A FISIOLOGIA E A PROBLEMÁTICA DE IMERSÃO DOS MERGULHADORES...

A FISIOLOGIA E A PROBLEMÁTICA DE IMERSÃO DOS MERGULHADORES DO CORPO DE BOMBEIROS DA CAPITAL MARANHENSE

RESUMO 

Este trabalho enfoca as principais alterações do corpo humano em submersão aquática, e também demonstra a importância do trabalho dos mergulhadores do corpo de bombeiros fazendo o apontamento das principais dificuldades que estes têm nas diligências de suas atividades. Demonstra e evidencia a importâncias do conhecimento sobre os ajustes fisiológicos em condições especiais, bem como explicita as alterações ocorridas com base no conhecimento científico, e os procedimentos que são usados pela corporação de bombeiros da capital ludovicense nas operações de resgate e primeiros socorros. Além disso, evidencia-se a problemática da ausência de equipamentos autônomos para o mergulho no trabalho da corporação de bombeiros, equipamentos auxiliares no resgate subaquático. Para tanto, se utilizou pesquisa com abordagem quantitativa-qualitativa, após levantamento bibliográfico, os dados foram levantados por meio de um questionário contendo perguntas objetivas e abertas e houve uma observação critico-cientifica nas diligências dos indivíduos para que houvesse uma vivência dos fatos.

1  INTRODUÇÃO 

O meio líquido é um ambiente familiar ao ser humano no período gestacional. Quando se encontra no útero da mãe, há uma dependência do líquido amniótico para sobrevivência. Fora do útero, o meio líquido é estranho ao indivíduo, necessitando do processo de adaptação metabólica. Este processo se refere à capacidade de fornecimento de oxigênio ao sangue e outros tecidos e a condição de estar em homeostase.

O homem é um mamífero terrestre e a expansão de sua caixa torácica está relacionada às adaptações morfológicas que este adquire no ambiente, dentre os quais, o ambiente aquático, que promove o crescimento da caixa torácica devido à expansão exercida pelo pulmão, por meio da compensação, para melhor distribuir oxigênio.

       Em relação ao meio aquático abordaremos as limitações do ser humano e sua condição de adaptabilidade. Este conceito significa: 

É o nome que se dá à diferente assimilação dos estímulos, frente à mesma qualidade e quantidade de exercícios ou carga de treinamento. Ela pode ser atribuída à correlação organismo/ambiente, sob o ponto de vista da predisposição hereditária e sua expressão (genética) (GÜRTLER 1982, 35 apud WEINECK, 2000, p. 23). 

O mergulho requer uma boa aptidão física e adaptação do corpo ao ambiente subaquático e para tanto é necessário que haja preparação específica e direcionada. Embora possua caráter desportivo, a prática subaquática é relevante por possibilitar o resgate de indivíduos em afogamento, e mesmo em casos em que já tenha se confirmado o óbito. Justamente por esta relevância social do trabalho realizado pelo corpo de bombeiros ensina-nos (JUNIOR, 2003 apud CRFB 2003): 

Que legalidade dos serviços do corpo de bombeiros municipais visa proteger a incolumidade das vidas e dos bens, como dita seu lema “vidas alheias e riquezas salvar”. Essa é a parte que cabe à essa classe de órgão dentro do conceito de segurança pública do caput do art. 144 da Constituição da República federativa do Brasil (CRFB). 

A instituição do Corpo de Bombeiros do Maranhão tem em sua corporação membros que praticam o mergulho para trabalho de salvamento às vítimas de afogamento, sejam em praias, rios ou lagos. A prática freqüente de resgates no meio aquático requer um bom nível de aptidão física e um constante treino por parte destes indivíduos, que enfrentam muitas dificuldades neste meio, dentre as quais: baixa visibilidade aquática no litoral maranhense e quantidade insuficiente de materiais adequados.

Há um problema institucional no CBMA que se revela tanto no número reduzido de integrantes do corpo de bombeiros que realizam o salvamento de pessoas em perigo iminente de afogamento, quanto mergulhadores que fazem o resgate de cadáveres e/ou bens em águas profundas. Então, é importante ressaltar-se que, segundo constatar-se-á mais adiante, no Corpo de Bombeiros há dois procedimentos-padrão no diligenciamento debaixo d’água: primeiro, o do mergulhador, como dito acima, bem como o trabalho do guarda vidas que resgata vitimas que ainda manifestam sinais vitais.

Destarte, torna-se necessário ainda analisarmos fisiologicamente os indivíduos envolvidos neste processo, ou seja: tanto o sujeito em situação de afogamento, bem como o que realiza as manobras de salvamento; uma vez que, como afirma Torres (2004, p 42): “a performance no mergulho é influenciada pelo treinamento físico e de suas técnicas. Deste modo, o conhecimento dos ajustes fisiológicos auxilia na prática segura desta atividade”. Então, o preparo fisiológico daquele que salva torna-se fundamental durante a ação. Este indivíduo deve também ter conhecimento sobre as diversas reações corporais que ocorrem com a vítima em submersão e as limitações físicas que ora se apresentam.

A relevância do conhecimento sobre os ajustes fisiológicos durante a imersão não só interessa aos praticantes do mergulho, como também às diversas modalidades de esporte aquático: natação, pólo aquático, surf e nado sincronizado. Esportes em que é inevitável o ato de submergir.

