1- INTRODUÇÃO 

  A saúde mental é definida como um estado de bem-estar, no qual a pessoa é capaz de ser produtiva usando suas próprias habilidades, contribuindo assim com a sua comunidade. A atenção psicossocial leva em considerações diretrizes, premissas e dispositivos clínicos para a atenção e zelo para com usuários de álcool e outras drogas. Assim, a saúde mental e a atenção psicossocial para o cuidado e o tratamento de pessoas que utilizam substâncias psicoativas estão voltadas para o resgate da autonomia e cidadania do usuário.

  Dessa maneira, a rede de atenção psicossocial trabalha na perspectiva de uma clínica voltada para as necessidades do usuário, verificando suas vulnerabilidades, assim como procurar intervir nos seus aspectos subjetivos. Essa rede defende a ideia de que o tratamento de dependentes químicos e de pessoas com transtornos mentais possam ser realizados em liberdade, promovendo assim a reinserção social. Franco Basaglia defendia que “o tratamento deveria ser realizado em liberdade”, quebrando assim os paradigmas dos manicômios, que procurava excluir a pessoa com doença mental da sociedade e não tratá-la.

  Dessa forma, a dependência de álcool e outras drogas tornaram um problema de saúde pública (Pratta; Santos, 2009). O número de dependentes químicos tem aumentado, e esses sujeitos precisam ser respeitados como cidadão e terem seus direitos garantidos e não privados. A garantia da saúde mental e da rede atenção psicossocial aos sujeitos são oferecidas gratuitamente no SUS, por meio da Atenção Básica à saúde, através dispositivos como: o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), Centro de Convivência e Cultura, Unidades de acolhimento (UA) e também em leitos nos hospitais gerais.

  Neste contexto, a saúde mental e a atenção psicossocial trabalham na perspectiva territorial com base comunitária e através do conhecimento de suas dimensões, proporcionam a transformação dos lugares e das pessoas toxicodependentes que necessitam de atenção e cuidado. Portanto, a saúde mental e atenção psicossocial possuem a finalidade de proporcionar o respeito aos direitos humanos, por meio da garantia da autonomia, e também da liberdade procurando promover a reinserção social e o exercício da cidadania aos indivíduos na situação de dependência química de álcool e outras drogas.

2- DESENVOLVIMENTO                                

  O tratamento de pessoas com transtornos mentais e dependência química nem sempre foi realizado em liberdade com a perspectiva de psicossocial. Antigamente, a psiquiatria tradicional pregava que essas pessoas deveriam ser retiradas da sociedade e “tratadas” em manicômios. Nestas instituições, o sujeito não tinha direito a voz, era tratado como um objeto e sofria descaso e maus-tratos. Paralelamente, esse modelo hospitalocêntrico na assistência ao uso de drogas, vinculada à assistência psiquiátrica, apresentava problemas de má qualidade dos serviços aos usuários, além da violação dos direitos humanos.

  Atualmente, no modelo biopsicossocial que se baseia na saúde mental e psicossocial do paciente, fez com ele deixasse de ser objeto, e passou a ser um sujeito ativo, integral, autêntico, sujeito possuidor de subjetividade, de valores e desejos, entendo a relação estabelecida que cada sujeito tem com o objeto droga, que é singular. Nesse sentido, é possível construir um tratamento junto com o usuário, na busca de sua autonomia e cidadania.

  Esclarecemos que drogas no conceito da Organização Mundial de Saúde (OMS) é qualquer substância não produzida pelo organismo que tem a propriedade de atuar sobre um ou mais de seus sistemas, produzindo alteração em seu funcionamento. As drogas lícitas são aquelas comercializadas de forma legal e as ilícitas são proibidas. O álcool apesar de ser uma droga lícita, tem sua proibição para menores de 18 anos. Alguns medicamentos só podem ser adquiridos, mediante receita médica especial.

  A dependência química segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) é considerada uma doença crônica, progressiva, que acompanha o indivíduo durante o processo de sua vida, porém ela é tratável. Sendo assim, para ser considerada dependência existe um padrão de repetição do uso, abstinência, tolerância e a presença de um comportamento compulsivo de consumir a droga.

