“A INDÚSTRIA CULTURAL” DE THEODOR W. ADORNO

                        Ivone Cortina

Licenciatura em Filosofia

Faculdade de Ciências Humanas – FACH

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1- A Indústria Cultural

Para Theodor W.  Adorno a cultura de massa denominou a indústria cultural, pois segundo o mesmo, vários ramos produzem produtos adaptados ao consumo das massas, gerando a união dos domínios da arte superior e a arte inferior causando prejuízos a ambos. Entende-se que para Adorno a indústria cultural não leva em consideração o que a população pensa e busca para seu próprio conhecimento, pois a indústria cultural tem sua práxis voltada ao lucro e não a cultura como formação.

Segundo Bruno Pucci (2014), nessas linhas mestras do pensamento de Adorno que eram a indústria cultural e a produção generalizada da semicultura, no período liberal do capitalismo, os dominantes monopolizaram a formação cultural, negando aos trabalhadores os pressupostos para formação e inclusive suas horas livres, ocupando os mesmos em serviços que gerassem capitais.

Para Hebert Marcuse (1937), no ensaio sobre o caráter afirmativo da cultura, evidencia o duplo modo da cultura burguesa, fundamentado na oposição entre o ideal e o real (realidade da vida dos trabalhadores, caracterizada pela destituição dos elementos básicos de uma vida digna).

Conforme cita Pucci, Adorno vê a universalização do mercado da indústria cultural como uma contradição em relação à formação cultural e a sociedade de consumo, gerando a semicultura.

“não se trata nem das massas em primeiro lugar, nem das técnicas de comunicação como tais, mas do espírito que lhes é insuflado, a saber, a voz de seu senhor. A indústria cultural abusa da consideração com relação às massas para reiterar, firmar e reforçar a mentalidade destas, que ela toma como dada a priori e imutável (A Indústria Cultural, 1967)”. 

 A semicultura advém da ausência do tempo histórico e condições existenciais para se desenvolver e nesse panorama o homem trabalhador passa diretamente de uma submissão para outra, do domínio bíblico para autoridade televisiva e do esporte, aquém da imaginação produtiva.

A indústria cultural tem sua importância para a formação de consciência de seus consumidores, porém Adorno enfatiza a importância de não confundir o fato estético e suas vulgarizações com arte. A arte para preservar sua verdade, precisa preservar sua própria lei, na qual contribuirá para mudança da consciência da humanidade, ou seja, renunciar à forma estética é abdicar da responsabilidade de se criar esperança. O gênio criativo, a questão estética e todas as suas revelações que a arte pode trazer aos homens se perderiam.

 Para Adorno, não existem valores aproximados para cultura, como no caso da execução de uma peça musical, essa não comporta a graduação de medianamente boa, ou seja, o que é entendida pela metade, não pode ser considerado um degrau para formação. Desse modo, a semicultura não avança para cultura e sim como elemento contingente de um processo de continuidade.

Adorno chama a atenção para o obscurantismo, a relação cega com os produtos culturais culminando em uma falsa fundamentação na transformação social, negando a classe trabalhadora que desenvolva a fundo suas possibilidades humanas e sócio-culturais. “A indústria cultural abusa da consideração com relação às massas para reiterar, firmar e reforçar a mentalidade destas, que ela toma como dada a priori e imutável (A Indústria Cultural, 1967)”.

Em relação ao conceito de técnica na indústria cultural, esse se refere à organização imanente à sua lógica interna, que nada mais é que a busca por lucratividade. Quanto ao seu suporte ideológico essa se prende ao fato de se eximir de todas as consequências de suas técnicas em seus produtos. Em suma, a indústria cultural obtém certa condição de parasita sobre as técnicas extra-artísticas da produção de bens sem se preocupar com a objetividade e a autonomia estética.

No texto em questão, (p. 290) Adorno refere que a indústria cultural tem reprodução mecânica, permanecendo alheia ao seu objeto e como o mesmo cita: “com sua monstruosidade ideológica”.  

Para Adorno, o que a indústria cultural oferece faz com que o homem perca a sua capacidade crítica, torna-o alienado. Baseando-se no texto “A industrial Cultural” de Adorno, dá-se a impressão que a humanidade quer ser enganada, pois a indústria cultural pretende fornecer critérios para a sua orientação, até mesmo o pior filme se apresenta como uma obra de arte. O imperativo categórico da indústria cultural opõe-se a Kant, pois em nada retrata a liberdade que o mesmo enfatiza como autonomia dos seres sobre suas próprias escolhas. Quanto ao conformismo, esse substitui a consciência através da ideologia da indústria cultural.

A dependência e a servidão dos homens à indústria cultural, através da satisfação de que o mundo está em ordem, estabelece a dominação técnica progressiva e se transforma em engodo das massas, impedindo que o homem seja capaz de julgar e de ter decisões conscientemente.

Com a revolução tecno-industrial, uma nova realidade cultural se implantou e se fez importante que os produtos culturais deixassem de ser valores de uso, tornando-se acessíveis a população, desenvolvendo-se uma indústria da produção cultural.

Para Pucci, se faz importante a promoção do debate sobre as características da indústria cultural na atualidade, sobretudo para a investigação dos danos objetivos e subjetivos que estimulam a propagação de uma semiformação, que se generaliza velozmente, de uma educação cada vez mais danificada, bem como da congruência entre progresso técnico e dessensibilização e assim a Indústria Cultural ganha status quando se analisa o mundo em que se vive, as escolas cada vez mais administradas e controladas pelo capitalismo globalizado e interconectados pelas redes das novas tecnologias de informação.

2. Conclusão

A obra de arte deve despertar a sensibilidade e a curiosidade no homem. De igual modo, a filosofia deverá produzir conceitos com bases em pensamentos que gerem outros pensamentos. Assim, segundo Adorno, a arte sob o ponto de vista da filosofia teve sua produção e oportunidade modificada pelo desenvolvimento de meios técnicos e tecnológicos em um contexto capitalista. Para ele fazer arte não é fazer filosofia e tampouco ciência, entretanto se faz necessário que a filosofia faça um constante diálogo com a arte e com a ciência para produzir conceitos.

É preciso, através do esclarecimento, da auto-reflexão-crítica, buscar o fortalecimento do indivíduo, para que esse ter uma consciência crítica. Atualmente as escolas oferecem educação, que do modo como adaptada ao domínio do capitalismo moderno, tem sido orientada pelas necessidades imediatas do capital, contribuindo para a ampliação das condições objetivas e subjetivas que possibilitam a permanência da submissão. O individuo transforma-se em instrumento a serviço da produção de mercadorias, ocorrendo simultaneamente redução do pensar ao dom de suas funções.

Referências   

ADORNO, T.W.  A indústria Cultura, in COHN, Gabriel (Org), Theodor W. Adorno, trad. De Amélia Cohn. Col. Grandes Cientistas Sociais. Cap. 16. São Paulo:Ática, 1986.

ADORNO, T.W. Indústria Cultural e Sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

MARCUSE, H. A Dimensão Estética.São Paulo:Martins Fontes, 1986.

PUCCI, B. Filosofia Negativa e Educação: Adorno. Disponível em:<http://www.unimep.br/   ~bpucci/filosofia-negativa-e-educacao-adorno.pdf> Acesso em 16 de abril de 2018. Pg. 1-22.