Lagoa Preta

 

 

A Fazenda Mon Senhõr era nacionalmente conhecida como "um sopro de civilização na selva". Tinha de tudo. As comodidades do uso de aparelhos fomentados à energia elétrica - de todos os tipo, tamanhos e utilidades -, telefone, cama, comidas e bebidas de todos os gostos e, principalmente, tranqüilidade.

O acesso à Fazenda Mon Senhõr era difícil. Somente por meio de animais, caminhões ou de carros fortemente tracionados chagava-se ao local. Há quem diga que também seria possível chegar ao Mon Senhõr navegando-se por entre os inúmeros rios vicinais que desaguavam, em sua maioria, na misteriosa Lagoa Preta.

A crendice local dizia que a Lagoa era a Garganta do Diabo e que todos aqueles que um dia tentaram desafiá-la foram engolidos para as suas profundezas, sem ao menos conseguir dizer adeus ou acenar para pedir ajuda. A lenda ainda afirmava que as pessoas desapareciam, sobretudo, entre os meses de agosto de outubro.

No entanto, o desaparecimento de pessoas na Lagoa Preta, apesar de todo o misticismo que rondava a região, era um fato real. As famílias das pessoas desaparecidas, da mesma forma, nunca lograram achar o corpo do ente querido, tendo-se como sabido que mais de dois caixões foram velados e enterrados absolutamente vazios pelas famílias dos infelizes em locais não divulgados para se evitar eventuais represálias e excomungações por parte da Igreja da Vida, instituição religiosa dominante e que participava ativamente das atividades políticas a nível nacional.

Os mais céticos, ainda que desprovidos de dados científicos e informações confiáveis quanto ao assunto, mas analisando documentos oficiais fornecidos pela autoridade local em que davam conta de que diversas pessoas haviam desaparecido na Lagoa Preta, passaram a sustentar a tese de que o desaparecimento das pessoas no local seria um fenômeno decorrente da heterodoxa posição do sol, da Terra e da lua, em que todos estariam alinhados entre si e exercendo, concomitantemente e de per si, uma pressão inimaginável sobre o espaço físico por eles ocupado no Universo, fazendo com que uma espécie de "buraco negro" fosse criada. Segundo os mesmos cientistas, o mesmo fenômeno já teria ocorrido no sol e na lua há milhares de anos, podendo ser, inclusive, avistado da Terra desde que se faça uso dos aparelhos corretos.

Apesar da ausência de consentimento quanto às causas do fenômeno analisado, ambas as teorias concordavam com as suas conseqüências: a primeira é que a pessoa sumia ao nadar em suas águas entre os meses de agosto e outubro. A segunda é que entre os meses em questão o movimento das marés e das correntezas dos rios tornavam-se atípicas, pois adquiriam força e volume descomunais capazes alterar substancialmente o curso dos rios e o movimento das marés, o que ocasionava secas em regiões de mangues e alagamentos em regiões de agreste.

Em razão da grande repercussão dos fatos na imprensa nacional, vários pesquisadores, cientistas, jornalistas, formadores de opinião e curiosos de um modo em geral passaram a se interessar sobre o assunto.