UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

Artigo de Conclusão de Curso

 

A importância da afetividade na Educação Especial em uma Perspectiva Inclusiva

 

Cyntia Cristina Miguel Pires

15212080085

 

Artigo apresentado, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciatura Plena em Pedagogia, da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em EAD, CEDERJ.

 

 

 

 

“A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e Aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria.”

Paulo Freire

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Resumo

 

Este artigo visa apresentar a importância da afetividade na Educação Especial Inclusiva como fator mediador nos processos de aprendizagem e efetiva inclusão dos educandos com necessidades específicas no ambiente escolar. Destacamos que durante as leituras, nos deparamos com inúmeros relatos e conclusões sobre o poder que o envolvimento afetivo promove tanto na vida educacional, quanto social desses indivíduos. Sendo assim, investiga-se como fator importante para o sucesso da educação inclusiva o papel da comunidade escolar e da sociedade nas interações afetivas dos educandos com deficiência.

 Espera-se com essa pesquisa que surjam reflexões que conduzam a um trabalho pedagógico que considere a individualidade do aluno com necessidade educacional especial e suas especificidades. Este estudo, portanto, gira em torno das seguintes questões: a relação afetiva entre o educador e o educando é de fato um fator preponderante na inclusão de alunos com necessidades especiais? Qual é papel da escola nos dias de hoje, sob a perspectiva inclusiva? É através da interação com o educador e demais envolvidos no ambiente escolar, que a afetividade ganha campo e desenvolve autoestima, segurança, respeito e empatia.

 É fundamental que a escola, efetivo lugar de construção de conhecimento, consiga romper com as praticas tradicionais, que ainda enxergam o indivíduo como um ser dotado de uma única faceta, e que este deve se adaptar aos métodos não tendo assim suas especificidades respeitadas. Compreender a diversidade tão presente no ambiente escolar propicia um ambiente fecundo para aprendizagem.

 

Palavras-chave: Afetividade; Educação Especial; inclusão.

 

Introdução

Tendo em vista a crescente presença de crianças e jovens com necessidades educacionais especiais nas instituições escolares, torna-se urgente que paradigmas sejam rompidos, que ideias e conceitos sejam renovados quando falamos de inclusão escolar. Portanto, investiga-se como pode ser importante para o sucesso da educação inclusiva, o desenvolvimento da empatia, da afetividade, compreender que aquele aluno com uma necessidade específica é um indivíduo complexo, pensante e oriundo de um contexto particular e que o seu processo de aprendizagem envolve aspectos cognitivos e afetivos.

A obra Teoria psicogênica em discussão (TAILLE, OLIVEIRA, DANTAS, 1992) que foi escrita por professores especialistas da Universidade de São Paulo após dois anos estudos, nos traz uma compreensão da evolução do ser humano diante de fatores biológicos sociais, bem como nos aspectos afetivos e cognitivos. É importante lembrar que ,para que haja um bom desempenho no desenvolvimento do intelecto  o indivíduo necessita ter, desde o início de sua vida, relações positivas proporcionadas pela família, sociedade e posteriormente, a comunidade escolar.  

Conforme Vigotsky (2007, p. 100), “O aprendizado humano pressupõe uma natureza social específica e um processo através do qual as crianças penetram na vida intelectual daqueles que a cercam”. Desse modo, o presente artigo tem como objetivo geral analisar estudos sobre a temática da afetividade e processos de inclusão escolar.

A intenção é contribuir para essa importante discussão. Ao investigar a influência da afetividade nas questões relacionadas à inclusão escolar, espera-se que os resultados dessa pesquisa apontem direções para um trabalho pedagógico que respeite a individualidade do aluno com necessidade educacional especial e suas especificidades, bem como, propiciar a construção de uma sociedade mais justa e igualitária para o referido público em questão. Para auxiliar nesse processo de reflexão utilizamos como objetivos específicos: discutir a relação afetiva entre o educador e o educando e sua influência na inclusão de alunos com necessidades especiais, assim como, pontuar o papel da escola nos dias de hoje, sob a perspectiva inclusiva. 

