A Graça de Perseverar quando tudo “Aparentemente” dá Errado

·         Quando tudo vai bem é fácil ser cristão, difícil é ser crente quando tudo “aparentemente” está dando errado. Quando caímos em pecados, quando nos sentimos sozinhos, quando as coisas não acontecem ao nosso tempo, modo e bel-prazer; quando faltam amigos; quando não há recursos; quando cessam as alternativas, é nesta hora que conhecemos quem somos.

Os verdadeiros crentes salvos em Cristo Jesus são chamados para viver a graça de Deus livres da escravidão do pecado. Mas, a Bíblia também reconhece que aos convertidos lhes seja possível ainda cair em pecados. E, sobretudo é possível que sejam pecados graves, e que neles permaneçam por algum tempo, até que Deus lhes liberte definitivamente. Os verdadeiros crentes são sempre trazidos de volta à sensatez espiritual, através de um genuíno arrependimento produzido pelo Espírito Santo (2 Co 7:8-10).

·         Não afirmamos que ao salvo lhe seja permitido pecar à vontade. Segurança em Cristo não significa libertinagem, senão estabilidade e gratidão. Aqueles que acusam os que estão fracos, desanimados, abatidos, prostrados por causa de seus pecados, simplesmente demonstram ignorância quanto a Obra Eficaz de Cristo na cruz do calvário e a doutrina da regeneração. A Palavra de Deus não nos promete em nenhum lugar que depois de regenerados não pecaremos mais. A Bíblia nos exorta enfaticamente a não pecar, todavia, se viermos a pecar podemos confiar no gracioso perdão do Pai (1 Jo 1:8-10). É esta a confiança que o apóstolo João se refere quando fala “meus filhinhos, escrevo-lhes estas coisas para que vocês não pequem. Se, porém, alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1 Jo 2:1, NVI).

 

J.I. Packer declara que: Às vezes, os regenerados e eleitos de Deus apostatam e caem em grave pecado (ex: Davi e Salomão). Mas nisto eles agem fora de seu caráter, violentam sua própria nova natureza e fazem-se profundamente miseráveis, até que finalmente buscam e encontram sua restauração à vida de retidão. Ao rever sua falta, ela lhes parece ter sido loucura.

 

Jesus nos ensinou a perseverar na santidade, pela graça e poder do Espírito Santo. O pecado na vida do regenerado não pode ser causa de lhe afastar da igreja ou do convívio com os irmãos, ou até mesmo de vergonha diante de Deus. Lutero disse que o cristão é simul justus et peccator , ou seja, é declarado justo, mas ainda é reconhecido como pecador.

 

A salvação em Cristo Jesus compreende o sermos declarados justos e recebidos como santos diante de Deus, pelos méritos de Cristo aplicados em nós, por meio do Espírito Santo. Logo, não há mais condenação (Rm 8:1), nem escravidão do pecado, mas paz e segurança em Cristo (Rm 5:1-5), e conseqüentemente o verdadeiro crente não pode perder sua salvação.

 

Cremos piamente que o pecado cometido pelo crente não é menos grave do que o pecado praticado pelo ímpio. Todavia, o crente é tratado de um modo diferente do ímpio. Enquanto o crente é disciplinado para a vida, o ímpio é punido para perdição. Um verdadeiro crente possui a confiança produzida pelo próprio Espírito de Deus, que Ele “não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui segundo a nossa iniqüidade” (Sl 105:10, ARA). 

 

Quando os verdadeiros crentes caem em pecado, mesmo pecados graves e escandalosos, eles não são abandonados por Deus, são amparados. Deus nunca desiste deles (Rm 8:31-39). Como um Pai restaura os seus filhos, “porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe. É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não corrige? Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos” (Hb 12:6, ARA). O apóstolo Paulo afirma esta mesma verdade dizendo que “quando, porém, somos julgados pelo Senhor, estamos sendo disciplinados para que não sejamos condenados com o mundo” (1 Co 11:32).

