A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL DO 0 AOS 03 ANOS DE IDADE

Caroline Maria Wercher Franken 

Luciana Dionéia Bastos Mucha

Roseli Pereira da Luz

Rubia Jaqueline Schaefer

  1. Introdução:

 

Em diferentes épocas, a brincadeira sempre foi uma atividade significativa para as crianças em sociedade. A brincadeira é uma atividade que une as crianças com os adultos, com outras crianças, com o meio em que estão inseridas. Brincando a criança descobre a qual meio social e cultural pertence, e se constitui culturalmente, possibilitando as apropriações e a reelaboração da cultura.

 Vivemos num mundo tecnológico, onde a criança desde muito cedo (berço ainda), já está inserida nas tecnologias, através de aparelhos celulares dos pais, aparelhos domésticos, seus próprios brinquedos eletrônicos, aperta um botãozinho e toca uma musiquinha, acende uma luzinha, entre outros. E o brincar, o criar, o desenvolver estão em segundo plano.

A educação como um todo, mas aqui na educação infantil, passou a ser vista com um novo olhar, desde a aprovação da LDB 9394/96- e não há como negar que a mudança no pensar da criança vem acompanhado dessas transformações. O olhar da criança sobre o mundo já não é mais o mesmo.

Percebe-se que é possível  mudar, dar uma nova possibilidade de transformar o brincar das crianças, para que através dessa nova oportunidade elas possam desenvolver a sua curiosidade, as suas fantasias, o seu lado criativo, social e emocional através da brincadeira. A criança cria e recria, brincando se desenvolve cognitivamente e psicologicamente. Segundo Rau, (2001, p. 130), “Nesse sentido, o educador tem de lidar com sentimentos como amor, ódio, agressividade, medo, insegurança, tensão, alegria, tristeza para encaminhar a criança no seu desenvolvimento”.

Partindo desse pressuposto, quem educa deve ser um profissional preparado para permitir e criar espaços e condições para que a criança aprenda a brincar livremente, e a expressar sua criatividade e afetividade, descobrindo maneiras prazerosas de se desenvolver.

Com o desenvolvimento deste trabalho junto a crianças de 0 a 3 anos de idade e através de pesquisas bibliográficas, pretende-se mostrar qual a real importância do brincar no desenvolvimento de uma criança e não apenas o brincar pelo brincar, sem o acompanhamento do educador. É preciso que exista a orientação, a organização de espaço e os brinquedos adequados para que a criança aprenda a organizar sua aprendizagem. E, como principal objetivo, demonstrar como as brincadeiras são atividades que estimulam o desenvolvimento social, físico, emocional e cognitivo.

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  1. Fundamentação Teórica
    1. A Infância e a Escola.

 Os tempos mudaram, nunca se deu tanta importância à Educação Infantil como nos dias atuais. Tempos atrás as crianças brincavam nas ruas, nos campos e nas praças das comunidades. As crianças saiam de casa para brincar, jogar bola, e pular corda, e voltavam para casa no final do dia, e suas mães sabiam onde elas estavam, era só dar um grito. Nos dias atuais, esse tipo de cultura não existe mais. Devido à modernidade, os pais trabalham o dia todo, levando seus filhos às instituições de ensino, onde passam praticamente 11 horas do dia. Dessa forma, recai sobre a escola a função de cuidar e educar as crianças. Segundo Lima (1995, p. 40), “É necessário que a criança se aproprie cognitiva e afetivamente de sua escola, e a escola é a principal responsável por este processo que se deve iniciar simplesmente por recebê-las com carinho”.

 O ambiente escolar passou por mudanças significativas e a visão dos educadores nesse sentido também mudou. Tanto em relação à formação social, a organização da sociedade e na constituição da formação de futuros seres humanos Segundo Kishimoto (1998, p. 20), “Brincar não é uma dinâmica interna do indivíduo, mas uma atividade dotada de uma significação social precisa que, como outras, necessitam de aprendizagem”.

