RESUMO

A sociedade é composta de organizações, pessoas, estruturas e sistemas diversos. O homem participa das estruturas de poder das diversas sistematizações sociais, políticas, ideológicas, de forma a construir imagens e mitos que foi convencionado chamar de liderança. Entretanto esta tem vários contornos, a depender do contexto, das pessoas, da cultura e acima de tudo das ideologias. Existem líderes autocráticos, liberais, rigoristas, laxistas, democráticos, contudo o último tem vantagens sobre os demais perfis, visto que trata de uma imagem mais humanitária e consequentemente motivadora da participação da equipe nas tomadas de decisões através da dialética. A liderança democrática tem o diferencial que é desenvolver a gestão compartilhada. No cenário globalizado e diante das mudanças nas organizações e na forma de gerir pessoas e empresas, torna-se necessário uma postura do líder cada vez mais participativa, em vista de uma administração eficiente e eficaz.

INTRODUÇÃO

O presente artigo com o tema A importância da liderança democrática nas organizações pretende ser um subsídio de reflexão e de retomada do diálogo sobre esse pertinente debate que é fundamental no mundo hodierno. Observando a história, desde os seus primórdios, percebe-se que a democracia criada pelos gregos e romanos até hoje ainda é uma utopia e um desejo de participação do povo no destino das cidades, das organizações, das instituições. Os líderes tendem mais para dominar, explorar, ditar normas, mandar, serem donos da verdade.

A partir de tais questões, tão absurdas, mas verdadeiras, discute-se os princípios reais, teóricos e práticos, as exclusões dos marginalizados pela falta de democracia séria, a falta de pessoas certas no lugar certo. A Constituição, bem como a Declaração Universal dos Direitos Humanos tenta amenizar as feridas e cicatrizes com os lemas: “Todos são iguais perante a lei”; ou “Todos têm liberdade e direitos...” Quando se vê, teoricamente os princípios e compara com a realidade incompatível com eles, tem-se a ideia de que o autoritarismo, a teocracia e a ditadura comandou o mundo nos dois milênios. Ser democrático é dar garantia de liberdade de expressão e viver a vida humana de maneira compartilhada, no mundo plural e que necessita rever valores, repensar ideologias.

A liderança nas organizações há muito foi repensada e exigida uma transformação do seu perfil. Aquela figura que mandava e detinha o poder de decisão individual ficou no passado. É necessário na atual conjuntura uma nova liderança, que saiba compartilhar seus dons, suas palavras, para que a administração tenha mais resultado, bem como a vida e a progressão de cargos e motivação dos colaboradores. É uma nova concepção de organização que envolve gestão de pessoas de forma organizacional.

DESENVOLVIMENTO

As organizações são compostas de missão, visão, objetivos e valores que norteiam sua estrutura física e administrativa. Cultura e clima organizacionais também são partes integrantes que fazem toda a diferença em toda empresa. A partir da análise sistêmica das organizações, pode-se destacar as imagens e perfis de lideranças em vários contextos históricos. O conceito de liderança é bastante amplo. É preciso diferenciar também os conceitos de chefe, gerente e líder. O primeiro é autocrático, manda e decide sozinho, cumpre funções e regras. O segundo é mais técnico. Já o terceiro tem vários pontos de vistas a olhar, a depender de seu estilo.

Segundo Maximiano (2007, p. 277) liderança é:

(...) o processo de conduzir as ações ou influenciar o comportamento e a mentalidade de outras pessoas. Proximidade física ou temporal não é importante no processo. Um cientista pode ser influenciado por um colega de produção que nunca viu ou mesmo que viveu em outra época. Líderes religiosos são capazes de influenciar adeptos que estão muitos longes e que têm pouquíssima chance de vê-los pessoalmente.

Esse pensamento é amplo e define a ubiquidade do processo de liderar, que transcende a dimensão física, no espaço e no tempo. Um líder democrático que se preocupa em realizar proezas em prol de seus influenciados, deixa marcas positivas na mente e no coração de sua equipe, além de manter firme a estrutura de uma cultura organizacional centrada nos valores da reciprocidade, da confiança na equipe, trabalhando todos por todos, sem desconfiança.

  Para Chiavenato (2006, p. 18-19) a liderança é essencial em todas as funções da Administração:

(...) o administrador precisa conhecer a natureza humana e saber conduzir as pessoas, isto é, liderar. Entende-se por liderança a percepção do grupo em relação ao líder, que consegue influenciar, persuadir e argumentar sobre pessoas.

Tal maneira de pensar, também revela uma maturidade de gestão e influência positiva com as pessoas.

O líder é fundamental para gerir as decisões de uma empresa. Segundo Bergamini (1994, p. 88) ser líder é ser influenciador:

(...) o conceito de liderança pode variar de autores e dentro das organizações podem ter alguns significados diferentes, constata-se que a maior parte dos autores conceitua liderança como processo de influência de um indivíduo sobre outro indivíduo ou grupo, com vistas à realização de objetivos em uma situação dada.

