A IMPORTÂNCIA DAS DOUTRINAS ESSENCIAIS PARA O CRESCIMENTO CRISTÃO SAUDÁVEL

 

Resumo

Este trabalho visa analisar a importância das doutrinas essenciais para o crescimento cristão saudável. Nele estão sendo consideradas as doutrinas da Palavra de Deus, a Trindade, O Homem e o Pecado, a Salvação e a Graça de Deus, bem como a Igreja, o Reino de Deus e as Últimas Coisas. Compreendendo que Deus não apenas quer salvar o ser humano da condenação do inferno, mas também quer dar-lhe uma vida em abundância, uma vez que o pecador se torna um seguidor de Jesus Cristo ele deve procurar crescer nas virtudes e no serviço cristãos. De fato, entre muitas figuras bíblicas usadas para descrever o cristão, encontra-se a figura árvore. Como uma árvore, o cristão deve passar pelos vários estágios de crescimento, incluindo o momento em que ele deve dar frutos e reproduzir. Nenhum cristão pode dar frutos por si mesmo; ele precisa permanecer em Cristo e andar no Espírito para que os Seu fruto se desenvolva no cristão e ele seja capaz de alimentar aos outros com aquilo que o Espírito Santo fez, faz e fará em sua vida. Há muitos elementos que devem estar em operação e que são essencialmente necessários para que o cristão cresça em Cristo e dê frutos; um desses elementos é o conhecimento e a aplicação das doutrinas essenciais da fé cristã. Hoje em dia as pessoas desprezam o conhecimento teológico dessas doutrinas, pois buscam somente aqueles ensinamentos que podem prover-lhes algum alívio imediato, porém, temporário para as suas dores e sofrimentos. No entanto, as suas vidas são minguadas e não exibem o fruto do Espírito em suas palavras e ações. Assim, não basta experimentar o amor e o poder de Deus; é preciso crescer no conhecimento da Palavra de Deus e fundamentar a vida na verdade bíblica. Assim, pensando na grande importância que o conhecimento doutrinário de verdades bíblicas essenciais tem na vida do cristão que deseja crescer na semelhança de Cristo, este trabalho procura mostrar quais são essas doutrinas essenciais, o que a Bíblia diz sobre elas e quais as implicações práticas na vida do cristão por crer em tais doutrinas. Para tanto, foi usado o método indutivo de estudo da Bíblia juntamente com o levantamento bibliográfico da literatura disponível sobre os tópicos estudados. A linha teológica que deu suporte à argumentação do trabalho foi a luterana ortodoxa, enquanto a escola hermenêutica usada foi a histórico-gramatical, e ambas servem de arcabouço para os resultados que estão sendo apresentados através deste trabalho.      

Palavras-Chave: Doutrinas essenciais. Crescimento cristão. Fé cristã.

 

1 introdução

Vive-se em um tempo em que o mundo sofre mudanças cada vez maiores e mais rápidas. Referente às mudanças pode-se citar a busca incessante pelas transformações tecnológicas, as mudanças climáticas que são resultados das ações dos seres humanos na natureza, com nenhum tipo prudência e o aumento da inversão de valores, que entra inclusive na vida cotidiana dos cristão de diversas formas como a mídia, filosofias não cristãs, entre outras formas de ganhos materiais como dinheiro e bens, não se importando com o método usado para ganhá-lo, nem com o que resulta do método para que se chegue às metas pré-estabelecidas. Essas metas pré-estabelecidas são caminhos que perfazem o macro objetivo que em grande parte das circunstâncias é o aumento de riqueza própria, ou seja, a grande parte das mudanças importantes pelas quais o mundo tem passado, tem como objetivo o dinheiro e por muitas vezes, a qualquer preço.

Essas mudanças de uma forma ou de outra, muitas vezes, acabam influenciando as igrejas cristãs, que se esforçam para manter o equilíbrio entre o desejo de seguir fielmente ao Senhor e a Sua Palavra e o de ser relevante em um mundo que considera a fé cristã cada vez mais desnecessária. Pode-se verificar como a igreja é afetada pelas transformações tendo em vista que em geral o conhecimento bíblico, mesmo dos que se autodenominam cristãos é muito pequeno, ou ainda, os mesmos vão aos domingos aos cultos, as ainda praticam a crendice popular, simpatias ou pedem ajuda para algum tipo de curandeiro. Essas mudanças não afetam apenas as pessoas que podem ser classificados como leigos, mas também muitas igrejas como um todo, que teoricamente confessam a fé cristã, mas na prática, utilizam-se do sincretismo, misturando práticas do espiritismo, candomblé e catolicismo.

No entanto, apesar de tais mudanças, o desafio de o cristão crescer à semelhança de Cristo e em Seu conhecimento ainda permanece como um fundamento irremovível para quem deseja realmente agradar a Deus e servir ao Corpo de Cristo. Além disso, o cristão não somente deve crescer nas virtudes cristãs, mas também deve crescer no conhecimento da Palavra de Deus, e mais especificamente, no conhecimento das doutrinas essenciais da fé cristã que estão fundamentadas na Bíblia. Aqui neste trabalho as doutrinas essenciais são compreendidas como aquelas que todos os cristãos devem abraçar a fim de serem identificados como tais. Referem-se apenas à compreensão básica dos temas mais importantes sem os quais não é possível confessar uma fé genuína em Cristo a fim de receber o perdão dos pecados e a vida eterna. Também dizem respeito àquelas doutrinas que não estão diretamente relacionadas ao recebimento da salvação, mas que, sendo consequências da salvação, tornam-se essenciais para a vida e o ministério do cristão.

Quanto ao crescimento cristão, aqui neste trabalho ele é definido como sendo a santificação que passa a fazer parte da vida do cristão logo após a justificação. A santificação, portanto é a transformação moral á semelhança de Cristo (2 Coríntios 3.18), que pode ser considerado como uma restauração da imagem de Deus no homem.

Assim, torna-se necessário apresentar a importância das doutrinas essenciais para o crescimento cristão saudável, possibilitando assim o diálogo interdenominacional, não com o objetivo do ecumenismo total, porém como ferramenta de estudo e aprendizagem acerca da necessidade da tolerância e respeito, mesmo com pontos de vista diferentes nas questões não essenciais. As Igrejas Luteranas da Reforma (Lutheran Churches of the Reformations), representantes do luteranismo ortodoxo, entende que há questões que a maioria das denominações evangélicas interpretam de maneiras diferente como por exemplo, o Batismo, onde não há nenhuma proibição nas Escrituras em relação ao batismo de crianças, contudo nas Escrituras há vários personagens pagãos que professaram a fé cristã e se fizeram batizar “com toda sua casa”. Assim o centurião romano Cornélio (Atos 10), a negociante Lídia de Filipos (Atos 16), o carcereiro de Filipos (Atos 16), Crispo de Corinto (Atos 18), e a família de Estéfanas (1 Coríntios 1). A expressão “casa” (domus em latin; oikos em grego) tinha sentido amplo e enfático na antiguidade, designava o chefe de família com todos os seus domésticos, inclusive crianças.

E a Santa Ceia conforme diz o Professor Linden (2001):

A ceia do senhor, como dádiva de perdão e vida para a Igreja, faz parte do pastoreio... As Confissões Luteranas afirmam o papel do ministério pastoral na administração da ceia do senhor. CA XIV; XXVIII 5; Ap XXIV 80. Especialmente as palavras do artigo XIV da CA são pertinentes: “Da ordem eclesiástica se ensina que sem chamado regular ninguém deve publicamente ensinar ou pregar ou administrar os sacramentos na igreja.” Questões concernentes ao ministério pastoral estão, pois, no contexto do estudo sobre a administração da santa ceia... Constitui-se parte da administração fiel do sacramento, por parte do ministro, “convidar uns à comunhão e a outros proibir que se aproximem” (CAXXIV 36 - texto alemão). Note-se que isto é reconhecido não como novidade na igreja, mas algo que existe “na igreja desde tempos antigos” (CA XXIV 40 - texto alemão). Os confessores luteranos reconheceram o papel do ministério, de modo que “conserva-se entre nós o costume de não dar o sacramento àqueles que não foram previamente examinados e absolvidos.” (CA XXV 1 - texto alemão).