  As drogas são classificadas em: depressoras, estimulantes e perturbadoras. As depressoras inibem o funcionamento do sistema nervoso central, diferentemente as estimulantes são capazes de aumentar a atividade do sistema nervoso central. Já as drogas alucinadoras são capazes de provocar alterações no funcionamento do cérebro, provocando delírio e alucinação. Como alguns exemplos de drogas depressoras, podemos citar: morfina, álcool e sedativos. Já as alucinógenas são: maconha, LSD, cogumelos, e por fim, as estimulantes, a saber: cocaína, anfetaminas e tabaco (Muakad, 2011).

  O uso de drogas é uma prática universal e milenar (Ribeiro, 2009). A OMS caracteriza a dependência química como uma "doença", e a pessoa que sofre precisa de tratamento e cuidado. Neste sentido, uma equipe com profissionais capacitados que priorize a singularidade do indivíduo faz toda a diferença, pois favorece um tratamento com resultados. No contexto das substâncias psicoativas, a saúde mental e a rede psicossocial têm a importância de proporcionar ao dependente químico a sua reabilitação e inserção na sociedade.

  Ressaltamos que, o sofrimento psíquico causando pela dependência química leva em consideração aspectos biológicos, emocionais, psicológicos e culturais e políticos, necessitando de uma equipe multiprofissional capacitada para o cuidado do sujeito. Além do mais, a estratégia de tratamento com abordagem multidisciplinar deve ser estabelecida de acordo com cada usuário, levando em consideração a idade, sexo e a realidade. A equipe deve realizar trabalhos de intervenção em conjunto com a família e os amigos do indivíduo. Nota-se que a assistência ao usuário de drogas enfrenta grandes desafios que fragilizam o cuidado dessa população, principalmente devido ao preconceito e estigma que são submetidos, ficando a margem da marginalização.

  Neste sentido, a Política Brasileira de Atenção Integral para Usuários de Álcool e outras Drogas propõe a necessidade de implantar, elaborar e implementar ações para atender a população de dependentes químicos, através de atendimento na área da Rede de Atenção Psicossocial, do SUS, descentralizando o atendimento na lógica hospitalar e proporcionando um atendimento psicossocial, aberto e comunitário. Consideramos que a saúde mental e atenção psicossocial contribuíram para a concretização da assistência humanizada e integral a usuários de álcool e outras drogas, levando em conta a complexidade da dimensão humana em que todos precisam ser vistos e respeitados, em sua totalidade.

3- CONSIDERAÇÕES FINAIS

  Atualmente, a Dependência Química constitui-se um problema de saúde pública. O tratamento de dependentes químicos precisa envolver equipes multidisciplinares e transdisciplinares, além de ajuda dos familiares e amigos, necessitando de um trabalho contínuo e em equipe que possam apoiar o usuário e trabalhar em prol da sua recuperação, seja qual for o tipo de droga.

  Nota-se que mesmo depois de tratados da dependência, o indivíduo pode cair em recaídas e crises, advindas do fato de ter ocorrido uso anterior em algum momento de suas vidas, conclui-se que, portanto, é melhor acolher os sujeitos e eliminar estigmas, preconceitos e segregação. Dessa forma, a saúde mental e a atenção psicossocial para o cuidado e tratamento de pessoas dependentes químicas estão voltadas para o resgate da sua autonomia, da sua cidadania e também para a reabilitação social dos usuários.

  Concluímos, que, a atenção psicossocial e a saúde mental são de suma importância ao trabalhar a questão da humanização com usuários de álcool e outras drogas, pois promovem a clínica ampliada, cujo considera a singularidade do sujeito garantido acolhimento, escuta, reciprocidade, vínculo e cuidado. Por isso, dizemos sim ao tratamento de pessoas dependentes de álcool e outras drogas na perspectiva da saúde mental e da atenção psicossocial e não a exclusão.

Referências Bibliográficas:

MUAKAD, Irene Batista. A Cocaína e o Crack: as drogas da morte. Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo, v.106-107, p. 465-494, 2011.

PRATTA, Elisângela Maria Machado; SANTOS, Manoel Antônio dos. O Processo Saúde-Doença e a Dependência Química: Interfaces e Evolução. Psicologia: Teoria e Pesquisa. Abr-Jun. Vol. 25 n. 2, pp. 203-211, 2009.

RIBEIRO, Cynara Teixeira. Que lugar para as drogas no sujeito? Que lugar para o sujeito nas drogas? Uma leitura psicanalítica do fenômeno do uso de drogas na contemporaneidade. Ágora (Rio de Janeiro) v. XII n. 2 jul/dez. p. 333-346, 2009.