A HARMONIA COMO FUNDAMENTO DA NATUREZA, DO HOMEM E DAS COISAS

      1. INTRODUÇÃO

Os opostos se juntam para formarem uma única unidade, o que justifica a harmonia. Em outras palavras: a harmonia só é possível na pluralidade. Esta noção pode ser observada tanto na natureza como no homem e nas coisas, uma vez que as coisas criadas por este e as coisas existentes na natureza são na verdade constituídas por elementos diferentes, mas que juntos formam as unidades ou o todo. A harmonia torna-se assim um aspecto fundamental para a compreensão do homem (e das suas acções no mundo) e da natureza. Neste sentido, este artigo mostra como a harmonia fundamenta a existência, realçando suas revelações dentro do diário natural e humano.

      2. A IDEIA DE HARMONIA

A harmonia é compreendida como um equilíbrio entre partes diferentes. É muitas vezes observada no mundo musical para justificar a presença de notas diferentes que, juntos, resultam em um único som (numa harmonia de sons), ou seja, numa combinação de sons. No entanto, torna-se necessário dizer que, a harmonia não se estende apenas a um único aspecto da existência, mas em todos os aspectos, o que revela sua abrangência absoluta.

A harmonia torna-se assim um conspecto unificador. Sua origem etimológica apresenta-se no grego, possuindo significados como concordância, combinação, ajuste. Nota-se neste sentido o carácter unificador do termo. Esta unificação ou combinação dá-se mediante às partes envolvidas. Pode-se então definir a harmonia como a união ou combinação de duas ou mais partes que diferem entre si, mas que originam uma só coisa quando são devidamente ordenadas. Nota-se então que a necessidade de se harmonizar as coisas surge do facto delas serem diferentes, pois se fossem todas iguais, tudo na existência também seria igual; e como na existência nada é igual, surge a necessidade de se harmonizar as coisas para que a igualdade (a unidade) se apresente. A igualdade então só é possível na harmonia das diferenças, na união das singularidades. Ora, vê-se então que a harmonia (a unidade ou igualdade) surge da pluralidade, das diferenças, das individualidades das coisas.

      3. ASPECTOS DECORRENTES DA HARMONIA

Vimos então que a singularidade das partes, por si só, não leva à harmonia e que a harmonia só se materializa mediante à união das singularidades de cada parte. Ora, a harmonia não acontece de qualquer forma, ou seja, para que haja harmonia é necessário a presença de dois elementos extremamente fundamentais, a saber:

      3.1. A Ordem

A ordem é um aspecto extremamente fundamental para a harmonia. Não pode existir harmonia se não existir ordem. A ordem exprime uma organização, uma estrutura, a forma como os elementos estão apresentados, o que revela toda a beleza da harmonia.

      3.2. O Ritmo

O ritmo é outro aspecto extremamente fundamental para a harmonia. Porém, o ritmo só é observado em casos específicos (som e escrita), como na música ou na poesia. Na música por exemplo, para existir harmonia, as notas devem estar perfeitamente ordenadas e precisam, necessariamente, ter uma sucessão lógica que chamamos de ritmo; isto é o que revela a beleza de uma música e consequentemente da harmonia. Do mesmo modo, a beleza de uma poesia exprime-se mediante à perfeita ordenação das palavras e mediante ao ritmo que elas possuem quando lidas ou recitadas.

      4. A ARTE

A harmonia desperta o deleite e a admiração nos olhos de quem vê – é por isso que ela é sempre associada à arte. Ora, o que é a arte senão a perfeita demonstração da harmonia? – A arte é a união de diferentes elementos que resultam num só. Na música, como já vimos, as diferentes notas, quando unidas com ordem e ritmo, resultam na harmonia que chamamos de música. O mesmo acontece na poesia (união de palavras com ordem e ritmo), na dança (união de movimentos corporais com ordem e ritmo) e em outras manifestações artísticas como a pintura, por exemplo, onde a união e a combinação de cores, representações, esquemas, desenhos e singularidades originam a beleza, a unidade e a harmonia.

