A LINGUAGEM DAS CAIXAS

Carpenedo, Raquel - Professora de Língua Portuguesa, Escola Municipal de Ensino Fundamental Nossa Senhora de Fátima – Santa Rosa - RS

Formada em Letras - Português, Inglês e Literaturas Brasileira e Estrangeira - Pós- graduação em Leitura e Redação  e  Pós Graduação em Educação Especial.

e-mail: [email protected]


Alberti, Fernanda - Professora de Língua Portuguesa, Escola Municipal de Ensino Fundamental Nossa Senhora de Fátima – Santa Rosa - RS

Formada em Letras- Língua Portuguesa e suas respectivas Literaturas - Pós- graduação em  Ensino-aprendizagem de Línguas -  Língua Portuguesa.

e-mail: [email protected]


Schaefer, Rubia Jaqueline - Professora de Educação Física, Escola Municipal de Ensino Fundamental Nossa Senhora de Fátima - Santa Rosa - RS

Formada em Educação Física - Pós- Graduação em Educação Física Escolar.

e-mail: [email protected]


                               

“... Não, é impossível; é completamente impossível transmitir as sensações de vida de qualquer época determinada de nossa existência– aquilo que a torna verdadeira, seu sentido – sua essência sutil e penetrante. É impossível. Vivemos, como sonhamos – sós...”

(Joseph Conrad,1902: 52) 

INTRODUÇÃO 

Desde os primórdios da civilização, os estudos sobre os fenômenos linguísticos desafiam seus pesquisadores. Sabe-se que é através da linguagem verbal que a história vem sendo recontada e serve exatamente para que esta tradução seja o mais fidedigna possível. 

Contudo, sabe-se que nem sempre foi assim, pois sabemos que usamos outras formas de comunicação para expressar nossos sentimentos como, por exemplo, gestos, desenhos, pintura, dança, símbolos. Segundo especialistas, a linguagem oral, em muitas civilizações, surgiu muito antes da escrita e em muitas línguas ainda não possuem um sistema capaz de representar os sons da língua falada. Sendo assim, a linguagem verbal é o principal instrumento de comunicação.

LINGUAGEM E LÍNGUA

Usada frequentemente como sinônimo de língua, linguagem é, segundo Chomsky “um conjunto (finito ou infinito) de sentenças, cada uma finita em comprimento e construída a partir de um conjunto finito de elementos” (CHOMSKY, 1957 apud BECKER, 2010, p.14). Enfim, é a capacidade inata que o ser humano possui de aquisição e utilização do sistema de comunicação pelo qual manifesta seus desejos, ideias e sentimentos. A linguagem está dividida em dois tipos: a verbal e a não verbal. 

A linguagem verbal, segundo Becker (2010) é a matéria do pensamento e o veículo de comunicação social (p.11). Para ele, não há sociedade sem linguagem e sem comunicação.  A linguagem verbal possui duas modalidades:  oral e  escrita.

A linguagem não verbal prevê a utilização dos outros instrumentos que não a língua falada e escrita para o ser humano manifestar seus desejos, entre eles, a música, mímica, desenhos, pinturas, gestos, símbolos.

A língua, por sua vez, é o instrumento, a ferramenta usada para a comunicação. Segundo Azeredo (2011)

“Pela língua o homem exerce um poder de significação que transcende a função de nomear os dados ‘objetivos’ de sua experiência cotidiana: o papel da linguagem na expressão de ‘conceitos potencialmente significativos’ torna o ser humano capaz de criar os universos de sentido que circulam na sociedade sob a forma de enunciados/textos.” (p. 49)


AS HABILIDADES COMUNICATIVAS 

Desenvolvemos ao longo de nossa vida habilidades/competências comunicativas, a saber: ler, escrever, falar e ouvir. O objetivo maior de um usuário é justamente desenvolver esta competência comunicativa, ou seja, “a capacidade do usuário de empregar adequadamente a língua nas mais diversas situações de comunicação”. (TRAVAGLIA, 2009, p. 17)

Para que a competência comunicativa obtenha êxito, são necessárias outras duas competências: a gramatical ou linguística que é capacidade que todos os usuários da língua possuem de gerar sequências linguísticas gramaticais e a textual que é capacidade de produção e compreensão de textos em diversas situações de interação comunicativa.

Ao analisarmos o ensino-aprendizagem de uma determinada língua, seja ela materna ou não, percebemos a utilização da linguagem, envolvendo as competências/ habilidades comunicativas: 1. ouvir, 2. falar, 3. ler e 4. escrever.

