseau, a primeira linguagem do homem foi o “grito da natureza”, que era usado pelos primeiros homens para implorar socorro no perigo ou como alívio de dores violentas, mas não era de uso comum (SILVA, 2007).

A linguagem propriamente dita só teria começado “quando as ideias dos homens começaram a estender-se e a multiplicar-se, e se estabeleceu entre eles uma comunicação mais íntima, procuraram sinais mais numerosos e uma língua mais extensa; multiplicaram as inflexões de voz e juntaram-lhes gestos que, por sua natureza, são mais expressivos e cujo sentido depende menos de uma determinação anterior”(ROUSSEAU, 1989, p. 35).

Nesta senda, alguns pré-socráticos derivam a linguagem directamente da natureza ou mesmo da divindade e a concebem como um espelho directo e imediato das coisas, os sofistas consideram convencional tanto a sua origem quanto a sua função. Aristóteles concebe a linguagem como instrumento do pensamento, e dado que o pensamento retorna à coisas, também a linguagem tem, em última análise, a função de representar as coisas, mas a escolha deste ou daquele som para significar uma dada coisa depende da decisão do homem. A linguagem é, portanto, natural na sua função, mas convencional na sua origem (MONDIN, 1980, pp. 133).

Ademais, Plotino explora as virtualidades da linguagem humana especialmente no que concerne ao Uno, e mostra que ele se subtrai completamente a qualquer designação humana. Ê absolutamente inefável.

Santo Agostinho estuda a relação da linguagem humana com as coisas e com o verbo interior (que ele identifica com o Verbo divino) e subordina a linguagem antes de tudo às coisas, mas definitivamente ao Verbo divino, que é a fonte de toda verdade (Ibidem, p. 134).

No entanto, os escolásticos estudam sobretudo a problemática do signo, distinguindo os signos naturais dos artificiais; mas ocupam-se também do problema da linguagem, colocando uma clara distinção entre linguagem literal e linguagem analógica e simbólica.

É importante, de qualquer modo, enfatizar que a origem da linguagem está relacionada com a necessidade de comunicação entre os seres humanos:

Antes de tudo é preciso dizer que a comunicação é uma necessidade inerente de qualquer ser humano. O homem das cavernas deixou sua história contada. No momento que dois ou mais seres humanos se encontram necessariamente a comunicação passa a ser vital para a convivência e reprodução deste grupo social. Agora, quanto mais organizada for uma sociedade humana mais complexa serão os seus sistemas de comunicação e mais complexa será a sua compreensão. (TRIGUEIRO, 2001)

Isso tudo nos aponta para a centralidade da linguagem e da comunicação na caracterização do ser humano.

O homem é um animal que fala. Afirmar que o homem é um animal social, não o distingue, por si só, de animais que têm vida societária. Fundamentalmente, sua sociabilidade se baseia na linguagem.

3. Importância da Linguagem

A linguagem eleva substancialmente o ser humano com relação aos demais seres vivos quando ascende aos degraus “do mundo da sensação ao mundo da visão e da representação”. A mesma enaltece- o qualitativamente através da acção da inteligência que produz ciência e tecnologia que o habilita a uma transformação melhor do seu mundo, Cassirer (Apud MONDIN, 1980: 135):

A linguagem é um dos meios fundamentais do espírito, graças ao qual se realiza a nossa passagem do mundo da sensação ao mundo da visão e da representação. Ela compreende já em germe o trabalho intelectual, que em seguida se exprimirá na formação do conceito científico e como unidade lógica da forma. Mas no caso do homem encontramos não apenas, como entre os animais, uma sociedade de ação, mas também uma sociedade de pensamento e sentimento.

Heidegger (Apud MONDIN, p. 136) enfatiza a capacidade inativista de falar, ou seja:

O homem fala. Nós falamos na vigília e no sono. Falamos sempre, até quando não proferimos palavra, mas escutamos nenhuma palavra, mas escutamos ou lemos, mas nos dedicamos ou nos perdemos no ócio. De um modo ou de outro, falamos ininterruptamente. Falamos porque o falar é inato. O falar não nasce de um ato particular de vontade. Diz-se que o homem é de natureza falante e é próprio dele, ao contrário das plantas e dos animais, é o ser vivente capaz de falar.