      5. A HARMONIA NA NATUREZA E NO HOMEM

Ao se analisar o mundo meticulosamente, descobre-se que a harmonia está extremamente presente. Absolutamente, toda criação humana e toda manifestação natural é harmónica. Uma cadeira, por exemplo, é um agregado de madeiras, pregos, parafusos e outros materiais que, juntos, formam uma cadeira. Um computador é a combinação de diferentes peças que juntos formam uma unidade, o computador; e isto vale para tudo ao nosso redor. Ora, esta observação revela muito bem de como o mundo é ordenado, rítmico e harmónico, embora o caos, muitas vezes, insiste em aparecer. Com base a estas observações, pode-se sintetizar a harmonia da natureza e a harmonia entre os homens e as coisas.

      5.1. A Harmonia Natural

Na natureza é tudo harmónico; nada está dissociado. Um exemplo para essa ideia pode ser a água. A água, como sabemos, é formada por Hidrogénio e Oxigênio – dois elementos naturais completamente distintos – mas que juntos formam a unidade, a harmonia que chamamos de água (H2O). Esta mesma água associa-se às plantas que a precisam para sobreviverem e associa-se, também, aos animais e ao próprio homem que – do mesmo jeito que a planta – a precisam para sobreviverem, ou seja, um único elemento (água) une-se a outros elementos diferentes dele, formando uma harmonia. A luz do sol, após iluminar durante o dia, ausenta-se para que, durante a noite, a lua brilhe também. Os planetas giram de tal forma que nenhum deles invade o espaço do outro. Estas observações mostram claramente como a natureza é ordenada e rítmica, o que revela sua harmonia, admiração e beleza aos olhos humanos.

      5.2. A Harmonia no Homem

Os homens carregam a singularidade como uma característica natural, porém, a união dessas singularidades é o que permite a harmonia. Imaginemos se tivesse existido apenas um homem desde a Criação – claramente, nada do que o homem fez existiria – o próprio homem nem sequer sobreviveria estando só. A união de duas vidas (procriação) é o que resulta na outra. Ninguém sobrevive sozinho, somos todos coautores da existência humana. Todavia, a sociedade nos ensinou a abordarmos as coisas por suas particularidades. Passamos a enxergar as coisas com base às suas singularidades e muitas vezes ignoramos a harmonia que as une; e como consequência disso, o homem passou a ser visto como só mais um indivíduo inserido no mundo, alguém que não tem nenhuma relação com o outro.

Ora, é nítida a importância de se conceber o homem como coparticipante do mundo. Paremos para pensar: o homem é uma construção que tem sua viabilidade na sociedade; e nenhuma construção acontece isoladamente, ou seja, toda construção é sempre condicionada por partes que, juntas, permitem a unidade. Assim também, a construção do homem como ser social é harmónica, ou seja, é condicionada pela influência e aprendizagem que ele dá e recebe dos outros.

      5.3. A Harmonia nas Coisas

Do mesmo jeito que a natureza e os homens, as coisas possuem também uma harmonia. Já foi mencionado o exemplo da cadeira que para sua existência, fora necessário a união de diferentes materiais. Um telefone, por exemplo, não seria possível se as partes (peças) que a constituem não estivessem devidamente harmonizadas. Da mesma forma, a junção de diferentes cores por exemplo, podem resultar em outras cores, assim, vermelho e amarelo – dois elementos completamente diferentes – originam a cor laranja; o amarelo e o verde – outras duas cores completamente diferentes – originam a cor azul, assim como a junção de outras cores resultam em outras cores, em outras unidades e claro, em outras harmonias. O átomo, que forma uma unidade, é na verdade a junção de protões, eletrões e neutrões – elementos diferentes – que resultam na unidade do átomo. Estas observações revelam como as coisas estão extremamente harmonizadas.

      6. CONCLUSÃO

Conclui-se então que o conhecimento humano não é uma construção cuja responsabilidade compete apenas num único homem, pelo contrário: o conhecimento é construído com base às singularidades que cada um acrescenta na unidade, na harmonia. As nossas opiniões, os nossos esforços, as nossas pesquisas e as nossas inclinações para o conhecimento é o que permitiu o crescimento humano como um todo, ou seja, nada do que foi feito na humanidade teve uma base singular. O próprio homem é um ser dividido por partes que juntos formam o corpo humano. Cada ser humano tem uma singularidade que, unindo-a com a singularidade do outro, resulta em uma unidade, em um novo elemento, em uma forma de pensar, em uma realidade. A união das singularidades humanas é o que possibilitou o desenvolvimento da ciência, da técnica e portanto do próprio homem.