AUTORIA: LORIVANIA LOREDO SILVA
INTRODUÇÃO

De acordo com o texto "Competitividade e exportações nas pequenas e médias empresas", no Brasil existem aproximadamente quatro milhões de empresas, sendo que 98% são de pequeno e médio porte, as quais respondem por 20% do PIB. Talvez se deva a isso o foco que elas têm tido desde os anos 70.

Até meados deste ano (1970) as pequenas e médias empresas (PMEs) não tinham importância no cenário econômico mundial, pois antes daquela época valorizavam-se as produções em grande escala, que eram, por sua vez, efetuadas pelas grandes empresas, o que vem mudando com o decorrer dos anos e atualmente as PMEs têm sido reconhecidas (as dos países desenvolvidos têm servido de modelo para a difusão de inovações às PMEs de outros países) como estimuladoras do crescimento regional.

Pela importância que tem ganhado, os formuladores de políticas de inovação têm tentado determinar uma política para estas empresas, fato que está sendo discutido devido à complexidade de fatores que envolvem as PMEs. Nos capítulos seguintes tentaremos esclarecer que aspectos são considerados para se definir uma política de inovação para as pequenas e médias empresas, assim como discutiremos também sobre os tipos de políticas de apoio utilizadas para tal. Comentaremos, além disso, sobre as medidas de integração das PMEs à economia do conhecimento e as vantagens e desvantagens que ocorrem desse processo. E, finalmente, falaremos sobre o conceito de firmas e como ele pode contribuir para melhorar as políticas de apoio e incentivo ao desenvolvimento das empresas.

CAPÍTULO I- O PAPEL DAS PMEs QUANTO À INOVAÇÃO E AOS TIPOS DE POLÍTICAS DE APOIO DESTINADAS A ELAS

Implementar uma política de inovação (em alta desde os anos 90) para atender as pequenas e médias empresas não tem sido fácil, já que estas empresas dependem do sistema de inovação do local onde estão inseridas. Além disso, outro fator complicador para a definição de uma política é que até mesmo a própria definição de PMEs varia de uma determinada região para outra ou de um país para o outro e diante disso, optou-se por utilizar como conceitos os que são atribuídos a elas em países desenvolvidos. Porém, a capacidade de inovação depende também de apectos relacionados à organização do setor a que pertence a PME e ao sistema de inovação que existe naquela localidade.

Por outro lado, as PMEs têm vantagens comportamentais ao gerar ou adotar políticas de inovação se comparadas a uma empresa de grande porte, pois é mais flexível e adapta-se facilmente à mudanças. Além disso, podem estar localizadas onde há alta taxa de inovação e são, portanto, bastante aceitas. Geralmente nas empresas que se caracterizam assim, os funcionários são motivados e a própria empresa tem menos medo de se arriscar em novos investimentos. Em contrapartida, têm menos crédito, menos acesso às informações tecnológicas e por essas razões podem se tornar relutantes quanto à inovação.

Independente destes fatores, o fato é que as poíticas de inovação dão condições de superação às empresas divulgando as tecnologias da informação, pois acredita-se que essas tecnologias têm dado novas oportunidades de desenvolvimento a essas empresas, como a possibilidade de oferecer serviços on-line a seus clientes e fornecedores, por exemplo. Acredita-se também que com essas políticas pode haver a aquisição de novos conhecimentos científicos e tecnológicos porque para os formuladores dessas políticas, com a difusão das tecnologias de informação e comunicação (TICs), há um aumento da competitividade entre as empresas. Isso pode ocorrer com o uso da internet, que possibilita um melhor atendimento aos clientes e redução dos custos com marketing.

Além de tudo isso, ainda permite que haja uma melhor comunicação tanto externa (com clientes e fornecedores) quanto interna (com os trabalhadores).

Os analistas concordam com isso e acrescentam que com as TICs as PMEs podem melhorar significativamente sua competitividade.

Entretanto, há dificuldades para implementar essas políticas tais como diferentes definições de pequenas e médias empresas de acordo com o país, o que dificulta "imitar" atitudes e/ou decisões que deram certo; diferentes situações das empresas, que variam conform o setor; somente a divulgação das TICs não garante que as PMEs interajam com o conhecimento. Todas essas dificuldades fazem com que as empresas não alcancem o sucesso que esperam quanto à competitividade porque, em sua grande maioria, só aderem às inovações por pressões dos clientes e não por compreenderem os benefícios que as tecnologias podem trazer aos seus negócios.