A Bíblia ordena: “Esforcem-se para viver em paz com todos e para serem santos; sem santidade ninguém verá o Senhor” (Hb 12:14, NVI). Todo crente fica aquém, muito aquém do padrão colocado diante dele; estamos nos referindo ao padrão de Deus, e não ao padrão dos pseudos-cristãos da suposta vida inteiramente santa e vitoriosa. Se qualquer leitor crente disser que Romanos 7 não descreve a sua vida, afirmamos com todo amor fraternal que ele se encontra terrivelmente enganado[leia o texto]. Não estamos dizendo que todo crente quebra a lei dos homens ou que ele é um ousado transgressor da lei de Deus. Estamos afirmando que a vida de todo crente está muito aquém do nível de vida que nosso Senhor vivenciou, quando esteve neste mundo. Estamos dizendo que muito da carne, da natureza pecaminosa ainda se evidencia em todo crente, inclusive naqueles que se vangloriam, em voz alta, de suas conquistas espirituais.

A evidência que não exige nenhum veredicto de nossa salvação em Cristo é que o cristão reconhece essa guerra –carne x espírito- em seu íntimo.

O bispo Berkeley disse: Não posso orar, eu cometo pecados. Não posso pregar, eu cometo pecados. Não posso ministrar, nem receber a Ceia do Senhor, eu cometo pecados. Na verdade, eu peco quando penso que não peco. Preciso arrepender- me de meu próprio arrependimento; e as lágrimas que derramei necessitam da lavagem do sangue de Cristo.

John Newton, o escritor do bendito hino “Graça Admirável”, afirmou: Graça admirável, quão doce é o som que salvou um ímpio como eu; estava perdido, mas fui achado; era cego, agora vejo.

Os crentes em Cristo precisam aprender sobre a graça de Deus. A Graça de Deus é Soberanamente Livre: A liberdade é um dos atributos da soberania. Deus é soberano e, por isso mesmo, é livre na manifestação da Sua graça. Aliás, este conceito é fundamental à idéia bíblica de graça, pois, se a graça não fosse livre, não seria graça; graça que é obrigatória não é graça, é obrigação. Deus tem misericórdia de quem Lhe aprouve (Ex 33.19). A graça é absolutamente livre de toda a nossa influência, ou então não é graça de modo algum. Deus nos olha com graça porque assim O decidiu; o homem não pode exercer nenhuma influência sobre isso, todavia, Deus é gracioso para com o homem porque determinou em Si mesmo considerar a necessidade do Seu povo.

J.I.Packer, corretamente declarou: “A graça é livre, no sentido de ser auto-originada e de proceder de Alguém que podia ou não conceder graça. Somente quando se percebe que o que decide o destino do homem é o fato de Deus resolver ou não salvá-lo de seus pecados – sendo esta uma decisão que Ele não é obrigado a tomar em nenhum caso – é que se começa a apreender a idéia bíblica da graça.”

Se Deus, soberana e livremente estabelecesse a Lei como sendo o caminho da graça, a graça continuaria sendo graça; todavia, não haveria salvação para o homem, já que o padrão de Deus é a perfeição. A graça reina livremente! (Hb 4.16). (Veja 1Rs 8.23; Is 55.3; Jr 9.24; Rm 3.24; 9.15-18).

A graça de crer nas promessas de Jesus Cristo está Nele mesmo, é Ele Quem abre os nossos corações e mentes, para que possamos entender salvadoramente a mensagem do Evangelho (At 3.16; 16.14; 18.27; Rm 4.16; Fp 1.29). Deus não nos elegeu na eternidade porque um dia teríamos fé; mas sim, para que tivéssemos fé: Sem a graça de Deus não haveria fé. A fé é essencial à salvação, como uma evidência da nossa eleição: Só os que crêem serão salvos; só crêem os eleitos! (1Ts 1.3,4; 2Ts 2.13; Tt 1.1). A fé não tem méritos salvadores; ela é apenas o instrumento gracioso de Deus para a apropriação da salvação preparada pelo Trino Deus para o Seu povo escolhido (Lc 8.12; At 16.31; 1Co 1.21; Ef 2.8; 2Ts 2.13). “Eu não me apresento – escreveu Schaeffer – presunçosamente pensando que posso salvar a mim mesmo, mas entregando-me ao trabalho completo de Cristo Jesus. A razão estigmatizada pelo pecado, que se mostra tão eficaz nas coisas naturais, perde-se diante do mistério de Deus revelado em Cristo e, também diante da Revelação geral na Natureza: “As mentes humanas são cegas a essa luz, a qual resplandece em todas as coisas criadas, até que sejam iluminados pelo Espírito de Deus e comecem a compreender, pela fé, que jamais poderão entendê-lo de outra forma. A graça, portanto, antecede à fé e ao conhecimento. A fé consiste na convicção de que a salvação está além de nossos recursos; no caso a fé salvadora, significa que depositamos nossa fé em Deus através de Cristo. Sem a graça de Deus jamais creríamos na Mensagem do Evangelho, jamais poderíamos entendê-la de forma salvadora, portanto, de modo algum seríamos salvos.

