Continuação....

O processo de globalização está intimamente ligado com as relações comerciais entre os países e estas relações ganharam corpo e escala com a  revolução industrial. Alguns atribuem a entrada da humanidade no processo industrial ao ano de 1808 com a locomotiva a vapor de Richard Trevithick. Este dado é controverso, além de ser difícil definir com precisão o marco exato de um processo como a industrialização global.  Considerando que falamos de globalização, vamos definir como essencial ao surgimento desta, as ferramentas embrionárias necessárias, parte integrante do processo da revolução industrial.A descoberta do telégrafo em 1844 com Samuel Morse e na seqüência o telefone de Graham Bell em 1876.

Podemos inferir aqui que o código Morse e o telefone começam a criar mecanismos para quebrar barreiras com o tráfego rápido de informações auxiliando a expansão dos negócios e mercados e as melhorias nas relações de troca entre os atores, seria aqui  então o embrião de um processo globalizante? Pode ser, mas fatos mais relevantes a frente são mais representativos no conceito da globalização.

O final do século XIX foi marcado pelas guerras européias e processos de colonização, principalmente do império britânico, estes fatos foram inimigos de uma melhor interação entre os países, mas a revolução industrial fazia sua mágica, criando riqueza e prosperidade. Os períodos da paz chegaram ao início do século XX e instigaram os investidores forçando as nações a buscarem expansão, mercados e negócios além de suas fronteiras. Neste momento a América do Norte  desponta como potência emergente e a expansão da economia mundial era latente pelo menos até 1914 como veremos a seguir. O impulso acontecido neste momento no que concerne aos conceitos aqui discutidos é marcante e relevante.

Para se ter uma idéia, segundo o livro Ascensão do Dinheiro do historiador inglês Niall Ferguson, em 1914 os ingleses tinham 4 bilhões de libras investidas em outros países e em suas colônias, 45% nos EUA e Canadá. Em 1913 estima-se que havia Us$ 158 bilhões em ações no mundo inteiro. Existiam cerca de 40 bolsas espalhadas pelo globo terrestre, sete delas cobertas pela imprensa britânica. A bolsa de Londres tinha 48% em títulos estrangeiros e 25% do estoque mundial de capital estavam investidos em países com renda per capita igual a 20% da americana.

Até 1914 o dinheiro e o comércio mundial era pujante e crescente, uma informação telegráfica levava 30 segundos para chegar a Nova York partindo de Londres, o custo desta informação era de apenas 0,5% do preço praticado em 1866. O padrão ouro havia sido adotado pelos bancos, isso representava menor risco e mais incremento nas transações internacionais reduzindo riscos cambiais.

A inesperada e imprevisível na época, a primeira guerra iniciada em 1914 quebrou este ciclo poderoso do comércio mundial, o mercado financeiro sofre também seu baque. A paralisada do processo globalizante com a eclosão da guerra mundial foi retomada finalmente no seu final nos anos 20. Períodos pós-guerras quase sempre significam períodos de prosperidades e expansão. Pelo menos até a o início da segunda guerra nos anos 30, o mundo experimentou um aumento da liquidez e do volume de transações comerciais e financeiras entre os países ensaiando a retomada do processo globalizante do começo do século XX.

A também imprevisível crise de 1929 poderia ser considerada protagonista do processo de globalização. Para muitos, as causas da segunda guerra no contexto econômico podem ser atribuídas a crise de 1929, pelos estragos sociais causados aos países europeus principalmente. Os futuros protagonistas políticos, Hitler e seus pares, apareceram neste momento de mazelas que a sociedade enfrentava por toda parte. Hoje se constata que a crise de 29 foi um distúrbio global com efeitos no comércio e no sistema financeiro mundial, na verdade foi uma bolha de liquidez que estourou nos Estados Unidos repercutindo em todos os quadrantes globais.

A rigor, temos evidências claras da globalização, via comércio mundial e mercado financeiros desde o início do século XX, as crises dos anos 10, 20 e 30 tiveram todas as características e influências da globalização mundial existente naquele momento. As comunicações não eram como hoje, mas eram sustentáculo do intercâmbio comercial e financeiro entre os diversos países.

A partir da década de 50, o rearranjo mundial pós segunda guerra aliado com os avanços tecnológicos mencionados e as transformações sociais e econômicas deles decorrentes criaram a era da informação e a sociedade do conhecimento, a globalização já estava então arraigada na sociedade, com efeitos positivos, transformações sociais e de costumes que derrubaram padrões de comportamento seculares e conservadores. Isso já pode ser definida como frutos do crescimento e retomada da globalização, então em outro patamar tecnológico e social.

Revendo conceitos, podemos concluir que o homem vem sofrendo e usufruindo os resultados e problemas da globalização há muito tempo, precisamente com a aplicação comercial dos meios de comunicação e melhoria dos transportes. Podemos dizer que isso se dá no início do século XX, até a primeira grande guerra. Todas as crises econômicas mundiais conhecidas (1914, 1929, 1970, 1973, 1980, 1992, 1997, 2001, 2008,  e outras não mencionadas aqui) no aspecto comercial ou financeiro podem ter colaborado, impactado ou influenciado os movimentos globalizantes, em última análise, até sido conseqüência destes movimentos. Todas corroboram o conceito da "Aldeia Global" cunhado sociologicamente nos anos 60 pelo professor canadense.

Uma análise mais criteriosa e com um foco nas finanças e no comércio podem nos fazer rever os conceitos puramente sociológicos da globalização, este maravilhoso processo, inexorável, cada vez mais presente na vida de todos nós.

A humanidade deve ser vista e analisada sob diversos ângulos, a evolução permanente e misteriosa é cada vez mais marcante, os conceitos de fronteira morreram, uma linguagem universal está em curso (provavelmente mistura inglês, chinês e espanhol). Tudo resultado da interação entre pessoas e sua comunicação, relações de proximidade, mesmo em mundo virtual como proporciona a internet. As redes sociais e outras ferramentas que vão surgindo diminuem as distâncias e promovem muitas benesses a todos os atores, governo, empresas e sociedade. Aos estudiosos, governantes e constituintes do processo restará a preocupação com a manutenção dos preceitos éticos e morais que devem nortear a humanidade. Outro ponto crucial para manutenção deste processo é a luta permanente contra a injustiça social e outros tipos de exclusão que podem surgir com o movimento em questão.

O poderoso intercâmbio econômico e cultural entre diversos países, conhecido como globalização, provavelmente trará ainda crises, injustiças talvez, mas a revolução tecnológica, baluarte do movimento, promoverá maravilhas cada vez mais rápidas e eficientes. É o novo mundo e a nova ordem mundial.

Só nos resta administrar e usufruir deste processo, pouco importando quando de fato ele começou, mas pensando e trabalhando para que ele não termine ou tenha as indevidas interrupções como pudemos dissertar aqui. Vale a reflexão neste momento nas quais as questões ambientais são precocupantes e a humanidade começa a enxergar e discutir muito mais coisas relacionadas ao seu futuro.