A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM

 

Professora Saleti Hartmann

Licenciatura Plena em Pedagogia

Pós- Graduação em Artes e Ensino Religioso

 

 

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo demonstrar  através deste Artigo, a importância da afetividade no aprendizado do aluno, afeto esse, que deve envolver família, escola e comunidade onde o aluno vive. Para a concretização do estágio, foi feito um estudo de caso, através de observações, questionários e entrevistas com professores, a respeito das dificuldades de aprendizagem de um aluno, que, por alguns anos sucessivos, demonstrou sérias dificuldades de aprendizagem, tendo sido reprovado mais que uma vez. Trata-se de um estudo de caso, cuja interpretação de dados deu-se, principalmente, a partir  da análise de depoimentos dos professores entrevistados, diálogos com o referido aluno e seu pai e observações da sua convivência na escola e na sociedade. Em primeiro plano, este Artigo aborda o aluno observado, sua personalidade, suas dificuldades, em segundo plano, aborda a escola, sua estrutura física, Projeto Político-Pedagógico e modos de avaliação da escola. Depois, algumas considerações em torno de estudos de Wallon e Vygotsky. Como conclusão, evidenciou-se o fator afetivo como propulsor da aprendizagem, e, consequentemente, como elemento essencial no processo de melhoramento do indivíduo nas primeiras etapas da vida.

Palavras-chave: Escola. Educação. Estágio. Aprendizagem. Afetividade.

 

 INTRODUÇÃO

 

“Somos anjos de uma asa só, e temos de nos abraçar uns aos outros, para poder voar”

(Anônimo)

 

Por que observar e compreender a afetividade no processo de ensino-aprendizagem? Segundo Rossini (2001, p. 16):

Porque é a base da vida. Se o ser humano não está bem afetivamente, sua ação como ser social estará comprometida, sem expressão, sem força, sem vitalidade. Isto vale para qualquer área da afetividade humana, independente de idade, sexo, cultura.

 

            Conforme o Dicionário, o termo Afetividade se refere à capacidade do ser humano de ser afetado positiva ou negativamente tanto por sensações internas como externas. A afetividade é um dos conjuntos funcionais da pessoa e atua, juntamente com a cognição e o ato motor, no processo de desenvolvimento e construção do conhecimento.

            Ou, “Afetividade é a relação de carinho ou cuidado que se tem com alguém íntimo ou querido.”

“É o estado psicológico que permite ao ser humano demonstrar os seus sentimentos e emoções a outro ser vivo. Pode também ser considerado o laço criado entre humanos, que, mesmo sem características sexuais, continua a ter uma parte de "amizade" mais aprofundada.”

“Em psicologia, o termo afetividade é utilizado para designar a suscetibilidade que o ser humano experimenta perante determinadas alterações que acontecem no mundo exterior ou em si próprio. Tem por constituinte fundamental um processo cambiante no âmbito das vivências do sujeito, em sua qualidade de experiências agradáveis ou desagradáveis.”

O presente artigo aborda a questão afetiva no processo de Ensino-aprendizagem, pela importância que o afeto tem, tanto na vida individual, social e, principalmente, na Educação.

Mesmo que muitos professores não estão conscientes disso, a afetividade – ou a falta dela – estão fortemente presentes no ato de educar, transmitindo ao aluno tanto uma visão positiva de si mesmo – autoestima – quanto uma visão negativa, quando não existe a afetividade da parte do professor ou da professora.

Quando em contato com os alunos, na sala de aula, o(a)  professor(a) precisa estar atento à sua maneira de expor os conteúdos para os  pequenos alunos, pois é necessário que saiba que ele (ela) é um(a) mediador(a) entre o ensino e o aprendizado, portanto, todas as suas palavras, ações e reações, precisam ser enriquecidas pelo afeto e pela ternura, sendo que as crianças sempre captam o estado emocional positivo ou negativo de quem a está ensinando.

