• Pastor George Emanuel

Analisaremos a questão da inspiração da Bíblia, que está intrinsecamente relacionada à formação do cânon bíblico, assunto que trataremos no próximo artigo.

A palavra inspiração,quando empregada em relação à Bíblia, significa soprada por Deus. A Bíblia, na verdade é respirada por Deus e aspirada pelo homem. O homem ganha vida com o hálito de Deus. A inspiração por fim, é o ato de Deus trabalhar através do profeta para que este receba e sistematize a revelação até esta chegar ao seu destino.

Existe um consenso entre os seguidores da Bíblia, baseados não somente na fé, mas em evidências de que ela é realmente inspirada por Deus. Há, naturalmente, divergências quanto á maneira como a inspiração proveio de Deus e chegou ao homem.

I.Teorias da Inspiração:

1.1.A Necessidade Primária das Escrituras: O pecado do homem foi o que tornou necessário o registro da escrituras, no Éden a natureza era suficiente para revelar o Criador. Porem a queda obscureceu o entendimento do homem, levando-o a perder o discernimento espiritual. A Revelação geral, portanto não é mais suficiente para conduzi-lo ao Criador. Através da história Deus separou homens e os preparou para que de forma infalível registrassem seus desígnios. Dessa forma a Bíblia tem um caráter instrumental e temporário, embora seus efeitos e suas verdades sejam eternos, pois na eternidade ela não existira, no entanto compreenderemos claramente o fim para o qual ela apontava.

1.2.Necessidade Conseqüente: Somente através das Escrituras o pecador pode ter um conhecimento de Deus livre de superstições. Ela como palavra inerrante e infalível de Deus terá condições de oferecer ao homem respostas adequadas as suas necessidades. E dessa forma o homem tempo dever fazer a vontade de Deus.

·A Inspiração das Escrituras

1.3.O que inspiração não é:

1.4.Mecânica ou Ditada: A Inspiração não significa que Deus tenha ditado suas palavras aos escritores. Se fosse assim a Bíblia não teria estilo diferente.

1.5.Iluminação: A inspiração não é a intensificação da ação do Espírito santo aos escritores de tal forma que eles tivessem um grau mais elevado de percepção espiritual. Se fosse assim a veracidade das palavras dependeria da capacidade que cada escritor tivesse de apreensão.

1.6.Intuição: A inspiração é diferente de intuição, no sentido que a inspiração desses escritores diferem dos outros autores secular. Se assim fosse ela poderia ser bela mais seria inadequada para conduzir-nos a um relacionamento com Deus.

1.7.Parcial o fracionada: A inspiração não foi parcial, ou seja ela tem autoridade somente ética e espiritual, mas histórica, cronológica, arqueológica...ela contém erros.

1.8.Mental: Inspiração não significa que os autores secundários tiveram apenas os seus pensamentos inspirados, mas não as palavras de seus registros. A inspiração termina não nas idéias, mas no registro final das Escrituras.

1.9.O QUE É INSPIRAÇÃO: A palavra inspiração não ocorre no Novo testamento e só aprece uma vez no Velho Testamento. No Novo Testamento a palavra usada em 2 Tm 3.16, como inspirada, significa Ex-pirada, ou seja, toda escritura e soprada, exalada por Deus. Desse modo Deus é soprado pelas paginas das Escrituras. "Podemos definir inspiração como sendo a influencia sobrenatural de Deus sobre os homens separados por ele mesmo, a fim de registrarem de forma inerrante e suficiente toda à vontade de Deus, constituindo esse registro na única fonte e norma de todo o conhecimento cristão".

1.10.Desse modo cremos que a palavra de Deus é:

·Plenária – Porque toda a Escritura é plenamente expirada.

·Dinâmica – Porque Deus não anulou a personalidade dos escritores, por isso, inspirados por Deus eles puderam usar toda a sua capacidade de pesquisar, experiências etc.

·Verbal – Porque Deus se revelou através das palavras e todas as palavras dos autógrafos originais são palavras de Deus.

·Sobrenatural – Por ter sido originada em deus e produzir efeitos sobrenaturais, mediante a ação do Espírito Santo, em todos aqueles que crêem em Cristo.