Por isso no caso da Ceia do Senhor, a prática é fechada, restringindo apenas aos membros confirmados ou professos e, pratica o batismo de crianças, pois considera os sacramentos como indispensáveis para o desenvolvimento cristão. Conforme GOERL (1940)

 A fiel Igreja Luterana, qual somos membros, é a Igreja que prega a Palavra de Deus clara e puramente. É a Igreja da Reforma de Dr. Martinho Lutero. Não é uma Igreja nova, fundada por Lutero, mas sim a verdadeira Igreja Cristã e apostólica, reformada e restaurada pela obra do grande reformador. Pois nela somente a infalível Palavra de Deus do Velho e do Novo Testamento, escrita pelos profetas e apóstolos, inspirados pelo Espírito Santo, tem autoridade.

Assim, a partir dessas definições, o presente trabalho procura apresentar as doutrinas essenciais para a vida cristã, assim sendo, estas posições essenciais devem ser encontradas em todos que confessam o cristianismo como sendo sua religião. Estudar este tema se fez necessário porque atualmente, devido ao grande número de denominações, cada uma com suas crenças e dogmas, faz com que muitas pessoas não saibam o que realmente é essencial no cristianismo.

Desse modo, a fim de realizar o objetivo deste estudo, o presente trabalho foi desenvolvido através do método indutivo de estudo da Bíblia juntamente com o levantamento bibliográfico da literatura disponível sobre os tópicos estudados. A linha teológica que deu suporte à argumentação do trabalho foi a luterana e a escola hermenêutica usada foi a histórico-gramatical, Gordon D. Fee & Douglas Stuart (2011) diz: “Embora a palavra ‘hermenêutica’ geralmente se aplique a todo o campo da interpretação, inclusive a exegese, também é usada no sentido mais especifico, que é o de procurar a relevância contemporânea dos textos antigos”. 

Com o propósito de expor adequadamente as descobertas alcançadas com esta pesquisa, o estudo foi dividido em dois capítulos. O primeiro capítulo trata dos seguintes tópicos: a Palavra de Deus, a Trindade, o Homem e o Pecado, a Salvação e a Graça de Deus. Por sua vez, o segundo capítulo tratará do tópico A Igreja, o Reino de Deus e as Últimas Coisas. Por fim, serão apresentadas as considerações finais com as devidas conclusões que foram alcançadas com a realização deste trabalho.

 

2 AS DOUTRINAS ESSENCIAIS DA FÉ CRISTÃ E O CRESCIMENTO CRISTÃO

É importante a explanação das doutrinas essenciais, para que o cristão esteja munido, para que possa discernir entre o que é de fato essencial par a sua salvação. Por outro lado, o conhecimento das doutrinas essenciais, bem como o que Cristo fez por cada um, faz com que o indivíduo busque constantemente o crescimento cristão que pode ser traduzido com santificação. Sendo santificação seguida da justificação, a justificação, segundo a Confissão de Augsburg, que é um dos documentos confessionais luteranos, encontrando-se no Livro de Concórdia (2006), de 25 de junho de 1580, trata sobre a justificação da seguinte forma:

Ensina-se também que não podemos alcançar remissão do pecado e justiça diante de Deus por mérito próprio, obra e satisfação nossos, porém, que recebemos remissão do pecado e nos tornamos justos diante de Deus pela graça, por causa de Cristo, mediante a fé, quando cremos que Cristo padeceu por nós e que, por Sua causa, os pecados nos são perdoados e nos são dadas justiça e vida eterna. Pois Deus quer considerar e atribuir essa fé como justiça diante de si, conforme diz São Paulo em Romanos 3 e 4.

Por outro lado a santificação é a transformação moral à semelhança de Cristo, que pode ser considerado como uma restauração da imagem de Deus no homem. No entanto Lutero, no terceiro artigo do credo apostólico no Livro de Concórdia (2006), faz uma referência à vida Cristã;

Entrementes, porém, enquanto a santidade está principiada e, diariamente cresce, esperamos que nossa carne seja morta e sepultada com toda a sordidez, mas ressurja e ressuscite para total e plena santidade em vida nova e eterna. Porque por ora, somos parcialmente puros e santos. De sorte que o Espírito Santo tem de trabalhar em nós em diante a palavra e, quotidianamente, conceder perdão, até aquela vida em que já não haverá remissão, mas homens inteiramente puros e santos, plenos de retidão e justiça, libertados e isentos de pecado, morte e toda desgraça, em novo corpo, imortal e transfigurado.

Com essas definições em mente, mostrar-se-á a seguir porque o conhecimento das doutrinas essenciais é importante para o crescimento do cristão. 

2.1TRÊS razões para conhecermos bem as doutrinas essenciais EM RELAÇÃO AO CRESCIMENTO CRISTÃO

Embora não seja possível afirmar que estas sejam as únicas razões para se dedicar ao estudo das doutrinas essenciais da fé importante, aqui serão consideradas as seguintes razões: conhecer a autoridade, a inerrância, verdade e clareza das Escrituras.

2.1.1Conhecer a autoridade da Bíblia

Jesus Cristo se referia ao Antigo Testamento como Escritura e se submeteu a autoridade dela, encontrou forças em seu uso, combateu as falsas interpretações do Antigo Testamento, enquanto se ajustou aos seus menores detalhes. Além disso, Ele citou quatorze livros do Antigo Testamento como autoritativos e ao fazer isso avalizou a historicidade dos personagens e eventos da Bíblia. Com Sua atitude, o Senhor apoiou a inspiração do Antigo Testamento como um todo.

 A autoridade do Senhor Jesus Cristo manifestada em Seu próprio ministério profético e delegada aos apóstolos é a base para a inspiração do Novo Testamento, desta forma os apóstolos consideraram Sua mensagem como a Palavra de Deus. Em geral usa-se duas passagens para tratar da autoridade da Bíblia, Mateus 5.17-20 e em João 10.34-35. Ambas são registradas nas palavras de Jesus. Na primeira, Jesus diz que os céus e a terra passarão antes que o menor detalhe da lei venha falhar, assim a autoridade da lei descansa no fato de que cada pequeno detalhe da lei venha falhar. Na segunda passagem, Jesus diz que a Escritura não pode falhar e assim Ele mostra que ela está absolutamente interligada. Embora seja verdade que ambas as passagens enfatizam a autoridade da Bíblia, esta autoridade somente pode ser justificada ou fundamentada na inerrância, pois alguma coisa que contém erros não pode ser – absolutamente – autoritativa.

2.1.2Conhecer a inerrância da Bíblia

Desde muito tempo as pessoas procuram erros na Bíblia, apesar de não haver nenhum erro nas Escrituras. A Bíblia foi completada há mais de mil e novecentos anos; portanto, se houvesse algum erro, ele estaria ali desde o princípio. Mas ela não tem!  Porém existem pessoas que buscam continuamente erros na Bíblia, na maioria das vezes para que não se sintam culpados por causa de algum comportamento condenado pela Bíblia. Como cristãos que crêem que autoridade e inerrância da Bíblia, precisa-se saber, como se responde às supostas acusações de que há erros na Bíblia. Há várias maneiras de responder e se quer apresentar algumas delas.

Se questiona-se que a Bíblia contém erros, o ideal é indagar sobre onde estes erros se encontram, pois a maioria das pessoas que falam dos erros da Bíblia, não sabe quais são, ou onde eles se encontram, pois em geral apenas repetem o que alguém falou.

Quando uma passagem apresenta alguma dificuldade de entendimento (são poucas as que acontece) e parece que há um erro ali, é importante examinar o texto de perto e o contexto antes de chegar a uma conclusão definitiva. Em geral, um exame detalhado do texto bíblico dissipará toda dúvida e aparentes erros.

Por vezes, se faz necessário a análise do texto bíblico nas línguas originais, pois na sua língua materna não será possível entender corretamente o texto. Apesar de podermos resolver a maioria dos supostos erros através do estudo sério e levando em consideração tudo que já foi falado sobre a inerrância, é possível que ainda, alguns pouquíssimos textos das Escrituras não possam ser compreendidos em sua plenitude devido aos limites de nosso conhecimento. Isso, é claro, não é um problema da Bíblia, mas sim, de seu interprete. O simples fato de não se conseguir entender tudo, não significa que há erros na Bíblia.