Num dos seus estudos, WALLON afirma que:

“(...) as reações de mediação feitas pelo professor, durante as atividades pedagógicas, devem ser sempre permeadas por sentimentos de acolhida, simpatia, respeito, além de compreensão, aceitação e valorização do outro; tais sentimentos não só marcam a relação do aluno com o objeto de conhecimento, como também afetam a sua autoimagem, favorecendo a autonomia e fortalecendo a confiança em suas capacidades e decisões. (LEITE E TASSONI, P.20)

 

            Ainda segundo WALLON, “O que se diz, como se diz, em que momento e por quê – da mesma forma que o que se faz, como se faz, em que momento e por quê – afetam profundamente a relação professor-aluno e, consequentemente, influenciam diretamente o processo de ensino-aprendizagem, ou seja, as próprias relações entre sujeitos e objetos. Neste processo de inter-relação, o comportamento do professor, em sala de aula, através de suas intenções, crenças, seus valores, sentimentos, desejos, afeta cada aluno individualmente.

            Grandes pesquisadores e estudiosos da alma humana perceberam, através dos seus estudos e observações, que a presença da afetividade na vida humana, desde a mais tenra idade, é capaz de transformar um indivíduo num vencedor, num cidadão autônomo, seguro de si e capaz de transferir ao mundo ao seu redor, a mesma confiança, a mesma segurança que o afeto gerou na sua própria vida.

            Pelo contrário, a falta da afetividade faz das pessoas cidadãos inseguros, sem autoestima, sem ânimo e, muitas vezes, infelizes. Infelizmente, a grande maioria dos estudantes ou mesmo dos indivíduos apresenta esse quadro negativo em suas vidas, pois faltou o ingrediente principal, que é o afeto, o carinho, a mão amiga estendida em sua direção.

            O presente artigo apresenta o resultado de um estudo de caso de um aluno o qual apresentou, por anos seguidos, dificuldades enormes no processo de ensino-aprendizagem, em todas as disciplinas, com todos os professores, desde o início de sua vida escolar.

            À medida que este aluno foi sendo observado, tendo sido conhecida a sua história familiar, compreendemos, tristemente, que, nos seus primeiros anos de vida, faltou a presença da afetividade, fator essencial para um desenvolvimento normal, sadio e integral.

 

2- A AFETIVIDADE E A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO

Cada vez mais psicopedagogos, professores e pesquisadores aderem à constatação de que é essencial a afetividade no processo de ensino-aprendizagem, principalmente nos anos iniciais em que o aluno vai à escola.

            O presente trabalho foi realizado com o objetivo de reafirmar essa constatação, através da observação e acompanhamento da vida escolar, familiar e social de um determinado aluno, o qual – nesse Artigo -, será denominado pelo nome fictício de Mário, para preservar a sua identidade e individualidade. No processo de observação  da vida escolar, familiar e social deste aluno, o mesmo foi questionado, observado, testado e, direta e indiretamente, os seus familiares, para que as conclusões sobre o seu caso fossem mais próximas possíveis da realidade.

            Para alcançar o fim proposto, foi entregue um questionário com perguntas sobre a vida escolar e familiar do aluno Mário, aos professores de cada área de ensino e também ao Diretor da escola, abordando aspectos da sua aprendizagem, suas dificuldades e maneiras de  socializar-se com os colegas de escola.

            A fim de verificar as reações sociais de Mário dentro do ambiente escolar, foi feito um acompanhamento em caráter de observação nas aulas, na hora do recreio e adotou-se a conversação com o menino, para conhecê-lo melhor. A partir desses procedimentos, verificou-se que a principal trava na sua aprendizagem foi, realmente, a falta de afeto no âmbito familiar, pois Mário perdeu sua mãe no processo do parto, tendo sido roubado do afeto materno durante os primeiros anos de sua vida. No decorrer dos anos, quando já era maior, ficava sozinho em casa, com a ausência do pai, que precisava trabalhar e sem seus irmãos, que seguiram outros rumos.

            Nos seus estudos, WALLON apresenta “cinco estágios onde ocorre a alternância entre aspectos afetivos e cognitivos.”

            No primeiro estágio, denominado Impulsivo Emocional (0 a 1 ano), o bebê tem uma relação muito forte com a mãe (figura de cuidado), onde o tônus e a emoção estão intimamente ligados, possibilitando a comunicação entre os dois por meio do diálogo tônico, ou seja, a criança chora, quando sente fome ou sede, e sabe que sua mãe vai atender as suas necessidades, ouvindo o seu choro.

