A escola é um espaço de socialização de culturas e valores. Possibilita que a criança, compreenda o mundo por meio dessas experiencias vividas. É importante lembrar que no processo de formação de identidade, a instituição escolar tem uma participação, pois nela estão inseridas diversas relações. O racismo pode ocorrer nos diversos setores da sociedade, dentre eles, está a escola, portanto a mesma precisa estar preparada para lidar com tais situações.

Observa-se, que o ritual do silêncio impera no ambiente escolar, pois em situações de racismo ainda há um não saber o que fazer, os profissionais se silenciam, ou seja, o racismo torna-se um tema que não se fala como se deveria. Entendo que a escola, enquanto instituição formadora de cidadãos, precisa desenvolver em seus métodos, ações que valorizem não apenas a população branca, mas também a negra e outras.  

[...]. Esta diferenciação de tratamento dos alunos em função do seu pertencimento étnico pode ser considerada uma atitude antieducativa. Finalmente, na escola e nas famílias, verificou-se a predominância do silêncio nas situações que envolvem racismo, preconceito e discriminação étnicos, o que permite supor que a criança negra, desde a educação infantil, está sendo socializada para o silêncio e para a submissão. Mais grave, ainda, a criança negra está sendo levada a se conformar com o lugar que lhe é atribuído: o lugar de rejeitado, o de menor valia (CAVALLEIRO, 1998, p.9). 

Para a autora, esse silencio, permite que o racismo permaneça e continue, e a criança negra achar que isso é normal. Essa a ausência de diálogos, também possibilita, insultos sobre as formas de discriminação implícitas ou explícitas que eles percebem, além de naturalizar práticas racistas entre os brancos, alimentando ainda mais a ideia de superioridade sobre os não-brancos. 

As crianças negras em seu processo de desenvolvimento têm diversas possibilidades para internalizar uma concepção negativa de seu pertencimento racial, favorecendo a constituição de uma autoimagem depreciativa. Podemos concluir que aos 4 anos de idade, as crianças já passaram por processos de subjetivação que as levam a concepções muito arraigadas no nosso imaginário social sobre o branco e o negro consequentemente, sobre as positividades e negatividades atribuídas a um e outro grupo racial. No entanto, isso pode ter sido favorecido pela instituição a partir das concepções e dos valores das profissionais envolvidas com essas crianças e, também, pelos pais (OLIVEIRA, 2005, p.30, apud FEITOSA, 2012, p.104, CAMPOS,2019, p.29). 

Vale ressaltar, que desde fase infantil a criança negra provavelmente, já internalizará uma imagem não positiva sobre si, dependendo do espaço que convive. Neste contexto, ao longo de nossa história como nação o tratamento dado as matrizes étnicas que configuram a nossa gente, tem sido feito de maneira desigual, privilegiando o grupo étnico europeu em detrimento dos nativos e dos africanos, colaborando, assim, para a produção de desigualdades e injustiças sociais. É importante que a instituição escolar, permeada por diversas ideologias, precisa estar comprometida na formação integral do discente.

É importante considerar, conforme lembra a autora, que ao longo da história a construção das identidades étnico-raciais se deu no viés europeu, ou seja, na perspectiva branca, na qual os não-brancos eram concebidos como inferiores, incivilizados, degenerados, etc. Essa ideia da inferioridade da população negra, tão bem construída pela elite dominante, ainda ecoa na atualidade, pois a partir desses pensamentos, imperam até hoje os estereótipos negativos inerentes ao povo negro, devido o mesmo não se enquadrar no protótipo considerado padrão, o branco.

Mediante as situações citadas, existe ainda, um forte esforço para implantar o padrão branco de ser, principalmente nos meios de comunicação, onde há os modelos de “beleza” já padronizado pela sociedade.

Atualmente, observa-se uma pequena evolução, porém, acreditamos que tal melhora está em grande maioria associada ao aumento do poder aquisitivo dos negros, pois, ainda imperam nos meios televisivos e em outros setores o ser branco. Essa hegemonia branca é bastante visível dentro da cultura do material escolar. No caso específico dos materiais didáticos escolares, ainda é desproporcional a presença de personagens negras em relação às brancas, ou seja, crianças negras em sua maioria, não se veem representadas na hora de adquirir seu material escolar.

Dentro deste contexto, consideramos fundamental que alunos e alunas em processo de formação tenham subsídios elementares para buscarem a sua identidade negra. Neste sentido, faz-se necessário uma maior atenção às histórias contadas (em sua maioria hegemônica), aos desenhos exibidos, as danças apresentadas, aos cartazes e murais, as imagens utilizadas, aos discursos, as referências, entre outros. A escola constitui um espaço privilegiado na construção das identidades, por esta razão, precisa se comprometer também com a formação de identidades negras positivas.

Vale ressaltar, que a escola tem privilegiado o domínio do conhecimento elaborado, esquecendo-se da criança de diversas etnias que se encontram presente, na busca de aprender e aperfeiçoar o saber, a fim de inserir-se em uma dada sociedade com seus valores e cultura, que menospreza a subjetividade do educando negro ao deixar de valorizar, os seus aspectos cognitivos, morais, afetivos, sociais e culturais, que foram adquiridos no meio sociocultural. 

É dentro deste cenário que emerge de acordo com Nascimento (2020) [...] silenciar é um ato opressor. Chamar alguém que está falando das suas dores de vitimista é mandar calar a boca sim[...] Ninguém é obrigado a ouvir, apoiar e concordar quando oprimidos falam sobre suas questões, mas debochar e perseguir essas pessoas, mostra que sua intelectualidade está alinhada aos pensamentos típicos de grupos opressores, racistas e colonizadores.

É urgente que a consciência inclusiva seja inserida nas escolas, negros, brancos, índios, deficientes, obesos, homossexuais e todos os demais segmentos excluídos, precisam que seus direitos sejam garantidos e respeitados. Para tal, a instituição escolar em conjunto com os profissionais da educação são peças chave na construção de uma educação equânime. Resumo baseado em Monique Ferreira Gadioli.

GEAN KARLA DIAS PIMENTEL, GRACIELE CASTRO SILVA e RENATA RODRIGUES DE ARRUDA são professoras em Rondonópolis. 

CAVALLEIRO, Eliane. S. Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo, preconceito e discriminação na educação infantil. 1998. 241 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, 1998.

CORREIA, Juliana do Nascimento: BaObazinhO: Memória, Arte e Educação Antirarracista. Uma proposta de intervenção didático-pedagógica a partir da contação de histórias negras. Dissertação do Instituto de educação/Instituto multidisciplinar curso de Pós-graduação em educação, contexto contemporâneos e demandas populares. Rio de Janeiro 2019.

GADIOLI, Monique Ferreira: mochila escolar: negação/construção da identidade negra no cotidiano escolar. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Relações étnico- raciais, do Centro Federal de Educação Tecnológica. Rio de Janeiro 2017.