A metodologia aplicada decorreu a partir de uma pesquisa descritiva qualitativa, e o trabalho é fundamentado em autores como: Edler (1997), Piaget (1992), Vigotsky (1992), entre outros, onde trataremos a importância da afetividade na educação especial.  O suporte teórico ao universo pesquisado contou com leitura de obras como: Teoria psicogênica em discussão (Yves de La Taille; Marta Kolhl de Oliveira; Heloysa Dantas. São Paulo: Ed. Summus, 1992), Um Olhar sobre a Inclusão e a Afetividade como fator Inclusivo. (AMORIM, Helena São Paulo: Ed. Centro Universitário de Minas, 2015) Ninguém mais vai ser bonzinho na sociedade inclusiva (WERNECK, Cláudia Rio de Janeiro, WVA, 1997). A partir da análise das produções citadas à luz da perspectiva da Educação Inclusiva, discutimos os temas elencados nos objetivos específicos.

O presente artigo se estrutura em três seções. Na primeira seção é apresentado um breve histórico da histórico da Educação Especial no Brasil e as influências do contexto sócio-político e econômico. Na segunda seção  aborda-se sobre a afetividade e suas influências no desenvolvimento educando com de necessidades especiais.  Na terceira seção apresentamos o papel da escola moderna sob a perspectiva inclusiva. Finalizando o trabalho são feitas as considerações finais a respeito. Por último elencaremos as referências bibliográficas que permeou toda a construção do presente artigo.

Durante leituras de obras como Pedagogia emocional: sentir para aprender (CHABOT, Daniel, CHABOT, Michel, 2008) observamos que é necessário de fato “sentir para aprender”. Nesse sentido, buscou-se nessa pesquisa, compreender como os processos afetivos, envolvendo a comunidade escolar e a sociedade como um todo contribui para que a inclusão escolar da pessoa com deficiência possa ser realizada de forma satisfatória para todos os atores envolvidos.

Assuntos como pedagogia emocional, a afetividade no processo de ensino-aprendizagem, a sociedade e a inclusão escolar, entre outros ligados a esse universo foram consultados nas obras citadas que embasaram a referente pesquisa.

Dentre as conclusões da investigação podemos destacar que para a inclusão acontecer de forma eficiente, ela necessita do empenho da comunidade escolar e da sociedade como um todo, uma vez cada indivíduo nesse processo terá um papel importante.

 

Desenvolvimento e demonstração de resultados

1.1 Breve histórico da Histórico da Educação Especial no Brasil e as influências do o contexto sócio-político e econômico

Há algumas décadas a criança que possuía algum tipo de deficiência era considerada como incapaz de aprender, incapaz de conviver com seus pares em um ambiente escolar e segregados aos interiores de suas residências ou instituições ditas “próprias” para atendê-las. O preconceito sempre se mostrou um grande aliado à segregação. Até 1980 ainda era utilizado termos como “retardado” para referir-se a crianças com deficiência intelectual, em 1990 passaram a designá-las como “excepcionais”, e chegamos ao ano 2000 as chamando de “portadoras de deficiência”. No entanto, esse termo também se mostrou inadequado, visto que a deficiência não é algo que pode ser transportado em momentos distintos, e prefere-se, hoje, designá-las como pessoas com deficiência.

O movimento de inclusão, portanto, acontece com o intuito de romper paradigmas. Antes os profissionais de educação compreendiam que a criança deveria se adaptar a escola e não o contrário. Não havia nenhum movimento em prol de adaptação de materiais e conteúdos. A criança estava integrada, mas não inclusa. 