            Para WALLON, a afetividade envolve as emoções, que é de natureza biológica, dos sentimentos, das vivências humanas, do desenvolvimento da fala, que possibilita transmitir ao outro o que sentimos.

            Esta fase primordial na vida de um ser humano, que é o afeto materno, o menino Mário perdeu completamente, quando sua mãe morreu, em decorrência do parto.

            O conhecimento desta realidade do aluno, trouxe a compreensão do por que de suas tantas dificuldades no processo de ensino-aprendizagem, que provocaram atraso na sua vida escolar e deixaram uma verdadeira lacuna no construção integral da sua personalidade.

            Desde o início da sua vida escolar, Mário demonstrou dificuldade de aprendizagem em todas as áreas do conhecimento, o que não é comum nessa escola, onde outros alunos podem ter dificuldades em uma ou outra disciplina, mas nunca em todas elas. Eis, pois, a justificativa desse Artigo sob o Tema “A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE  NO ENSINO-APRENDIZAGEM”.

            Todas as etapas foram acompanhadas pelos professores, diretor e tutora do meu estágio, Senhora Merci Schossler.

            Nota-se assim que, seja qual for o método utilizado pelo professor para despertar a curiosidade intelectiva e cognitiva dos seus alunos, esse método precisa vir acompanhado pelo vínculo do afeto, tanto na escola como partindo da família – principalmente -, pois o afeto é a causa primeira que diz ao ser humano que ele é amado, é aceito e a partir dele, está aberto o caminho para a evolução plena, tanto na vida escolar como na vida individual das pessoas.

            Eis os objetivos estabelecidos no pré-projeto de estágio, e que nortearam o estudo de caso:

1- Assistir aulas nos períodos em que o aluno Mário tem atividades para fazer.

2- Observar reações e comportamento do aluno perante seus colegas e professores.

3- Analisar sua capacidade cognitiva e de aprendizado.

4- Coletar informações junto aos professores e familiares.

5- Aplicar questionário de aprendizado do aluno junto aos professores.

6- Usar o meio de conversação para melhor conhecer o aluno em questão.

7- Aplicar atividades cognitivas junto ao aluno.

8- Analisar os dados coletados junto aos professores e familiares.

9- Descobrir o nível de autoestima do aluno.

10- Registrar as conclusões tiradas no Relatório final de estágio.

            O presente Artigo teve influência das teorias sobre afetividade de grandes estudiosos como Henri Wallon e Vygotsky, pois os mesmos  destacam a necessidade do afeto na construção da aprendizagem humana, além de outros pesquisadores em Educação.

            O estágio do qual surgiu esse Artigo, teve uma importância imensa na formação psicopedagógica, no qual houve um aprendizado prático da realidade dos alunos com dificuldades na aprendizagem. Enquanto existe somente a teoria, é inimaginável perceber e compreender o universo individual e social de cada aluno que apresenta alguma dificuldade na escola. A visão abre-se como um leque de várias possibilidades, problemas complexos ou mais simples, e o preparo para exercer a Psicopedagogia fundamenta-se em vidas reais, não mais em suposições.

            Para a Escola São Miguel, onde o estágio foi efetuado, a importância foi dobrada, pois, em princípio, os professores da escola não sabiam o que era um Psicopedagogo e qual era o seu papel. Houve uma acolhida maravilhosa, e muita colaboração no estudo de caso e em tudo o que envolveu esse processo.

            Pois, todos os professores entenderam claramente que, quando a criança pode conviver afetivamente dentro dos espaços educacionais, esta é uma condição imprescindível no processo ensino-aprendizagem. Dentro da afetividade, o aluno sente que é um ser único diante do seu professor, e esta sensação o leva a construir suas próprias relações com o mundo. A afetividade proporciona a sensação da curiosidade no aluno, isto é, através do afeto, o professor conduz o aluno a ser curioso no seu aprendizado escolar. O aluno sente-se seguro em apresentar os seus argumentos, que podem ser muito diferentes dos argumentos do seu professor. No relacionamento afetuoso professor-aluno, o aprendiz encontra um lugar para as suas próprias ideias e isso tem o poder de tornar o aprendizado mais completo, e mais amplo. Quando o ensino-aprendizagem vier desprovido da afetividade, o aluno ficará inseguro diante dos seus próprios pensamentos, e terá receio de compartilhá-los, o que o empobrecerá muito. Tornar-se-á uma criança calada, tímida e começará, por si só, a limitar o seu poder de pensar e até de agir.

