A Filosofia Face A Corrupção: Um Ensaio Filosófico Sobre O Maior  Mal Possível 

" Recorre-se a Filosofia quando a realidade em análise não parece tão óbvia " prefaceia Severino Ngoenha em Emergência do Filosofar de Chambisse. 

Quando pensei em escrever este ensaio, recordei Ngoenha não que ele seja meu ídolo, dado que, isso não passaria de sacrilégio filosófico em Francis Bacon, mas porque em Ngoenha encontramos com mais maturidade linhas e diretrizes suficientes que delineam o lugar da Filosofia em Moçambique não só no rolo curricular em qualquer programa de Ensino, como também, nas áreas afins.

Assim, ao longo dos tempos, não faltaram vozes ressonantes dando forças à ideia de que, de um lado, a Filosofia busca às causas primeiras e princípios últimos da totalidade do Ser como pensara Aristóteles, de outro, a Filosofia procura compreender as causas humanas e divinas como nos garantiu Cícero. 

No entanto, a teleologia aqui, não é dizer que Aristóteles está mais certo que Cícero e que, Cícero que Aristóteles, mas, demonstrar que, ambas visões coincidem quanto à finalidade embrionária da Filosofia que por excelência é a busca incessante pelo saber, daí que, vemos os filósofos a procurar saber algo a respeito de tudo e não ao contrário como procedem os cientistas. 

Assim, a ideia de que, o Mundo que vivemos não passa de efémero, pelo facto de estar em constante movimento, começou a ter sua síntese em Platão, quando este concluiu que, tanto Parmênides (com o seu imobilismo do Ser - fazia eco a apologia do mundo das ideias) de um lado, como Heráclito (com o seu tudo flui, descrevia o mundo que vemos como falso por este estar em constante movimento e que, a harmonia instaura-se após a luta dos contrários), de outro, faziam surgir mesmo inconscientemente o dualismo na história da Filosofia.

Foi então, a partir daí que, Platão encontra forças suficientes para dizer que, tudo neste Mundo não passa de meras cópias do mundo das ideias, razão pela qual, este Mundo é sensível dado que, o seu acesso é fundamentado na base dos sentidos humanos, portanto, nada é confiável neste Mundo nem mesmo este ensaio que está sendo lido por si. Platão, portanto, concebe o Mundo sensível como uma grande caverna.

Tudo na caverna é sombra. Os que estão nela estão acorrentados pelo reflexo das sombras. Quem liberta-se dela, porque viu a outra face da realidade que já não é a sombra mas o sol (razão) pensa em libertar seus semelhantes, aí é morto. Eis a missão do filósofo. 

O mundo verdadeiro é inteligível, habitado no seu topo pela ideia do Bem, no seu meio está o demiurgo (Deus criador do mundo sensível que, copiando a estrutura do mundo inteligível criou o mundo sensível - o mundo falhado) e na sua base estão os pequenos - grandes, aqueles seres que, purificam as almas antes dos seus encontros com o sumo Bem para suas posteriores reencarnações em outros corpos. 

Eis aí a teoria da metempsicose iniciada pela escola pitagórica e consequentemente desenvolvida por Platão. Teoria que, fundamentou a religião órfica de Trácio Orfeu e que, serviu de sustentáculo da religião pública na Grécia antiga.

De lá para cá, a Filosofia vem dando eco a ideia de que, "S ainda não é P". Ou seja, os filósofos guiados pela alma racional, vem defendendo a noção de que, o Mundo que vivemos não é o Mundo que merecemos.

Até porque, Antoninho Alfredo - docente da Universidade Rovuma, mestre em Educação, reflecte necessariamente a lição ligada à Universidade que temos para Universidade que queremos, confirmando deste modo, a veracidade da tese segundo a qual, "a Filosofia é um sim mas ainda não" tese esta defendida por Ngoenha nas suas "Notas Estéticas" quando o filósofo analisa o momento africano senão também moçambicano da concepção estética.

Assim, por detrás do "S ainda não é P" está ancorada a verdade de que, existem males que sofocam a existência humana na Terra. Aliás, para além da variedade dos males, o próprio mal já é o pior sufoco da existência humana.

Santo Agostinho, advertiu a necessidade de aprofundarmos o problema do Mal (corrupção) dado que, envolve causas últimas diferentes e princípios primários profundos (Aristóteles). 

