RESUMO

Este trabalho foi realizado a partir de uma pesquisa de natureza bibliográfica e tem como objetivo entender, por meio de uma visão psicopedagógica, como o ócio pode colaborar para que haja uma aprendizagem significativa na infância. Com tal finalidade, buscou-se aprender o seu conceito, assim como o conceito da aprendizagem e, com base na bibliografia consultada, analisou-se como atividades em excesso podem prejudicar o processo de aprendizagem na infância. Além disso, o artigo discute o ócio como ferramenta a favor da aprendizagem, como colaborador para que o aprender seja mais significativo. O aporte teórico foi fornecido pelos seguintes autores: Fernández (1991); De Masi (2000); Santana (2017); Leme (2012); e Chedid (2016). Ao final da investigação, verificou-se que para o ócio ser significativo é preciso que a criança queira vivenciá-lo. Na ausência desta vontade, a literatura nos indica que será necessário que ela tenha a sua disposição as intervenções que lhes sejam adequadas.
Palavras-chave: Ócio, Psicopedagogia, Criatividade, Excesso, Desenvolvimento Infantil.

INTRODUÇÃO

Ao refletirmos sobre as possíveis desvantagens que as crianças vêm enfrentando nos últimos tempos com pais que começam a investir no futuro de seus filhos cada vez mais cedo, podemos perceber que isso tem se tornado uma corrida exacerbada por um futuro brilhante e que acaba trazendo uma cobrança de que elas sejam perfeitas em tudo que façam, seja na escola, ou mesmo no convívio com o outro.
O zelo com que o assunto é tratado dentro de suas casas, não tem levado em conta o quanto o excesso de atividades pode acabar prejudicando o desenvolvimento infantil e, consequentemente, chegando a atingir o processo de aprendizagem.
Nesse sentido, este estudo justifica-se pela necessidade de considerar que chegou a hora de fazermos uma reflexão sobre a importância do ócio na vida da criança, e sobre o quanto ele pode ser benéfico para o desenvolvimento infantil.
Podemos ainda ressaltar que nem sempre ficar “sem fazer nada” é realmente ficar desocupado, já que o ócio do qual falamos aqui, é aquele em que existe uma ação, a criança vai tirar um tempo de descanso de suas atividades programadas para exercer atividades de sua escolha e que lhe tragam a sensação de felicidade e prazer. Durante este tempo, a criança elabora ideias e, por meio delas, passa a criar novas possibilidades, a desenvolver hipóteses e, o melhor, depois de tudo isso, ela pode colocar toda a sua criatividade em prática.
Uma das questões que emerge nesse cenário é entendermos quando o ócio torna-se uma ferramenta positiva para o processo de aprendizagem na infância, visto que a cobrança em ter uma agenda cheia de atividades acaba atrapalhando o desenvolvimento das crianças.
A partir dos pressupostos iniciais, este estudo objetiva demostrar, sob uma perspectiva psicopedagógica, como o ócio pode colaborar para que haja uma aprendizagem significativa na infância, entendendo que, esta aprendizagem deve trazer um olhar diferenciado para cada criança, pois cada uma delas possui suas singularidades, que podem trazer resultados inesperados.
Uma das hipóteses levantadas neste estudo é que o excesso de atividades pode levar as crianças a um esgotamento físico, que, consequentemente, acaba afetando o seu ajustamento criativo, impossibilitando-as de criarem e realizarem.
Segundo Santana (2017):
O ajustamento criativo é muito importante para o ser humano, pois é a sua capacidade de autorregulação sob situações diversas, no contato de fronteira organismo/ambiente. A criança está a todo o momento buscando novas formas de se comportar em situações diversas e buscando novos repertórios para lidar com as divergências da vida, sendo importante ter as suas relações sociais, principalmente a familiar, organizada e apoiadora para que a criança realize um ajustamento criativo funcional. (SANTANA, 2017, p.11)
Como opção metodológica, a pesquisa baseia-se em levantamento de natureza bibliográfica, conforme a perspectiva de Severino (2007), pois segundo ele:
A pesquisa bibliográfica utiliza-se de dados ou de categorias teóricas já trabalhados por outros pesquisadores e devidamente registrados. Os textos tornam-se fontes dos temas a serem pesquisados. O pesquisador trabalha a partir das contribuições dos autores dos estudos analíticos constantes dos textos. (SEVERINO, 2007, p. 122)
Para fundamentar este estudo foram trazidas as concepções de ócio e de aprendizagem, bem como foi realizada uma breve reflexão sob as perspectivas de autores que discutem sobre o tema proposto, dentre eles: Fenández (1991), De Masi (2000), Leme (2012) e outros que abordam o ócio de forma muito abrangente.
É necessário falarmos do desenvolvimento infantil, pois muitos educadores ainda apresentam dificuldades em compreender que a criança passa por diferentes fases no seu desenvolvimento e, nesta perspectiva, o ócio acontece de diferentes formas também, assim como o uso da criatividade e seus resultados. Trata-se, portanto, de um processo que deve ser muito bem observado, desde a sua criação até a sua prática, de modo a verificar o momento quando a criança passa a alcançar os resultados finais, quando passa a demonstrar suas ideias de forma concreta, bem como a sua capacidade criativa.
Para sequenciar a discussão de forma abrangente, o trabalho foi estruturado em quatro capítulos específicos: [1] O ócio e aprendizagem sob o olhar da Psicopedagogia; [2] A aprendizagem sob o olhar da Psicopedagogia; [3] O excesso de atividades e o desenvolvimento da aprendizagem infantil; e [4] O ócio como ferramenta a favor da aprendizagem significativa.