O presente artigo discorre sobre as relações entre o aluno e suas dificuldades no entendimento de textos do universo escolar e do dia a dia, que decorrem de situações de ensino da leitura proficiente, e que surgem ainda na alfabetização e vão se estendendo às séries seguintes. O objetivo e mostrar que os textos permitem inúmeras situações de leitura, desde que contextualizadas e pertinentes ao conteúdo a ser ensinado, estipulados pelos conteúdos estruturantes de cada série, utilizando-se dos recursos disponíveis, de metodologias que contemplem os campos da linguagem e do apoio de textos do livro didático, para tentar tornar o trabalho com a leitura e com a interpretação algo mais atrativo e motivador ao aluno. Fundamentado em autores que contemplam o ensino de língua, o professor deve levar em consideração os conhecimentos prévios dos alunos e pô-los em contato com a leitura de gêneros textuais de todas as esferas comunicativas, possibilitando-lhes refletir sobre o uso da linguagem, adequada a cada situação comunicativa, para a efetivação de seu processo cognitivo.

1. Introdução

O presente artigo discorrerá sobre algumas questões relevantes no incentivo à leitura, como conhecimento e como fruição, nas aulas de Língua Portuguesa, no que tange ao modo como os alunos são instigados a ler e como os alunos aprendem a interpretar textos com proficiência, e que estratégias e metodologias de ensino podem ser utilizadas na formação de alunos que adquiram, em sua formação escolar básica, proficiência para a leitura e interpretação de qualquer texto.

As maiores dificuldades dos professores é fazer com que os alunos tenham o hábito da leitura e consigam interpretar textos de gêneros diversos, de maneira a interagir com seus interlocutores e a não criar ambiguidades, nem equívocos linguísticos, ao expressarem o que leram.

É nesse viés que, sem jamais esgotar as possibilidades de leitura e de interpretação, atreladas aos conhecimentos pertinentes à formação básica, que a abordagem desse estudo se destina: refletir e avaliar como o professor pode, realmente, ser um mediador entre o aluno e seu processo de formação leitora.

Os gêneros textuais da esfera social, presentes nos livros didáticos e na biblioteca da escola, permitem inúmeras situações de abordagem, desde que contextualizadas e pertinentes ao conteúdo a ser ensinado, utilizando-se dos recursos disponíveis para tentar tornar o trabalho com a leitura e interpretação de textos algo mais atrativo e motivador ao aluno.

O incentivo à leitura deve levar em consideração os conhecimentos prévios dos alunos e pô-los em contato com gêneros textuais de todas as esferas comunicativas, possibilitando-lhes refletir sobre as possibilidades de compreensão que cada texto suscita e qual é a “chave” para desvendá-lo, em suas informações explícitas ou implícitas.

2  O confronto do aluno com o texto

O grande dilema das aulas de Língua Portuguesa é a leitura, e a leitura proficiente. Por meio da leitura, o leitor realiza a compreensão e a interpretação do texto, partindo de seus próprios objetivos, de seus conhecimentos sobre o assunto lido, sobre o autor, sobre o entendimento e conhecimento que possui da linguagem.Para Silva (1996),

Ler é uma atividade meio que deve estar a serviço de um projeto que a perpassa e ultrapassa. (...) saber ler é aprender a utilizar a escrita para levar a cabo diferentes projetos, quer dirigidos por propósitos de estudo, quer orientados por lazeres existenciais (SILVA, 2003, p.2).

Por mais simples e óbvias que pareçam as dicas e orientações do professor na motivação aos hábitos de leitura, para o aluno há uma verdadeira “batalha mental”, que precisa ser travada, ou melhor, destravada, para vencê-la. E nessa “luta com as palavras” e com seus significados, com os significados atrelados a contextos de produção e de mundo, há um processo de formação que não pode "pular etapas", nem deixar lacunas.