Santo Agostinho, portanto, coerente com a sua advertência, pensa primeiro no mal humano, por este concorrer para imputar a sua responsabilidade a Deus todo-poderoso o que para o Santo, não passa de uma ingratidão por parte da humanidade, porque Deus estabeleceu no Homem o livre-arbitrio que, quando deluido significa "o problema é seu, pare de meter Deus nos resultados da sua escolha", só depois é que dedica o seu tempo ao segundo mal que não preocupa-lhe tanto por este mal ser natural. 

Claro que hoje, o Santo, se interessaria ao segundo mal como interessou-se ao primeiro, porque com o avanço da tecnologia com os seus derivados, com a emissão de grandes quantidades de gases, vemos o Planeta Terra cada vez mais ameaçado e acima de tudo, condenado a extinção. 

Os sucessivos ciclones que fazem seus trajectos no canal de Moçambique, por exemplo, afectando directamente vidas humanas e indiretamente empreendimentos sociais, são uma prova inequívoca de que, nem sempre o homem colhe o que planta. 

A desgraça da raça humana, agudizou-se quando certas Nações outorgando-se o direito de emitir mudanças sociais, resolveram instalaram grandes fábricas que, passaram a poluir a Atmosfera e, as Nações pobres transformaram-se em meras receptoras dos frutos desse mal. 

É por auxílio desta lógica que, chamo a necessidade da aplicação do princípio poluidor - pagador, como forma de desafiar as grandes Nações a responsabilizarem-se no reparo dos danos que os efeitos das suas ações podem causar nos países atrelados às doações do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial - os grandes deuses terrenos que merecem súplicas e absolvições todos os dias.

Iniciei este ensaio atrelando-me a Ngoenha no que diz respeito ao momento em que a Filosofia é recorrida em Moçambique. Logo, a sua pertinência! A motivação de atralar-me a Ngoenha, justifico a seguir. Presta atenção, meu caro.

Em Ngoenha do prefácio da Emergência do Filosofar de Chambisse, é possível encontrar mesmo sem tanto esforço, a ideia de que, quando houve necessidade de incutir valores de patriotismo alicerçados no disfarçado comunismo marxicista-leninista nos jovens do Moçambique que acabava de astear sua Bandeira Nacional em 25 de Junho de 1975 (pertinência ética) e, valores que sustentam o núcleo da Paz e unidade nacional que tanto o País precisou após a Guerra Civil de 16 anos entre a Frente e a Resistência;

Quando pensou-se que, os jovens do Moçambique nascente deviam equacionar os seus conhecimentos com os métodos da modernidade (pertinência epistemológica), como forma de demonstrar a importância do maior envolvimento dos cidadãos na participação política (pertinência da filosofia política), aí vimos a mando do então Ministério de Educação e Cultura a Filosofia a ser chamada para fazer parte do rolo curricular do Sistema Nacional de Educação.

E, quando a Filosofia conseguir cumprir a risca com os propósitos que motivaram o seu chamamento ao conjunto do rolo curricular? aí então, é bem provável que, ela deixe de ser pertinente em Moçambique, aliás, o executivo moçambicano já avançou com a Lei que altera profundamente o Sistema Nacional de Educação, Lei que empurra a disciplina de Introdução à Filosofia para o Grupo "C", isto é, Grupo de Ciências com Desenho. 

No entanto, a tal tentativa de negar a Filosofia é já uma forma de fazer Filosofia, (neste caso, a pior forma de fazer Filosofia), logo, a Filosofia é inevitável. E, remato, mesmo contra a vontade dos políticos corruptos, a Filosofia é necessária. 

A Filosofia não aceita passivamente nenhum poder seja ele econômico, ideológico inclusive político-(classificação de poderes na visão de Bobbio). 

A Filosofia não tolera a absolutização do Estado muito menos o culto de personalidade da pessoa do Presidente. 

A Filosofia denuncia (como fizera Adorno com a indústria cultural) a tiranizaçao dos partidos políticos. Por isso, a todo o custo, o executivo tenta limitar o lugar de actuação da Filosofia. Quê menoridade por parte do executivo!

A Filosofia concebe toda realidade que circunda o homem com um certo rigor e radicalidade, de um lado e, com uma profunda dúvida e insatisfação, de outro lado. Por isso, a mente do filósofo está sempre inquieta. 