Esta pesquisa, por conseguinte, pretende explicitar a relevância da corporação militar nos serviços prestados à sociedade bem como investigar se há capacitação, materiais e treinamento físico adequados para exercer de maneira satisfatória a referida atividade. Pretende-se com isso destacar a fisiologia do mergulho para que possa ser usado como material de estudo por alunos e profissionais da área de esporte e de educação física.  Faz-se também importante menção às condições geográficas naturais que dificultam o trabalho em condições hiperbáricas. 

Ademais, é ímpar conhecermos a opinião dos integrantes do CBMA sobre os motivos que dificultam os primeiros socorros no litoral maranhense para verificarmos se o nível de aptidão física por parte dos membros é satisfatório para um salvamento subaquático. E, deste modo, explicarmos, com base na fisiologia, as principais alterações ocorridas durante o mergulho no corpo humano; passando-se, para tanto, pelo estudo do nível de conhecimento do grupo pesquisado sobre as contra-indicações e alterações fisiológicas do mergulho; justamente com o fito de averiguarmos se o curso preparatório de mergulho realmente capacita os alunos para a prática dessa atividade no litoral maranhense, identificando-se, consequentemente, os principais locais utilizados pelos pesquisados para a prática do mergulho.

2    REVISÃO DE LITERATURA 

2.1  A adaptação do corpo ao ambiente hiperbárico 

Inicialmente, para entendermos o processo de submersão aquática no qual organismo humano ajusta-se ao meio é necessário entendermos o processo de adequação.

A adaptação é o processo durante o qual o organismo se acomoda e se ajusta aos fatores ambientais externos e internos (PLATONOV, 1999). O ambiente hiperbárico (sob pressão atmosférica) promove riscos potenciais. A prática de mergulho nesses ambientes, requer conhecimentos específicos sobre imersão e condicionalmente, adaptações fisiológicas específicas como, por exemplo, o processo de adaptação por complacência que, segundo (BRAGA, 2005 p. 5), “é a alteração voluntária em litros, que o pulmão sofre na inspiração, causada pela variação de um centímetro de água de pressão transpulmonar”. 

No caso, ao compararmos um individuo praticante que se encontra “habituado” ao meio aquático, com um individuo que não dota de adaptações específicas, observaremos anatomicamente uma caixa torácica mais larga nesses mergulhadores e outras adaptações peculiares, como um melhor ajuste no sistema respiratório para “proteção” contra as altas pressões.

É importante ressaltar que há um melhor aproveitamento de O₂ e aumento da capacidade de suportar CO₂ saturado. 

A preparação do corpo humano antes de mergulho é incondicional, pois há alterações benéficas do organismo como melhoria das trocas gasosas das células. Em um indivíduo treinado há diversas adaptações dentre elas:

Há um aumento de mioglobina, pigmento semelhante à hemoglobina capaz de fixar oxigênio ajudando no fornecimento através de (difusão) de O2 da membrana celular para as mitocôndrias, e também o aumento significante após oito semanas de treinamento do número e tamanho das mitocôndrias. Fox & Mathews (1991, p. 231)

Um condicionamento de caráter aeróbio proporciona uma melhor capacidade da circulação central no fornecimento de Oxigênio (O₂), assim como o melhor aproveitamento do O₂ pelos músculos ativados durante a execução do exercício, permitindo ao indivíduo o desenvolvimento da capacidade de sustentar por um período longo de tempo, uma atividade física em condições de equilíbrio fisiológico (homeostase). No mergulho, se temos reservas de O₂ promovidas pelo treino aeróbico, maior será o tempo submerso sem danos ao mergulhador. Segundo (SOMERS, 2004, p. 62): “Mergulhadores treinados têm uma diminuição significativa da resposta ventilatória de 10,5% de gás carbônico (CO₂), melhor utilização de O₂ e aumento da tolerância à elevação de CO₂ nos tecidos comparados a não-mergulhadores”.  Quando se há a elevação de CO₂ temos uma acidose metabólica, que é caracterizada pela ventilação ruim, o que aumenta a concentração de CO₂ no sangue que por sua vez diminui o pH do mesmo.

De acordo com o Manual da Merck (2009): “A acidose respiratória é a excessiva acidez do sangue causada por uma acumulação de anidrido carbônico no sangue em resultado de um insuficiente funcionamento pulmonar ou de uma respiração lenta”. Muitos mergulhadores usam da manobra chamada Hiperventilação (que é o aumento da quantidade de ar que ventila os pulmões, seja pelo aumento da frequência ou da intensidade da respiração) propositalmente para aumentar o tempo de apnéia.

Segundo Fox & Mathews (1991), também é verificada a maior oxidação de gordura celular em indivíduos treinados que possuem mais oxigênio fornecido aos tecidos e músculos, portanto maior capacidade de metabolizar a gordura fornecendo mais energia. A gordura contém mais energia que qualquer outro substrato energético e, assim, requer mais oxigênio para liberar cada caloria de energia. Neste contexto, um indivíduo que têm fixado mais oxigênio tem mais eficiência no metabolismo de gordura e sustentação de energia por mais tempo.

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