Uma análise sobre as nuances do processo de emancipação política, suas origens na elite paranaense e a influência de membros da maçonaria no desfecho histórico.

A história do Paraná, embora possua diversos nomes respeitáveis em pesquisas valiosas realizadas nos últimos anos, ainda é solo fértil para o aprofundamento em muitos aspectos relacionados à sua constituição. A construção do processo de emancipação política sofreu influência de alguns setores da sociedade na consecução da libertação sócio-política (e porque não dizer também econômica), em vários segmentos: comerciantes, intelectuais, empreendedores, criadores de gado, funcionários públicos, militares e políticos, todos imbuídos de forte sentimento revolucionário e libertário, cenário ideal para o desenvolvimento e desencadeamento de acontecimentos que sugerem ter tido um fator que ainda não é tão público quanto provável.

O presente trabalho tem por finalidade analisar a influência da Maçonaria, enquanto associação de homens influentes na política, economia e sociedade, no processo de emancipação política do estado do Paraná, de maneira aprofundada, coesa e imparcial.

Embora não seja nossa finalidade principal, realizaremos algumas incursões no campo da história da sociedade paranaense de então, para melhor compreender sua estrutura social, organização política, formas de comércio e aspectos que interferiram diretamente nos anseios pelo processo de emancipação, como encargos tributários, influência da metrópole e dinamismo político provocado pelas oscilações governamentais daquela época, além de outras questões de ordem que incomodavam a elite regional de em ascendência entre 1702 a 1853.

Procuraremos elucidar as questões políticas que predominaram durante grande parte da história da fundação do Paraná, bem como sua autonomia estrutural, já perfeitamente observável desde o momento em que se tornou comarca do Estado de São Paulo e comerciava de maneira plena e vigorosa com seus vizinhos do sul. Direcionaremos, como foco do estudo, a influência exercida pelos membros da Ordem Maçonaria, e até que ponto o assunto foi discutido e definido no interior das Lojas maçônicas; quais foram os Maçons que exerceram influência junto ao governo de São Paulo e do Brasil de maneira geral; como era vista, sob o ponto de vista dos Maçons paulistas e paranaenses, a questão da emancipação política; quem foram os principais articuladores da emancipação, e como foi acordada a presente questão.

Procuraremos elucidar de maneira concisa e concreta se a Ordem Maçônica, na figura de seus administradores e membros, exerceu influência direta ou indireta, orientando seus “irmãos” a tomarem decisões ou comportamentos políticos que colaborassem com o processo histórico que se desnovelava.

Concluindo o exórdio, deixaremos evidenciado se o “Poder” que a Maçonaria exerce, relevada a multifacetada influência histórica, de maneira indireta ou qualquer que seja, foi evidente no processo, e até onde foi decisivo no quadro de emancipação política da 5ª comarca.

É oportuno lembrar que, embora a pesquisa seja substancialmente abrangente haja vista sua pretensão de analisar os acontecimentos no interior de Lojas Maçônicas em todo o Paraná, e que, de fato, pretendamos visitar/conhecer as Lojas do litoral - onde surgiram as primeiras – e no interior do estado, vamos focar especialmente nos acontecimentos em Lojas maçônicas na cidade de Curitiba, onde uma pesquisa preliminar indica ter sido o local de maior influência. O pioneirismo da frente de pesquisa, bem como a iniciativa de se criar um plano de estudos no campo teórico e prático demonstra a pertinência do projeto, quando utilizaremos, para exame, fontes históricas virtuais, como revistas eletrônicas e bibliotecas virtuais pertencentes à maçonaria paranaense, além das consultas “in loco”, onde a vasta gama de livros, atas e documentos terão grande peso na elucidação das questões propostas.

Para tanto, constituir-se-ão procedimentos metodológicos para o desenvolvimento desta pesquisa que pretende, ao seu término, resultar numa dissertação de mestrado como produto final: a leitura de bibliografias direcionadas; a análise dos debates e das discussões em seminários, congressos e workshops; a observação de experiências profissionais/acadêmicas e; sobretudo, o aprofundamento nas questões já presentes no universo da historiografia paranaense, que serão basilares para uma produção inédita no assunto, descortinando os mitos e sombras acerca da ordem maçônica, mormente no que concerne ao objeto de pesquisa.