A Corrupção portanto, é sem dúvidas, uma realidade que, não escapa ao olhar crítico da Filosofia, porque tal como Deus, a Corrupção é uma realidade que parece personificar-se nestes últimos tempos do século XXI.

A Corrupção Na História"

"Quem leu a história da humanidade sem pressas percebeu que, a desobediência é a virtude original do homem", concluiu Oscar Wilde.

De facto, Oscar Wilde. Quem na verdade, deu-se tempo suficiente para analisar a história humana sem ser possuído por ídolos de teatro (Bacon) ou pré-juizos (Gadamer), compreendeu que, há garantias suficientes de que, a corrupção é tão velha quanto é velha a história da humanidade. 

O primeiro sustentáculo da tese acima exposta é de que, logo que, o Homem achou-se no Mundo, viu-se disprovido de sentido. 

Eis aí, o princípio primário da corrupção! Este princípio primário (Aristóteles) é justificado pela causa divina (Cícero) que conserva a ideia de que, Deus criou o Homem sem sentido, de forma a mostrar que, a missão do Homem no Mundo é a procura incansável do sentido para a sua existência. 

Para Husserl (século XIX-XX), Homem é fenômeno. E, por conta disso, o Homem está longe de se adaptar às estruturas do pensamento.

Heidegger (século XIX-XX), acrescentaria rematando que, o Homem é "daisen", um Ser que sendo "lançado aí" está condenado a manifestar-se rumo a busca de significações para a sua existência. 

Para Sartres (século XX), o Homem portanto, nem é isto e nem é aquilo. Ele é aquilo que quiser se tornar. Dizia o o filósofo sine metu, (sem medo) do inferno de Dante Alighieri.

Não é por acaso que, o Homem veio nú ao jardim do Éden. Para além de achar-se nú, logo sem sentido, o Homem viu-se com estômago vazio. Eis aí, a principal causa humana (Cícero) que fecundou a corrupção. Que fique bem claro de uma vez por todas, a corrupção aqui é o desvio da humanidade diante da moralidade.

Ainda rezam os escritos que tenho em posse, que, o Homem permaneceu na terra por muito tempo de forma inconsciente, até que, apereceu a serpente que veio regar a árvore plantada por Deus, localizada no meio do jardim. Depois de regada, o Homem é que veio a colher o seu fruto. Lembra-se meu caro, quando no princípio deste ensaio dizia que, nem sempre o Homem colhe o que planta? É isso mesmo. Nem sempre o Homem colhe o que planta. 

A justificativa é está de que, Deus plantou a árvore; A Serpente regou e; o Homem colheu. A quem meu caro coloca a culpa? Não será angustiante a sua resposta? Seja qual for a sua resposta, mas de acordo com os esquemas que abastecem o meu pensamento, a culpa recai a quem plantou a árvore porque podia não ter plantado a árvore. Mas este debate deixo para depois, dado que, a missão aqui é ainda embrionária.

Prossigo. Depois de ter colhido o fruto da árvore, o Homem permaneceu corrompido. Diante dessa corrupção, o Homem sentiu a necessidade de não só conservar como também transmitir alguns valores dignos de ser seguidos por seus semelhantes, foi aí que surgem a educação. 

A educação foi então, o único meio encontrado pelo Homem para reservar e transmitir valores que foi criando ao longo do tempo. O pressuposto que sustenta esta ideia é de que, o Homem viera com carácter corrompido. Por isso, não tardou o emergir dos primeiros pedagogos que se davam a dura missão de concertar o carácter corrompido do Homem, para a sua posterior humanização e civilização.

Aos pedagogos era-lhes dado um Homem e eles devolviam um Humano. Quê bonito é! Mas não é o que parecia quando comparado com o trabalho que os pedagogos prestavam. Pois eles deviam trabalhar arduamente para moldar a nova personalidade no indivíduo, sempre tendo em conta a disposição da alma à práctica do Bem. A busca da excelência norteou a educação nos seus primórdios. 

Todos os pensamentos que a história de Filosofia tem em posse que ja tive a sorte de sentir seus aromas (Byung-Chul Han, em acto), permitiram-me chegar ao entendimento de que, a corrupção do Homem sempre foi preocupação da Filosofia e continua ainda, embora com denominações que parecem não relacionarem-se com a corrupção. 

Maquiavel (século XV-XVI), não hesitou ao concebeu o Homem como mau por natureza daí que, o príncipe deve considerar o Homem como réu que está a espera de pequena oportunidade para praticar o mal e que se faz o bem é por falta dessa oportunidade. 