O estudo da inerrância não pode ser considerado um tema de menor importância, pois a negação desta doutrina afeta profundamente e negativamente a fé cristã. Se a Bíblia tiver erros, então não se pode levar a sério as demandas de Deus para que sejamos puros, justos ou santos, pois um Deus que mente não pode exigir de ninguém um comportamento moral correto. A rejeição da inerrância bíblica, nos leva à rejeição das demais doutrinas importantes e até doutrinas essenciais à nossa salvação. Se não se pode confiar na veracidade da Bíblia, como poderemos aceitar qualquer ensinamento dela sobre a necessidade da conversão ou sobre a suficiência da obra de Cristo, assim se a inerrância for rejeitada, rejeita-se de igual forma a autoridade e o resultado será que, não se terá nenhuma verdade absoluta e nenhuma autoridade final, para determinar o que é certo ou errado e isso resultará numa derrocada total da moral cristã, que é a expressão da moral do próprio Deus.

2.1.3Conhecer a verdade da Bíblia

Para que se possa fazer teologia nos dias atuais, especialmente no que diz respeito a apologética cristã, ou seja, a defesa das verdades nas quais se crê, é importante compreender o mundo no qual vivemos. O mundo está sempre mudando, mas os verdadeiros cristão defendem uma fé que remonta os tempos apostólicos. É importante entender o que este mundo atual pensa a respeito das questões espirituais e como ele tem chegado às suas conclusões acerca delas. Isso ajudará não somente a comunicar mais eficientemente a mensagem cristã ao mundo, mas também ajudará a evitar o erro de tratar das questões espirituais da mesma maneira que o mundo faz. Para isso, é necessário estudar epistemologia, que o dicionário define como o estudo da origem, natureza e limites do conhecimento.

Na prática, ela define de onde vem o conhecimento que temos acerca das coisas, quais são os seus limites e por que devemos concordar com as informações que são recebidas. Quando se apresenta as crenças cristãs ao mundo, se está seguro de que este conhecimento que se tem sobre Deus é verdadeiro e deve ser aceito porque a Bíblia o ensina assim. O mundo, porém, não aceita a Bíblia como fonte de conhecimento verdadeiro de Deus e questiona, de fato, por que deve-se aceitar a Bíblia como uma fonte legitima de informações. Como cristãos, precisa-se estar seguro de onde vem o conhecimento cristão sobre as questões espirituais e de que a fonte é realmente digna de crédito. As verdades bíblicas são reveladas progressivamente através dos livros da Bíblia, verificando as diferentes maneiras pelas quais cada um dos escritores apresentou importantes doutrinas.

A história humana pode ser dividida em pré-modernidade, modernidade e pós-modernidade. Vive-se atualmente na era pós-moderna. A pré-modernidade foi marcada por uma crença absoluta nos valores e idéias propagadas pelo cristianismo. O mundo vivia à sombra da igreja católica e era praticamente “impedido” de pensar diferente do que a igreja estabelecia como sendo a sua verdade. A fé era colocada além e aquém da razão. A fé era a “resposta” para tudo que era desconhecido e improvável. Diferentemente do homem pré-moderno, o homem moderno passou a ser mais intelectual, mais racional e otimista a respeito do presente e do futuro; ele passou a sonhar com a conquista do espaço. Sua descoberta do conhecimento passou a ser baseada no método de investigação científica; ele rejeitou a revelação como um meio real e “lógico” de se obter conhecimento. Assim o mundo moderno, proclamou a evolução do homem. A modernidade, porém, já pertence ao passado. Vive-se hoje na pós-modernidade. Esta era é anti-intelectual e busca novamente refúgio na “fé” (entenda-se superstição ou misticismo), porém, não interessa fé em quem ou em que. O homem pós-moderno depende mais de seus sentimentos do que de sua razão. Por isso ele é mais sujeito à depressão e outras doenças da “alma”. Ele também é mais pessimista em relação á vida e ao futuro, vivendo o presente sem esperança.

O homem pós-moderno é subjetivista e relativista. Para ele, não há uma verdade absoluta; a verdade é definida pelo que “eu” acho que é verdade e, de fato, há muitas verdades; assim o que é verdade para uma pessoa pode não ser verdade para outra, mas igualmente verdade. O mundo em que se vive, é também pluralista; “todos os caminhos levam a Deus”. A maioria das religiões procura incluir aspectos de outras religiões para se tornarem mais inclusivas e alcançarem mais pessoas. Na pós-modernidade, as pessoas são influenciadas constantemente, especialmente através dos diferentes tipos de mídia, filosofias, idéias e crenças que propagam “verdades” diferentes da verdade da Bíblia. De fato, a tendência cada vez maior é a de rejeitar uma verdade absoluta e abraçar diversas “verdades” subjetivas.

Como cristãos, precisa-se rejeitar a epistemologia pós-moderna e assumir radicalmente a epistemologia cristã. É necessário afirmar constantemente que o conhecimento teológico não depende e nem se sustenta com uma verdade subjetiva e pluralista. Ele se baseia na verdade absoluta e objetiva, pois resulta da revelação divina da Bíblia. É importante que os cristãos estejam convencidos disso, pois é necessário proclamar a verdade de Deus com uma sólida fundamentação bíblica, que resulta do estudo teológico sério. A verdade de Deus é a única verdade absoluta. Toda “verdade” que existe fora da Bíblia só é verdadeira se não contradisser a revelação bíblica.

2.2conhecendo as doutrinas essenciais da fé cristã

Embora não exista um consenso entre todos os cristãos a respeito dos tópicos que devem compor a lista com as doutrinas essenciais da fé cristã, este trabalho escolheu os seguintes tópicos como sendo essenciais para o crescimento cristão: (a) a Palavra de Deus, (a) a Trindade, (c) o Homem e o Pecado, (d) a Salvação e a Graça de Deus, (e) A Igreja, o Reino de Deus e as Últimas Coisas. Cada um desses tópicos será analisado a seguir.

2.2.1A Palavra de Deus

Os cristãos reconhecem que a verdade está na Palavra de Deus, que é a Bíblia. Desta forma, esta declaração se refere somente a tudo que faz parte do conteúdo da Bíblia, pois as Escrituras não tratam de todos os assuntos existentes no mundo. Contudo, tudo o que Deus quis revelar e que nós precisamos saber sobre Si mesmo e Sua revelação com o universo criado, em todas as suas implicações e extensões, está registrado nas Escrituras, na Bíblia.

As igrejas cristãs são influenciadas, basicamente, por sete plataformas teológicas que fazem uso de diferentes fontes de revelação. Por plataforma, entende-se, as diferentes bases que as diferentes linhas teológicas usam para estabelecer e defender sua descoberta da verdade e, consequentemente, defender os seus posicionamentos teológicos como sendo verdadeiros.

Independentemente de qualquer plataforma proposta, entende-se que a Escritura deve estar na frente da plataforma teológica, assim ela tem primazia e autoridade final sobre a teologia. De acordo com Lutero no Livro de Concórdia (2006), a Bíblia deve ser a única regra de fé e prática, ou seja, quando se trata de seguir uma regra, somente a Palavra de Deus nos proporciona o padrão da verdade que deve ser abraçada.

Assim como entende-se que a Bíblia foi inspirada por Deus, é importante distinguir entre inspiração, revelação e iluminação. A revelação tem a ver com a origem e conteúdo da verdade, a inspiração tem a ver com o registro da verdade e a iluminação tem a ver com o entendimento da verdade. Quando se fala da inspiração quanto ao produto, a referência é à qualidade que as Escrituras tem. A passagem-chave está em 2 Timóteo 3.16: “Toda escritura é inspirada por Deus...”. A frase inspirada por Deus vem do grego theopneustos, que literalmente significa soprada por Deus. Na Bíblia Sagrada com Reflexões de Lutero (2012), Martinho Lutero faz uma reflexão sobre o texto de 2 Tm 3.16:

Sem dúvida, uma das maiores pragas na terra é o grande desprezo pela Sagrada Escritura, inclusive entre aqueles que foram instituídos para se dedicar a ela e interpretá-la. As outras coisas, as artes, a literatura, se praticam e exercitam dia e noite. É um labor e uma dedicação que não acabam mais. Somente a Escritura Sagrada se deixa de lado, como se ninguém necessitasse dela. E os que uma vez lhe fazem a honra de a lerem, logo sabem tudo. Jamais apareceu na terra qualquer ciência ou livro que qualquer prssoa tivesse estudado a fundo tão rapidamente como a Sagrada Escritura. No entanto, não se tratam de palavras para a leitura, como eles pensam, mas tão somente palavras de vida, que não se destinam a especulação e a meditações elevadas, mas para serem vividas e praticadas. Cristo Nosso Senhor nos ajude, por meio de seu Espírito, a amarmos e honrarmos sua santa Palavra. Amém.