No entanto, com a tomada de decisões de alguns profissionais que, buscando alternativas para permitir que essa criança pudesse ter o mínimo de aproveitamento no seu ambiente escolar e fomentar atitudes relativas à cooperação e respeito mútuo entre seus pares, iniciaram trabalhos que envolvessem o estímulo dessas relações.  Percebe-se a partir de então a necessidade de se propiciar uma escola acessível, igualitária e justa para todos.  

 Bobbio (apud EDLER, 1992, p.5), nos diz que: "os direitos humanos são direitos históricos que emergem gradualmente das lutas que o homem trava por sua própria emancipação e das transformações das condições de vida que essas lutas produzem”.  E é a partir desse entendimento, dos direitos humanos, do conceito de cidadania amparada na aceitação das diferenças, que a educação especial começou a se organizar.  Com a Constituição de 1988 (BRASIL, 1988), as mudanças iniciam, pois esta prevê igualdade de acesso e atendimento especializado, de preferência na rede regular de ensino. 

A Declaração de Salamanca, resultado da Conferência Mundial de Educação Especial, realizada na Espanha, em 1994, na cidade de Salamanca Em relação à inclusão escolar foi um importante marco, em nível mundial, pois reforça a importância da adaptação não do indivíduo ao meio, mas do meio ao indivíduo com deficiência.

O capítulo V da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996), também ratifica a igualdade de acesso e atendimento especializado citado na Constituição de 1988.  Lançado em 2008 o Decreto 6571 (BRASIL, 2008) aprova, por meio de emenda constitucional, a convenção da ONU sobre os direitos das pessoas com deficiência, assegurando sistemas educacionais inclusivos em todos os níveis.

O Decreto 7.611 (BRASIL, 2011), revoga o decreto 6571 (BRASIL, 2008) que dispõe sobre a educação especial, o atendimento educacional especializado e dá outras providências, contudo, o Decreto 6.571 (BRASIL 2018) considerava o “atendimento educacional especializado” como complemento ao processo educacional da pessoa com deficiência, não deixando brechas para perpetuação da segregação no campo educacional do indivíduo com deficiência em instituições exclusivas no atendimento especializado.

 O ensino em instituições do seguimento especializado em atendimento a pessoa com deficiência, não deve, no entanto ser condenado, e são importantes, no entanto a palavra “exclusiva” destaca-se para que seja compreendido que estes não devam ser o único espaço educacional destinado aos alunos com deficiência, pois o público em questão tem o direito de estudarem em ambientes escolares comuns.  

As leis permitiram que a inclusão de alunos com necessidades especiais se efetivasse, mas ainda, possuem importante papel nesse processo, uma vez que sem dispositivos legais pouquíssimos indivíduos teriam acesso às escolas regulares, esta inclusão não ocorre somente embasada pela legislação. Foi pensando nas interações sociais e culturais que a inclusão foi articulada, pois estas interações, eficazmente trabalhadas permitem o desenvolvimento do aluno, como cita Silveira e Neves (2006, p. 80):

No entanto, para que essa inclusão aconteça de maneira efetiva, é preciso mostrar à criança as representações e os traços privilegiados pelo discurso social para possibilitar que ela possa vir a representar-se nesse discurso.

Para que o aluno com deficiência possa de fato se desenvolver e reconhecer-se como parte integrante da comunidade em que se encontra incluso a sua vivência escolar necessita alcançar aspectos inerentes a socialização, como os entremeios culturais decorrentes do contato com outro, as trocas afetivas e o desenvolvimento de suas potencialidades.

2.1 Afetividade e suas influências no desenvolvimento educando com de necessidades especiais.

             Através dos dispositivos legais, dos movimentos sociais, a sociedade vem se conscientizando sobre ser uma sociedade, de fato, inclusiva. Essa conscientização permite a possibilidade de se ter um ambiente educacional que incentive a valorização dos indivíduos a partir da convivência com as múltiplas diversidades de seres humanos e suas especificidades.  É a escola não somente educacional no campo curricular, mas de aprendizagens variadas. Henri Wallon percebe o indivíduo sociável organicamente, pois as trocas sociais permitem a adaptação ao meio, e estas trocas consideram as ações do outro em relação à ação do seu interlocutor, além disso, considera que a cultura possui influência sobre o desenvolvimento cognitivo. 