Outros fatores acabam desestimulando os proprietários dessas empresas também pelo fato de alguns instrumentos tecnológicos poderem aumentar a competitividade, mas implicar gastos e investimentos em aprendizado dos funcionários e de si próprios para lidar com os instrumentos.

CAPÍTULO II- AS VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS MEDIDAS DE INTEGRAÇÃO DAS PMEs À ECONOMIA DO CONHECIMENTO

É interessante observar que o foco das políticas estava mais voltado para a divulgação das TICs e atualmente enfatiza-se o treinamento e o apoio às firmas. Sendo assim, temos duas políticas: a primeira centrada na oferta e a segunda centrada na demanda. Para se definir qual o tipo de política será usada em uma empresa, é necessário que haja um levantamento prévio sobre as características e necessidades de cada uma. As políticas centradas na oferta

(...) incluem a melhoria da infra-estrutura de telecomunicações, com o aumento da capacidade de transmissão de informações, da interconectividade e da confiabilidade das comunicações, e o fortalecimento da capacidade tecnológica das firmas, com o apoio a atividades de pesquisadesenvolvimento, ineração uiversidade/empresa, e política de patentes e de compras do governo. (ROVERE, 1999, p.151)

Mas apesar disso, percebe-se claramente que as políticas centradas na demanda estão se sobressaindo sobre as políticas voltadas para a oferta, ou seja, as firmas têm notado que quando se unem em redes, as TICs podem proporcionar a elas a possibilidade de redefinir relações de trabalho, apoiarem-se nessas relações entre elas e inserirem-se em um contexto global, permitindo inclusive produção suficiente para as exportações. Em outras palavras "a constituição de redes é considerada importante porque a firma tem incertezas estáticas e dinâmicas no processo de escolha tecnológica, e desenvolve funções para lidar com essas incertezas" (ROVERE, 1999, p. 150) por meio dessa integração e di diálogo que podem manter umas com as outras. Isso também pode proporcionar a inovação e a competitividade das firmas. Estas políticas de demanda "(...) envolvem o treinamento de usuários, provisão de serviços de consultoria em administração de informações às firmas, constituindo-se de centro de informação tecnológica e apoio à formação de redes de firmas." (Id. P.151)

Portanto conclui-se que a adoção de políticas de demanda são as mais viáveis, pois as firmas, além de ter acesso às informações e de possuir uma infra-estrutura, terão sucesso e serão competitivas e o que garante isso é a capacidade de lidar com as tecnologias, proporcionadas exatamente por essa política.

O que ocorre é que ao oferecer às empresas a estimulação da competitividade, elas criam expectativas imediatas e esse resultado imediato não acontece: está comprovado por estudos que esta competitividade não é repentina. Além disso, a competitividade só se concretiza se estiver aliada à reorganização das firmas e ao treinamento dos funcionários para lidar com as mudanças. Tem proprietários que investem na implementação das políticas de inovação e querem que elas por si só tragam resultados e quando isso não acontece, acabam culpando tais políticas. Não é somente com o uso das tecnologias e com o treinamento dos funcionários que as PMEs alcançarão sucesso. É preciso que um conjunto de fatores que envolvem uma organização estejam interligados, como por exemplo a divisão da empresa em setores, os quais estarão trabalhando em suas áreas específicas, mas com um objetivo em comum, funcionários engajados e capacitados, o enfrentamento a escassez de tempo do proprietário o qual também possui determinadas características que são favoráveis como a projeção para as mudanças. Ao contrário, algumas de suas características acabam por atrapalhar como "(...) a formação do proprietário (normalmente generalista ou não existente), a falta de confiançado proprietário para introduzir planos apropriados e coordenados." (ZANQUETTO FILHO, 1994, p.3)

Estudos comprovam e é posível de se perceber na prática das PMEs que o foco dos formuladores de políticas não deve ser na adoção das TICs, mas sim na adaptação dessas tecnologias às necessidades de informações das firmas, ou seja, adaptá-las para o uso, pois as PMEs têm dificuldade de adequar as TICs à estratégias de crescimento. Estimular a demanda também é difícil porque, como já foi dito, as PMEs são bastante heterogêneas e a demanda é maior naquelas em que o setor é novo, pois se adaptam melhor às inovações. O que impede as tradicionais de serem mais competitivas é a administração familiar que tem proprietários mais receosos quanto aos riscos do investimento.

