Suspirou desesperado quando mirou um enorme buraco na sola do seu sapato; Muedumbe Ndjovo, de 30 anos de Idade caminhava trotando na lama da vida atropelando os espinhos dos influentes. Nasceu numa família rota e pacata, formou-se em veterinária com a melhor classificação no meio dos filhos de tubarões; mas a lei da influência o arrastou a margem do desespero. Ndjovo, com o seu diploma na mão, enfrentava os ferozes da subsistência, mesmos com os bolsos ocos, os olhos esgotados e a garganta seca de tanto beber a poeira das avenidas.

Suplantados pelos tubarões da vida, Muedumbe sorria por fora, mas por dentro chorava tácito, com o rosto aterrado, contando os botões da sua rota camisa. Durante o dia, andava com uma lanterna acesa afim de enxergar o que a luz natural não o facilitava achar, dai que desesperado, Muedumbe emperlou-se na mítica cabana do mágico Ntaba, afim de consultar os traços do destino, emudecido no segredo dos espíritos dos antepassados. 

Nanga Ntaba, o temível mágico assim conhecido naquela região; com os olhos arregalados no seu misterioso Nivúo1 clamou pelos espíritos de Ndjovo e Nbibi e horas depois, ergueu a cabeça, tossiu, e com os olhos fitados nos do Muedumbe sussurrou com uma voz roca e séria  dizendo: “filho, estas enfeitiçado”. Ora, aquela voz amarga e torrente carimbou o desespero do pobre jovem que saiu daquela mítica cabana com uma dose de raízes nos bolsos e marcas desenhadas a lâmina no seu corpo sagrado; porém apesar de tudo isto, a sorte pulava de mão em mão recusando as do Muedumbe.    

Todo empoeirado e de tanto borrar as avenidas da cidade com as solas do seu humilde sapato atrás do emprego, o jovem empoleirou-se numa mafureira frondosa e com os olhos esbugalhados no seu famoso diploma, disparou na imaginação, “Ahh! estou perdido, tanto tempo gasto na carteira para me formar, tanto sacrifício para mudar o meu futuro e hoje termino nesta mafureira enquanto os meus colegas, filhos de tubarões e da influência gozam do vigésimo quinto salário. Será isto azar? Será que estou mesmo enfeitiçado? Os que me oferecem emprego me pedem o mínimo de 05 anos de experiência, onde trarei? Se a única experiência que tenho são os mais de 05 anos de marcha pelas avenidas da cidade, de gabinete em gabinete a busca da dita experiência…………. Prefiro morrer, quem sabe no além o meu saber terá valor!

Ora, na luta pela sobrevivência, Muedumbe morreu beijando oportunidades. Cheio de conhecimentos aterrados e um brilhante diploma na mala.

 

MOÇAMBIQUE, 04 DE FEVEREIRO DE 2015

Por: Adelino José Chipangura

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