Define-se como inspiração a qualidade sobrenatural que tem as Escrituras como resultado da obra do Espírito Santo ao guiar os escritores humanos, sem anular sua personalidade, a consignar sem erro a revelação divina nas palavras dos manuscritos originais. Em referência à infalibilidade bíblica, na Bíblia Sagrada com Reflexões de Lutero (2012) Lutero disse: “Qualquer um, de fato, sabe que às vezes eles (os pais da igreja) erraram como os homens fazem; portanto, eu estou pronto a confiar neles apenas quando eles provam suas opiniões a partir das Escrituras, as quais nunca erram”.

É importante que se compreenda que as Escrituras são inspiradas, os autores humanos foram apropriadamente guiados ou impulsionados, mas o que eles produziram pela ação do Espirito Santo é que é inspirado, assim o autor da inspiração é o próprio Espirito Santo, a terceira pessoa da Trindade. A Bíblia, no entanto, é um livro teantrópico, ou seja, é um livro divino-humano, neste sentido, existe um paralelismo entre a palavra escrita e a palavra encarnada, pois ambas tem duas naturezas. Da mesma forma, que a personalidade dos escritores humanos não foi alterada nos escritos, a Bíblia está isenta de erros devido à ação sobrenatural do Espírito Santo na produção das Escrituras, como está em Números 23.19: “Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa. Porventura, tendo prometido, não o fará? Ou, tendo falado, não o cumprirá?”. Da mesma forma, Jesus também declarou que a Palvra de Deus é a verdade em João 17.17: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade”. Desta forma, está registrado na Bíblia não o que aos autores lhes melhor pareceu, mas o que Deus escolheu dar a conhecer de Sua vontade. Sabendo que as Escrituras são inspiradas e por vezes confeccionadas cópias delas, é necessário salientar que os originais eram inspirados, contudo as cópias podem incorrer em algum tipo de erro mínimo, mas esses possíveis erros não tornam inutilizável a Bíblia que se tem, pois não ferem nenhuma doutrina essencial da Palavra de Deus.

Quando se estuda e se procura compreender o significado do texto bíblico, recebe-se a iluminação do Espírito Santo, que é a capacitação sobrenatural do Espirito que nos ajuda a entender e aplicar o significado das Escrituras. É importante que se lembre que além de iluminar o Espírito Santo também age na vida das pessoas, aplicando a mensagem das Escrituras e, é dessa forma que as vidas são transformadas através da Bíblia.

2.2.2A Trindade

O homem consegue pensar em Deus ou em muitos deuses, porém, o fato de existir um só Deus em três pessoas é impossível de conhecer por si mesmo, quer pela razão ou pela natureza, mas somente mediante uma revelação especial desse próprio Deus-Trino.  A palavra Trindade não aparece nas Escrituras, contudo isso não significa que trata-se de uma doutrina errônea, pois a verdade sobre esta doutrina está evidente tanto no Antigo testamento como no Novo Testamento.  Deus, o Pai, é chamado de Deus da verdade, o Filho de Deus, Jesus Cristo, declarou que Ele é a verdade e o Espírito Santo é chamado por Jesus de Espírito da Verdade, assim a verdade tem sua fonte ou origem na Trindade Divina, incluindo em Sua Palavra. Não crer na doutrina da Trindade, compromete a salvação, pois a salvação foi o perada, e é efetivada em nós, por meio da obra conjunta e inseparável da Trindade, sem a qual não há salvação. É possível que a pessoa seja salva sem ter um conhecimento sólido ou profundo da Trindade, mas não pode ser salvo sem crer nesta doutrina

2.2.2.1Deus, o Pai

A Bíblia não busca provar a existência de Deus, ela apenas declara. Ve-se isso, no primeiro versículo do livro de Gênesis: “No princípio, criou Deus os céus e a terra”. Assim se vê, nitidamente uma declaração clara e objetiva sobre o importante fato da criação e que dá por certo a existência de Deus.

Muitas pessoas tentam negar a existência de Deus e a Bíblia chama isso de insensatez e perversidade, ambas são causadas pelo pecado; este cega o nosso entendimento para a verdade e nos leva a negar a existência do Deus Eterno. Por outro lado, toda a Bíblia é um forte testemunho de que Deus existe, já que a criação de tal livro se encontra além dos recursos humanos. E, ao lermos a Bíblia, nos damos conta de que há uma cadeia de verdades que esteiam a existência de Deus. Deus se revela como único Deus que sempre existiu, conforme Isaías 43.10: “Vos sois minhas testemunhas, diz o Senhor, o meu servo a quem escolhi; para que o saibais, e me creiais, e entendais que sou eu mesmo, e que antes de mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum haverá.”

Deus se revela aos seres humanos como único e verdadeiro Deus que existe. Antes Dele não houve nenhum e depois Dele não haverá ninguém mais. Deus sempre existiu, portanto, não houve e nem poderia haver nada ou ninguém antes Dele. Deus sempre existirá, portanto, não haverá ninguém depois Dele. Deus se declara Criador de todas as coisas, e Ele de fato é. O universo e tudo que nele há foi obra de Deus. A raça humana foi concepção de Deus e, assim, permanece como um testemunho da existência de Deus. Nós existimos porque Deus existe e nos criou. Se não houvesse um Deus Criador não haveria os seres criados. A experiência corrobora com a existência de Deus, conforme está em Eclesiastes 3.11: “Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que esse possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até ao fim”.

A constituição moral do homem também aponta para a existência de um legislador. O homem tem uma natureza moral, isto é, a vida é regulada pelos conceitos de bem e mal, certo e errado. Ele sabe que há uma maneira certa de agir e que deve evitar a maneira errada. Esse conhecimento se chama consciência. Quando o homem age com retidão, a consciência aprova e elogia; quando ele age mal, a consciência o condena. Desta forma, Lutero comenta em relação à Jó 33.4 na Bíblia Sagrada com Reflexões de Lutero (2012):

Esta é minha opinião e nisso creio: sou criatura de Deus, isso é, ele me deu e de contínuo conserva corpo, alma e vida, membros, tanto pequenos como grandes, todos os sentidos, razão e inteligência, e assim por diante; comida, bebida, vestimenta, alimento, mulher, filhos, empregados, casa, lar e todas as criaturas. Tudo isso dá para satisfazer as necessidades de nossa vida. Ele faz com que nos sirvam o sol, a luz e as estrelas no céu, o dia e a noite, o ar, o fogo, a água, a terra e tudo o que ela produz, as aves, os peixes, os animais, os cereais e toda sorte de plantas. Também os demais bens corporais e temporais: bom governo, paz, segurança. Se quiséssemos entrar em pormenores, teríamos muito a dizer sobre quão pequeno é o número dos que creem nesse artigo. Pois nós todos o passamos por alto, ouvimos e recitamos as palavras, mas não vemos seu sentido nem meditamos nele. Porque se o crêssemos de coração, também agiríamos de acordo e não andaríamos por ai tão orgulhosos, com ar desviador e vaidoso, como se devêssemos a nós mesmos a vida, a riqueza, o poder e a honra, de sorte que se tivesse que temer e servir a nós, como procede o infeliz e pervertido mundo.

O mundo moral com suas leis eternas é tão real e verdadeiro quanto ao físico. Assim como o mundo físico, pela lei de causa e efeito, nos faz crer na existência de uma causa criadora, o Deus Criador, assim também o mundo moral faz pensar em um Supremo Legislador, que concebeu essas leis e as “escreveu em nosso coração”.  Este argumento é apoiado claramente pelas Escrituras em Romanos 2.14-15:

Quando, pois, os gentios, que não tem lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se.

E ainda em Tiago 4.12: “Um só Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e fazer perecer; tu, porém, quem és, que julgas o próximo?

A história humana mostra que existe uma Mão Invisível guiando, governando e controlando os destinos das nações. Através do estudo da história pode-se ver com clareza a mão da Deus se movendo nos bastidores ou no palco de todos os eventos e fenômenos com vistas a realização de Sua vontade. A religiosidade que se observa em todos os povos através da história também testemunha a existência de Deus. Pois, de onde os povos teriam a ideia de ‘deus’ se não houve um Deus verdadeiro? De fato, a crença na existência             Deus é tão antiga e extensa como como a raça humana, ainda que em muitos aspectos essa crença se encontre pervertida em muitas culturas. Portanto, Deus, criou o homem com a finalidade de que este O adorasse e O servisse na terra como os anjos fazem no céu, imprimiu na raça humana, com caracteres que não se apagam, a consciência religiosa que, apesar dos raciocínios contrários, e apesar do pecado, não pode ser apagada pela vontade ou desejo humano.