            No caso observado, o aluno demonstra-se quieto, tímido e não apresenta um aprendizado suficiente em nenhuma área do conhecimento, mas isto se dá pelo fato de ter perdido sua mãe muito cedo, e, desde então, vive sozinho em casa – seu pai trabalha fora o dia todo, e seus 2 irmãos seguiram adiante nas suas vidas, isto é, casaram e mantêm um elo inexpressivo com o nosso pequeno guerreiro.

            O mundo das emoções do aluno observado tornou-se muito limitado, onde o afeto familiar parece não ter muito espaço no seu dia-a-dia. Ele vive por conta, faz o que quer enquanto seu pai trabalha fora, dorme muito e não tem sequer alguém que o oriente nos estudos.

                        Segundo Wallon (2007, p. 118) a ruptura estabelecida entre a mãe e o bebê, no momento do parto, já se estabelece uma  relação afetiva permeada de emoções que consistem essencialmente em sistemas de atitudes que, para cada uma correspondem a certo tipo de situação.

            Desta forma, temos, neste estudo de caso, o menino Mário, que, além das emoções vividas nos primeiros anos após o seu nascimento, traz consigo a carga de emoções negativas pela morte prematura de sua mãe, que o deixou numa situação quase que de completo abandono e solidão. E esta carga, Mário trouxe para a sala de aula, tornando-se um aluno cujo aprendizado nivela-se sempre aos primeiros anos de sua alfabetização. É um aluno que, sem o afeto dos professores e dos seus colegas, jamais poderá alcançar um processo de ensino-aprendizagem de acordo com a sua idade e de acordo com os degraus que precisa aprender a subir, nivelando-se aos seus colegas de classe.

            VYGOTSKI in Oliveira (1992, p.76) menciona que um dos principais defeitos da psicologia tradicional, é a separação dos aspectos intelectuais, dos aspectos volitivos e afetivos, propondo, no entanto, que haja unidade entre esses processos, o que não existe no caso do aluno Mário.

            No decorrer de todo o desenvolvimento do indivíduo, a afetividade tem um papel fundamental para que a criança acesse o mundo simbólico também do aprendizado.

            O aluno Mário não apresenta a unidade sugerida por VYGOTSKI, entre os aspectos intelectuais, volitivos e afetivos. Portanto, o mundo simbólico do aprendizado deixa muito a desejar. Mário, pela falta de afetividade familiar, corre o risco de empobrecer as suas capacidades intelectuais, e não saberia se colocar diante das transformações e amadurecimento que a vida exige diariamente de todos os indivíduos, se não tivesse o afeto no âmbito escolar, tanto da parte dos professores como vindo dos coleguinhas.

            A construção social do conhecimento se faz pelo diálogo e pela interação em sala de aula de professores e alunos e alunos e alunos, uma relação afetiva que favorece a socialização. O outro assume um papel importante e para VYGOTSKI (2007) o processo se dá sob a orientação de um adulto ou em comparação com companheiros mais capazes.

            Na vida de Mário, faltou esse processo que se dá sob a orientação de um adulto, mas ele pode se situar diante dos companheiros mais adiantados, e a constatação o deixa triste e desanimado, pois sempre tem notas muito abaixo da média daquelas notas que os seus coleguinhas tiram.

            Porém, é aí que entra o poder do afeto do professor e dos próprios coleguinhas, no sentido de ajudar, animar e fazer aumentar a autoestima de Mário, ainda que contra tantos obstáculos.

            A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a Lei nº 9.394 de 1996 oferece os dois mais importantes princípios de afetividade e amor no âmbito escolar, o respeito à liberdade e o apreço à tolerância, que são inspirados nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana. Ambos têm por fim último o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania ativa e sua qualificação para as novas ocupações no mundo do trabalho.

            Se o aluno Mário não vivenciasse em sala de aula a afetividade plena – com professores e colegas – não sentiria a segurança de buscar dentro  de si as forças para reagir e superar esta situação de atraso que a vida quis lhe impor.