Dessa forma, podemos compreender que afetividade propicia o desenvolvimento da inteligência, além de contribuir de forma geral com o estabelecimento do respeito mútuo, da confiança, da autoestima, permitindo o processo de aprendizagem escolar ao individuo com necessidade especial, uma vez que este se sente acolhido.

Contudo, para que essa aprendizagem ocorra de forma eficiente existe a necessidade que obstáculos sejam vencidos, e o maior e mais difícil deles é o comportamental, pois este obstáculo atrapalha, inibe as pessoas com deficiência em sua participação social, em sua busca por igualdade e oportunidades iguais a dos seus pares.  Na obra Teoria psicogênica em discussão (Yves de La Taille; Marta Kolhl de Oliveira; Heloysa Dantas. São Paulo: Ed. Summus, 1992), nos traz a compreensão da evolução do ser humano diante de fatores biológicos sociais, bem como nos aspectos afetivos e cognitivos. Para Taille o que se destaca na teoria de Piaget é que nela “não assistimos a uma luta entre afetividade e moral” (1992, p.70). Afeto e moral estão associados em harmonia. A afetividade se alinha as normas da razão.

             Já para Marta Kohl de Oliveira (1992), Vygotsky pode ser considerado um cognitivista, já que investigou processos internos relacionados ao conhecimento e sua dimensão simbólica, ainda que tenha utilizado o termo consciência e função mental para designar cognição. Ao utilizar o termo consciência, ele explica a relação dinâmica entre afeto e intelecto e, portanto, questiona a divisão entre as dimensões cognitivas e afetivas do funcionamento psicológico. Assim, Vygotsky não desassocia inclinações e interesses pessoais do ser que pensa. E ainda, segundo Heloysa Dantas (1992), o ser humano é afetivo por excelência. A afetividade diferencia a vida racional. No início da vida, afetividade e inteligência estão sincronicamente misturadas e ao longo do desenvolvimento humano, essa troca permanece de tal forma que as conquistas de uma repercutem sobre a outra.

O indivíduo através de uma sucessão de fases que ora predomina afetivo, ora o cognitivo, se constituem e cada fase incorpora as aquisições do nível anterior. Afetividade e inteligência dependem uma da outra para evoluir. Com o desenvolvimento, a afetividade absorve as conquistas da inteligência e tende a se racionalizar. A afetividade e a racionalidade devem caminhar em harmonia, complementando-se, visto que são distintas, mas não excludentes, conforme nos diz Mattos (2008).

A afetividade torna-se então um dispositivo a mais como fator mediador da aprendizagem, e deve permear todos os instantes vividos no ambiente escolar, não só do indivíduo com necessidade especial, mas de todos os educandos.  Ora, sendo a escola um ambiente repleto de seres humanos, é inevitável que a interação ocorra em todos os seus aspectos, do contato físico ao aspecto cognitivo vindo através de elogios, e palavras motivacionais.  Segundo Wallon (1992) a afetividade não é apenas umas das dimensões da pessoa: pertence também a uma fase inerente ao desenvolvimento, a mais remota. O ser humano é um ser afetivo, organicamente. 

Todo indivíduo quando valorizado, bem estimulado, tende a desenvolver seu processo de aprendizagem de maneira mais eficaz, e o educador no que tange o aluno com necessidades especiais possui desafios que podem parecer difíceis de superar, mas havendo uma real troca afetiva, o envolvimento desse educador com o processo de aprendizagem, com o desenvolvimento social e pessoal desse aluno, é possível romper esse paradigma. 