2.2.2.2Jesus Cristo 

De Gênesis a Apocalipse a palavra escrita testemunha a palavra encarnada que, por sua vez, testemunha a palavra escrita. Todo o Antigo Testamento antecipa Cristo e todo o Novo Testamento O explica, por isso, Cristo é o tema central da Bíblia. Deus se propôs a convergir todas as coisas em Cristo, assim Ele é a chave para discernir falsas doutrinas conforme está em Hebreus 13.8-9:

Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre. Não vos deixeis envolver por doutrinas várias e estranhas, porquanto o que vale é estar o coração firmado com graça e não com alimentos, pois nunca tiveram proveito os que com isto se preocuparam.

Já que Jesus não muda, a doutrina a respeito Dele da mesma forma não muda.

Sem Cristo não há cristianismo. O cristianismo, mais que uma religião, é uma relação com a pessoa do Salvador e essa relação é sublinhada com o uso da frase ‘em Cristo’ que caracteriza a literatura do Novo Testamento. Se Cristo é o coração do cristianismo, Ele também é o todo da vida cristã, pois esta não consiste em seguir a Cristo ou imitar a Cristo, obedecer a Cristo, ter a Cristo, permanecer em Cristo ou fazer Cristo conhecido. Todas essas coisas são manifestações da vida cristã ou requisitos para a vida cristã. Porém, a vida cristã é a vida de Cristo através de cada um. Paulo respondeu em várias epístolas aos judaizantes, que impugnavam a suficiência de obra de Cristo na cruz. Um grupo de judaizantes foram os ebionitas, que negavam a divindade de Cristo ou ensinavam uma forma de adocionismo.

Antes de 313 d.C., o erro era combatido principalmente por meio de escritos. Depois da chegada de Constantino, a Igreja unia suas forças para combater o erro num concílio. O Imperador Constantino convocou um concílio ecumênico em Nicéia, no noroeste da Ásia Menor. Participaram dele mais de trezentos bispos. Atanásio foi vindicado e se redigiu o Credo Niceno em 325 d.C., que diz que o Filho é da mesma essência que o Pai, o Unigênito do Pai, e verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, credo este confessado até os dias atuais pela Igreja Luterana, sendo um dos documentos confessionais, escrito no Livro de Concórdia de 1580. Lutero disse, em relação ao seu ensinamento da presença física de Cristo na mesa do Senhor, da ‘comunicação de propriedades’ das duas naturezas de Cristo, sem que cada um deixe de ser o que é, ou seja, trata-se da ‘união sacramental.’

O Senhor Jesus é uma só pessoa com duas naturezas, isso chama-se união hipostática. A Sua natureza divina se funde com a natureza humana, Jesus não somente tem um corpo humano, mas também uma natureza humana com todos os seus elementos. Depois de Sua encarnação Ele deixou de ser Deus, mas continua sendo Deus e homem. Desta forma, torna-se importante ressaltar que Ele possui apenas uma personalidade, pois as duas naturezas se fundem na pessoa de Jesus Cristo, de maneira que Cristo não é um Deus e um homem, mas um Deus-homem. Assim também, Cristo é pré-existente, que quer dizer que Ele existiu antes de vir ao mundo. Esta doutrina é ensinada no Antigo Testamento e no Novo Testamento e tem uma ligação direta com a divindade de Cristo, pois, se Ele é Deus, Ele já existia antes de se encarnar ou vir a este mundo e da mesma forma que é pré-existente, é eterno e como somente Deus pode julgar perfeitamente, sabendo que Ele julgará os seres humanos, encontramos mais evidencias de que Cristo é Deus.

As declarações de Cristo sobre si mesmo, mostram que Ele tinha consciência plena de ser mais do que um mero homem. O Senhor Jesus disse que Ele tinha a correta interpretação da lei de Deus. Ele disse que as oração feitas em Seu nome seriam respondidas e que Ele existia antes de Abraão, que tinha poder sobre a morte e que crer em Deus é igual a crer nEle mesmo.

Em conexão com a ascensão de Cristo, Ele prometeu que estaria com a Igreja para sempre de acordo com Mateus 28.20 e, edificaria Sua igreja. Ele faz isso por alimentá-la com a Palavra e cuidar de Sua preservação ao longo dos séculos (Efésios 5.29). Parte de Sua obra atual de edificação da Igreja inclui lidera-la em seu ministério (Efésios 1.22, 23; Colossenses 1.18-19), produzindo saúde e crescimento ao corpo por meio dos dons (Efésios 4.7-16). Assim a expectativa atual é pelo retorno do Senhor, da mesma forma que Ele subiu, descerá, nas nuvens. Pois Ele subiu ao céu de forma visível, corporal e nas nuvens.

2.2.2.3Espírito Santo         

O estudo teológico da doutrina do Espírito Santo se chama Pneumatologia. Entende-se que o Espirito Santo é Deus, ou seja é uma pessoa da Trindade é co-igual ao Pai e ao Filho. Assim como se dá com Jesus Cristo, uma das provas da divindade do Espírito Santo é que a Bíblia atribuí a Ele alguns títulos que só podem ser atribuídos a Deus, pois o Espírito Santo é chamado de Iavé, que era o nome impronunciável de Deus em hebraico. Um exemplo bem claro desse uso está em Isaías 6.1-13. O nome traduzido como ‘Senhor’ é YHWH (Iavé) em hebraico. No texto em foco, foi Iavé, o Senhor, quem falou com Isaías, mas em Atos 28.25 nos é dito que foi o Espírito Santo quem falou com o profeta. O fato de o Espírito Santo ser chamado de o Espírito de Deus também nos ajuda a entender que o termo é usado para implicar, de maneira alguma, que Ele é uma coisa pertencente a Deus, mas sim que Ele é da mesma natureza de Deus, portanto, divino.

O Espírito Santo é um ser pessoal, assim como o Pai e o Filho. Ele tem características pessoais como a inteligência como está em 1 Coríntios 2.10-11:

Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezes de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o próprio espírito, que nele está? Assim, também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus.

E, esta característica é de um ser pessoal, contudo além dessa característica o Espírito Santo tem emoções, somente uma pessoa poderia ter emoções, os animais tem instinto, mas emoção é algo que somente uma pessoa poderia ter. Em Efésios 4.30, é dito que o Espírito Santo se entristece. Além disso, o Espírito Santo tem vontade, sendo capaz de impô-la aos outros conforme em Atos 15.28.

O Espírito Santo teve uma importante ação na criação, assim pode-se verificar que Ele estava na criação, junto com o Pai e o Filho. Em relação à criação em geral, a Bíblia diz que o Espírito foi agente ativo na criação do mundo (Gênesis 1.2; Jó 33.4). Também diz que Ele dá vida (Salmo 104.30; 2 Coríntios 3.6), ordena (Isaías 40.12-14; Jó 26.13), ornamenta (Jó 26.13) e preserva a criação (Salmo 104.26, 30; Jó 34.14). bem como na criação do homem, pois o ato de Deus soprar no homem o fôlego da vida, mostra a ação soberana do Espírito no homem, não somente dando-lhe vida, mas também fazendo dele um ser espiritual, distinto do resto da criação, ou seja, capaz de ter uma comunhão pessoal e íntima com o Criador.

A obra mais importante do Espírito nos Evangelhos centraliza-se na pessoa do Senhor Jesus. Tal como foi profetizado (Isaías 11.2,3; 42.1-4; 61.1-3; Lucas 4.7-21), o ministério do Messias seria realizado pela intervenção e capacitação direta do Espírito Santo de Deus. Nos  Evangelhos Jesus se encontra vivendo sob a lei, mas não se pode esquecer que a vigência da lei como regra de vida terminou na Sua cruz (Romanos 10.4; 2.14).  Portanto, nos Evangelhos, os crentes se relacionam com o Espírito Santo de maneira semelhante aos crentes do Antigo Testamento.