            É na escola, é na sala de aula que Mário encontra as ferramentas necessárias para mover os muros que o dominam e escravizam. Sem o estímulo afetivo, o aluno seria mais um a povoar as listas de risco social, como a violência, as drogas ou, a indiferença.

            WALLON enfatiza a questão do meio na formação do ser humano. O modo como o ser humano reagirá a determinadas situações de afeto ou quaisquer que sejam as situações pela qual passar, dependerá muito do meio. Uma vez que o meio molda a personalidade humana.

            No caso estudado, Mário tem todas as possibilidades do meio para desenvolver-se afetiva e cognitivamente, uma vez que a escola é pequena, aconchegante, os alunos são dados à afetividade, e os professores procuram, sempre, exercer o afeto nas suas metodologias de ensino-aprendizagem.

            A Escola Municipal de Ensino Fundamental São Miguel, da Linha São Miguel, município de Cândido Godói, onde o aluno Mário estuda, fica distante da sede 10km, no lugar onde ela está instalada existem poucas casas de moradia, uma igreja e um clube social. Antigamente, o então chamado Distrito de São Miguel foi criado em 15 de outubro de 1981 – pela Lei nº 562.

            A estrutura da escola é basicamente bem feita, tem 5 salas de aula, 3 banheiros, 1 biblioteca, 1 sala para os professores, a secretaria do diretor, cozinha com o devido refeitório, 1 ginásio esportivo e um  pátio onde os alunos brincam e se divertem na hora do recreio. A escola São Miguel atende a Pré-escola (Educação Infantil), Ensino Fundamental 1 e 2, em dois turnos. A escola tem menos de 100 alunos no seu total. O seu ambiente favorece um relacionamento amistoso entre os alunos, e acontecem poucos casos de desentendimentos ou de violência.

            A escola São Miguel foi criada em 1º de abril de 1943, e ainda pertencia ao município de Santa Rosa.  Anteriormente, existia uma escola particular, que funcionava desde 1928, e se denominava Escola Paroquial, onde os professores eram pagos pelos pais dos alunos coordenados pelo Vigário.

            Na Escola da Comunidade de São Miguel, sempre funcionaram aulas de 1ª a 5ª séries, porém em 1985 a administração Municipal constatou a necessidade de mais melhorias no espaço físico. Biblioteca, secretaria, cozinha e banheiros. A comunidade também se empenhou na construção de uma sala de aula, sala para laboratório e sala para professores através dos recursos do FUNDEC. Quando também foi implantada a 6ª série.

            No ano de 1991, em 1º de março a comunidade de São Miguel foi contemplada com a implantação do 1º Grau Completo, com a instalação da 7ª e 8ª séries.

            A escola está lotada no Decreto de criação Nº 47, no dia 1º de agosto de 1977. Com Portaria de reorganização no dia 08 de novembro de 1979, e consta no Diário Oficial com a data de 13.11.1979.

            A escola São Miguel, bem como a Comunidade – já tiveram seus momentos de ouro, tanto pela situação econômica, como político-ideológica. A situação atual – é que a comunidade  apresenta grandes espaços vazios, sendo que as casas são construídas longe umas das outras. Está havendo êxodo rural entre a população, principalmente entre os jovens, e as poucas famílias que residem nesse interior esquecido, não estão acostumadas a fazer acompanhamento dos seus filhos junto à escola, quase desconhecendo o que acontece com as crianças dentro da escola. Os habitantes desta pequena comunidade dedicam-se à agricultura, à cultura leiteira e não há registros de que tenham feito uma Faculdade ou terminado o Ensino Médio, ou mesmo o Ensino Fundamental.

            O objetivo Geral da Escola São Miguel é ... “Tornar o aluno um sujeito ativo, crítico, responsável, participante e transformador do meio, para que possa contribuir, através da construção social do conhecimento para  melhorias da sua vida, comunidade, buscando na cooperação e na solidariedade soluções para seus problemas”.

            Após um prévio conhecimento sobre a Escola São Miguel, torna-se interessante conferir alguns itens do seu Projeto Político-Pedagógico, onde, entre outras coisas, conta com a filosofia da escola, que consiste em “formar um  cidadão como sujeito criativo, participativo, responsável, ativo e capaz de conviver em sociedade em que está inserido”.