 Fundamental observar que mesmo com diferenças nas epistemologias e ideologias sobre as lideranças e seus estilos variados, o líder é sempre aquele que influencia sua equipe. Ou domina com seu controle e dominação autocrática ou é liberal. Por outro ângulo é preciso salientar a importante tarefa do líder democrático. Ele assume uma administração compartilhada e não retém para si a responsabilidade. Sabe delegar funções. Confia na equipe porque a preparou e sua equipe é eficiente. O líder democrático sabe que sua equipe é influenciada por ele para democratizar a empresa. Esse processo de democratização então passa pela empatia, pela reciprocidade entre líder e liderados e não há superior e inferior na equipe. Todos assumem uma gestão participativa, dialogada, dialética, sistêmica, além de ter consciência da função, cargo, fragilidade, superação e limites de cada um. Entretanto, essa mesma equipe é capaz de avaliar constantemente o processo. É uma via de mão dupla, em que se faz um processo de conduzir a administração através de uma transparência tão perfeita que ninguém trabalha com medo, com ameaças, sem estímulo. O maior combustível da equipe é a motivação e a formação, isto é, a profícua maneira de corrigir erros, aprender a ser e agir todos os dias, de ter a humildade de progressão, de saber escutar e falar na hora certa, do jeito certo. Uma equipe assim, harmoniosa não é da matriz medieval, nem do século XV, nem tampouco da pós-modernidade. É um ideal proposto e necessário ao êxito empresarial. Contudo, é preciso olhar a história das organizações e perceber os avanços e os percalços.

Antigamente o estilo de liderança tendia mais para o modelo rigoroso de chefe, ou seja, autocrático. De acordo com Marques (2010, p. 1) o estilo autocrático era centralizador: Nesse estilo, o líder determina as ideias e o que será executado pelo grupo; isso implica a obediência dos demais. O estilo autocrático é o mais antigo. Sua origem remonta a Pré-história, quando os primeiros agrupamentos se organizaram e surgiram os primeiros chefes.

Sem fazer nenhuma polêmica e sem condenar os povos antigos, mas tecendo um comentário bastante pertinente para os dias de hoje, em que ainda existem estilos de liderança assim, com um olhar míope para a pessoa humana, percebe-se que o estilo autocrático é ditador. Uma figura ingênua que quer ser dona de tudo e das pessoas, controlar tudo e todos. Toma as decisões sozinhas com medo de perder o poder centralizador.

Na Grécia clássica fala-se em senhores e escravos, bem como em Roma. Isso se deve ao cenário imperial e cultural desde os séculos VI a. C. ao V d. C. Já na Idade Média percebe-se que essa figura de senhor e súdito é visto pelos historiadores e críticos como uma cultura instaurada pela cristandade, ou seja, pela dependência ou relações de comandos da Igreja sobre o Estado e vice-versa. Tal situação perdurou por mais de mil anos. Com suseranos e vassalos numa labuta conflituosa em que as relações de trabalho e organizacionais se tornam de total dependência do senhor, do chefe, aquele que detém o poder, a riqueza, os bens, o capital.

Por outro lado, na pesquisa de Marques (2010, p. 44) está na Grécia o berço do pensamento e do estilo de liderança democrática:

Estilo democrático: O estilo democrático foi inspirado, principalmente, em ideias desenvolvidas na Grécia Antiga. Nesse estilo de liderança não apenas a pessoa do líder, mas todo grupo é considerado o centro das decisões. Isso não significa que, na liderança democrática, o papel do líder perca sua importância, pois é exatamente aí que ele fica bem caracterizado, distinguindo-se das funções de simples chefia e ganhando um sentido mais profundo.

 

  Todo o contexto grego respira sabedoria, um povo civilizado, com um discurso afinado e ávido pela liberdade de expressão, certamente legou à humanidade esta caracterização peculiar do líder, de forma democrática a ser vivida na família, na política, nas religiões, nos grupos sociais.

   Segundo Souza (2016, p. 29) o feudalismo medieval transformou o mundo num verdadeiro fracasso das relações humanas e da liderança:

No mundo feudal, as terras representavam um importante instrumento para a obtenção de poder e construção de relações sociais. Geralmente, um integrante da classe nobiliárquica poderia ter acesso a uma propriedade por meio do direito de herança. Entretanto, para que a extensão das propriedades não fosse desarticulada, muitos senhores feudais destinavam a posse de suas terras para seu filho mais velho.(...) outra opção de acesso à terra também poderia ser estabelecida por meio de um juramento de fidelidade. Nesse caso, dois nobres se reuniam para firmar um acordo em que um deles oferecia e o outro recebia a propriedade de um feudo. Do ponto de vista social, esse entendimento criava um tipo de contato que selava as chamadas relações de suserania e vassalagem.

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