Ainda, conforme Paulo Freire (2005, p.29), “não há educação sem amor”. É através dessa relação afetiva que professor e aluno com necessidades especiais constroem suas relações, relações estas que suscitam o diálogo, permitindo a leitura do ambiente em que estão inseridos, estimulando assim processos criativos, e a maior compreensão que a liberdade de um se encontra com o direito do outro. Como cita Chabot & Chabot (2008, p.131):

 

Um dos papéis do educador emocionalmente inteligente consiste em estimular as competências emocionais de seus alunos. [...] O professor deve, pois, utilizar meios que permitam ao aluno sentir as coisas que aprende. Deverá então encontrar o modo de estimular seu lóbulo pré-frontal esquerdo, a fim de aperfeiçoar seu bem-estar emocional. Poderá, consequentemente, solicitar e estimular todas as competências emocionais do aluno.

Quando o educador traz essas práticas para a sua sala de aula permite ao seu aluno alcançar e superar limites, superar obstáculos que em muitos casos o impede de avançar na aprendizagem, para corroborar temos inúmeros casos de sucesso com crianças e jovens, quando por parte dos educadores houve uma mudança de atitude, e a afetividade esteve presente como fator mediador, dentre esses casos podemos citar o caso do professor brasileiro, Alexandre Lopes, que com um projeto de inclusão escolar, onde o mote principal é a interação social, recebeu o prêmio de Melhor Professor do Ano de Miami – USA em 2013. 

O educador ao administrar a afetividade positivamente, propicia alegria e bem estar, e estimula o aluno, seja ele indivíduo com deficiência ou não, a ter reações adequadas em diferentes situações, além de permitir que esse aluno se perceba e possa estimular o desenvolvimento da sua inteligência emocional, e conseguintemente permitir que desponte nesses indivíduos aspectos como motivação, concentração, e principalmente vontade de aprender.  O professor precisa para isso ter empatia para analisar as pistas dadas pelo aluno e transformar aspectos negativos em positivos. Dessa forma, o educador torna possível que a afetividade seja positiva, pois abrange a diversidade existente entre os indivíduos e possibilita o “entremeio dessas culturas” (PÉREZ GÓMEZ, 2000). 

 É com este sentido abrangente que a afetividade, ao longo da psicogênese se desenvolve, visto que agrega as conquistas realizadas no campo da inteligência. (ALMEIDA, 2012, p. 53).  Com relação à Educação Especial, esta já obteve muitas conquistas, porém ainda é preciso lutar por uma educação que consiga “olhar” para o sujeito excluído e dar voz a sua subjetividade, o que foi almejado nesta pesquisa. Conforme MARTINS, 2013, p. 271:

 

 [...] o processo de aquisição das particularidades humanas, isto é, dos comportamentos complexos culturalmente formados, demanda a apropriação do legado objetivado pela prática histórico-social. Os processos de internalização, por sua vez, se interpõem entre os planos das relações interpessoais (interpsíquicas) e das relações e das relações intrapessoais (intrapsíquicas); o que significa dizer que instituem-se a partir do universo de objetivações humanas disponibilizadas para cada indivíduo singular pela mediação de outros indivíduos, ou seja, por meio de processos educativos.

É importante dizer que não é apenas através do contato físico que a afetividade se estabelece nas relações que permeiam o ambiente escolar, a afetividade se encontra presente quando o aluno com deficiência é incentivado a superar seus limites, tem seu esforço reconhecido, quando suas habilidades são destacadas e apreciadas, portanto, o educador deve ajudar o aluno para que este desenvolva suas capacidades, propiciando um ambiente estimulante cognitiva e afetivamente, possibilitando que o aluno com deficiência, e demais alunos, consigam compreender e trabalhar seus sentimentos. É através da interação que o conhecimento se constitui.   Conforme Piaget (1971, p.271):

A vida afetiva, como a vida intelectual é uma adaptação contínua e as duas adaptações são, não somente paralelas, mas interdependentes, pois os sentimentos exprimem os interesses e os valores das ações, das quais a inteligência constitui a estrutura.