O pai do aluno Mário trabalha na Sede do município, alguns quilômetros longe de casa, e o menino fica sozinho o dia inteiro, sem que ninguém o eduque, sem que ninguém o ame.

            O aluno MÁRIO insere-se no contexto dos objetivos da Escola, sendo, em tudo, participativo, ativo e capaz de conviver na sociedade em que está inserido. Nas horas recreativas ou mesmo nas aulas de Educação Física, Mário tem uma participação normal, integra-se aos jogos e brincadeiras dos colegas de aula, conhecendo as regras dos jogos e das brincadeiras, é afetuoso, ri muito e é bem aceito no meio escolar. Porém, cognitivamente, nos momentos de formar um simples pensamento, uma simples ideia em qualquer disciplina onde a teoria é necessária, Mário demonstra pouca criatividade e também ainda não se enquadra dentro das responsabilidades que lhe são exigidas no âmbito escolar: - não faz os temas de casa, não estuda, traz pouca ou nenhuma criatividade nas aulas de artes, conforme a professora desta área.

            O Projeto Político-Pedagógico apresenta, ainda, itens que, sutilmente afetivos, evocam a existência de “um clima de amizade, diálogo, questionamento e respeito na sala de aula para chegar ao aprendizado mutuo, conclusões e ideias que ajudam a melhorar a convivência...”

            Em outro item, aborda a importância de que “se dê atenção especial a quem mais precisa, sem excluir ninguém”.

            Outro item abordado no Projeto Político-Pedagógico, que lembra a importância da afetividade, diz que a escola “tenha como principal objetivo a aprendizagem, cultivando um bom ambiente para o estudo”.

            No processo de avaliação do aluno, consta a seguinte abordagem no Projeto: “Que tenha uma avaliação diferenciada para os portadores de necessidades especiais conforme sua necessidade”.

            Nesse tipo de avaliação está enquadrado o aluno Mário, por sua imensa dificuldade de aprendizagem.

            A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) a Lei nº 9.394 de 1996 oferece os dois mais importantes princípios de afetividade e amor no âmbito escolar, o respeito à liberdade e o apreço à tolerância, que são inspirados nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana. A Lei determina como fim último o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania ativa e sua qualificação para as novas ocupações no mundo do trabalho.

            Portanto, diante de casos como o do aluno Mário, as escolas e os professores estão muito bem amparados para exercer a construção da afetividade durante as aulas, fazendo com que, cada aluno, cada criança sinta-se amada, querida e inserida dentro do mundo como alguém que tem importância, seja qual for a sua condição, seja quais forem as suas dificuldades ou necessidades enquanto estiver em sala de aula.

CONCLUSÃO

            Como conclusão, fica a certeza de que temos muito a melhorar em nossas escolas, se quisermos resultados positivos no processo de ensino-aprendizagem.

            Atualmente, as nossas salas de aula são apinhadas de alunos, com classes completamente heterogêneas, onde a diversidade é enorme! Desta forma, torna-se difícil o(a) professor(a) exercer um domínio completo, trazendo a afetividade para a sua rotina de trabalho, sendo que muitos alunos com dificuldades são literalmente “atropelados” pelo sistema, e a educação fica incompleta, mais técnica do que humana, onde a pressa traz resultados desastrosos como a falta de autoestima, de autonomia e a insegurança na hora de argumentar e socializar as ideias.

            O caso estudado, do aluno Mário, emocionou-me muito, pois ficou claro que o seu maior problema de ensino-aprendizagem, foi a falta do afeto nos seus primeiros anos de vida.

            Também trouxe emoção, a constatação de observar que o aluno jamais foi rejeitado pelas turminhas onde estudou, houve sempre a presença da afetividade, tanto da parte dos alunos quanto dos professores. Talvez pelo fato de a escola ser pequena, acolhedora, um ambiente propício para o acolhimento. Uma pequena escolinha do interior, que ensinou a grande lição da importância da afetividade no processo de ensino-aprendizagem

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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WALLON, Henry (1973/1975). A psicologia genética. Trad. Ana Ra. In. Psicologia e educação da infância. Lisboa: Estampa (coletânea).