Hobbes (século XVI-XVII), também louvou Maquiavel e como demostração desse reconhecimento à Maquiavel, Hobbes acrescentou afirmando que, o Homem é lobo do outro Homem e rematou, se o homem faz o bem é porque falta-lhe oportunidades para fazer o mal. 

Rousseau (século XVIII), tentou roçar a raça humana, ao conceber o Homem como um bom selvagem e que se se torna mau (Maquiavel e Hobbes) é porque "a sociedade o corrompe". 

É exatamente isso que, andei a procura ao longo deste tempo todo. A busca assumida pela história da Filosofia, de pelo menos, um filósofo que considera a corrupção como um mal que está na origem dos restantes males. 

A Filosofia é isso. A demanda incessante pelo saber. E não a sua posse. Pois, a sua posse equivale a sofisma. E, sofisma não é mais do que falácia.

Rousseau, (um gênio a sua maneira), quando perguntado sobre como via a sociedade do seu tempo e, o público esperando dele uma resposta a favor da maioria (como Lipovetsky faz hoje) mas contra a expectativa do público, ele rematou: a sociedade moderna está corrompida. 

A culpa é do capitalismo que pariu a propriedade privada e que esta aumentou as desigualdades sociais perpetuando deste modo, a desgraça da classe proletária que vende-se como mercadoria, crítica essa que, seria levada a sério por Marx no século XIX.

Portanto, se a causa última da corrupção do Homem e consequentemente da sociedade já que, o Homem é por natureza um animal social (Aristóteles) embora a socialiblidade do Homem seja neutralizada pela insaciabilidade do Homem, como defendido por Kant (séculos XVIII-XIX) pelo facto de, o Homem ter estômago vazio, foi denunciada por Rousseau, então resta-me dizer com todas minhas forças (se é que ainda as tenho) que, não paro por aqui, que vou prosseguir até compreendeu a corrupção enquanto desvio da humanidada diante da moralidade. 

Missão fácil? Não sei, lamento dizer. É o mínimo que posso dizer. Meu caro, quer parar de fazer-me companhia neste escuro que procuro o gato preto? Quer mesmo? Sinta-se a vontade. E, siga em frente. Pois, o caminho é lá. Que tenha bonna voyage! 

Como dizia, o Homem encontrou na educação a via que permitiu-lhe conservar para transmitir valores do Bem que, foi achando como artefatos dignificantes da sua presença na terra. 

Mas, nem sempre a educação conseguiu fazer isso, porque enquanto a educação apela o uso constante e consciente da razão, o Homem em variadas vezes age confiando nos seus instintos como reprodução, alimentação, fuga e agressão (classificação de instintos comuns entre os Homens e os demais animais em Kolbberg), daí que, nasce o Direito e a sua consequente instituicionalização em Tribunais. 

Os Tribunais foram instituídos pela Igreja na Idade Média, (embora haja a intenção de considerar a Assembleia que condenou Sócrates na Atenas de tribunal), necessariamente para julgar de herasias àqueles pensadores que ousavam contrariar às escrituras sagradas, ou pelo menos a interpretação das mesmas. 

Se a primeira não basta para convence-lhe, talvez, deixe-se convencer por esta de que, os tribunais foram instituídos porque, a educação falhou na sua missão embrionária de moldar o ethos humano para a práctica do bem. Mas se as duas não conseguiram convence-lhe, o problema é seu. Ouviu? O problema é seu. Pare de meter-me nos seus problemas, seu tonto. Está? (Risos).

Agora entendo por que é que, nas aulas de Ética I, II, III e IV, a mestre Rosalina Moisés (que esteja a descansar em paz), insistia que, a questão que sempre não quis calar é: porque com tantas teorias éticas apelando a prática do bem, o Homem continua a practicar o mal? Quer responder? Calma aí meu caro, não me responda aqui. Faça o seu ensaio. Aqui falo eu. Você escuta. Esta é a minha vez de gozar na sua cara seu tonto.

Assim, ao nível do ordenamento jurídico moçambicano, a questão ligada à corrupção é descrita (como de sempre, sem muita energia por parte do legislador) no Código Penal, revisto pela Lei número 24/2019 de 24 de Dezembro. 

