1. INTRODUÇÃO

A construção da identidade sempre foi um processo social, uma vez que o homem tem sido fortemente influenciado pelos outros ao seu redor. Os grupos sociais são, neste sentido, fontes de aspectos intrínsecos à subjectividade e posteriormente à identidade do homem. Uma vez mais, solidifica-se a ideia de que o homem é um ser social que precisa do outro para seu desenvolvimento. Este artigo pretende mostrar como os grupos sociais são fundamentais para a construção dos aspectos subjectivos e da identidade do homem.

      2. SUBJECTIVIDADE E IDENTIDADE

Compreende-se que o homem é um aglomerado de experiências e crenças que se formam ao longo da sua vida em sociedade. Aquilo que o homem colhe no percurso de uma vida – suas ideias, suas experiências, suas crenças, suas visões de mundo e tudo mais intrínseco à sua pessoalidade – é o que constitui sua subjectividade. Neste ponto, o homem é um ser subjectivo pois apresenta-se singular no mundo; e essa singularidade encontra a singularidade dos outros.

Ora, a subjectividade humana é um factor fundamental para a formação da identidade. A identidade, aqui, é definida como o conjunto de aspectos subjectivos colhidos na convivência e que fazem do homem aquilo que ele é. É ainda importante realçar que a identidade só é construída através da convivência; o homem é, em grande medida, influenciado pelas pessoas que constituem seu grupo social; entendendo-se por grupo social como as divisões da sociedade que revelam a diversidade cultural, étnica, linguística e social.

      2.1. Família

O primeiro grupo social no qual o homem ingressa é a família. É na família onde o homem apresenta-se, pela primeira vez, ao mundo; é neste grupo onde as primeiras crenças e as primeiras visões de mundo são formadas. Ao lado dos pais e dos irmãos, a criança aprende a falar, a vestir e vive suas primeiras experiências de vida. Com o passar dos anos, a criança adquire um espírito de pertencimento e passa a identificar-se com as pessoas em sua casa.

Nota-se logo que a família é o primeiro grupo social com o qual o homem tem contacto. É também através deste grupo que o homem dá os primeiros passos para o mundo. A família prepara a criança para o encontro com outros grupos sociais. Cada família possui seus costumes, suas crenças e suas visões de mundo. Ora, toda criança tende a encontrar outras crianças nos lugares por onde ela passa; e as crianças que encontra pertencem, do mesmo modo, a outras famílias com costumes, crenças e visões de mundo diferentes das dela. Observa-se neste sentido que a família institui-se como fonte da identidade de cada indivíduo na sociedade.

      3. CONSTRUÇÃO DE CULTURAS

Como vimos, a família desempenha a função primordial na construção da identidade. Porém, a construção da identidade ou dos aspectos subjectivos de um indivíduo, não depende só da família, mas depende também dos aspectos culturais que o homem adquire de outros grupos no decorrer da sua vida, ou seja, quando o homem atinge uma idade adulta, é obrigado a desassociar-se da sua família de origem para construir também uma família. Ora, a união de duas pessoas é, ao mesmo tempo, a união de duas culturas. Nos tempos actuais, duas pessoas da mesma família não podem unir-se para constituírem uma outra família, o que acontece é que pessoas de famílias diferentes unam-se para juntos formarem uma nova família.

Esta nova família a ser formada será a união de duas famílias e consequentemente de duas culturas diferentes. Atendendo à diversidade cultural, o homem desta união virá de uma família com costumes diferentes da mulher com a qual quer unir-se. Logo, haverá uma união entre a cultura do homem e da mulher que resultará em uma nova cultura; e esta nova cultura, este novo costume oriundo da união dos dois, será manifestada no filho ou filha que eles virão a gerar. Do mesmo modo, este filho gerado pelos dois, quando se tornar adulto, será, assim comos seus pais, submetido a juntar-se com outra mulher de cultura diferente com a qual constituirá também uma família. Esta reflexão revela como são constituídos os diferentes costumes e as diferentes culturas encontradas na sociedade.

      4. OUTROS GRUPOS

Para além da família, o homem encontra outros grupos diferentes dele. A criança é colocada na escola pelos pais, onde encontra outras crianças vindas de famílias ou grupos diferentes, com cultuas e costumes diferentes; e a criança é submetida a se adaptar a estes grupos. Pode-se observar que a escolha da escola da criança depende dos pais; neste sentido, são eles quem decidem o tipo de grupo com o qual a criança terá que fazer contacto para a construção das bases da sua identidade.

É na escola onde começa uma nova fase da vida da criança. Nesta fase, a criança vai se apercebendo que existem outras crianças diferentes dela; a criança percebe ainda que suas crenças e suas visões de mundo, ensinadas pelos pais, nem sempre são iguais às crenças e visões de mundo das outras crianças ao seu redor. Com o passar dos anos, a criança, agora adolescente, começa a duvidar e a questionar as ideias ensinadas pelos pais. É neste momento que o adolescente, agora adulto, começa a agregar, dentro de si, novas ideias, novas crenças e novas visões de mundo que constituem sua subjectividade e que o diferenciam dos demais. Estes aspectos singulares ou subjectivos são os que mais tarde formarão sua identidade.

Para além da escola, o homem ingressa em outros grupos socias como a igreja, a faculdade, o trabalho e encontra diferentes pessoas na rua, no restaurante, nas festas, nos encontros com os amigos, nas sentadas familiares e nas actividades sociais. Com estes encontros o homem começa a descobrir que assim como ele, todas as outras pessoas possuem próprias crenças e visões de mundo; ora, a partir desta descoberta, o homem ingressa num grupo onde suas crenças e suas visões de mundo são bem-vindas, fazendo com que este mesmo homem molde seu comportamento com base a estas crenças e visões de mundo, o que resulta assim na sua identidade.

      5. CONCLUSÃO

Pode-se assim notar que o homem é um ser em construção. Suas interacções com outros grupos sociais influenciam sua maneira de pensar, de ser e de agir; e as percepções que o homem adquire nestas interacções com outros grupos sociais são fundamentais para a construção da sua identidade. A identidade, neste sentido, apresenta-se como um conjunto de aspectos intrínsecos ao ser ou como um conjunto de aspectos subjectivos ao homem, aspectos estes que revelam sua forma de entender o mundo e que moldam seu comportamento.