Um fato alarmante para a adoção de tecnologias de informação e comunicação é que alguns setores das PMEs têm fechado ou até mesmo reduzido seus tamanhos devido a falta de competitividade, pois a concorrência dos importados torna a produção inviável já que os produtos têm preços bastante baixos. Muitas vezes é por essa razão que não investem em políticas de inovação, pois para se manter, necessitam investir pouco e utilizar baixa tecnologia para essa produção (barateando os preços), da mesma forma que fazem seus concorrentes.

De qualquer forma os estudos comprovam que a adoção de políticas de inovação aliadas às mudanças nas técnicas das firmas faz com que seus ganhos aumentem. Para que ocorra tais mudanças, portanto, é preciso que haja programas de capacitação tecnológica que apóiam P&D (pequisa e desenvolvimento), programas que colocam especialistas nas firmas para promover educação tecnológica e programas-ponte, onde o governo fornece educação técnica.

Todos eles apresentam aspectos positivos e negativos. O primeiro programa é centrado na oferta e atinge um número reduzido de empresas e para ser mais amplo o programa deve ser apoiado para estimular a demanda, ou seja, treinamento tecnológico, centros de demostração e pólos de ciência e tecnologia. Já a educação no local de trabalho é relevante, pois fornece treinamento não somente aos funcionários, mas também ao proprietário. Além disso, há centros de demonstração em que os proprietários podem se encontrar, possibilitando a formação de alianças, alcançando até mesmo a formação de redes de firmas nesses encontros. É importante que haja esta interação, mesmo que as empresas sejam de setores diversificados.

Conclui-se que para implantar-se uma política há a exigência de um levantamento prévio da situação das empresas, mas a política de demanda é a mais apropriada para o uso em nível regional, desde que sejam respeitadas as características de cada empresa porque dessa forma, há uma maior troca entre os formuladores e as firmas que serão beneficiadas. Observou-se que as PMEs estimulam o desenvolvimento de uma região e por isso tem ganhado atenção na definição de políticas de inovação, pois "(...) a capacidade inovadora de uma firma depende da sua capacidade de produzir e absorver conhecimento, o qual depende da localização da firma, principalmente no que se refere ao conhecimento tácito." (ROVERE,1999,p.156)

CAPÍTULO III- AS REDES DE FIRMAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES ÀS POLÍTICAS DE APOIO E INCENTIVO AO DESENVOLVIMENTO DAS PMEs

Apesar de poucos exemplos presentes na literatura, a formação de redes de firmas é tida como positiva pelos estudiosos e formuladores de políticas de inovação. Nesse sentido, inovação e espaço se ligam e formam-se as redes de firmas ou distritos industriais que possibilitam ganho de escala (aumento da produção) e produção flexível (produtos de diversos setores, variados). Embora o sucesso das PMEs estar ligado também ao seu grau de envolvimento com os sistemas de apoio, há, por outro lado, uma abordagem que diz que a inovação depende muito da cultura tecnológica e histórica de determinada região e que essas características é que definirão a velocidade das inovações que ocorrerão em cada rede ou firma específica.

As redes de firmas se configuram de quatro maneiras sendo denominadas de "redes hierarquizadas espacialmente descentralizadas, onde uma firma lidera um conjunto de firmas dispersas; redes hierarquizadas espacialmente centralizadas; laços de cooperação entre firmas espacialmente centralizadas (distritos industriais); laços de cooperação entre firmas espacialmente descentralizadas (alianças estratégicas)." (ROVERE, 1999, p.157)

Em Porter apud Rovere (1999, p.157) "(...) as vantagens competitivas que caracterizam uma economia global são fortemente locais, pois são derivadas da concentração de conhecimento, qualificação, instituições e firmas de uma região determinada. Sendo assim, o formulador de políticas precisa analisar como as firmas de determinada região podem ser encaixadas nessas configurações, pois cada configuração vai exigir dele uma atitude diferente daquela atitude tida com outra configuração, haja visto que cada uma tem suas características. Além desse cuidado com as configurações o formulador deve estar atento que as redes de sucesso são aquelas que "(...) trocam informações sobre mercados, tecnologias alternativas, novos insumos, novas técnicas de marketing e gerência financeira de modo eficiente" (Id., p.157-158) e que todos esses aspectos precisam ser abordados para que os objetivos sejam alcançados.