O exemplo de Cristo, de dependência do Espírito, é seguido pelos crentes no Novo Testamento e pode ser fascinantemente constatado no livro de Atos. Esse livro que narra os acontecimentos que vão desde a ressurreição de Jesus até o primeiro encarceramento de Paulo em Roma, que abraça os primeiros trinta anos da Igreja. É um período conhecido como a primeira parte da época apostólica da Igreja. Sobre a direção do Espírito em Atos, entende-se que o Espírito Santo hoje guia os cristãos principalmente por meio de Sua Palavra escrita. Ele também pode usar os mesmos meios que usou em Atos para orientar os cristãos, no entanto a própria Bíblia reivindica ser o principal meio de orientação para os cristãos (Salmo 32.8; 119.4; Isaías 8.20; 2 Timóteo 3.16-17), de maneira que qualquer outro tipo de direção deve ser coerente com o ensino geral das Escrituras.

Tendo em vista que o Espirito Santo está no meio da discussão cessacionista, é importante trata-lo também. O cessacionismo é uma doutrina que defende a extinção de dons extraordinários e, nessa linha a Igreja Luterana, caracterizada como cessacionista, entende que não existe o cessacionismo completo, contudo também o continuacionismo que se prega por determinadas denominações é um insulto ao próprio Deus. Ora, como podem ser chamados de cristão pessoas que alegam que os sinais miraculosos cessaram por inteiro? Deus não deixou de existir, desta forma afirma-se que os dons miraculosos ainda existem. Por outro lado, não se pode usar do poder de Deus para atrair fiéis, prometendo-lhes que receberão a cura ao qualquer outra coisa que venham buscar na Igreja. A Igreja é ambiente onde oferecemos nosso melhor culto a Deus e ele nos concede sua benção, a saber o perdão dos pecados para salvação eterna, através da Santa Ceia e do Batismo. Então as campanhas milagrosas com datas pré-determinadas, podem ser caracterizados como um comércio da Palavra de Deus, onde os alvos são pessoas que não tem o hábito de estudar a Bíblia e por esse motivo são enganadas. Se os dons são executados por Deus, por meio de Seu servo, como pode este saber que determinada data ocorrerão os milagres? É importante ressaltar que esta questão é muito importante para o serviço cristão, mas não afeta a salvação.

2.2.3A Salvação e a Graça de Deus

O homem foi criado por Deus à Sua imagem e semelhança, mas isso não quer dizer que Deus tem duas pernas e dois braços como os homens, mas que estes foram feitos sem pecados a semelhança de Deus. Contudo após a queda do ser humano em pecado, esta imagem (imago dei) foi perdida por causa da desobediência do homem à Deus. Por causa do amor que Deus tem em relação aos seres humanos Ele tem um plano de salvação, onde promete o Messias, que viria para redimir os homens, e tirá-los do poder do diabo. Salvação essa conquistada por Cristo sem as obras da lei que os homens tentavam e ainda tentam realiza-las, pois não é possível que alguém consiga cumprir toda a lei e justamente por isso, Cristo que a cumpriu totalmente nos dá a eterna salvação.

 Deus nos garante a salvação presente e futura àquele que crê em Cristo como seu único e suficiente Salvador, sendo que esta salvação é concedida de forma gratuita, sem esforço ou merecimento por parte do pecador. Por isso Martinho Lutero (1998) diz:

Uma vez pois, que o ser humano tenha aprendido e experimentado pelos mandamentos sua própria incapacidade, de modo que seja então acometido pelo medo, pensando em como poderá satisfazer a exigência do mandamento – já que é indispensável cumpri-lo, sob pena de maldição -, sentir-se-á humilhado e aniquilado a seus próprios olhos, sem encontrar em si mesmo nada com que possa tornar-se agradável a Deus. Precisamente aí vem aquela outra palavra, a promessa e promissão divina, dizendo: “Desejas cumprir todos os mandamentos e ver-te livre da cobiça e do pecado, como os mandamentos demandam e exigem? Pois bem, crê em Cristo, em quem te prometo toda a graça, justiça, paz, liberdade. Se Crês, já possuis tudo; se não crês, nada tens. Porque o que te é impossível obter com todas as obras exigidas pelos mandamentos (que são muitas, sem que nenhuma seja de proveito), isso te será simples e fácil por meio da fé. Pois na fé depositei diretamente todas as coisas, de maneira que quem tem fé, tudo haverá de ter e será bem-aventurado; mas quem não a tem, nada possuirá”. Portanto as promessas de Deus concedem o que os mandamentos ordenam, e cumprem o que eles exigem, afim de que tudo seja de Deus, o mandamento e o cumprimento. Somente Deus ordena, e somente Deus cumpre. Esta é a razão pela qual as promessas de Deus são palavra do Novo Testamento e também fazem parte do novo testamento.

 Baseado na gratuidade da salvação, tende-se a pensar que, o fato de confessar-se cristão o torna um salvo e pelo fato de ser cristão, não importa seu comportamento e lhe é permitido continuar pecando. Deste caso, o próprio Apóstolo Paulo trata, orientando que pelo amor à Cristo o pecado não é mais uma opção, o cristão está livre dele e que se continua a pecar é porque não ama a Cristo e consequentemente não é cristão. Desta forma, entende-se que para que se possa honrar a condição de filhos de Deus e por causa do amor a Cristo não é mais possível que o cristão continue no pecado. Desta forma, a salvação é concedida ao que crê em Cristo, se arrepende de seus pecados e corrigi sua vida pecaminosa.

O Espírito Santo é o agente ativo na santificação do ser humano, tendo em vista que é Ele que orienta ao cristão, pois como Cristo o chama de consolador, este é o que faz com que o Cristão seja consolado pela Palavra de Deus mediante Suas promessas. A certeza da salvação por meio de Cristo se dá na ressurreição de Cristo, pois se Ele permanecesse morto, nada teria a oferecer. Por isso que a salvação, quando anunciada como Paulo a anunciou em Tessalônica, resulta em comunhão espiritual e prática, resulta na formação do corpo local de crentes, resulta em igreja local. As pessoas que se uniram aos Apóstolos seguiram o mesmo padrão que vemos desde o nascimento da Igreja. O único órgão autorizado por Deus para acolher e nutrir os novos convertidos é a comunhão dos santos. O avanço do Evangelho em Tessalônica não resultou em agências missionárias interdenominacionais, mas sim na plantação de uma igreja bíblica naquela localidade.

Em 1 Timóteo 1.5-7 está escrito:

Ora, o intuito da presente admoestação visa o amor que procede de coração puro, e de consciência boa, e de fé sem hipocrisia. Desviando-se algumas pessoas destas coisas, perderam-se em loquacidade frívola, pretendendo passar por mestres da lei, não compreendendo, todavia, nem o que dizem, nem os assuntos sobre os quais fazem ousadas asseverações.

Lutero reflete com as seguintes palavras:

Amor verdadeiro, divino, inteiro e completo é o que não faz exceção, nem se divide ou fragmenta, mas é dirigido livremente a todos. O outro é um amor perverso, quando tenho amizade por aquele que me serve e pode me ajudar e me prestigia, enquanto odeio aquele que me despreza e não está do meu lado; pois esse amor não vem do fundo de um coração fundamentalmente puro, que trata um como o outro; é um amor que apenas busca a própria vantagem e está cheio de amor para consigo próprio, e buscando apenas o que lhe serve, seu próprio proveito junto a cada pessoa, e não o proveito do próximo. Quando é elogiado e prestigiado, ele sorri e, inversamente, quando lhe fazem uma cara azeda ou dizem algo que não gosta de ouvir, ele se irrita e ralha e irrompe em palavrões, acabando-se toda a amizade. (Martinho Lutero, 2011, p. 93)

Portanto pode-se ver que as pessoas não se salvam, é Cristo que as resgata das trevas para a vida eterna sem que se mereça, contudo pelo amor que Deus tem pela humanidade Ele, entregou Seu Filho para que morresse pela humanidade a fim de redimi-la dos pecados. E que pelo fato de Cristo ter justificado a todos quantos n’Ele crêem, o coração é transformado pelo Evangelho. Assim o Espírito Santo faz brotar o amor puro, a consciência boa e a fé sem hipocrisia.

3 A Igreja, O Reino de Deus e às Últimas Coisas

A Igreja trata das pessoas que estão ligadas à Cristo, onde esta se torna parte do Seu corpo. Assim, em meio a Igreja é possível presenciar o reino de Deus que não é uma coisa apenas que existirá no céu, mas ele pode ser presenciado atualmente, para que quando Jesus vier pela segunda vez puder levar consigo toda a Sua igreja, pois haverá o dia do juízo, onde para os justos será de grande alegria, pois irão para a presença do Senhor, porém para os injustos será um dia de terrível temor, porque será anunciado julgamento e o destino destes.

