A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE DO PROFESSOR
Por Neide Figueiredo de Souza | 02/04/2022 | EducaçãoA FORMAÇÃO DA IDENTIDADE DO PROFESSOR
Ludmilla Paniago Nogueira
Neide figueiredo de Souza
A cada novo dia é exigida da docência uma produtividade mais qualificada e uma vida laboral mais intensa. Nesse sentido, a formação inicial e continuada para o exercício da profissão assume relevância, pois se apresenta como possibilidade para aprimorar a prática e promover os resultados que dela são esperados: a aprendizagem, o crescimento intelectual e pessoal dos alunos e das alunas. Nessa direção, surgem os desafios como o aprimoramento teórico, a busca por metodologias, recursos e estratégias que possam auxiliar os/as docentes no desenvolver sua práxis mais sintonizada com seu tempo, com as necessidades e demandas discentes.
Reconhecemos a necessidade de a formação vir acompanhada de titulação, porque, para o exercício docente é necessário que professores/as sejam habilitados/as, que possuam uma licenciatura. Porém, percebemos que as titulações não são o suficiente. Espera-se que a certificação emita um diferencial para alcançar, de forma mais qualificada, o desenvolvimento da prática docente. Sabemos que o currículo de formação inicial expressa vivências, valores, crenças e uma tradição, mas fundamentalmente a profissão requer conhecimentos e saberes acerca da docência como acontecimento permanente. Situamos nessa seara uma possibilidade de construção da identidade docente.
Importante salientarmos que, a formação da identidade do professor pode, em muitos casos, anteceder à licenciatura ou ser a única formação para atuar na carreira docente. É o caso do ensino Normal Médio, garantido pelo Artigo 62 da LDB 9394/96, que prepara seus alunos para o exercício docente na Educação Infantil e nos primeiros anos do ensino fundamental, segundo a Resolução CEB nº 2, de 19 de abril de 1999. Essa modalidade de ensino é realizada em 03 anos, incluindo-se o Estágio Supervisionado.
Ensina-nos Bauman (2005, p. 83) que “A identidade é um conceito altamente contestado”. E é nessa linha que o pensador afirma a necessidade de questionar a construção da identidade com as seguintes perguntas: como são construídas as representações acerca de sua imagem? Professor/a? Trabalhador/a? Profissional? Funcionário/a? Que marcas anuncia essa identidade? Que desafios a identidade docente do nosso tempo enfrenta?
De acordo Garcia, Hipolyto e Vieira (2005), a identidade de um profissional é o conjunto das representações contidas nos discursos oficiais (aspectos legais), no discurso dos próprios profissionais no que se refere à sua formação e prática no exercício de suas funções. Nesse sentido, o desenvolvimento profissional da docência, segundo Maciel (2004) deve refletir, dentre outros elementos, a complexidade da aquisição para enriquecimento dos currículos, a carreira em que se encontram, a sua biografia pessoal, os contextos nos quais trabalham. É nessa perspectiva que se pretende abordar a identidade, voltando o olhar para os saberes docentes requeridos pelos tempos contemporâneos.
Para Tardif (2012, p. 89), “o saber docente é um saber plural e heterogêneo, posto que seja constituído por uma amálgama de saberes profissionais, disciplinares, curriculares e experienciais”. Esses saberes procedem de variadas fontes e são postos em movimento nas interações cotidianas da sala de aula, contexto em que se realiza a ação docente, constituintes da identidade do/a professor/a. Os saberes docentes que constituem a identidade do/a professor/a são indispensáveis às suas práticas educativas. Para o exercício docente requerem-se saberes plurais, como anuncia Tardif (2012), e que, por fim, constituem a sua identidade profissional. Diante do reconhecimento da exigência de conhecimentos/saberes para o exercício da profissão, propomos a discussão sobre os saberes requeridos pela identidade docente ante os desafios da contemporaneidade.
