A FRAGILIDADE DA PRODUÇÃO TEOLÓGICA DA ASSEMBLEIA DE DEUS


*Roberto dos Santos
O ensino teológico na Assembleia de Deus já foi tema de debate polêmico sobre seu verdadeiro lugar na igreja, hoje parece que o cenário é outro, mas continuar uma profunda deficiência de análise teológica e uma forte crise de produção científica dentro dos seminários e faculdade de teologia no âmbito assembleiano. É só sondar os institutos bíblicos, seminários e faculdade de teologia para constatar que a formação teológica na Assembléia de Deus não passa de uma mera formalidade, já que seus líderes, a meu ver, não tem nenhum tipo de interesse em aprofundar a questão e levá-la para o campo acadêmico propriamente dito. Um exemplo é a proliferação de "cursinhos teológicos" dentro da própria denominação que vem sendo amplamente aceitos normalmente critério metodológico e epistemológico, como é o cão dos conhecidos cursos rápidos, relâmpagos e facilitados. Ridículos sem notoriedade acadêmica como ocorre com os seminários batistas e presbiterianos no Brasil, acabam certificando obreiros sem o mínimo de condições para o exercício do ministério. Na Assembleia de Deus a educação teológica precisa passar, primeiramente, por uma reforma acadêmica, incluindo corpo docente, currículos e programas, além da necessidade de infra-estrutura adequada.
No Brasil já funcionam uma dezena de centros superiores onde a teologia ou as ciências das religiões não têm qualquer vinculo eclesiástico. São cátedras criadas sem interferência religiosa e dirigidas por professores das próprias instituições. Na verdade o que está acontecendo é a separação do seminário teológico da igreja, fazendo com que a igreja se afaste de vez da vida pública da academia. A igreja precisa mais do que nunca tomar consciência de tal fenômeno e abrir suas portas para o ensino-aprendizagem da teologia, visando o próprio futuro da igreja e a formação de nível superior e contextualizado dos seus obreiros, evitando dessa forma, criticas de setores ideológicos, políticos e acadêmicos. Abandonar o seminário teológico é correr o risco de perder a Memória da igreja e ficar a mercê dos ataques do secularismo.

A perda do tradicional monopólio teológico da igreja por parte de seminários e faculdades de teologia oriundos de setores para-eclesiásticos e até seculares como é o caso de cursos realizados dentro de universidades que não possuem respaldo ou apoio da igreja tem sido um dos grandes problemas para a igreja no Brasil, posicionar-se a respeito da validade ou rejeição de tais cursos quando seus candidatos ao ministério são certificados com graus teológicos exigidos para o oficio pastoral, administrativo ou docente dentro da igreja. Estado Brasileiro é laico, mas parece que o curso de teologia, indiferentemente da igreja, passa pela fiscalização do Governo Federal, o que acaba tornando o Estado hibrido e a igreja ausente em sua responsabilidade acadêmica.
Velhas lembranças dos Estados Cristãos, entre outras. Agora a Assembleia de Deus tem a missão de verificar quais seminários e faculdades de teologia, realmente, podem ser chancelados pela igreja e servir de referência nacional como notáveis e eruditas casas de profetas.
.

Entre os cursos teológicos da Assembleia de Deus podemos destacar o IBAD, a FAESP e a FAACAD. A última IES é patrocinada pela Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Viajando pelo Brasil, realizando conferências e seminários rápidos sobre temas específicos para obreiros e crentes em geral, pude notar a proliferação de cursos teológicos sem qualquer condição de funcionamento. E o pior: obreiros de várias partes do nosso País ostentam graus de bacharel, mestre e doutor em teologia provenientes desses seminários de fundo de quintal, onde corpo docente e infra-estrutura não passam de instituições medíocres e periféricas.
É tempo de reforma assembleiana no setor teológico; é tempo de investimento educacional a nível nacional; é tempo de abrir os olhos e ver que os campos já estão brancos para a ceifa. Mas quando tudo isso poderá acontecer e tomar forma na Assembleia de Deus? Respondo: quando a liderança nacional tomar consciência da fragilidade de conteúdo, gestão e necessidade de um maior alargamento nas estruturas de base da igreja e exigir de vez que os futuros candidatos ao ministério freqüentem pelo menos dois anos de estudos presenciais em seminários mantidos pela igreja ou convenção. Conseqüentemente, torna-se necessário também, entre outras mais, uma melhor seleção dos candidatos ao ministério, investimento em recursos humanos e estruturais. Completamos cem anos de história, mas infelizmente não chegamos a maturidade teológica que tanto precisamos para enfrentar os próximos anos de desafios e dilemas que a própria história nos reserva.

*Roberto dos Santos. Teólogo com PhD pela Cambridge International University e Doctor of Theology pela Friends International Christian University. Conferencista, escritor e jornalista. E-mail: [email protected]