3.1A Igreja

O livro de Atos relata o início da Igreja Cristã e é de extrema importância, para que se saiba, enquanto cristãos, de onde se veio, qual a origem histórica e como se deu o desenvolvimento do Evangelho nos primeiros trinta anos da era cristã. É importante lembra que os trinta anos que são tratados no livro de Atos apresentam a transição do judaísmo para o cristianismo. A Bíblia da Mulher (2009) diz:

O livro de Atos tem sido chamado de “o livro do Espírito Santo”. Lucas, dentre os quatro escritores dos Evangelhos, foiquem deu maior ênfase ao Espírito Santo. O “vento” e o “fogo”, ambos sinais familiares da presença de Deus, ofereceram uma representação visual do ministério do Espírito Santo de encher e equipar cada crente para um papel especial no ministério de Cristo. Alguns tem afirmado que o vento simboliza o poder e, o fogo, a pureza. O falar em “línguas” ou em diversas línguas ressaltou a expansão universal da Igreja, o oposto do que aconteceu na experiência de Babel (Gn 11). Em Babel, a língua ficou confusa de forma que as pessoas não mais podiam se entender; no Pentecostes, o milagre lingüístico (“outras línguas”) capacitou os visitantes vindos de fora da Judéia, incluindo os judeus que já não entendiam o hebraico ou aramaico, a compreenderem a mensagem do Evangelho. O ocorrido foi tão incomum que os crentes foram acusados de estarem “embriagados”.

O termo igreja vem do grego ekklesia e latim ecclesia, que se entendo como as pessoas que professam a fé cristã. Por isso, a Igreja é invisível, ou seja, não se trata da construção onde determinada denominação se reúne para o culto dominical, mas são as pessoas, que podem ser de diferentes denominações que tem a verdadeira fé em Cristo Jesus, como único e suficiente Salvador. Da mesma forma que a Igreja Primitiva sempre se ocupou em testificar não de um Jesus morto, mas o Cristo vivo e que reina com o Pai no Céu, a Igreja atual, que está inserida em uma sociedade pós-moderna, onde o relativismo é a verdade que impera, deveria se posicionar. Pois, por vezes a Igreja se deixa levar, ou até traz para seus cultos esse relativismo, onde não há verdades absolutas, mesmo a Igreja sendo a representante da verdade absoluta, Jesus Cristo.

Cristo é o cabeça da Igreja e esta é seu corpo, o que quer dizer que, assim como cada membro do corpo, não decide por si só, sendo submetido à cabeça, assim também a Igreja é submetida a Cristo, sendo ele parte da Trindade, na pessoa do Deus-Filho. Os cristão são o corpo de Cristo e seguem suas orientações, justamente pelo fato dele estar vivo, Ele fala com Sua Igreja e a encoraja, por meio da Palavra, Ele a abençoa e vence Satanás, onde quer que o Seu Evangelho seja pregado. Por causa de Cristo a Igreja foi perseguida na época de Atos, contudo Luca, o escritor, se preocupou em mostrar que nada poderia impedir tal avanço, pois o avanço não dependia somente dos esforços dos discípulos, mas principalmente do poder de Deus em ação com eles e por meio deles. O que determina o fato de ser ou não fazer parte do corpo de Cristo é a fé salvífica, sendo que esta fé orientada pelo Espirito Santo, que permeia a Igreja, liberta o cristão da escravidão do pecado, concedendo-lhe a salvação, pois a Igreja permanece em uma vida de santificação. Assim sendo o objetivo da Igreja é pregar o evangelho em todos os lugares onde estiver, pois Deus quer salvar a todos e por isso é importante que Sua Palavra seja pregada e os sacramentos administrados de acordo com a Bíblia.

Entende-se por sacramento os rituais que foram ordenados por Deus para serem administrados em Sua Igreja. Cristo, sendo o Deus-Filho, instituiu tanto o batismo como a santa ceia. Desta forma o sacramento é caracterizado sendo a palavra de Deus unida ao elemento físico, visível e palpável e que traz perdão dos pecados, vida e salvação. De acordo com a Bíblia e as confissões luteranas contidas no Livro de Concórdia de 1580, estes são os únicos sacramentos que devem ser administrados na Igreja Cristã. Assim também, a igreja é um adequado ambiente para que seja desenvolvida a educação, pois esta é de suma importância para o convívio social inclusive com os que não professam a mesma fé.

Portanto a Igreja é um lugar de pecadores que buscam uma contínua reconciliação com o Criador, por meio de Cristo que se deu no lugar de todas as pessoa para possibilitar essa reconciliação entre os homens e o Criador. Em 1 Coríntios 14.24-25 diz:

Porém, se todos profetizarem, e entrar algum incrédulo ou indouto, é ele por todos convencido e por todos julgados; tornam-se-lhe manifestos os segredos do coração, e, assim, prostrando-se com a face em terra, adorará a Deus, testemunhando que Deus está, de fato, no meio de vós.

Lutero na Bíblia Sagrada com Reflexões de Lutero (2012) faz uma reflexão sobre o versículo:

Se vos surgiram dúvidas se sois de fato Igreja de Deus, digo-vos que não se reconhece a Igreja por costumes, mas pela Palavra, conforme 1Co 14.24s., onde Paulo diz que, se um descrente entrasse na Igreja e os encontrasse profetizando, cairia de rosto em terra e confessaria que Deus de fato habita no meio deles. Isso, porém, é certo: que a Palavra de Deus e o conhecimento de Cristo está ricamente presente entre vós. E onde quer que esteja a Palavra de Deus associada ao conhecimento de Cristo, eles não são em vão, por mais deficientes que sejam em costumes externos os que os possuem. Pois a Igreja, embora fraca por causa de seus pecados, não é ímpia na Palavra. Certamente ela peca, mas não nega nem ignora a Palavra. Por isso não se deve repudiar os que apreciam e confessam a Palavra, embora não resplandeçam em esplêndida santidade, desde que não vivam obstinadamente em pecados manifestos. Por isso, não há razão nenhuma para duvidardes que a Igreja de Deus está entre vós, ainda que sejam apenas dez ou seis que têm a Palavra.

3.2O Reino de Deus

Em referência ao Reino de Deus, Jesus foi interrogado pelos fariseus e está escrito em Lucas 17.20-21: “Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, Jesus lhes respondeu: Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está dentro de vós”. Assim se vê que este reino já se encontra neste mundo, e não é um reino que apenas se apresenta no porvir, ou é utópico, ele é verdadeiro, dentro de cada um dos cristãos.

Lutero na Bíblia Sagrada com Reflexões de Lutero (2012) faz a relação entre Lucas 17.20-21 com o Salmo 118.20 que diz: “Esta é a porta do Senhor, por ela entrarão os justos”. Lutero escreve:

Este Salmo, censura todas as demais formas exteriores de acepção da pessoa. Na cristandade não existe acepção de pessoas, mas quem crê e é justo entra por esta porta, não importa que seja judeu, grego, homem, virgem, casado, empregado, empregada, rico, pobre, rei, príncipe, nobre, burguês, camponês, forte ou fraco. Pois os judeus se gloriavam muito de serem da descendência de Abraão e de terem a lei, como se, por causa disso, fossem mais achegado, como também hoje os clérigos presumem ser os melhores e as freiras, noivas preferidas de Cristo. Aqui, porém, consta que entram os justos; monges e monjas não têm acesso, a menos que primeiro se tornem justos e cristãos. ‘Pois o reino de Cristo não consiste em maneiras e modos de ser exteriores’, diz Cristo em Lucas 17.20, e aqui não se pode dizer: ‘Ei-lo aqui, ei-lo acolá. Está por dentro, no coração’ (Lucas 17.21).