 Para Piaget o indivíduo se torna um ser social e desenvolve suas relações interpessoais com o decorrer dos anos. Dessa forma, entendemos, a partir do exposto por Piaget, que é importante para que esse processo ocorra de forma eficaz, que o indivíduo com necessidade educacional especial se aproprie das trocas próprias das relações com o outro e que irão permear a sua vida.

            Uma vez observado que a aprendizagem se estabelece a partir das interações do aluno com o meio e com o outro, o ambiente escolar, a sala de aula sob a ótica da perspectiva inclusiva necessita ser um espaço de humanização, de construção e a afetividade, em seus variados aspectos, deve ser utilizada em prol da aprendizagem, visto que a inteligência e o sentimento, o intelectual e o afetivo, caminham juntos e são fundamentais para o desenvolvimento humano.

3.1 O papel da escola nos dias de hoje sob a perspectiva inclusiva.

O interesse em apresentar uma escola cada vez mais inclusiva possibilita que progressivamente os alunos com necessidades especiais estendam a sua permanência no ensino regular. Essa permanência não depende apenas da eliminação de empecilhos, obstáculos arquitetônicos e recursos educacionais adaptados, mas também de uma estrutura que ofereça um ambiente estimulante socialmente, onde o a troca afetiva também seja um fator preponderante.   

É através das interações sociais citadas por Vygotsky, do entendimento de afetividade de Wallon que construímos um campo de compreensão, ao que é considerado diferente, para os atores envolvidos nos processos de inclusão escolar, suscitando debates, trocas de ideias e experiências, introduzindo a afetividade não como o fator exclusivo, mas uma das muitas ferramentas para o caminho da educação inclusiva eficaz.

 É importante refletir a forma como se ensina e o que se apresenta como objeto de estudo, valorizando as diversidades humanas, promovendo assim um ambiente favorável à construção de indivíduos dotados de ética, humanização, participativos e solidários. Essas características, inerentes a construção de cidadãos críticos permite que seja ampliada a visão do mundo, dos seus pares e de si. Como nos diz Mantoan (2015, p. 66):

 

A aprendizagem nessas circunstâncias é centrada, ora sobressaindo o lógico, o intuitivo, o sensorial, ora aspectos social e afetivo dos alunos. Em suas práticas pedagógicas predominam a experimentação, a criação, a descoberta, a coautoria do conhecimento. Vale o que os alunos são capazes de aprender hoje e o que podemos oferecer-lhes de melhor para que se desenvolvam em um ambiente rico e verdadeiramente estimulador de suas potencialidades.

             Para o sucesso é necessário que a comunidade escolar, e a sociedade como um todo estejam atentas para o real sentido da escola inclusiva: A que respeita as diferenças, analisa, adota práticas seguras, que estimula as relações positiva. A escola nos dias de hoje sob a perspectiva inclusiva necessita perceber que os alunos possuem significativas diferenças entre seus pares, e, diante disso, repensar suas práticas pedagógicas de acordo com as necessidades educacionais que a elas se apresentem. É uma mudança que abrange o aluno com deficiência, e a sua família que buscam inclusão escolar, mas também, da escola que necessita se modificar para tornar acessível e mais fácil o ensino.

          A inclusão escolar é um caminho que está sendo construído, e englobam mudanças e contribuições nos mais variados aspectos que envolvem o dia a dia da pessoa com deficiência no ambiente educacional, como eliminação das barreiras arquitetônicas, recursos próprios para atender a pessoa com deficiência em suas especificidades, profissionalização e atualização do corpo técnico, e principalmente mudanças atitudinais, possibilitando que a escola seja um ambiente de respeito, de afeto e solidário, pois essas características são importantes para o aprendizado de todos.  Conforme Gallo:

A formação do aluno jamais acontecerá pela assimilação de discursos, mas sim por um processo microssocial em que ele é levado a assumir posturas de liberdade, respeito, responsabilidade, ao mesmo tempo em que percebe essas mesmas práticas nos demais membros que participam deste microcosmo com que se relaciona no cotidiano. (Gallo, 2001, p. 20).