            O brincar, a fantasia, a imitação que a criança faz do que presencia, ou uma historia lida, ou filme assistido, ela reproduz, modifica de acordo com sua vivência, suas experiências de vida. Reelaborando-as, desenvolve suas ideias e organiza suas ações futuras, colocando em prática suas novas ações reelaboradas. Nesse contexto, ao brincar, usar o brinquedo como um objeto que será explorado por ela, ele irá ajudar a reconstruir seu significado de mundo, sentimentos, seu desenvolvimento cognitivo, tornar-se-á uma pessoa segura em seus atos. Rau, (2011, p. 194), afirma que, “O estudo da psicomotricidade para você, educador, objetiva auxiliar na busca de solução dos problemas de aprendizagem. Por ser uma área que se apoia na evolução cognitiva e motora da criança”.

A criança aprende melhor brincando, isso é fato e todos os filósofos e educadores concordam. Lima, (1995, p. 33), não teme em dizer que “não existe nada que a criança precise saber que não se aprende brincando... Se alguma coisa não é passível de transformar-se em um jogo (problema, desafio), certamente não será útil para a criança nesse momento”.

A educação Infantil na época em que as mães começaram a ocupar vagas nas indústrias, durante a Revolução Industrial, e deixaram de cuidar exclusivamente dos afazeres domésticos, elas precisavam deixar seus filhos, para que fossem cuidados, assistidos, enquanto trabalhavam. Por isso, muitas indústrias começaram a ter espaços onde as crianças ficavam, sendo assistidas, com uma visão mais assistencialista. Até pouco tempo, a Educação Infantil era vista assim, como assistencialismo, as crianças permaneciam ali, sem a preocupação com seu desenvolvimento, com o seu bem estar, hoje, depois da LDB 9394/96, e de muito estudo, essa visão mudou, a criança passou a ser vista como um cidadão, uma pessoa em desenvolvimento, com direitos assistidos por lei. Pode-se dizer que a educação da criança era de responsabilidade da família, tanto nas famílias burguesas como nas populares, com a mudança social a criança passa a ser também “vigiada”, passando assim a ser preocupação da sociedade.

A escola está se adaptando ainda a essas mudanças, a Educação Infantil está em destaque, muito se discute, muito se estuda a respeito, há preocupação em mudar e valorizar a criança, ou seja, o currículo hoje está voltado para o desenvolvimento pleno da criança, em todas suas potencialidades, as dimensões culturais como a brincadeira e as diversas formas de cultura, como a leitura, a pintura, a dança, a música e os espaços específicos pra isso vem ganhando  atenção especial. A escola deve ter todo o cuidado em organizar uma rotina de espaços e tempos, garantindo o direito da criança brincar, construir o conhecimento, a comunicação e a interação social. Kishimoto (1998, p. 112), faz uma colocação importante,

Em uma sala vazia, uma criança não pode exercer atividade livre; sua liberdade cresce na medida em que lhe são oferecidas possibilidades de ação. Nesse sentido, a liberdade da criança não implica na demissão do adulto: pelo contrário, expandi-la implica no aumento das ofertas adequadas às suas competências em cada momento do desenvolvimento. Povoar o espaço com jogos viáveis, passíveis de utilização autônoma, requer um alto grau de conhecimento psicogenético.

Fica evidente a importância do brincar em sala de aula, no pátio da escolano currículo escolar, na formação do educador que vai trabalhar com a criança. Na LBD 9394/96, na Secão II, da Educação Infantil artº 29- “A educação infantil, primeira etapa da Educação Básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade”.

