O processo de leitura tem sido concebido por vários educadores, durante muitos anos, como algo adquirido pela memorização. Então, ensinou-se durante décadas a ler seguindo uma seqüência lógica de conteúdos. Primeiro aprendiam-se as letras do alfabeto, iniciando-se pelas vogais, encontros vocálicos, depois consoantes, famílias silábicas, formação de palavras, frases e, finalmente, a criança estava pronta para iniciar a escrita de textos, ou seja, copiar textos prontos e sem sentido. O trabalho com leitura centrava-se unicamente na decodificação do texto. Por isso, a escola formou uma grande quantidade de leitores que, embora decodificassem textos, mostravam-se inaptos para realmente compreendê-los.

Estudos nesse campo definiram o ato de ler, em si mesmo, como um processo mental de diversos níveis que contribui significativamente para o desenvolvimento do intelecto. É por intermédio da leitura que ampliamos o nosso processo cognitivo e o processo de linguagem, pois a leitura deve ultrapassar as barreiras da decodificação. Não importa apenas conhecer uma língua e seus códigos de registro escrito; é relevante compreender o contexto sociocultural, pois a leitura é um processo em que o leitor interage com o texto, visando a obter uma informação determinada para satisfazer os objetivos que o levaram ao ato da leitura (ABRAMOVICH) ("ler não é apenas uma atividade mecânica e descontextualizada, mas uma atividade vital, que precisa ser, desde cedo, plena de significação)".

Direito universal

É necessário que o educador promova condições para o aluno sentir prazer na leitura, o professor deve propiciar atividades significativas, ter o hábito de ler sempre, modificar os recursos para provocar prazer no ato de ler. "Lê-se para entender o mundo, para viver melhor, ninguém nasce sabendo ler: aprende-se a ler na medida em que se vive, em nossa cultura quanto mais abrangente a concepção de mundo e de vida, mais intensamente se lê, numa espiral quase sem fim, que pode e deve começar na escola, mas não pode nem costuma encerrar nela" (LAJOLO, 1999). É evidente que essa questão tem razões que estão sendo amplamente discutidas e que merecem reflexão por parte da sociedade em geral. Entretanto, é necessário pensar no profissional do ensino como um sujeito que tem a tarefa de ler e proporcionar o gosto pela leitura. Para formar leitores, é preciso que o professor tenha paixão pelo ato de ler, deve entender a leitura como fonte de prazer e sabedoria. Enquanto o professor não se posicionar de forma diferente continuaremos a ter aulas com tínhamos no passado e continuaremos ensinando pelo senso comum. Atualmente é possível observar que a leitura e a escrita estão ligadas no processo de formação do indivíduo, sendo, portanto as mesmas, foco de estudo e discussão, pois a questão está ligada na qualidade dessa formação, na identidade do sujeito. Sabemos que o acesso de todos à leitura é uma questão de direito universal. Mas para isso, precisamos repensar a maneira de fazer esse trabalho, e pensar os tipos de identidades que estão se formando. "A identidade transforma-se em uma questão quando há uma ruptura repentina, após um desmembramento da estabilidade".

Novas identidades

Entendemos que a leitura é muito mais do que um instrumento inerente ao ambiente escolar, deste modo vemos a leitura como um passaporte para a entrada na cultura escrita, logo não podemos conceber uma cidadania plena sem a utilização da leitura, Mas o ato de ler na escola designa nossa inserção na sociedade letrada. A leitura não é apenas a apropriação do ato de ler e escrever, ela abraça o domínio de uma série de práticas culturais que acolhem um entendimento do mundo, diferente daqueles que não tem acesso à leitura. O ato de ler tem um papel tão importante na sociedade no qual podemos dizer que essa prática cria novas identidades, novas formas de inserção social, novas maneiras de pensar e agir sobre mim e sobre um outro. Bettelheim (1984) diz que: "A capacidade de ler é de importância tão singular para a vida de uma criança numa escola". Por isso que é necessário procurar a maneira mais adequada para desenvolver o gosto pela leitura.