A configuração mais difícil de ser trabalhada do ponto de vista dos trabalhadores é a que tem a rede descentralizada baseada em laços de cooperação, pois nela as situações e necessidades mudam constantemente e exigem diálogo, tomada de decisões, mudanças de técnicas, discussão dos programas e das propostas de ações. Porém, cada configuração se adequa a um tipo específico de programa. E com isso cria-se uma política de apoio para cada rede de firmas, mas tais políticas podem sofrer variação de acordo com as carcterísticas regionais e setoriais de uma firma específica.

CONCLUSÃO

Discutimos nesse texto que o papel das PMEs vem sendo redefinido e que por isso necessita de mais opções de políticas de apoio, principalmente de inovação (programas de difusão das TICse programas de capacitação)e que para que as PMEs tenham ganhos positivos é preciso, além de promover o uso das tecnologias, que os proprietários sejam providos de capacitações que os tornem aptos à usá-las de acordo com as necessidades de sua empresa e é preciso conscientização de que as TICs possibilitam difundir o conhecimento codificado que torna possível, por sua vez, o aumento da competitividade se as empresas forem capazes de transformá-lo em conhecimento tácito.

Os fatores que podem dificultar a implementação de políticas de inovação são a heterogeneidade das PMEs; o fato dos resultados não serem imediatos; além de difusão das tecnologias é necesário capacitação; há o desafio de coordenar a implementação das políticas, ou seja, a difusão e a capacitação não são realizados pelas mesmas pessoas; a importância de considerar fatores locais, pois o sucesso dessas políticas depende do sistema de inovação da região; mas todas esses fatores, se forem dialogados, podem ser solucionados.

Na política centrada na demanda produz-se e dissemina-se conhecimento tácito por meio de consultorias, centros de demonstração e aprendizado contínuo, por isso é o tipo mais utilizado recentemente nas empresas. Além da definição da política, definem-se estratégias de ação analisando o comprometimento do grupo com o aprendizado e com o aprimoramento das técnicas de produção utilizadas. O acompanhamento das ações também é válida para que haja mudanças se por acaso elas não estiverem tomando o rumo que deveriam tomar no planejamento. É importante analisar as insatisfações do ambiente, perceber o que está dando certo ou errado, para que isso não cresça e não acabe afetando o crescimento da empresa e a possibilidade dela obter êxito.

Consequentemente, o proprietário deve ser focalizado, pois são a "(...) influência do gerente (propritário) sobre a empresa, a flexibilidade, a reavaliação e o trabalho em equipe" que deverão ser levados em conta para que os objetivos da empresa sejam alcançados.

Nesse contexto, "(...) o conceito de firmas pode se tornar um instumento útil pra a compreensão das especificidades locais das PMEs e de suas necessidades informacionais e de capacitação." (ROVERE, 1999, p.161)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

INOVAÇÃO Tecnológica para Competitividade. Disponível em: http://www.firjan.org.br/notas/media/Paper1-05.pdf> Acesso em 20, maio, 2009.

LA ROVERE, R. L., As pequenas e médias empresas na economia do conhecimento: implicações para políticas de inovação. In: LASTRES, H.; ALBAGLI, S. (org). Informação e globalização na era do conhecimento. Rio de Janeiro,Campus,1999. p. 145-163.Disponível em: http://www.redetec.org.br/publique/media/LivroEra%20do%20conhecimentocap6.pdf> Acesso em 23, maio, 2009.

ZANQUETTO FILHO, H. O processo de planejamento em pequenas e médias empresas. Disponível em: http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP1998_ART144.pdf> Acesso em 25, maio, 2009.