 A educação infantil se difere do ensino básico justamente porque nessa etapa a criança está sendo preparada para a convivência em grupo. De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil:

A prática da educação infantil deve se organizar de modo que as crianças desenvolvam as seguintes capacidades:

• desenvolver uma imagem positiva de si, atuando de forma cada vez mais independente, com confiança em suas capacidades e percepção de suas limitações;

• descobrir e conhecer progressivamente seu próprio corpo, suas potencialidades e seus limites, desenvolvendo e valorizando hábitos de cuidado com a própria saúde e bem-estar;

• estabelecer vínculos afetivos e de troca com adultos e crianças, fortalecendo sua auto-estima e ampliando gradativamente suas possibilidades de comunicação e interação social;

• estabelecer e ampliar cada vez mais as relações sociais, aprendendo aos poucos a articular seus interesses e pontos de vista com os demais, respeitando a diversidade e desenvolvendo atitudes de ajuda e colaboração;

• observar e explorar o ambiente com atitude de curiosidade, percebendo-se cada vez mais como integrante, dependente e agente transformador do meio ambiente e valorizando atitudes que contribuam para sua conservação;

• brincar, expressando emoções, sentimentos, pensamentos, desejos e necessidades;

• utilizar as diferentes linguagens (corporal, musical, plástica, oral e escrita) ajustadas às diferentes intenções e situações de comunicação, de forma a compreender e ser compreendido, expressar suas ideias, sentimentos, necessidades e desejos e avançar no seu processo de construção de significados, enriquecendo cada vez mais sua capacidade expressiva;

• conhecer algumas manifestações culturais, demonstrando atitudes de interesse, respeito e participação frente a elas e valorizando a diversidade. (BRASIL, 1998. P. 63).

A escola de Educação Infantil precisa garantir às crianças suas necessidades básicas, emocionais, físicas, de construção, de identidade, de experiências e conhecimento sobre o mundo e sobre si mesma. O espaço deve ser um lugar alegre, colorido, aconchegante, na construção, apreciação de suas brincadeiras, pois é parte integrante do processo educativo, é também canal de encontro entre adultos e crianças. A Educação Infantil é onde a criança é preparada para o Ensino básico, e desenvolver sua autoestima, sua capacidade de raciocínio e a convivência com o grupo e o meio ao qual está inserida se tornam fundamental.

 

  1. A Criança de 0 a 3 anos

A maioria das pesquisas desenvolvidas por especialistas no mundo todo, dizem que a criança desenvolve suas habilidades e a formação do seu caráter até os sete anos de idade. Os fatores ambientais, bons exemplos, a riqueza de estímulos, nas diversas áreas do desenvolvimento, linguístico, psicomotor, pensamento e de sociabilidade, são fundamentais. Quanto antes à criança receber os estímulos, maior será a sua percepção do mundo.

Friedmann, (2002, p. 62) nos traz que,

A aprendizagem situa-se como um processo de aquisição em função da experiência (a atuação do sujeito sobre o meio). A transformação do objeto depende, em cada momento, dos esquemas assimiladores disponíveis do sujeito. Esses esquemas são a condição necessária para a aprendizagem: são objeto de uma construção do sujeito a partir da sua ação sobre a realidade. Aprender é assimilar o objeto a esquemas mentais. A aprendizagem é, pois, colocada como aquisição em função do desenvolvimento.

 

 O bebê logo após seu nascimento movimenta as mãos, pernas, cabeça, produz seus movimentos involuntários (reflexos), mas quando já tem seus quatro para cinco meses, seus movimentos passam a ser tencionais, pega objetos para levar à boca, está na sua fase oral, onde reconhece os objetos, levando-os à boca, joga o brinquedo no chão, bate com o brinquedo no berço, e se produz barulho, chacoalha. Entre oito e nove meses começa a engatinhar, levanta-se apoiado em móveis e começa a dar seus primeiros passinhos. Seu desenvolvimento é progressivo a cada dia, na escola o educador percebe qual seu nível de equilíbrio e desenvolvimento motor através das observações que faz da criança se movimentando pela sala. É importante auxiliá-la, pois quando o educador que não tem isso bem claro, a impede de brincar, comer sozinha, buscar brinquedos, a impede de realizar suas atividades rotineiras, todas essas ações que são de extrema importância para seu desenvolvimento. Caso isso não aconteça, estará queimando etapas e o educador impedindo que a criança se desenvolva naturalmente, e etapas perdidas, no futuro poderão gerar alunos com dificuldades de aprendizagens, tão comum hoje em dia nas salas de aula.