  1. OUVIR 

As primeiras experiências dos seres humanos que ocorrem com a linguagem estão diretamente ligadas à audição. É ouvindo que nós aprendemos rapidamente a fala, como se fosse magia.

A audição é um grande privilégio dos humanos. Na medida em que ouvimos, processamos esses sons para a linguagem e para a música. Ao receber estes sons, o cérebro diferencia o som linguístico, e o encaminha para as regiões responsáveis pela compreensão da fala.

A ordem é a seguinte:

Identificação fonológica

Identificação léxica

Identificação sintática

Identificação semântica

Percebemos então que primeiro identificamos os sons que compõem palavras, após as palavras, depois a estrutura da sentença e por fim, o significado. Esse processo acontece simultaneamente em nosso cérebro, portanto, é rápido, automático e preciso.

1.1 QUAL A  DIFERENÇA ENTRE OUVIR E ESCUTAR?

Escutar envolve os aspectos cognitivos, afetivos e emocionais da audição. Então: 

“Escutar é o aspecto afetivo, cultural, emocional da audição. Ouvir é um ato mecânico, já que estruturas físicas estão a postos para que isto aconteça. Todo o ser vivo ouve. Mas escutar é diferente. É dar tempo para interpretar aquilo que está sendo ouvido.” (SKINNER, apud GOMES, 2009, p. 99)

Entre os fatores que interferem na compreensão oral e consequentemente na comunicação estão: 

→ A rapidez no pensamento – este, muitas vezes, é mais rápido do que na transmissão das palavras.

→ A audição é seletiva – aprendemos a ouvir o que é realmente relevante para nós, e quanto mais experiência tivermos, mais seletivos ficamos.

 → Os prejulgamentos - interpretamos o que ouvimos de acordo com a visão de que temos. É por isso que muitas vezes podemos distorcer aquilo que ouvimos.

→ Influência do ambiente – tudo à nossa volta pode interferir no que ouvimos.

Entre as recomendações do autor para um bom “escutar” estão:

  • Aprender a escutar;

  • Ficar numa posição que seja confortável para escutar;

  • Manter a vontade firme, o sentido de alerta e a atenção;

  • Não permitir que as emoções contaminem;

  • Escutar para compreender, e não apenas para responder;

  • Respeitar o turno da fala, evitando interrupções;

  • Desenvolver o sentimento do respeito pelas opiniões alheias;

A partir destas ações, devemos aprender e ensinar, com respeito mútuo. 

  1. FALAR 

A fala é usada pelo ser humano para expressar seu pensamento. Para que a fala se concretize, o homem passa por dois momentos: o de planejamento e o de formulação. Então, o que acontece quando queremos falar algo, primeiro selecionamos as palavras adequadas e depois as sentenças são estruturadas de acordo com as regras da língua. Após são organizadas as regras fonológicas para proferi-las.

A explicação para isto: alguns psicolinguistas acreditam que encontra-se em nosso cérebro uma espécie de léxico mental, ou seja, uma espécie de dicionário em que as palavras estão armazenadas e na qual encontram-se informações sobre a língua.

Outros estudiosos acreditam que no cérebro há regiões específicas em que ocorre o armazenamento de informações que são: semântica, sintática e fonológica.

Um modelo de processamento da fala muito interessante é o de Levelt. Ele aborda que a construção das sentenças inicia com o que chama de conceitualização, isto é, com o planejamento do conteúdo da mensagem, seguido pelo léxico semântico. Após acontece a formulação, onde são buscadas as regras de estruturação das sentenças e as informações fonológicas necessárias para a articulação das palavras. Por fim, acontece a articulação, ou seja, a etapa final do processamento da fala, em que o plano fonético está pronto.

Segundo Gomes (2009) “A fala como uma atividade intencional, envolve a concepção de uma intenção e a geração de uma mensagem pré-verbal, com busca de significado. (p.102)

O diagrama de Levelt explica o aspecto físico da fala, e demonstra como questões de personalidade, emocionais e culturais interferem no processamento da fala.

Os fatores que podem afetar a comunicação são:

  • Ritmo da fala;

  • Altura, tom de voz e entonação vocal;

  • Segurança;

  • Adequação ao interlocutor e ao contexto;

  • Linguagem corporal.

Portanto, a língua oral tem dois processos: A recepção = escuta e a produção = fala.