O grande educador Paulo Freire (1996) alerta para a importância da leitura, quando afirma que "a leitura de mundo, precede a leitura da palavra", e para a necessidade de a educação apresentar um viés ideológico, uma vez que é regida por políticas públicas, que sistematizam o que se deve ensinar, como e por quê, considerando-se que o ser humano é um ser social, político, e que deve atuar criticamente em sociedade. Sendo assim,

para que a educação não fosse uma forma política de intervenção no mundo era indispensável que o mundo em que ela se desse não fosse humano. Há uma incompatibilidade total entre o mundo humano da fala, da percepção, da inteligibilidade, da comunicabilidade, da ação, da observação, da comparação, da verificação, da busca, da escolha, da decisão, da ruptura, da ética e da possibilidade de sua transformação e a neutralidade não importa de quê (FREIRE, 1996, p. 111).

E o professor, com sua formação, acadêmica e leitora, é o mediador que pode instrumentalizar os alunos a atravessar a "ponte" que há entre sua mente, ainda em início de sua formação científica, e o entendimento proficiente de suas leituras, tanto de mundo, quanto da palavra, articulando o conhecimento prévio do aluno com o conhecimento estruturado, para realizar o elo entre o texto e o leitor.

A leitura é um processo complexo da aprendizagem pelo qual se reconhece que há um símbolo ao qual deve-se atribuir um significado, ou seja, encontrar a “chave” que vai desencadear o processo de compreensão do que se lê. Silva (1996, p.44) afirma que“o leitor (que assume o modo da compreensão) porta-se diante do texto transformando-o e transformando-se”. A partir do momento em que o aluno se torna consciente dos processos intelectuais que envolvem a atividade leitora surge o processo reflexivo pelo qual ele vai atribuir significação para a leitura.

O confronto do aluno com o texto, seja literário ou informativo, tem de ser no sentido de desvendá-lo, jamais de vencê-lo, porque a cada leitura abre-se uma infinidade de significados e de (re)significações. O bom texto, raramente se esgota, mesmo porque, em cada época, sua interpretação pode alterar-se, de acordo com a visão de mundo de quem o lê, e também deve levar em consideração o horizonte de expectativas do leitor.

Para Jauss (1979), a quebra de expectativa na receptividade de um texto demonstra que o que interessa é verificar no leitor a influência do fator histórico no momento da recepção, chamado de “horizonte de expectativa”, que se caracteriza pelo conjunto de convenções sociais, culturais e históricas, que constituem a competência de um leitor num determinado momento histórico, para que ele depreenda significados daquilo que lê.

O impacto que um texto provoca em que o lê, vai depender de elementos em comum entre o enunciador e o receptor, que possibilita uma atitude responsiva, ou seja, a significação de um texto tem de estar em um nível de entendimento e interpretação que faça com que os interlocutores atribuam significados aproximados ao mesmo enunciado.

Na escola, o aluno terá acesso a todo tipo de texto, literário ou informativo, porém o texto literário necessita da releitura, da espera, do momento de silêncio que o faz contextualizar-se e contextualizar o leitor em suas relações dialógicas. E necessita, também do processo de fruição; ler pelo prazer de ler. Ainda, para Jauss (1979):

a experiência primária de uma obra de arte realiza‐se na sintonia com seu efeito estético, na compreensão fruidora e na fruição compreensiva. Uma interpretação que ignorasse esta experiência estética primeira seria própria da presunção do filólogo que cultivasse o engano de supor que o texto fora feito não para o leitor, mas sim, especialmente, para ser interpretado (JAUSS, 1979, p.45).

Sob os preceitos desse autor, percebemos que todo texto carrega uma intencionalidade e tudo o que é dito em um texto vem carregado de semas de outros textos. Seja nas palavras ou nas ideias, o interdiscurso permeia os enunciados, revelando a não neutralidade do texto. Esse tecitumque pode ruir se não for bem tramado, entrelaçando em uma sequência lógica o que se quer dizer, com o modo de dizer, para chegar ao para quem se diz, porque o interlocutor, o receptor do texto, também direciona o contexto de produção e a receptividade responsiva ou não que o texto vai ter.

 Quais “armas” o professor deve utilizar? Que estratégias serão mais eficazes? Essas são questões que a trajetória escolar do aluno é quem responde. Provavelmente, metodologias equivocadas nas práticas de leitura em sala de aula, e na formação leitora desse aluno podem desencadear o processo de letramento ou inibir a desenvoltura do aluno para a leitura proficiente, para a contextualização e para a interpretação do que lê, e da função emotiva do texto, uma vez eu o aluno se identifica com o eu lê. [...]