A importância do Fisioterapeuta no cuidado paliativo em pacientes oncológicos 

Luana Ellen Mota Silva 

Resumo:

O presente artigo procura mostrar a importância do profissional de fisioterapia no cuidado paliativo em pacientes com câncer. Desta forma fez-se uma revisão narrativa de literatura que buscou de forma clara e sucinta elucidar dúvidas acerca do cuidado paliativo e a atuação do fisioterapeuta nesse tratamento, mostrando que cabe a esse profissional devolver ao paciente sua capacidade funcional e minimizar as dores advindas da doença, do tratamento ou do estresse em decorrência das incertezas do momento, a fim de oferecer ao paciente autonomia e qualidade de vida.

 Palavras-chave: Fisioterapia, cuidado paliativo, oncologia. 

Introdução 

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (2020), câncer é uma palavra designada para nomear de forma genérica um grupo composto por 100 diferentes tipos de doenças malignas. Sua origem decorre do crescimento e multiplicação anormal de células que podem vir a invadir tecidos adjacentes ou espalhar-se e alcançar outros órgãos do corpo (metástase), sendo, portanto o principal responsável por levar o paciente ao óbito (MÜLLER; SCORTEGAGNA; MOUSSALLE, 2011).

É uma doença considerada como a principal causa de morte e diminuição da expectativa de vida em todos os países do mundo. Conforme a Organização Mundial de Saúde “o câncer já é a primeira ou segunda causa de morte antes dos 70 anos em 112 dos 183 países e ocupa o terceiro ou quarto lugar em mais 23 países” (ARRAES, 2021, p. 1).

Publicação da Agência Internacional para Pesquisa em Câncer divulgou em fevereiro de 2020 estimativa de incidência e mortalidade da doença em todo o mundo com projeção para 2040. Os dados mostram registro de 19 milhões de casos de câncer em todo mundo com cerca de 10 milhões de mortes. No Brasil foi registrado 522.212 novos casos, com cerca de 260.000 mortes, os mais prevalentes são câncer de próstata, mama, colorretal e pulmão (ARRAES, 2021).

Os pacientes que chegam ao estágio considerado terminal são aqueles casos em que “[...] se esgotam as possibilidades de resgate das condições de saúde do paciente e a possibilidade de morte próxima parece inevitável e previsível. O paciente se torna "irrecuperável" e caminha para a morte, sem que se consiga reverter este caminhar” (GUTIERREZ, 2001, p. 1). No entanto, isso não significa que nada mais pode ser feito, existem outras condutas que podem ser adotadas pela família para oferecer conforto ao paciente frente ao fim da sua vida.

Desta forma, têm-se os cuidados paliativos que caracterizam como ações que visam disponibilizar ao paciente assistência de equipe multiprofissional para atender suas demandas relacionadas às necessidades biopsicossociais, com o intuito de oferecer qualidade de vida, conforto e dignidade. Conforme o INCA (2021), essa equipe multiprofissional é composta por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, assistentes sociais, psicólogos, fonoaudiólogos e farmacêuticos.

Como citado, dentre esses profissionais têm-se o fisioterapeuta que no contexto dos cuidados paliativos atua na adoção de condutas que promovam a reabilitação funcional do paciente, auxiliando no controle de sintomas de dor, fadiga, hipersecreção pulmonar, entre outros, por meio de técnicas de alongamentos musculares, exercícios respiratórios e motores, eletroterapia, hidroterapia, e demais técnicas de acordo com a necessidade do paciente (GOÉS et al., 2016).

Nesse sentido, este artigo pretende evidenciar a importância do fisioterapeuta na melhora da qualidade de vida de pacientes oncológicos em estado terminal.

 

Metodologia 

Para este artigo utilizou-se a revisão narrativa de literatura, este tipo de revisão é mais simples e se caracteriza por mostrar uma análise das publicações sobre o tema estudado a partir de livros, artigos e demais publicações, mas sem estabelecer um critério mais aprofundado de busca. É ideal para permitir ao leitor atualização e esclarecimento sobre uma determinada temática de forma rápida e sucinta (ROTHER, 2007).