  1. LER

O processo de leitura vai depender de vários fatores que influenciam a relação do leitor com o texto escrito:

  • Influência da família;

  • Influência da comunidade;

  • Influência da escola;

  • Influência cultural;

  • Influência de características individuais;

Todas estas influências combinadas contribuirão para a formação do leitor.

Levelt defende a ideia de que para o processamento da palavra escrita, há em nosso cérebro outro dicionário, o léxico visual. Segundo ele: 

“Isso significa que o aprendizado da leitura  e o  exercício constante dessa atividade criam uma representação visual da palavra escrita, que vem sendo armazenada nesse dicionário. Quanto mais se pratica a leitura, menos necessidade terá o leitor do processo de análise e síntese da palavra escrita, pois seu vocabulário visual vai aumentando cada vez mais.  Pesquisas comprovam que um leitor adulto eficiente    possui um léxico visual de 50 mil palavras.”(GOMES, 2009, p. 106)

  1. ESCREVER

O processo da escrita se dá através de movimentos das mãos para a inscrição de símbolos (letras) sobre uma base qualquer.

“Escrever é uma das atividades mais complexas que o ser humano pode realizar. Faz rigorosas exigências à memória e ao raciocínio. A agilidade mental é imprescindível para que todos os aspectos envolvidos na escrita sejam articulados, coordenados, harmonizados, de forma que o texto seja bem sucedido. (GAGNÉ apud GOMES, 2009, p. 114)

Para escrever há que se definir algumas etapas, começando pelas metas e planos, depois a resolução de problemas, revisão e edição de textos, levando em conta a ideia (conteúdo) que vai ser desenvolvida, o texto, ou seja, o gênero e o público-alvo (quem vai ler o texto).

O texto é considerado uma prática social, portanto, sempre vai provocar mudanças nos atores envolvidos. Assim, “escritor e leitor, ao se apropriarem do ato de escrever e ler, estabelecem uma interação entre si e com o texto, que vai resultar na modificação de ambos (...)” (GOMES, 2009, p. 114)

Existem alguns mitos em relação à produção textual: 

  • Escrever é um dom que poucas pessoas têm, um ato espontâneo, que não exige empenho;

  • É uma questão que se resolve apenas com algumas dicas;

  • Um ato isolado, desligado da leitura;

  • Algo desnecessário no mundo moderno;

  • Um ato autônomo, desvinculado das práticas sociais.

Para as desmistificações desses mitos Gomes (2009) propõe proposições inversas a elas:

  • Escrever é uma habilidade que pode ser desenvolvida, não um dom que poucas pessoas têm;

  • Escrever é um ato que exige empenho e trabalho, não um ato espontâneo;

  • Escrever exige estudo sério, não é uma competência que se forma com algumas dicas;

  • Escrever é uma prática que se articula com a leitura;

  • Escrever é necessário no mundo moderno;

  • Escrever é um ato vinculado às práticas sociais.

Para que uma boa relação de comunicação se estabeleça, é imprescindível o domínio das quatro habilidades comunicativas: ouvir, falar, ler e escrever. A excelência da linguagem verbal e não verbal é o objetivo do ensino-aprendizagem de qualquer língua. 


A INFLUÊNCIA COMUNICATIVA DOS SÍMBOLOS

Percebe-se o quanto nossa forma de comunicação é feita através de símbolos. É possível nos depararmos com esses símbolos em controles remotos de TVs, DVDs, Split, caixas de aparelhos eletrônicos, eletrodomésticos, alimentos, suprimentos agrícolas, de vestuários e de outros objetos que permeiam nosso cotidiano. Alguns são facilmente identificados e reconhecidos, outros não. Isso, de certa forma, interfere e muito na vida do consumidor, pois o objetivo dos símbolos é facilitar o destino do produto, caso contrário, seria praticamente impossível utilizá-los e reutilizá-los. Como seria se tivéssemos que escrever tudo: liga, desliga, passa capítulo para frente, passa capítulo para trás, canal, avança rápido para frente 2x, 4x, 8x, 16x, avança rápido para trás 2x, 4x, 8x, 16x, pause, pare... Enfim, existe uma gama de símbolos usados para “poupar” as palavras. 

Pode-se salientar ainda que alguns símbolos contribuem positivamente no controle ambiental, indicando a possibilidade de reciclagem e o descarte correto. Sabe-se hoje que a questão ambiental é um problema mundial, que diz respeito não só a geração atual, como também para as futuras gerações. Os símbolos também garantem a chegada do produto ao destino em perfeitas condições, além de ajudarem no seu uso correto.