No caso de alunos que não conseguem ler com clareza, pegar no lápis, ter letra legível, com dificuldades de se concentrar, é papel do educador na Educação Infantil proporcionar os meios para que a criança se desenvolva, e pensar o brincar como parte primordial do seu desenvolvimento é um deles. Conforme diz Rau, (2011, p 197), “Assim, o professor capacitado tem a possiblidade de intervir e sanar muitas dificuldades que a criança possa apresentar no âmbito de escola, tornando o processo educativo qualitativo e facilitador de uma aprendizagem significativa”. Ainda essa mesmo autora cita as fases do desenvolvimento psicomotor, Rau, (2011),

Os estudos de le Boulch (1982) apontam que o desenvolvimento psicomotor se caracteriza por uma maturação que integra o movimento, o ritmo, a construção espacial; a identificação dos objetos, das posições; a imagem ou o esquema corporal do nosso corpo e também a palavra. Nesse sentido, Wallon (1989) descreve a ligação entre a maturação orgânica e a experiência neuromotora que leva a criança a passar sucessivamente por diferentes estágios:

• Estágio de impulsividade motora (recém-nascido) – os atos são reflexos.

• Estágio emotivo: (a criança pequena) – as primeiras emoções surgem no tônus muscular e na função postural. As situações são conhecidas pelas interações que produzem.

• Estágio sensitivo-motor – coordenação mútua de percepções diversas (andar, formação da linguagem).

• Estágio projetivo- mobilidade intencional dirigida para o objeto.

Os estágios propostos ocorrem pela relação entre organismo e meio e, assim, está efetivamente ligada á atividade mental. Assim, os estudos de Wallon (1989) descrevem que durante a primeira infância a motricidade e psiquismo são indissociáveis. (2011, p. 198)

 

Ao nascer, a criança já dispõe de um sistema para se comunicar com sua espécie e traz consigo experiências de quando estava no útero de sua mãe, diferente do que afirmavam alguns estudiosos de que a criança era uma tábua rasa, uma folha em branco, esperando para ser preenchidas. Especialistas, Filósofos, Psicólogos, através de estudos e pesquisas mudaram esse conceito. As crianças trazem consigo suas vivências de vida, de mundo, e vão apenas adaptando e transformando suas aprendizagens. O bebê se comunica através do choro, ruídos guturais, ele corresponde a um sorriso, ou a uma cara feia, quando não gosta de algo ou quando quer alguma coisa, chora.

Se o adulto que convive junto à criança a estimular no desenvolvimento psicomotor e da linguagem, imitação de gestos, estará estimulando a criança no seu crescimento. Quanto mais estímulos ela receber, melhor será seu desempenho nas ações, porque a relação que a criança faz com o mundo a ajuda a interagir com o meio que a cerca, e através dessa interação ela toma consciência de si, dos seus sentimentos, do seu emocional e do meio ambiente. No dizer de Galvão.

È pela interação com os objetos e com o seu próprio corpo- em atitudes como colocar o dedo nas orelhas, pegar nos pés, segurar uma mão com a outra- que a criança estabelece relações entre seus movimentos e suas sensações e experimenta, sistematicamente, a diferença de sensibilidade existente entre o que pertence ao mundo exterior e o que pertence a seu próprio corpo (1995,p.51)

 

Durante o desenvolvimento dos doze aos vinte quatro meses, mudanças importantes acontecem, já controlam melhor os movimentos do corpo, se movimentam com agilidade, se localizam no espaço a sua volta, engatinham e alguns começam a caminhar com a ajuda de um adulto, jogam a bola com mais precisão e se adaptam ao meio social com mais facilidade. Na questão da linguagem, ela começa a emitir fonemas de uma ou duas sílabas: “abe= abrir, aga= água”. Até os dois anos de idade a criança aumenta seu vocabulário em até 300 palavras, constrói frases, adora escutar histórias, nessa idade também começa a perceber e a contar fatos que ocorrem com ela durante o dia. Já atende pedidos dos adultos, se pedirmos que pegue um brinquedo ela busca, identifica, aponta com o dedo para pessoas conhecidas, compreende a negação do adulto e reage com insatisfação. Identifica o espaço em que habita, organiza brincadeiras em espaços diferentes, brinca geralmente sozinha, porque ainda não está preparada para brincar com outras crianças, nem dividir espaços, pois quer tudo para si, os seus brinquedos e os dos outros também. Percebe-se a necessidade que a criança tem de conviver em sociedade, para que possa aprender a dividir espaço, objetos, pessoas e ir absorvendo a cultura em que está inserida. Rego, (apud, Drago e Rodrigues, 2009, p. 49).