Se percebe que da mesma forma que se trata da salvação que concedida pela graça de Deus, por meio da fé em Cristo, assim o reino de Deus também se dá, interiormente no coração de cada cristão, pois este reino não é exterior, mas passa a ser exterior a partir do momento e que ele se estabelece interiormente no cristão, desta forma Lutero, trata do reino de Deus refletindo sobre Atos 11.23, onde está escrito: “Tendo ele chegado e, vendo a graça de Deus, alegrou-se e exortava a todos a que, com firmeza de coração, permanecessem no Senhor”. A reflexão de Lutero segue na Bíblia Sagrada com Reflexões de Lutero (2012):

Apeguemo-nos a esta verdade que o Espírito Santo ensina: como podemos conservar a fé em Cristo; calcar o diabo, o pecado e a morte; suportar e superar a ira e a raiva do mundo; edificar o reino de Deus e alcançar a vida eterna. É com essas questões, importantes e necessárias, que devemos ocupar-nos na Igreja Cristã, não com a elaboração de leis e regulamentos relativos a coisas exteriores e físicas. Caso alguma vez se deva ou se queira tratar dessas questões, lutemos e trabalhemos, primeiramente, até que tenhamos estas coisas necessárias: a preservação da doutrina pura e da fé; a vitória sobre o pecado, a morte, o diabo e o inferno; igualmente, o amor e a obediência aos mandamentos de Deus. Quando tiver sido obtido, então, de bom grado, falaremos e decidiremos sobre outras questões. Mas sou da opinião de que as primeiras questões nos darão tanto a fazer por tão longo tempo que, se as levarmos a sério, certamente, esquecer-nos-emos das outras”.

Em Isaías 14.5 está escrito: “Quebrou o Senhor a vara dos perversos e o cetro dos dominadores,”. Lutero, na Bíblia Sagrada com Reflexões de Lutero (2012) se refere da seguinte forma:

Há dois tipos de reino; um é o reino de Deus, o outro é o reino do mundo. O reino de Deus é um reino da graça e misericórdia, e não um reino de ira e castigo, pois nele abundam o perdão, a dedicação, o amar, o servir, o fazer o bem, o ter paz e alegria. O reino do mundo, porém, é um reino de ira e severidade, pois nele se castiga, repreende, julga, condena, para dobrar os maus e proteger os justos. Por isso, possui e usa também a espada (Rm 13.4), 3 um príncipe ou senhor representa a ira de Deus, ou a vara de Deus conforme Is 14.5. Portanto, as passagens que tratam da misericórdia são pertinentes ao reino de Deus. O reino do mundo, que outra coisa não é do que instrumento da ira de Deus com os maus e um verdadeiro precursor do inferno e da morte eterna, não tem a tarefa de exercer misericórdia, mas de ser severo, sério e irado em sua função e obra. Se alguém quisesse misturar os dois reinos, como fazem os falsos espíritos sectários, ele colocaria a ira no reino de Deus e a misericórdia no do mundo; isso seria o mesmo que colocar o diabo no céu e Deus no inferno.

Desta forma percebe-se que o reino de Deus já está e se pode presenciá-lo atualmente, mesmo com tantas filosofias e idéias que tentam desvirtuar a fé do cristão para as mais diversas coisas, mas o que realmente deve importar é que se conhece a verdade e, deve-se permanecer nela até o fim, pois como está em Apocalipse         2.10: “Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida”.

3.3As Últimas Coisas

Não é apenas o livro do Apocalipse que trata das últimas coisas, pois no Antigo Testamento, profetas já descreviam a época da Igreja que entende-se como apocalipse, desta forma Werner H. Schmidt (2004) diz:

O desafio proposto por cada nova situação é aceito pela fé, na medida em que esta se impõe a cada situação a medida da exigência de exclusividade e a interpreta a partir desta exclusividade. Assim, o primeiro mandamento é um fio condutor, ou um indicador na compreensão da realidade, um critério para elaborar a diversidade das experiências humanas. Na variabilidade ou contingência da história, há que se preservar a exclusividade da fé.

Contudo o livro que trata exclusivamente dos tempos do fim é chamado de Apocalipse e foi escrito pelo Apóstolo João, assim David Karnopp (2011) diz que: “Apocalipse é um livro de revelação das coisas que vão acontecer no futuro e que visa consolar a Igreja Cristã dos últimos tempos, principalmente no que diz respeito ao fim do mundo”.

 Da mesma forma que Cristo subiu ao Céu, Ele retornará como diz em Atos 1.11: “e lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o viste subir”. É isso que sustenta o fato do retorno de Cristo, para julgar os vivos e os mortos. Contudo como está em Mateus 24.36-39: “Mas daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, mas unicamente o Pai”.

Existem algumas discussões entre os evangélicos acerca das coisas do fim e, uma delas está em torno do arrebatamento, e a escatologia professada pela Igreja Luterana não apresenta argumentos que sustentam essa doutrina, pois se entende que justos e injustos ressuscitarão simultaneamente, os justos com corpos gloriosos semelhantes ao de Cristo e, os injustos com corpos normais sendo estes condenados ao inferno e os justos serão levados ao céu com Cristo. Da mesma forma que a doutrina luterana não se posiciona em acordo com o milenismo e tribulacionismo. Pois, o propósito inicial e final da Palavra de Deus é nos ensinar sobre o amor do Senhor por nós, e apresentar seu plano de Salvação para a humanidade, que na pessoa do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, se consolidou na morte de Cruz e ressurreição do Senhor. E para completar nossa alegria, constatamos claramente que todo o verdadeiro ensino bíblico também nos serve para exortação, consolo, e edificação. Assim sendo, qualquer ensino que pretenda ter o status de Ensino Bíblico, deve inevitavelmente exortar, consolar e edificar, mas acima de tudo deve ser claro, coerente, e estar em completa conformidade com as Sagradas Escrituras.  

No dia da vinda do Senhor os que estiverem mortos ressuscitarão perante Ele para ser anunciado o julgamento, os justos serão levados para a vida eterna junto de Cristo e os injustos serão condenados à morte eterna, ou seja, permanecer eternamente no inferno. Por isso não aceita-se nenhuma doutrina que apresente a possibilidade de uma segunda chance após a morte, pois é no momento da morte que o julgamento acontece, porém o anuncio do julgamento se dará no ultimo dia. Contudo, os que não tiverem passado pela morte e fizerem parte do corpo de Cristo, terão seus corpos transformados em corpos gloriosos para serem levados também ao céu, porém os que forem injustos não terão os corpos transformados e terão o mesmo destino que os injustos que passaram pela morte, a saber, o inferno eterno.

 

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto, se vê que é de extrema importância que as igrejas sejam propagadoras do Evangelho de Cristo para que se possa fazer com mais pessoas façam parte d corpo de Cristo. Essa é a grande responsabilidade da Igreja Cristã.

O principal objetivo do presente trabalho foi alcançado de forma que é possível identificar as doutrinas essenciais para a fé cristã em meio a tantas superstições e filosofias que muitas vezes entram nas igrejas de forma tão sutil que acabam se tornando comuns entre os membros. O conhecimento que se adquire com o estudo sistemático da teologia, transforma a vida do estudante, de forma que não se pode viver da mesma forma que se vivia anteriormente, pois se tem conhecimento mais aprofundado da verdade que é Jesus. Então, o ideal seria se as igrejas dessem ênfase nas doutrinas essenciais, não deixando de lado seus dogmas doutrinários, contudo dando a devida importância às doutrinas essenciais. Isso facilitaria o convívio dos cristãos de diferentes denominações.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada com reflexões de Lutero. Tradução de João Ferreira de Almeida. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012.

 

BIBLIA. Português. A Bíblia da Mulher: leitura, devocional, estudo. Tradução de João Ferreira de Almeida. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.

 

FEE, Gordon D & STUART, Douglas. Entendes o que lês? – um guia para entender a Bíblia com auxílio da exegese e da hermenêutica. 3º Ed. São Paulo: Vida Nova, 2011.

 

LINDEN, Gerson L. Aspectos Quanto à Administração da Santa CeiaIgreja Luterana. Junho de 2001. V.60. Nº1.

LIVRO DE CONCÓRDIA. Português. Livro de concórdia: as confissões da igreja evangélica luterana. Editado por Darci Drehmer. Traduzido por Arnaldo Shüler. 5.ed. – São Leopoldo: Sinodal; Canoas; Porto Alegre; Concórdia, 2006.

LUTERO, Martinho, Da liberdade cristã/Martinho Lutero; tradução de Walter Altmann - 5º ed. – São Leopoldo: Sinodal, 1998.

LUTERO, Martinho, Obras selecionadas: ética: fundamentos – oração – sexualidade – educação – economia, v.5/ Martinho Lutero. 2º Ed. Atual. [Tradução de] Martin N. Dreher. – São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 2011.

SCHMIDT, Werner H. A fé do antigo testamento. Tradução de Vilmar Schneider. São Leopoldo, RS:Sinodal, 2004.

KARNOPP, David. Apocalipse: guia para estudo. Ano1, Nº 6. Porto Alegre, RS: Concórdia, 2011.

GOERL, Guilherme. Igreja luterana. 1º Ed. Porto Alegre: Ulbra, 1940.