A linguagem, o mito, a arte, a religião, a ciência são os elementos e condições constitutivas desta forma superior de sociedade. São os meios pelos quais as formas de vida social, que encontramos na natureza orgânica, envolvem para um novo estado, o da consciência social que depende de um duplo ato, de identificação e descriminação.

4. Funções da Linguagem

Para entendermos com clareza as funções da linguagem, é bom primeiramente conhecermos as etapas da comunicação. Ao contrário do que muitos pensam, a comunicação não acontece somente quando falamos, estabelecemos um diálogo ou redigimos um texto, ela se faz presente em todos (ou quase todos) os momentos. Comunicamo-nos com nossos colegas de trabalho, com o livro que lemos, com a revista, com os documentos que manuseamos, através de nossos gestos, acções, até mesmo através de um beijo de “boa-noite”.

4.1. Função Descritiva

Defendida pelos neopositivistas e analíticos. Atribui valor cognoscitivo (ao que pode ser conhecido) somente à função denotativa (que pode ser indicada por sinais simbólicas). Essa função é desenvolvida de modo excelente pela linguagem científica, a qual é dotada da máxima clareza, precisão e objectividade. Qualquer outra linguagem adquire mais ou menos valor na medida em que se conforma com a linguagem científica. A razão da excelência dessa última está na simplicidade do seu critério de significação, que é a verificação experimental. Isso prescreve reconhecer significado somente às proposições que são traduzíveis em uma cadeia de dados sensitivos (MONDIN, 1980, p. 142).

4.2. Função comunicativa

É importante salientar que a linguagem humana não tem exclusivamente e nem mesmo principalmente valer por causa de sua função cognitiva (descritiva ou denotativa). A sua função principal é de fato comunicativa e a comunicação, em muitíssimos casos, não pretende, com efeito, oferecer descrições de objectos, coisas, fenómenos, leis da natureza, mas afectos, sentimentos, desejos, comandos. É sobretudo nesse ponto que os estudos mais recentes lançaram uma nova luz (MONDIN, 1980, p. 144).

No entanto, aqui nos restringiremos a referir alguns resultados adquiridos por Barbotin no seu sábio, profundoNessa obra ele põe em evidência o valor comunicativo, existencial e prático. A linguagem é o instrumento privilegiado da comunicação e também da presença da sociabilidade. O homem, ao contrário das coisas que são fechadas em e sobre si mesmas, é aberto, se quer dar aos outros e dos outros quer receber, se quer tornar presente. A palavra transforma a nossa presença puramente física e passiva, simples justaposição no espaço em presença activa que nos empenha reciprocamente.

 

 

Conclusão

A relação da linguagem com a filosofia e com a Antropologia Filosófica estabelece-se naturalmente, ou seja, quando o ser humano se dá conta da sua capacidade de falar, ele percebeu que poderia registar seu pensamento e sentimento daquilo que vivencia. Assim, o homem procura o sentido de tudo aquilo que faz, para melhorar cada vez mais aquilo que faz. E é este contínuo aperfeiçoamento que a linguagem subsidia a filosofia e a Antropologia Filosófica e vice-versa. Deste modo, procuramos mostrar a origem, a história, a pertinência e função da linguagem. Poderemos, no caso, deduzir a interdisciplinaridade ocorrendo pela linguagem humana que o manifesta pela sua obra.


 

 

 

 

Referências bibliográficas

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. São Paulo: Ática, 1989.

MONDIN, Batista. O homem: quem é ele? Elementos de antropologia filosófica. Tradução: R. L.

                Ferreira e M. A. S. Ferrari. São Paulo: Paulinas, 1980.

CASSIRER, Ernst. Antropologia filosófica. In MONDIN, Batista. O homem: quem é ele? 

Elementos de antropologia filosófica. Tradução: R. L. Ferreira e M. A. S. Ferrari. São Paulo: Paulinas, 1980.

SILVA, Josué Cândido da. Filosofia da linguagem (1): da torre de Babel a Chomsky. Especial

para a Página 3 Pedagogia & Comunicação (2007). Disponível em: . Acesso em: 2 mar. 2013.


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