·Qual o papel dos Escritores nos registros sagrados na inspiração?

1.Papel Passivo: Eles não interferiram na ação de Deus em revelar e não expressaram nos registros sua natureza pecaminosa.

2.Papel Ativo: Deus não anulou a personalidade dos escritores, e nem sua capacidade.

II.Evidências Internas

2.1. Autoridade própria.

A Bíblia é um livro que fala com autoridade e, com esta mesma autoridade, afirma-se como escrito inspirado por Deus. "Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça". (II Timóteo 3:16). Somente no Antigo Testamento aparecem mais de 400 vezes a expressão "assim diz o Senhor".

2.2. O testemunho do Espírito Santo.

"O testemunho íntimo de Deus no coração do crente, à medida que este vai lendo a Bíblia, é evidência da origem divina da Bíblia". Até mesmo pessoas que não têm nenhuma afinidade com a Bíblia, ao começar a lê-la, estudá-la, sentem que estão diante de um tratado diferente de qualquer outro produzido por pena humana.

2.3. A capacidade transformadora da Bíblia.

Nenhum outro livro evidencia tão forte poder de transformar vidas como a Bíblia. Homens imperiosos aprendem lições de humildade e mansidão; prostitutas e homossexuais abandonam suas práticas licenciosas; ladrões e sonegadores restituem o furto; viciados conseguem deixar as drogas; pais rancorosos passam atratarcom carinho seus filhos; filhos rebeldes retornam ao lar; famílias destruídas são refeitas; patrões insensíveis passam a respeitar o direito de seus empregados, e empregados relapsos tornam-se honestos e dedicados.

2.4. O Princípio da unidade da Bíblia.

Uma forte evidência da origem divina da Bíblia é o fato de apesar de ser constituída por 66 livros, com cerca de 40 diferentes autores que a escreveram num período de, aproximadamente, 1500 anos, a Bíblia apresenta uma extraordinária coerência temática. Nenhum autor contradiz o outro, apesar de escreverem em idiomas diferentes e viverem em culturas diferentes. Esta evidência indica que os profetas, reis e apóstolos, não foram os autores, foram apenas instrumentos do autor, o Espírito Santo.

O tema central da Bíblia é apresentar a solução para o problema do pecado, Jesus Cristo, "autor e consumador da fé". Do primeiro livro, Gênesis, ao último, o Apocalipse, este tema se repete como se obedecesse a um roteiro transcendente à própria vida de seus autores humanos.

III.Evidências Externas.

3.1. O testemunho de Cristo.

"Se Jesus Cristo possui alguma autoridade ou integridade como mestre religioso, podemos concluir que a Bíblia é inspirada por Deus". Dizem Geisler e Nix: "O Senhor Jesus ensinou que a Bíblia é a Palavra de Deus. Se alguém quiser provar ser essa assertiva falsa, deverá primeiro rejeitar a autoridade que tinha Jesus de se pronunciar sobre a questão da inspiração". Cristo fez inúmeras referências às Escrituras hebraicas, dando, assim, seu aval sobre a veracidade e inspiração da Lei (o Pentateuco), dos Profetas e dos Salmos (as outras divisões da Bíblia hebraica). "A seguir Jesus lhes disse: São estas as palavras que Eu vos falei, estando ainda falando convosco: importava se cumprisse tudo o que de Mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos." (Lucas 24:44).

3.2.O cumprimento das profecias.

Nenhum outro livro que reivindica a inspiração divina, (Alcorão islâmico e os Vedas hindus), apresenta uma gama de profecias cumpridas com extrema exatidão como a Bíblia. É espantosa a precisão profética de Daniel ao descrever as datas exatas do nascimento, batismo e morte de Cristo, na profecia das setenta semanas. Pareceaté que o profeta Naum estava observando as ruas movimentadas de uma grande cidade moderna, à noite, do alto de um edifício, ao descrever fotograficamente, os carros em alta velocidade: "Os carros passam furiosamente pelas ruas e se cruzam velozes pelas praças; parecem tochas, correm como relâmpagos". (Naum 2:4). O Profeta Isaías também descreve de forma precisa toda obra e sacrifício de Cristo em Seu ministério terreno, cerca de 700 anos antes de ocorrerem os fatos.