É possível constatar através das imagens a seguir o significado que os símbolos das caixas podem nos transmitir: 

C:\Users\Fernanda Alberti\Desktop\Fotos Natália 2014\Fotos Natália Maio 2014\DSCF1624.JPG

SIGNIFICADOS DOS SÍMBOLOS

Eis o significado de alguns símbolos;


cuidadofragil ou _ Fragilidade este_lado_para_cima _   Sentido de posicionamento

 protegerdaumidade ou   -  Proteção da umidade.    


  -   Embalagem reciclável

 

-  Quantidade de empilhamento

  -  Produto inflamável

  - Embalagem retornável

 -  Segurança da embalagem alimentar .

-  Produto venenoso.

 - Indica produto corrosivo.

 - Alerta para a necessidade de cuidados.

  - Conscientizam e incentivam ao descarte seletivo do lixo.


- Indica a reciclagem do papel e do papelão.

- Indica a reciclagem do vidro .

Refil Sabonete Líquido para Mãos Natura Ekos Pitanga - 250ml - TopStore- Símbolo do refil

Mamãe e Bebê Refil Sabonete Líquido - 200ml               - Símbolo Vegano


 

 Resultado de imagem para simbolos das caixas e seus significados


CONCLUSÃO 

Em síntese, a linguagem é uma característica que nos torna seres racionais. Todas as formas de comunicação humana foram surgindo, desde as pinturas rupestres,  a fumaça, o Código Morse, o Braile, até o surgimento dos signos linguísticos. Todo este processo fez-se necessário com o objetivo de preservar as  línguas, ou seja, ela é considerada um ser vivo e está em constantes mudanças. Isso explica o porquê de algumas línguas terem sido extintas.

 A linguagem das caixas é considerada uma forma de comunicação eficiente, adotada pelas empresas, com o objetivo de informar, desde a produção da embalagem, o manuseio, o armazenamento, o deslocamento, até chegar ao consumidor final. 

Com a globalização, faz-se necessário, muitas vezes, criar símbolos universais nas caixas capazes de informar e evitar acidentes ao consumidor, bem como, a maneira correta de descartá-lo. 



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


  • ANTUNES, Irandé. Aula de português: Encontro & Interação. - São Paulo: Parábola Editorial, 2003.

  • AZEREDO. José Carlos. Gramática Houaiss da língua portuguesa. 3.ed. São Paulo: Publifolha, 2011

  • AZEVEDO, Flora. Ensinar e Aprender a Escrever: Através e para além do erro. - Porto: Porto Editora, 2000.

  • AZEVEDO, R. & TEIXEIRA  M. Produção escrita no 1.º ciclo: Espelho da Formação de Professores. Fórum linguístico. - Florianópolis, 2011.

  • BECKER, Fernando. A origem do conhecimento e a aprendizagem escolar. - Porto Alegre: Artmed, 2010.

  • BURKE, Peter. Linguagens e comunidades nos primórdios da Europa Moderna. Tradução: Cristina Yamagami. São Paulo: Unesp, 2010. 

  • CAGLIARI, Luís Carlos. Alfabetização & Linguística. São Paulo: Scipione, 1990.

  • CONRAD, Joseph. Coração das Trevas. Porto Alegre - RS: L&P, 2019.

  • DELVAL, Juan. Aprender na vida e aprender na escola/ trad. Jussara Rodrigues. - Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.

  • GOMES, Maria Lúcia de Castro. Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa – São Paulo: Saraiva, 2009.

  • LEVELT, Willem J. M. - Speaking- from intention to articulation. Cambridge: The MIT Press, 1998.

  • MARTELOTTA, Mário Eduardo (org.) - Manual de Linguística - 1ªed., 3ª reimpressão. - São Paulo: Contexto, 2010.

  • MARTINS, Maria Sílvia Cintra. Oralidade, escrita e papéis sociais na Infância. - Campinas, SP: Mercado das Letras, 2008.

  • SILVA, Laiane Andrade e. Redação: Qualidade na Comunicação Escrita. - Curitiba: Ibpex, 2005.

  • SOARES, Maria Inês Bizzotto. Alfabetização Linguística; da Teoria à Prática. - Belo Horizonte: Dimensão, 2010.

  • TRAVAGLIA, Luís Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática. – 14 ed. – São Paulo: Cortez, 2009.

  • VIGOTSKY, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem. São Paulo: Ícone, 2001.

  • UR, Penny. A Course in Language Teaching. Practice and Theory. Editora Cambridge, 1996.