 

Desenvolvimento

 

Os profissionais da área de fisioterapia que exercem suas atividades em ambiente hospitalar estão sujeito a terem que lidar com situações onde o diagnóstico médico indica que o estágio da doença de determinado paciente não é mais reversível, desta forma é preciso que ele esteja preparado para lidar com pessoas que tem a morte não como algo distante, mas como algo próximo e inevitável.

No entanto, como observado por Marcucci (2005) nos cursos de fisioterapia o tema morte não é tão abordado, desta forma os aspectos técnicos se sobrepõem aos aspectos humanos. Questões acerca dos cuidados paliativos são mais abordados em cursos especializados, e, portanto, sendo mais procurados por aqueles que já se interessavam pelo tema anteriormente, no entanto, faz-se necessário uma aproximação dos fisioterapeutas com a situação em questão, visto sua importante participação no que concerne oferecer qualidade de vida aos pacientes em estado terminal.

Ainda sobre os cuidados paliativos, Marcucci (2005) segue explicando que é uma situação que requer uma visão holística dos profissionais, pois esses cuidados implicam não somente a dimensão física, mas também envolve questões sociais, espirituais e psicológicas, exigindo do profissional uma relação de empatia com o paciente, para que ele possa oferecer para aquele que está sob os seus cuidados alivio diante do sofrimento gerado com a iminência da morte.

Quando se trata de pacientes com câncer é ainda mais difícil, pois desde o diagnóstico da doença muitos pacientes já se desmotivam e perdem a esperança, lidar com pacientes nessa situação requer muita empatia e disponibilidade dos profissionais para conseguir motivar o paciente a investir na sua qualidade de vida.

Nessa fase de reabilitação funcional, mesmo no cuidado paliativo, o profissional de fisioterapia atua de forma direta, pois a dor pode vir a ser constante na realidade do paciente e é papel do fisioterapeuta encontrar formas de reduzir a incapacidade física do paciente para que ele tenha mais autonomia (GOÉS et al., 2016).

Dentre os tratamentos para dor pode-se citar a eletroterapia que faz uso de corrente elétrica para diminuir a dor, uma alternativa para reduzir o uso de medicamentos analgésicos e minimizar seus efeitos colaterais (MARCUCCI, 2005), outro recurso fisioterapêutico é a cinesioterapia que auxilia no desenvolvimento funcional das regiões do corpo que sofreram agravamentos devido à doença ou em decorrência de algum outro tratamento, ela atua no ganho de força, desenvolvimento e nutrição dos tecidos afetados (MARCIÃO et al., 2021).

Entretanto, nem sempre a dor física do paciente é em decorrência da doença em si, mas da reação do paciente ao ter que lidar com uma doença em que não há mais uma perspectiva de cura, desta forma em alguns casos ele pode desenvolver quadro de estresse e depressão e em decorrência disso sofrer de alguns distúrbios como “[...] tensão musculoesquelético, cãibras, hipertensão arterial, tremores e dores em diversas partes do corpo” (MARCIÃO et al., 2021, p. 5).

Esses sintomas que são denominados psicofísicos podem ser tratados com técnicas de relaxamento que são desenvolvidas por fisioterapeutas, além do trabalho em conjunto com outros profissionais como psicólogo, psiquiatra e educador físico. As técnicas de relaxamento podem ser as terapias manuais, yoga, watsu, exercícios físicos, pilates, entre outros (MARCUCCI, 2005).

Outro ponto importante a se destacar é a própria relação do profissional com o paciente oncológico em estado terminal e como isso o afeta, conforme relata Müller, Scortegagna e Moussalle (2011) o trato com os pacientes é desgastante e exige do profissional muita maturidade e estabilidade emocional, as autoras também afirmam que o estresse pode ser constante e o trabalho é considerado pesado levar o fisioterapeuta a um estado de esgotamento emocional, fazendo com que se sinta exausto e sufocado, no entanto, os mesmos profissionais afirmam que com o passar do tempo e a percepção da melhora no quadro dos pacientes faz com que o esforço seja gratificante e enriquecedor.

Ademais, Müller, Scortegagna e Moussalle (2011) afirmam em seu artigo que é difícil o profissional não criar um laço mais estreito com o paciente e que essa confiança criada é benéfica para o doente, pois ele sente que aquela pessoa se importa e esta ali não apenas como um profissional, mas como alguém disposto a ouvir e a entender suas inquietações sobre o futuro.