3.3.A indestrutibilidade da Bíblia.

O próprio Senhor Jesus afirmou que passaria o céu e a terra, "mas as minhas palavras não passarão" (Mateus 24:35). Vê-se, na introdução deste tratado, que apesar de todas as tentativas, os inimigos das Sagradas Escrituras não conseguiram eliminar sua influência, nem no passado, nem nos dias atuais. "Os cépticos têm lançado dúvidas sobre a confiabilidade da Bíblia; todavia, mais pessoas hoje se convencem de suas verdades do que em toda a história. Prosseguem os ataques da parte de alguns cientistas, de alguns psicólogos e de alguns líderes políticos, mas a Bíblia permanece ilesa, indestrutível… A Bíblia continua mais forte do que nunca, depois destes ataques".

3.3.A integridade de seus autores humanos.

Os relatos bíblicos impressionam pela imparcialidade como são expostos. Reis ou humildes servos são apresentados com todos seus defeitos e vícios, e percebe-se que nenhum escritor bíblico tentou omitir fatos para proteger os poderosos de sua época, e nenhum elogio descabido ou forçado é dirigido para agradar quem detinha o poder. Os profetas e apóstolos eram considerados homens de Deus. com certeza, por esse motivo, nenhum outro livro ou tratado apresenta, em suas páginas, um código de ética e moral mais elevado que a Bíblia. O Decálogo (dez mandamentos), o clamor dos profetas pela justiça, os preceitos de Cristo (sermão da montanha e todos os Evangelhos), as instruções apostólicas (epístolas), a pureza de caráter exigida do cidadão da Nova Terra (Apocalipse) falam, por si só, da inteireza moral dos escritores da Bíblia.

3.4.A influência da Bíblia.

Para a pergunta: qual o livro que mais tem influenciado o pensamento ocidental? Sem risco de errar, a resposta só poderia ser: a Bíblia. A maior religião do mundo, hoje, é o cristianismo, com mais de dois bilhões de seguidores. Embora dividido em diversas correntes, todas as igrejas cristãs aceitam a Bíblia como livro sagrado. Portanto, o maior grupo religioso do planeta recebe influência direta da Bíblia. Não foram poucas as grandes personalidades da história universal que reconheceram a influência da Bíblia. Por exemplo, Emmanuel Kant (filósofo alemão): "A existência da Bíblia, como um livro para as pessoas, é o maior benefício que a raça humana alguma vez experimentou. Toda tentativa para depreciar isto é um crime contra a humanidade". George Washington (primeiro presidente dos E.U.A): "É impossível governar o mundo, justamente, sem Deus e a Bíblia". E a Rainha Vitória: "Este livro (a Bíblia) responde pela supremacia da Inglaterra".

As evidências analisadas neste capítulo nos deixam seguros de que a Bíblia é, de fato, um livro confiável em toda sua extensão e em todas as suas partes. Embora as transcrições dos textos antigos possam conter imprecisões (antes da invenção da imprensa, todas as cópias eram feitas á mão, sujeitas, portanto, aos deslizes dos copistas), podemos estar absolutamente certos da inerrância dos escritos originais (conhecidos como autógrafos, escritos do próprio punho dos profetas ou dos amanuenses), ainda que não tenhamos acesso a eles, pois já não existem mais.

Finalmente, Packer lembra que "a inspiração dos escritos bíblicos não deve ser igualada com a inspiração das grandes obras da literatura, nem mesmo (como freqüentemente é verdadeiro) quando o escrito bíblico for, de fato, uma obra da literatura. A idéia bíblica da inspiração não se relaciona com a qualidade literária do que é escrito, mas com sua característica de ser revelação divina escrita".

  • Notas__________________________________________

1.Norman L. Geisler and William E. Nix, From God to us: how we got our Bible [págs. 11-16] A inspiração da Bíblia: A característica mais importante da Bíblia não é sua estrutura e sua forma, mas o fato de ter sido inspirada por Deus. Não se deve interpretar de modo errôneo a declaração da própria Bíblia a favor dessa inspiração. Quando falamos de inspiração, não se trata de inspiração poética, mas de autoridade divina. A Bíblia é singular; ela foi literalmente "soprada por Deus".