Em 2000 li um livro chamado "BLUR - A Velocidade da Mudança na Economia Integrada", como viver e vencer nessa nova realidade de Stan Davis & Christopher Meyer, editora Campus.

Este livro fala nas premissas da nova economia, velocidade, intangibilidade e conectividade, ou seja, as coisas na economia integrada, na inexorável globalização, têm como pilares a velocidade nas mudanças, a interligação em rede, pelas nets e internet e a intangibilidade. O livro conta passagens onde os autores defendem sua tese, concordei plenamente como acho que de 2000 até aqui, estes pilares só se fortaleceram, vide a crise que vivemos no momento.

Sem dizer que o livro tem embasamento acadêmico profundo, as teses estão sendo confirmadas por mim durante todo este tempo. Tenho certeza, pesquisadores já devem estar trabalhando academicamente nestas teses e serão confirmadas.

Com o mesmo tema, vou inferir que a crise atual, parece agora arrefecida com a atuação coordenada e competente dos governos europeus, americano e dos emergentes. A recuperação, será rápida para volta dos negócios e da normalidade. A premissa velocidade agirá como uma força da economia moderna e integrada.

A hemorragia econômica, causada em parte, como já dito aqui, pela soma da ganância com a desregulamentação em excesso e a criatividade do mercado financeiro, dentro do ambiente de prosperidade mundial está com os dias contados.

O crédito (motivo da crise para alguns) será mais seletivo e tudo voltará ao normal em poucos meses, o sangue novo do próximo presidente americano ajudará, seja quem for.

Contrariando críticos da economia de mercado que insistem em revisão de conceitos do capitalismo puro, as intervenções de governos sempre foram necessárias, aprendidas na crise de 29 e outras. Repito quantas vezes necessárias, a regulamentação é saudável e necessária. Ela corrige distorções e injustiças, protege as instituições mais fracas e sem lobbies.

O capitalismo não pode prescindir de uma fiscalização atenta de órgãos reguladores. Como se diz por aqui, o preço da liberdade é a eterna vigilância.

A presença dos governos, assistida agora, é uma questão de medida adequada, não permanente e absoluta como vimos nas economias planificadas do passado.

Sou otimista com relação ao aprendizado com as crises e ferramentas de gestão novas, com uso da tecnologia, muito provavelmente dentro dos pilares descritos no livro Blur, aqui mencionado.

A mesma tecnologia e premissas que derrubaram as bolsas e os mercados irão fazê-los voltar rapidamente. A recuperação das bolsas européias e americanas, assim como a Bovespa hoje nos mostram que a confiança está sendo restabelecida, o mercado está sendo destravado e as transações começam a voltar. A ação rápida e coordenada é uma das melhores lições desta crise.

Não quero preconizar aqui que o índice das bolsas voltará aos níveis de junho deste ano, ainda existem ações com preços supervalorizados e ativos apreciados. Ainda haverá realização de lucros e a volatilidade será intensa, mas a ordem começa a ser recuperada.

Afirmo que a normalidade está voltando. E contradizendo alguns pensadores, não concordo que demorará dois ou três anos. A resposta será rápida e espero estar certo.

Como disse Robert Shiller, economista americano, as ferramentas de gestão financeira são como equipamentos de segurança de um avião, Porque existem acidentes, os aviões não são inseguros ou as ferramentas são ineficazes. A inovação e experiência aliada à tecnologia são nossas armas na gestão financeira, assim como na aviação sempre se aprende com a experiência de erros passados e com a tecnologia cada vez mais presente, consertando mazelas.

Derivativos e alavancagem com securitização são parte inerentes de mercados financeiros, são instrumentos de gestão de risco, não de especulação. Elas não podem ser combatidas, mas incentivadas com a regulamentação tentando manter um equilíbrio sempre. O excesso de liberalidade e a falta de controle do FED principalmente, com quase toda certeza são as lições aprendidas.

Minhas ilações sobre a ciclotimia na economia estão ai desde 2003 quando tive a oportunidade de ver com um amigo do setor a artificialidade nos preços dos ativos.Acho que demorou até demais a inflexão para baixo, mas agora me sinto mais confortável. Ainda teremos realização de lucros e volatilidade nas bolsas, um ponto de recessão aqui e acolá e inflação localizada, mas a vida segue e a economia com suas forças naturais continua dentro do novo ambiente global onde as premissas de "Blur" e a tecnologia farão parte de nossa vida, gostemos ou não..

Vamos à tese de Stan Davis e Christopher Meyer confiando na premissa da velocidade para consertar os estragos recentes. As outras são parte do contexto e nossas aliadas.

Ainda continuo afirmando que não existe futurologia na economia, mas uma lógica sim. Quando Peter Drucker cunhou o termo "A era do conhecimento e a sociedade da informação" na década de 60, ele predizia o futuro com crises e vícios, virtudes e qualidades.

O "Blur" de 2000 está mostrando seus fundamentos, ainda bem que agora para melhor com a recuperação e a volta da confiança. A velocidade do estrago feito volta na ascendência de curva virtuosa, até o próximo ciclo pelo menos. A correção do rumo foi feita e entre mortos e feridos alguns se salvaram, especuladores inescrupulosos ganharam muito dinheiro, velhinhas e viúvas perderam parte de suas economias, mas todos aprendem as lições, inclusive os governos e as autoridades monetárias e reguladoras.