De acordo com o modelo histórico-cultural, os traços de cada ser humano estão intimamente relacionados ao aprendizado, à apropriação do legado do seu grupo cultural. O comportamento e a capacidade cognitiva de um determinado indivíduo dependerão de suas experiências, de sua história educativa, que, por sua vez, sempre terão relações com as características do grupo social e da época em que ele se insere. Assim, a singularidade de cada indivíduo não resulta de fatores isolados, mas da multiplicidade de influências que recaem sobre o sujeito no curso do seu desenvolvimento. (Rego, 2002, p. 50)

 

O indivíduo se constitui em sociedade, dai a importância de estar em contato com  o outro, mesmo não sabendo ainda conviver e dividir, porque com o passar dos anos ela vai aprendendo os pressupostos para a plena vida em sociedade.

O desenvolvimento entre 24 e 36 meses. A criança entre os dois e três anos de idade já tem precisão de seus movimentos, corre com desenvoltura, chuta bola, sobe e desce degraus sem apoio, pula obstáculos, lança objetos com precisão, faz movimentos simples com o lápis, se diverte fazendo rabiscos e diz que está escrevendo, faz riscos, círculos, dobra papel imitando o adulto, começa a fazer o uso da tesoura, tira e coloca meias, sapatos e peças de roupas sozinho, adora ouvir histórias sobre si mesmo, relata fatos, conhece as pessoas pelo nome, come e já corta alguns alimentos sem ajuda, já fala pequenos poemas, canta músicas com poucas frases e faz os gesto que vê alguém fazendo. Nessa idade começa a brincar em grupo a dividir os brinquedos e as brincadeiras. Faz uso do faz de conta quando brinca de casinha, papai e mamãe, ou quando a criança é o cachorro ou gato e age como tal, aceita opiniões e contesta com alguns argumentos.

Como Kishimoto (1998, p.63) relata que “Mais que um ser em desenvolvimento com características próprias, embora transitórias, a criança é vista como ser que imita e brinca, dotada de espontaneidade e liberdade”.

 A criança que tem seu desenvolvimento pleno e liberdade de criar, se movimentar em seu meio, tendo todas suas necessidades atendidas, se desenvolverá com autoconfiança e desenvoltura.

O lado afetivo no desenvolvimento da criança desde seu nascimento vai tomando sentidos diferentes durante seu desenvolvimento , quando com meses ainda ela precisa de atenção de sua mãe e seu pai, unicamente isso, precisa ser tocada, acariciada, precisa que falem com ela, à medida que vai crescendo, e ela começa a interagir com o meio, com os objetos e diferentes espaços, casa, escola, passeios, os brinquedos começam a ter significados pra ela, e o sentimento de afeto por determinado brinquedo, a faz passar mais tempo com ele, ou levar junto quando sai de casa, como forma de segurança, desenvolvendo um sentimento em relação ao brinquedo, e conforme cresce, perde o interesse por ele, isso é importante para a construção de seus sentimentos.

 

2.3. O Brinquedo e o Desenvolvimento das Crianças de 0 a 3 anos.

O brinquedo sempre esteve presente na sociedade, desde a antiguidade, Kishimoto ,( apud, Nine, 2013)

em Platão e Aristóteles (século IV a.C). Platão colocava a importância de a criança aprender brincando para combater a opressão e a violência, enquanto Aristóteles enfatiza a necessidade de se utilizar em jogos “sérios” na educação de crianças pequenas, como forma de prepara-las para a vida.