Implicações:

1.       Quando tudo dá errado e você se sente culpado, acreditar no amor incondicional de Jesus Cristo lhe ajuda a se perdoar. A certeza de sermos aceitos e queridos por Ele do jeito que somos, livra-nos na mesma hora de qualquer sentimento de culpa. Talvez, você não consiga aceitar suas próprias deficiências e falhas, mas Jesus Cristo nunca irá rejeitá-lo mesmo que esteja repetindo erros do passado.

2.       Quando tudo dá errado e você sabe que vai ter de pagar pelo que fez, Jesus Cristo lhe dá coragem e honestidade para não fugir de sua responsabilidade. Afinal, errar é humano, perdoar é divino, permanecer no erro é tolice, assumir os erros é maturidade, não assumir é loucura.

3.       Quando tudo dá errado e você se sente sozinho, Jesus Cristo é o amigo invisível que ouve com atenção o seu desabafo. Pode parecer incrível, mas quem confia em sua promessa de sempre estar ao nosso lado,(Deus Emanuel) não tem razões para ficar triste e desanimado, nem pensar em desistir. Jesus põe sua mão poderosa sobre nosso ombro e não nos deixa entregar os pontos. Nem mesmo na hora da morte. Quem crê em Jesus pode ter total certeza de que o amor de Deus lhe garante a vida eterna.

4.       Quando tudo dá errado e a culpa não é sua, a fé em Jesus Cristo lhe faz mais sensível às limitações dos outros. Ora, se ele nos aceita e perdoa sempre, precisamos ser mais compreensivos e tolerantes com a imperfeição alheia!

5.       Quando tudo dá errado e você se sente sem forças para recomeçar, a confiança no poder de Jesus Cristo lhe permite não se desesperar. Quem acredita mesmo nele, não perde a calma, ainda que não entenda porque é que tudo aquilo está acontecendo. Se pedirmos sua ajuda, Ele nos dá poder para recuperar a lucidez, reorganizar os pensamentos e dar a volta por cima!

1.       Quando tudo dá errado, Jesus Cristo nos anima com Suas palavras de conforto... Tentar viver pela lei é anular e cair da graça (Gl 2.21; 5.4). A lei nos condena pelos nossos pecados, a graça nos salva pelos méritos de Cristo. Por isso, devemos viver confiadamente na graça suficiente e abundante de Cristo (2Co 1.12; 12.9/Ef 1.7; 2.7). Deus nos elegeu pela graça a fim de que fossemos santos e irrepreensíveis (Ef 1.3,4/Gl 1.15/Rm 1.7; 1Co 1.2). Isso nós fazemos, crescendo no conhecimento de Cristo que é-nos facultado através da graça da graça (2Pe 3.18/Mt 11.27). “Conhecer as ordens de Deus é graça. A humildade é graça; viver humildemente significa ter consciência da graça de Deus em nós; tudo que somos e temos vem pela graça (1Co 4.7/1Co 15.10; Ef 2.9). Como acertadamente diz Calvino: “.... Sejam quais forem os dons que possuamos, não devemos ensoberbecer-nos por causa deles, visto que eles nos põem sob as mais profundas obrigações para com Deus. Portanto: “Qualquer que seja a posição de um homem dentro de uma igreja, e qualquer que seja o poder que ostente, ou o prestígio de que usufrui, segue sendo um servo de Cristo. Esta doutrina jamais poderia ter sido inventada pelo homem; todavia, a Palavra nos revela o seu teor, por isso, podemos dizer humilde e jubilosamente: Amém!