Temos vivido os dias difíceis dos quais o apóstolo Paulo e o próprio Jesus falaram que haveriam de vir. Em nossos dias, as pessoas estão tão sedentas de ouvirem coisas agradáveis aos ouvidos [comichões nos ouvidos, conforme palavras de Paulo], que nem se importam de estarem ou não sendo manipuladas. Acerca disso, disse Jesus: "Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus" [Mateus 22:29].

Nos tempos medievais, as pessoas eram manipuladas por que não detinham o conhecimento. Hoje, são manipuladas, porque preferem se acomodar na ideia equivocada de que se cumprirem a ordenança bíblica acerca dos dizimos e ofertas, serão merecedoras de receberem em troca 100 vezes mais. Diante disso, pergunto: "Se minha motivação ao dizimar e ofertar e, ao ajudar um irmão que está em necessidade é o meu anseio de receber em troca 100 vezes mais, onde está a virtude nisso? Não seria esse meu ato de ofertar um ato motivado no egoísmo e na ganância?" Certamente que sim.

Vale lembrar, que receber 100 vezes mais é promessa! Contudo, deturparam-na, dando-lhe um sentido novo: o sentido do merecimento! E é isso o que fazem, quando agem como se a prosperidade fosse o objetivo final; quando na verdade, ela deve ser vista como consequência da fidelidade de Deus à Sua Palavra e, como conseqüência de um coração que age com liberalidade. Não percebem, por exemplo, que Jesus ao falar da oferta da viúva pobre estava, na verdade, denunciando a oferta dos demais, cujas motivações não agradavam a Deus.

Abro aqui um parêntese: Os dízimos e as ofertas são uma ordenança bíblica. Mas, eu entendo que o dizimar mal [refiro-me à motivação] é tão errado quanto não dizimar. Mas isso ninguém prega nos púlpitos de igrejas, contanto que dizimem. E, não obstante seja uma orientação bíblica, dificilmente, se vê incentivos no sentido de que se alguém tem algum ressentimento contra seu irmão, deva ir primeiro até ele, antes de deitar sobre o altar sua oferta.

Acerca do dizimar com liberalidade, é preciso ressaltar que tal liberalidade tem a ver não apenas com a voluntariedade, mas, principalmente, com a motivação por trás dessa atitude de voluntariedade.

O que se vê, é que em nossos dias, as pessoas têm agido como super crentes merecedores do favor de Deus. Por que "pagaram" têm direito de receber. Mas, o que é Graça? Não é favor imerecido? Parece que se esqueceram disso. Alteraram-lhe o sentido, deturpando-o segundo sua própria conveniência. O fato é que tornaram em nossos dias, a mensagem cristã numa mensagem utilitária e voltada à auto-realização e, não é isso o que se vê no relato neo-testamentário (fica claro aqui, uma característica da pós-modernidade no seio da igreja atual). Não se dão conta que a mensagem cristã tem o seu foco no outro e, nunca em si mesmo! Tendo isso em mente, tornar-se-ia mais fácil discernir o que realmente significa dizer ser Igreja.

E, da mesma forma, como Lutero denunciou as práticas abusivas da Igreja em seu tempo, precisamos também denunciar toda essa abusividade que hoje tem sido praticada. A pergunta, é: "Estarão dispostos a ouvir? Ou preferirão se acomodarem no frágil alento das palavras agradáveis aos ouvidos?".

E, quando reflito sobre isso, duas passagens bíblicas me veem à mente: 1) O texto de João capítulo 6 em que Jesus diz à multidão: "Vocês vem a mim, por que eu lhes dou pão. Mas, EU SOU o Pão da Vida!"; 2) e, isto me remete a uma passagem no livro de Êxodos em que Deus disse a Moisés que colocaria um anjo adiante do povo hebreu e, que em tudo o que eles fizessem seriam prósperos, mas, que Ele não estaria adiante do povo, por que eram pessoas de dura cerviz, ao que Moisés, respondeu: "Senhor! Se Tu não estiveres adiante de nós, não arredarei o pé deste lugar" - Vejo que Moisés entendeu muito bem o significado do que Deus estava lhe dizendo.

E assim, como foi naqueles dias, assim tem sido em nossos dias: Deus não anula uma promessa feita! "Pedir e dar-se-vos-á", não é mesmo? Mas, como diz o Pr. Silas Malafaia, "isso não significa dizer que Deus esteja aprovando condutas". Só demonstra que Ele não vai contra Sua própria Palavra.