As diversas áreas da Psicologia, Sociologia e Pedagogia, abordam o uso do brinquedo na construção do psiquismo infantil, e a importância no uso pedagógico, tanto em casa como nas escolas de Educação Infantil.

Segundo o dicionário Aurélio (1998, p. 73), encontramos uma definição para o brinquedo, como: “Objeto para as crianças brincarem, divertimento, brincadeira. Sentimento da própria dignidade. Festa, folia, folguedo, brincadeira”. Nesse sentido, Nine (2013) também diz que, “Muitos autores usam indistintamente o termo brinquedo para nomear o jogo quanto à brincadeira. Daí, muitas vezes, ser impraticável distinguir estes termo com nitidez”.

É importante dizer que as pessoas definem “jogo” quando na brincadeira existem regras, e brinquedo quando é livre e espontâneo, no qual a criança brinca pelo prazer. O brinquedo e a brincadeira são de grande importância na experiência sensorial e no desenvolvimento de suas habilidades. Assim, Kishimoto, (apud, Nine), diz que

“se considerarmos que a criança pré-escolar aprende de modo intuitivo, adquire noções espontâneas, em processos interativos, envolvendo o ser humano inteiro com suas cognições, afetividade, corpo e interações sociais, o brinquedo desempenha um papel de grande relevância para desenvolvê-los. Ao permitir a ação intencional (afetividade), a construção de representações mentais (cognição), a manipulação de objetos e o desempenho de ações sensório-motoras (físico) e as trocas nas interações (social), o jogo contempla várias formas de representação da criança ou suas múltiplas inteligências, contribuindo para a aprendizagem e o desenvolvimento infantil”. (Kishimoto, 1996, p. 36).

 

Brincar é para todas as idades, seja na fase infantil ou adulta, a criança brinca como se fosse o seu trabalho, ou sua atividade favorita. Na brincadeira tudo é mágico, tudo pode ser e deixar de ser, tudo muda de um minuto para o outro, onde o lúdico é lei da vida. E conceder esse direito às crianças, vê-las crescer, se desenvolver e tornarem-se adultos seguros, sem medos ou frustrações, cidadãos úteis para a sociedade que venham fazer a diferença. Assim, é imprescindível permitir às crianças que possam brincar, tendo seus direitos respeitados.  Segundo Friedmann (1996) e Kishimoto (2008, 1997) (apu, Rau, 2011, p. 188) “... nas brincadeiras, as crianças transformam os conhecimentos que já possuíam em conceitos gerais com os quais brincam. Nesse sentido, a imitação é um aspecto importante que possibilita a aprendizagens de diferentes situações”.

A criança constrói uma relação com o brinquedo, que a ajuda a enfrentar suas dificuldades diárias, através da manipulação que faz livremente. O educador deve sempre estar atento ás brincadeiras no espaço escolar, pois nem sempre o interesse da criança será o esperado por ele. Por exemplo, num quebra-cabeça, a criança pode explorar cores, texturas, formas diferentes, e não se interessar pela montagem, que seria a resposta esperada pelo educador; outro exemplo é com cubos que a criança usa para construir um castelo empilhando-os, nem sempre as expectativas do educador são alcançadas, mas a criança usou e explorou a sua criatividade em relação ao brinquedo. Vygotsky, (1998, p. 127), (apud Queiroz, Maciel, Branco). “A criança vê um objeto, mas age de maneira diferente em relação ao que vê. Assim, é alcançada uma condição que começa a agir independentemente daquilo que vê.”

A importância da criança brincar pelo simples prazer de brincar, leva-a ao desenvolvimento de suas habilidades, sua liberdade de expressar sentimentos, criatividade, seu poder de criar e recriar. Assim surge a necessidade de o educador refletir sobre sua prática pedagógica e fazer com que a brincadeira faça parte do currículo das escolas de Educação Infantil junto com a necessidade de organizar espaços e tempo para que o brincar se torne algo natural em suas vidas. Transformando assim suas aprendizagens em construção do conhecimento e que as crianças possam desenvolver sua capacidade de raciocinar, de julgar, de argumentar e chegar a um consenso. Como cita Rau, (2011), “Quando imita, a criança organiza o pensamento, utiliza memória e exercita formas de agir. Ela ressignifica objetos e emoções, transpondo-os para aprendizagens cognitivas mais elaboradas, exercita a linguagem, adquirindo e ampliando o vocabulário”.

