1. INTRODUÇÃO

Este artigo aborda a História no seu aspecto atemporal. Mostra como a História ramifica sua ciência dentro de um percurso histórico humano, estudando não apenas a construção do próprio homem no seu conteúdo antropológico-social, como também, os eventos e fenómenos contextuais que se declaram neste conteúdo, sintetizando a existência do homem num determinado momento da História e como os eventos e fenómenos sempre estiveram presentes desde que a História se materializara como conhecemos. Apresenta ainda o problema do termo “Pré-História” que justificaria a existência de algo antes da história, o que instigaria uma reflexão mais reforçada face ao estudo em questão.

      2. A COMPREENSÃO DA HISTÓRIA

Falar da História é o mesmo que falar de um elemento cuja existência antecede tudo e todos que se manifestam aos olhos humanos. Em poucas palavras: a História sempre existiu. Tudo o que se pode conceber e estudar (o homem e os eventos históricos) são meras manifestações da História. Ou seja, a História apresenta-se mediante estas manifestações e, na maior parte das vezes - para não dizer sempre - os estudos científicos limitaram suas investigações nessas manifestações e não no próprio autor delas, que é a História. Poucas vezes tentou-se compreender sua origem; raras vezes a História foi analisada em si mesma e não nas suas manifestações. Conhecemos os acontecimentos da História; conhecemos os fenómenos que foram surgindo desde que o mundo é mundo, porém, nunca se parou para reflectir sobre o que realmente é a História, sua génese, sua condição imaterialidade e sua atemporalidade.

Ora, antes da existência humana, a natureza já se expressava; já havia algo para se contar e consequentemente, já havia História. Da mesma forma, se levarmos em consideração a ideia de que existia alguma coisa antes do próprio universo, veremos que o que quer que tenha existido, certamente, apresentava-se de tal forma que essa existência poderia ser contada, ou seja, a História esteve presente antes do universo ter existido, o que de certa forma a coloca dentro de uma condição atemporal digna de ser estudada.

      3. A HEGEMONIA DA HISTÓRIA

A História abrange tudo o que existe, ou seja, tudo o que existe é uma manifestação da História. Nada escapa da História. Tudo que existe na natureza e tudo que fora elaborado pelo homem são componentes da História. A História é como uma bacia onde tudo existiu dentro dela, tudo existe dentro dela e tudo existirá dentro dela. Nada existiu antes da História e nada existirá que não se tornará história. A História apresenta-se assim como um elemento ilimitado, uma vez que nunca se esgotará, ou seja, enquanto houver existência, ela sempre existirá, afinal, sempre haverá algo para se contar e consequentemente, sempre haverá História.

Por esta razão, o estudo da História em si, como um elemento atemporal, é deveras fundamental para a sua total compreensão, uma vez que, o estudo de suas manifestações - como a ciência vem fazendo até aqui - é apenas uma parte dela. Analisemos então o aspecto temporal da História para depois compreendermos sua dimensão atemporal.

      4. TEMPORALIDADE E ATEMPORALIDADE DA HISTÓRIA

Com as reflexões apresentadas, pode-se então emergir no título deste artigo, concebendo a História como um elemento que constitui-se pela temporalidade e acarreta consigo uma condição atemporal.

      4.1. Temporalidade da História

A História é comumente definida como a ciência que estuda o ser humano e sua acção no tempo e no espaço. Ora, o ser humano passou a existir no tempo, num definido período da História, o que revela sua condição temporal. O homem é temporal, ou seja, teve sua origem num momento da História, dentro do tempo. Ao mesmo tempo, o homem é um elemento essencial para a História, sendo que é também objecto de estudo dela. Pode-se assim dizer que, o homem é a condição temporal da História, uma vez que teve sua origem num determinado momento História.

      4.2. Atemporalidade da História

A História é também concebida como uma ciência que estuda os eventos ou fenómenos históricos que ocorrem na existência. Ora, os fenómenos sempre existiram. Mesmo antes da existência do universo, o que quer que tenha existido, já se apresentava como um fenómeno digno de ser contado. Mesmo antes do primeiro fenómeno da existência, a História já existia, uma vez que para este primeiro fenómeno existir, já haviam condições que o fizeram existir; condições estas que se revelavam na existência e que poderiam ser contadas, o que confirma a existência da História neste episódio. Ou seja, nada existiu que não tenha tido história e, se sempre houve algo na existência, logo, sempre houve História. Esta “sempre existência da História” é o aspecto que confirma sua condição atemporal.

      5. O PROBLEMA DA PRÉ-HISTÓRIA

A ideia de uma Pré-História apresenta um problema na sua concepção. Ora, o termo “Pré” indica uma anterioridade. Neste sentido, o termo “Pré-História” indicaria um elemento anterior à História, ou seja, algo que aparecera antes da História. O problema está no facto de que, a História, como vimos, existe desde que “a existência existe”, logo, a Pré-História – que justifica alguma coisa antes da História – só nos remeteria a uma inexistência, pois, no momento da primeira existência, nada mais existia senão a própria História. Assim, Pré-História leva-nos a um momento antes da História. Ora, o que mais poderia existir antes da História se não a própria História? O que mais poderia existir na primeira existência senão a História. Ora, se houve algo antes da História, só deve ter sido na inexistência, uma vez que o momento da primeira existência fora também o começo da História.

Como defesa ao termo “Pré-História”, muitos autores diriam que o mesmo refere-se ao período dos primeiros seres humanos. Ora, mesmo para isso, de certa forma, o termo ainda nos faria recordar a ideia de ter existido algo antes da História e assim, de certa maneira, levaríamos as futuras gerações ao erro. Como sugestão, poder-se-ia recorrer ao termo Pré-Civilização para se referir ao período dos primeiros seres humanos, o que seria mais assertivo, uma vez que o que de facto existia era uma época condicionada pela “não civilização” ou simplesmente dos primeiros seres humanos como conhecemos.

      6. CONCLUSÃO

O estudo da História sempre inclinou-se no homem e no seu aspecto antropológico-social, ou seja, na sua condição temporal, esquecendo completamente da sua condição atemporal, o que torna este estudo incompleto. Nota-se então que, o estudo da História só é realmente completo quando é levado em conta, não apenas sua dimensão temporal (o homem), mas também sua dimensão atemporal (a história em si). Por outro lado, a concepção da Pré-História – que conduz a ideia de ter havido alguma coisa antes da História – só remeteria a uma inexistência, pois, no momento da primeira existência, nada mais existia senão a própria História, o que torna o termo uma questão a ser analisada mais atentamente.