Voltando ao texto de João 6, vejo que quando Jesus terminou de fazer aquele duro discurso, a multidão se foi; diante disso, voltando-se aos doze, indagou: "Quereis vós também retirar-vos? Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras de vida eterna!" - Penso que essa resposta de Pedro deva ser motivo de nossa reflexão.

Mas, afinal, qual deve ser a postura de todo aquele que se diz cristão diante desse quadro tão terrível de nossos dias? Deixemos as Escrituras nos dá essa resposta: 1) "E se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra" [II Crônicas 7:14]; e, 2) "Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus". [Romanos 12:1-2] - "Misericórida quero, e não, sacrifício" diz o SENHOR.

Ter a mente renovada e transformada implica em ter uma mente impregnada da mensagem de Jesus: Uma mensagem de quem ama incondicionalmente, mas, aponta o Caminho a ser seguido.

Entendo que somente permanecendo em Cristo e em seus ensinamentos, estaremos aptos a fazermos a diferença no contexto social atual em que vivemos. Aptos a sermos sal e luz para o mundo. Mas, isso envolve renúncia e mudança de motivação: da egoísta para aquela que é segundo o coração de Deus. Até por que, fica claro no relato neo-testamentário, que a igreja do primeiro século cresceu rapidamente (quantidade qualitativa) por que viram na vida diária dos primeiros cristãos, o Jesus que eles pregavam. E, ao meu ver, é justamente isso que nos falta hoje como igreja! No caso deles, foi dessa identificação com o Jesus que pregavam que resultou-lhes o nome cristãos.

No nosso caso, será que realmente temos sido cristãos? E eu? Será que realmente tenho demonstrado as características de um verdadeiro cristão? Penso que isso também deva ser motivo da minha e da sua reflexão.

Devo dizer, que isso que em nossos dias fizeram com a mensagem cristã eu também rejeito, mas, eu não rejeito o cristianismo dos primeiros cristãos, antes pelo contrário, eu anseio.

E, parafrasendo Philip Yancey, "ao olhar para os Evangelhos, em nenhum momento eu vi neles o incentivo no sentido de afastamento da igreja ? muito pelo contrário. E, quando medito na parábola do joio e do trigo vejo quão patente era a Jesus essa realidade da igreja de nossos dias por ocasião de Sua crucificação e, ainda assim, Ele julgou que valia a pena morrer na cruz em meu lugar e no seu.".

Sou, porém, levada a concluir, que não adianta nos limitarmos a apontar os defeitos da Igreja atual. E, embora, biblicamente falando, eu discorde da doutrina espírita, concorco com a frase de Chico Xavier, quando ele diz: "Precisamos ser a mudança que queremos ver acontecer".

Quanto à mensagem Cristã, ela é simples! Ela só se torna complicada quando tentamos distorcê-la a fim de torná-la conveniente aos nossos próprios interesses egocêntricos. E, é justamente dessas distorções por conveniência, que resultam as muitas e equivocadas interpretações que tem sido vistas em nossos dias. Quanto à sã doutrina, ela não é de particular interpretação.

Deixo aqui o seguinte comentário de Philip Yancey:

"À medida que observo o restante da vida de Jesus, vejo que o padrão da restrição estabelecido no deserto persistiu até o fim. Nunca percebi Jesus torcendo o braço de alguém. Antes, declarava as conseqüências de uma escolha, depois jogava de volta para a pessoa. Jesus tinha uma visão realista de como o mundo reagiria a Ele: 'E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de quase todos esfriará'. Em suma, Jesus demonstrou um incrível respeito pela liberdade humana...". [Extraído do livro "O Jesus que eu nunca conheci" - autor Philip Yancey].

Encerro dizendo, que, se os teólogos da prosperidade estivessem corretos, Deus foi injusto com os primeiros cristãos, visto, que eles, muito mais do que qualquer um de nós, agiram como verdadeiros imitadores de Cristo e, ainda assim, padeceram grande sofrimento e perseguição. O fato é que a teologia da prosperidade erra por que leva o homem a buscar a Deus por aquilo que Ele dá, e não, por aquilo que Ele é. Contudo, aquele que tem sua fé baseada tão-somente em circunstâncias favoráveis, não se manterá de pé no dia da angústia. Pelo que o apóstolo Paulo, demonstrando que nossa fé não deve ser circunstancial, nos diz: "Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade. Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece" [Filipenses 4:12-13] ? ou seja, independente das circunstâncias que eu esteja vivendo, "posso todas as coisas naquele que me fortalece".

Enfim, a igreja é o corpo de Cristo e, é preciso que estejamos lá, cônscios de qual deve ser a postura que Ele espera de nós como cristãos.