 Drago e Rodrigues (2009, p. 50) afirmam,

“O brinquedo entendido como o ato de brincar, para a criança, pode representar um momento de extrema importância, pois, é um momento em que ela pode representar através do simbólico, aspectos presentes em sua realidade”.

 

O brinquedo ajuda a estimular a inteligência porque ao manipulá-lo a criança cria novas situações, reconhece, compara, experimenta e inibe seu sentimento de impotência, sendo o brinquedo uma atividade livre, sem regras, ele permite que a criança teste situações da vida real e desenvolve sua autonomia. Kishimoto, (1994), (apu, Rau, 2011, p. 48).

O brinquedo é suporte da brincadeira quando serve a uma atividade espontânea, sem intencionalidade inicial, que se desenvolve de acordo com a imaginação da criança. O jogo é suporte quando atende, além da imaginação, a uma prática lúdica que possui um sistema de regras que ordenam as ações.

 

Não é qualquer objeto que pode ser considerado um brinquedo, apenas quando ele atende a essa função para a criança, é preciso ter cuidado com essa lógica, nem tudo é considerado brinquedo, apenas quando a criança o identifica. Um pedaço de madeira poderá ser um rápido avião, uma tampa de panela a direção de um carro, ou melhor, uma bateria. Quem vai definir isso é a criança, no manuseio que fizer com o objeto. Há uma vasta riqueza de brinquedos que as crianças encontram a sua disposição, brinquedos construídos com sucatas ou brinquedos eletrônicos, hoje em dia em grandes números e todos muitos atrativos, andam sozinhos, falam, dão ordens, cantam, giram, porém oferecer às crianças brinquedos  tradicionais que ela possa manusear, montar, desmontar, ela mesma inventar novas funções para o mesmo, a leva a descobrir a cultura através do brinquedo. Rau, (2011)

Apesar de a maioria dos professores concordar com os avanços da tecnologia, observando as devidas precauções, esses profissionais situam os jogos e os brinquedos eletrônicos como parte integrante dos interesses das crianças atualmente. Por outro lado, destacam que, muitas vezes, a ausência de jogos e brincadeiras tradicionais na vida cotidiana escolar e familiar faz com que muitas crianças apresentem dificuldades motoras, afetivas e sociais. (2011, p. 67)

            No meio dessa modernidade toda, as brincadeiras tradicionais, estão perdendo espaço, o educador e os pais devem ter cuidado, a tecnologia tá ai é não há como não fazer parte dela, porém incentivar e ensinar as crianças a cultivar brinquedos e brincadeiras que fazem parte da cultura na qual está inserida, brincadeiras de roda, pula corda, pega-pega, amarelinha, músicas do folclore regional e brasileiro, brincadeiras essas que estão sendo trocadas pelo “Playstation”, computadores, novos programas de televisão, o que faz com que a criança permaneça por longos períodos de tempos sentadas apenas assistindo sem desenvolver nenhum tipo de interação. Recuperar o convívio familiar, melhorar as relações em sala de aula, com os colegas, professores e demais funcionários das escolas, proporcionando a troca de afetos e experiências, que faz com que a criança se desenvolva socialmente.

O ato de brincar, de construir brincadeiras na companhia dos pais e irmãos, além de resgatar brincadeiras hoje já esquecidas, também é fundamental para melhorar o relacionamento familiar, a falta de tempo dos pais em passar momentos de interação com os filhos, esses momentos de brincadeira os une de forma qualitativa. Na escola esse também é um momento de distração associada a aprendizagem. Pois na brincadeira a criança desenvolve algumas capacidades como a memória, atenção, imitação, imaginação, socialização, evocam emoções e sentimentos. Brincar funciona como uma forma em que a criança consegue transformar o cenário imaginário modificando sua vivência e sua realidade.