O presente projeto alinha-se, dessa maneira, ao que estabelece o PPGHIS/UFPR, haja vista sua proximidade com a Área de Concentração “História do Paraná” e, especialmente, sua intimidade com a linhas de pesquisa “Cultura e Poder” e “Intersubjetividade e Pluralidade: Reflexão e Sentimento na História”. Nosso projeto é pertinente e adequado: analisa a relação de determinada instituição e sua possível influência em um momento de extrema importância para a história paranaense, e descortina, oportunamente, as possibilidades de relativa condução por ideais institucionais que podem ter culminado com o desfecho citado.

Nesta introdução, sucintamente, expusemos nossa referência teórica e conceitual, o objeto da pesquisa e sua justificativa, os objetivos e os procedimentos metodológicos. Nosso Projeto de Pesquisa compõe-se desses elementos [e de outros mais] sobre os quais vamos nos aplicar com mais profundidade e complexidade nas próximas páginas manifestando concepção sobre a nossa dissertação de mestrado, sua importância, relevância e originalidade.

  1. Objeto

A história pode ser contada de diversas maneiras, por diversos atores; o que nos chega geralmente são fragmentos e recortes observados pelo ângulo daquele que observou, que pesquisou, que analisou o que lhe veio às mãos, ou somente, o que interpretou. Hobsbawm (1994) nos adverte quanto à importância de se observar a história não somente com os olhos dos vencedores, mas implicar-se nas entrelinhas, nas minúcias não ditas, nas articulações extraoficiais e nos relatos de quem vivenciou de uma outra maneira e por um outro ângulo o mesmo acontecimento.

 Embora, com já dito, renomados pesquisadores tenham se embrenhado (e com muito esmero) nos aspectos alusivos à emancipação política do Paraná, alguns detalhes ainda podem ser decisivos para a interpretação da história como um todo: basta analisar pequenos aspectos, que percebemos as gritantes lacunas não esmiuçadas pela historiografia tradicional, o que propõe uma necessidade de imbricar conhecimentos e construir coalisões acerca dos estudos nessa área.

Historicamente, diversas instituições disputam a supremacia na sociedade promovendo infiltração social e penetração ideológica. O clero, o poder legislativo, executivo e até mesmo o judiciário, as universidades, as associações de classes e, obtendo os holofotes da presente pesquisa, a Maçonaria.

É com a devida motriz acadêmica, e munido com as intenções mencionadas que nosso trabalho traz à baila as problemáticas: até onde a instituição “maçonaria”, ordem que tem suas origens possivelmente na construção do templo de Salomão - e que perdura através dos anos sob os ideais iniciáticos, filosófico-progressista e filantrópicos, pregando entre seus membros a evolução da humanidade pelas obras e pela caridade - nutriu entre seus membros o ideal coletivo de emancipação política? Como foi instituída a necessidade de emancipação, uma vez que seus membros compunham classes distintas onde nem todos, necessariamente, comungariam dos mesmos anseios e até mesmo divergiriam sobre questão de tamanha complexidade? Quando o decreto de emancipação do Paraná foi assinado, quais eram os dirigentes da maçonaria nos diversos locais, e de que maneira contribuíram (se é que contribuíram) para a consecução do feito emancipatório?

Os primeiros levantamentos apontam as Lojas (assim conhecidos os locais onde se reúnem os maçons) no litoral do Paraná como aglutinadoras do maior número de figuras políticas influentes naquele momento, além outras no interior do estado e, mais precisamente, na capital. Os comentários e apresentações informais no interior da Ordem apontam para uma série de fatores e combinações de influências, trocas de favores e idealismos conduzidos de maneira ferrenha e vigorosa que, segundo uma primeira análise, podem realmente ter sido capazes de moldar todo um cenário de favorecimento. É preciso, no entanto, lembrar que os acontecimentos históricos não se resumem a possibilidades e “achismos”; a pesquisa séria e acadêmica orienta à busca aprofundada e imparcial, e é justamente nesse sentido que nosso trabalho pretende descortinar o desenrolar histórico de maneira coesa e, a posteriori, concluir sobre a possível influência dos membros da maçonaria nas diversas esferas possíveis.