Sob a perspectiva inclusiva é fundamental que a escola, efetivo lugar de construção de conhecimento, consiga romper com as práticas tradicionais que ainda compreendem o indivíduo com necessidades educacionais especiais como um ser dotado de uma única vertente e que este deve se adaptar ao método, não tendo assim suas especificidades respeitadas.

Faz-se necessário também levar em consideração o papel do educador em sala de aula como uma figura mediadora, tocando-o o na busca de metodologias que permitam ajuda-lo na sua procura em sensibilizar os alunos, com necessidades especiais ou não, criando vínculos para, posteriormente, desempenhar um ensino com uma qualidade melhor, que conduza o indivíduo à mudança social, bem como integrar sociedade, a família e a comunidade escolar em favor da promoção de ações que viabilizem a quebra de paradigmas em torno das pessoas com deficiência. A reflexão acerca da educação humanizada, onde a afetividade permeia esse processo, pode ser um caminho.

CONCLUSÃO 

 O artigo elaborado nos conduz a uma reflexão sobre as metodologias educacionais e as Políticas acerca da Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva. Toda ação de cunho pedagógico deve ser muito bem analisado, estruturado a fim de que possibilite que cada indivíduo inserido no contexto escolar possa se desenvolver e for sujeito ativo na construção de sua cidadania.  O professor, nesse processo, é figura importante, pois está intimamente ligado ao mecanismo de socialização e inclusão do indivíduo com necessidade especial. No entanto, para que esse profissional possa fazer a diferença, necessita compreender que é portador de direitos e deveres.

É através das relações estabelecidas com o educador e com os demais atores do meio escolar, que a afetividade se estabelece como um caminho para a efetiva inclusão, pois, desenvolve a autoestima, segurança, respeito e empatia. Nesse sentido, é fundamental entender que a diversidade propicia um ambiente fecundo para aprendizagem.  Como cita Rubem Alves: “Sem a Educação das Sensibilidades, todas as Habilidades são tolas e sem sentido”.  Nesse contexto, a afetividade na Educação Especial em uma Perspectiva Inclusiva surge como um caminho importante, pois permite que o indivíduo se perceba, perceba o outro e suas singularidades.

É fundamental também que a escola moderna consiga romper com as práticas tradicionais que conduzem o aluno com deficiência a ser adaptado ao meio e não o meio a esse indivíduo. Para isso, é necessário que o processo de ensino leve em consideração a especificidade do indivíduo com necessidades educacionais especiais e retire seu olhar das deficiências e limitações que uma pessoa possa apresentar.   A escola como ambiente diverso e de construção necessita não se restringir apenas a um ambiente de aquisição de conhecimentos, mas também de formação de cidadãos críticos, responsáveis, solidários, e a afetividade pode ser um caminho para auxiliar nesse processo.  

Cabe ressaltar que o objetivo dessa pesquisa foi discutir a influência da afetividade na inclusão escolar da pessoa com deficiência, bem como, analisar o papel da escola moderna sob a perspectiva inclusiva. Espera-se que os resultados desse trabalho conduzam a caminhos no campo educacional que possibilitem que o aluno com deficiência possa ter sua individualidade e suas especificidades respeitadas, contribuindo assim para a construção de uma sociedade mais respeitosa, solidária, e justa para as pessoas com deficiência.

Diante dos estudos analisados e as considerações com o contexto escolar conclui-se para que a inclusão se efetive realmente, é preciso que todos os atores do processo educacional desempenhem a contento os seus papéis, tendo em vista que, antes de serem deficientes, esses alunos são seres humanos, dotados de sentimento, merecendo, por isso, o respeito de todos.



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