O brinquedo é de extrema importância no processo de desenvolvimento infantil, é nele que a criança se descobre como ser humano, como pessoa capaz e criadora através da manipulação que constrói com o objeto, no século XX com o nascimento da Psicologia infantil, pensadores como Piaget e Vygotsky entre outros, reafirmam a importância do brinquedo e o ato de brincar como forma de desenvolvimento infantil. Para a construção de uma Educação Infantil voltada para o desenvolvimento pleno da criança, para que possa desenvolver todas as suas habilidades motoras e intelectuais, a escola deverá oferecer espaços aconchegantes  e brinquedos diversificados para que ela possa explorar de forma criativa e prazerosa, com total liberdade de ação, sempre com o acompanhamento de um profissional atendo as suas necessidades e possibilidades.

 

 

  1. Metodologia

Para desenvolver esse trabalho, optou-se por uma pesquisa bibliográfica buscando nesse sentido a justificativa à realização deste estudo, considerando a visão de vários autores que falam sobre o tema pesquisado e o embasamento teórico para uma prática de qualidade em sala de aula. A leitura e a pesquisa são ferramentas indispensáveis para que o educador possa planejar suas atividades com objetivos claros e precisos na busca do desenvolvimento integral da criança.

Este trabalho bibliográfico, com abordagem qualitativa, tem como principal objetivo realizar um levantamento sobre o que os autores escrevem a respeito da importância do brincar na Educação Infantil, fase esta tão importante para o desenvolvimento integral da criança. As leituras foram selecionadas e realizadas, desde a escolha do tema, com a intenção de compreender e destacar a importância da criança ter o espaço respeitado para poder brincar dentro da escola, função essa que deverá ser desenvolvida pelo educador na construção de valores pedagógicos e sociais.

Melo e Urbanetz (2009, p. 19) nos traz que,

A busca pelo novo saber em determinadas áreas da ciência é um projeto que nunca terá seu fim determinado. O homem é incansável em sua curiosidade e está sempre em busca de novos conhecimentos sobre a natureza, a sociedade e sobre si mesmo, o que, sem dúvida, identifica outro projeto humano: o domínio sobre todas as determinações da vida. (2009, p. 19).

 

Para construir esse trabalho, foram realizadas pesquisas na biblioteca da Unijuí Campus Santa Rosa/RS, pesquisas em sites com artigos que contêm o tema abordado e em livros adquiridos para que a leitura fosse realizada com maior precisão. Foram selecionadas ideias de autores, que depois de organizadas compuseram o presente trabalho. No decorrer das pesquisas e seleções bibliográficas, se estruturou um texto conciso e coerente, destacando-se a importância que tem a leitura na busca do conhecimento na vida do educador. Batista (2010, p.35) “Outra característica fundamental da ciência é a utilidade. Todo conhecimento que se pretende cientifico deve ser útil à sociedade, promover algum bem que facilite, aperfeiçoe ou transforme positivamente a realidade”.

Este foi um trabalho muito gratificante e prazeroso de ser realizado, pois muito se aprendeu a respeito do assunto escolhido. Através desta pesquisa realizada, pode-se perceber e iniciar uma mudança em nossa realidade, contribuindo para que as escolas possam modificar os seus currículos escolares, valorizando o desenvolvimento pleno da criança através de atividades que antes não eram tão valorizadas, o brincar no espaço escolar, para que possam aprimorar suas competências e habilidades, sendo respeitado o ritmo e o nível de desenvolvimento de todos.

Foi realizada uma coleta de dados, que conta na sua primeira etapa, na elaboração de resenhas e resumos de fontes bibliográficas que tratam da temática em questão. Selecionada de acordo com a relevância que subsidia a pesquisa.

O material pesquisado foi sendo coletado no decorrer do curso, toda vez que uma bibliografia se mostrava importante, buscou-se sua leitura e realizaram-se as resenhas, resumos e apontamentos das principais ideias.

 

 

REFERÊNCIAS

 

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