Na organização desta dissertação abordamos o tema da identidade docente tendo como enfoque, os desafios - saberes docentes - que constituem a identidade do/a professor/a na contemporaneidade. Como observa Fontana (2019, p. 09):
É relevante considerar a tradição da educação brasileira para pensarmos a construção da identidade docente, pois ela nos transmite as referências que nos distinguem. Considerar os saberes ou disposições requeridas pela docência presentes em cada período da história, suas transformações, permite compreender o cenário em que estamos mergulhados.
As transformações sociais, econômicas, culturais e, portanto, históricas, são próprias das sociedades. Desse modo, compreendemos que faz parte do processo educativo o imprevisível, o aleatório. Podemos verificar essa afirmação como experiência desse momento que ora atravessamos: a pandemia. A incerteza do início nos conduziu a caminhos que antes não imaginávamos fazer parte do cotidiano: educação à distancia em todas as modalidades de ensino. Novas aprendizagens e metodologias se fizeram e se fazem necessárias – talvez se institucionalizem –, pois, são caminho sem volta se analisarmos os contextos que se apresentam e as perspectivas que deles decorrem. Ainda que mantenhamos muito do modelo de docência tradicional, em meio às nossas inseguranças, aprendemos a (re)planejar, a pensar o que e como ensinar. Com essa realidade, o processo pedagógico carece de formação continuada, pois, a caminhada na docência é construída cotidianamente, de aprendizagem em aprendizagem, de formação em formação, ensinando que a prática é o exercício de nossas aprendizagens.
Como afirma Machado (2013, p. 26), “[...] a gestão dos processos formativos é também pensar que essa só se efetiva com a ação comprometida/competente dos profissionais da educação”. Esse comprometimento com a Educação é mais que uma necessidade, é um desejo de desenvolver um exercício docente de qualidade, pensando no fortalecimento da própria identidade profissional. Nesse campo a identidade se forma cotidianamente num processo que se faz e refaz. Na afirmação de Fontana (2019, p. 09),
Esse refazer para trás na formação de professores no Brasil possibilita identificar e compreender que saberes, exigências à docência, constituía a identidade do professor. Além disso, permite interpretar e compreender a trajetória da construção da identidade do professor na educação brasileira, o que, muitas vezes, requer ler e revelar o que está presente nas linhas e entrelinhas das práticas educativas, dos autores e das próprias políticas de formação.
Não basta o desejo de ser professor/a; para realizá-lo devemos estudar com afinco, aprimorar os conhecimentos e estar em permanente formação. Somente a Graduação não é mais suficiente para atingir os objetivos da profissão e superar os desafios inerentes a ela, tampouco para conceder uma identidade à docência. É preciso mais! Como afirma Fontana (2019, p. 10), é necessário “identificar-se com o ser docente. Nesse sentido, é preciso acolher o processo de formação como possibilidade de alargar o conhecimento e protagonizar a prática cotidiana e, como tal, assumir a condição de mediador no processo de aprendizagem
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Tradução: Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro - RJ: Jorge Zahar, 2005.
MACIEL, Lizete Shizue Bomura. A Formação do professor pela pesquisa: ações e Reflexões, 1994. In: MACIEL, Lizete Shizue Bomura; SHIGUNOV NETO, A. (Org.). Formação de professores: passado, presente e futuro. São Paulo: Cortez, 2004.
TARDIF. Maurice. Saberes Docentes e Formação Profissional. 3ª. ed. Petrópolis - RJ: Vozes, 2012.
FONTANA, Patrícia. Saberes docentes e identidade do professor: biografias e trajetórias. Dissertação de Mestrado em Educação. Departamento de Ciências Humanas da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Câmpus de Frederico Westphalen – RS, 2019.
MACHADO, Liliane Campos. (Coord.). Gestão dos Processos Formativos na Educação Básica. Gestão da Educação. Coordenação de Pedagogia UAB/UESC - Pedagogia 6º período. Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes. Montes Claros – MG: Editora Unimontes, 2013.