Por fim, importante ressaltar que o fisioterapeuta, assim como outros profissionais que trabalham no cuidado paliativo, precisam estabelecer uma relação consciente sobre o que é a morte, e que ela não acontece em decorrência de sua incapacidade ou incompetência, e é importante que os profissionais encontrem formas de lidar com o sofrimento e a angústia que o trabalho desperta.

 

Considerações Finais

A atuação do fisioterapeuta no cuidado paliativo tem-se tornado essencial por conseguir oferecer ao paciente mais autonomia e funcionalidade nesse momento da sua vida tão permeado por inseguranças e pelo sentimento de inutilidade e medo de se tornar um fardo para a família. Desta forma, o tratamento fisioterapêutico para dor, melhora na fadiga muscular e fortalecimento físico de forma geral é essencial para devolver qualidade de vida ao paciente e tornar esse momento mais confortável e suportável ao paciente.

Ademais, ressalta-se a importância de que os profissionais fisioterapeutas procurem conforto e assistência para si mesmos para que a vivência diária com pacientes oncológicos em estado terminal não os afete fisicamente e emocionalmente a ponto de interferir em suas atividades e afastá-los do trabalho, que mesmo sendo árduo também é gratificante.

 

Referências

ARRAES, C. Os dados sobre câncer no mundo e no Brasil em 2020 e projeção para 2040: dados do GLOBOCAN. Real Instituto de Oncologia e Hematologia. Recife, 08 mar. 2021. Disponível em: https://realinstitutodeoncologia.com.br/os-dados-sobre-cancer-no-mundo-e-no-brasil-em-2020-e-projecao-para-2040-dados-do-globocan/#:~:text=No%20Brasil%2C%20o%20n%C3%BAmero%20de,s%C3%A3o%20pr%C3%B3stata%2C%20Colorretal%20e%20Pulm%C3%A3o. acesso em: 20 maio 2022.

 

GOÉS, G. S. et al. Atuação do fisioterapeuta nos cuidados paliativos em pacientes oncológicos adultos hospitalizados: revisão de literatura. Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública, Salvador, 2016. Disponível em: http://www.repositorio.bahiana.edu.br/jspui/bitstream/bahiana/447/1/Artigo%20definitivo.pdf. Acesso em: 19 maio 2022.

 

GUTIERREZ, P. L. O que é o paciente terminal?  Revista da Associação Médica Brasileira, São Paulo, v. 47, n. 2, p. 85-109, 2001.

 

INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (BRASIL). Ministério da Saúde. O que é câncer?  INCA. Rio de Janeiro, 30 nov. 2020. Disponível em: https://www.inca.gov.br/o-que-e-cancer. acesso em: 19 maio 2022.

 

INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (BRASIL). Ministério da Saúde. Tratamento do câncer: cuidados paliativos. INCA. Rio de Janeiro, 05 ago. 2021. Disponível em: https://www.inca.gov.br/tratamento/cuidados-paliativos#:~:text=Na%20fase%20terminal%2C%20em%20que,din%C3%A2mica%20difere%20para%20cada%20paciente. Acesso em: 20 maio 2022.

 

MARCIÃO, L. G. A. et al. The importance of Physiotherapeutic care in palliative care in cancer patients. Research, Society and Development, [s. l.], v. 10, n. 6, p. 1-6, 2021.

 

MARCUCCI, F. C. I. O papel da fisioterapia nos cuidados paliativos a pacientes com câncer. Revista Brasileira de Cancerologia, [s. l.], v. 51, n. 1, p. 67-77, 2005.

 

MÜLLER, A. M.; SCORTEGAGNA, D.; MOUSSALLE, L. D. Paciente oncológico em fase terminal: percepção e abordagem do Fisioterapeuta. Revista Brasileira de Cancerologia, [s. l.], v. 57, n. 2, p. 207-215, 2011.

 

ROTHER, E. T. Revisão sistemática X revisão narrativa. Acta Paulista de Enfermagem, São Paulo, v. 20, n. 2, p. 5-6, 2007.