Neste Código Penal, no seu capítulo II que fala da corrupção e crimes conexos, na sua sessão I, dirigido ao sector público e, nos seus artigos 425 (corrupção passiva para acto ilícito), 426 (corrupção passiva para acto lícito) e 427 (corrupção activa), fica a impressão de que, a corrupção é a solicitação (activa) ou aceitação (passiva) de uma vantagem do património do Estado para benefícios pessoais, portanto, alheios à dignidade do Estado que se diz soberano e de direito.

Quando deluido este pensamento fica: se o servidor da coisa pública (Res pública do latim), no exercício das suas funções, pretender por exemplo, "vender" às vagas destinadas ao público, ele está a cometer crimes de acordo com os artigos acima citados. E, a sua pena de prisão ronda entre 1 a 8 anos e multa até 2 anos (em casos da corrupção passiva para acto ilícito); de 1 a 5 de prisão e multa de 1 ano (corrupção passiva para acto lícito). 

Mas então, o que nos garante de que, o nosso Direito não está corrompido? Está é a questão que pretendo esclarecer nas linhas que se seguem. Desde já, chamo a sua atenção, meu caro. Vamos?

A primeira grande resposta é de que, não há garantias. A segunda e a última é de que, lamento dizer isso. Portanto, a seguir apresento-lhe como equaciono estas respostas. Siga-me e aprenderá.

Não há garantias que o Direito não está corrompido. Começo por analisar este posicionamento tendo olhares no contexto moçambicano. 

Neste contexto, a corrupção é o pão de cada dia. Todas as instituições do Estado enfrentam este flagelo existencial. O ramo da PRM (Polícia da República de Moçambique) a reprentar o topo da pirâmide.

Há que diga que não há voltas. Assim que arrancamos o importante é se adequar à está nova realidade. Continuam eles com almas conformadas! No entanto, instituiu-se o Gabinete Central contra a Corrupção, mas o mesmo está apunhalado aos interesses do politicamente incorreto (Pondé). Os concursos públicos estão asfixiados às "ordens superiores".

A educação, deixou de ser o meio que garante a integridade da justiça (distribuição equitativa de oportunidades) e passou a ser a via para a efetivação das desgraças dos desfavorecidos. 

A educação, virou para a obediência das ordens superiores e não um meio para a emancipação como queria Adorno.

A excelência, (o fulcro da educação) foi substituída por competências. Mas, quando há concurso público, a competência é deixada de lado, valendo apenas a exibição do capital (aquele parasitário de Bauman).

Deixou-se de se lutar contra a corrupção. Passou-se a lutar contra quem combate a corrupção. Marginalizar os jovens com formações académicas não é combater quem irá combater a corrupção?

Instar a juventude a se contentar com o empreendorismo, enquanto os filhos das altas individualidades ganham bolsas de estudo para o Ocidente, não é marginalizar os jovens? 

Usar os jovens nas campanhas eleitorais e depois descartá-los no momento da tomada de decisões para o desenvolvimento sustentável do País, não é marginalizar os jovens?

Cobrar dinheiros ao jovem que acaba de graduar para o seu ingresso na função pública, não é marginalizar a juventude que não tem dinheiro?

Portanto, enquanto o Estado moçambicano marginaliza os jovens, o Ocidente marginaliza o Estado moçambicano. A prova disso é que, F.M.I em nome do Ocidente, desafiou o Estado moçambicano a envidar esforços para que o flagelo existencial (corrupção) seja combatido. Só assim, é que, retornará o financiamento ao Orçamento Geral do Estado. 

Missão fácil? Nem pensar. 

O Estado moçambicano, tem que, primeiro, varrer a Presidência da República, passando pelo Conselho Constitucional e, consequentemente a Procuradoria Geral da República. 

Deve também, apertar os circuitos do Aparelho do Estado, sacudindo a poeira nos vastos Ministérios que o País ostenta sem tanta necessidade. 

Daí, deve sintonizar melhor as antenas dos governos províncias e suas consequentes direções distritais. 

Aí é possível que, a corrupção possa ser erradicada e, a confiança voltar aos olhos dos credores. O Presidente da República de Moçambique, engenheiro Filipe Jacinto Nyusi, veio a dizer com muita alegria que, quando ele fosse para o Ocidente, chamavam-lhe de "Presidente dos ladrões" e na verdade, era triste isso. Mas muito triste mesmo. Quê coitado!

Agora que, os credores prometeram voltar para Moçambique, o Presidente fica feliz e, abençoa este regresso com promessas de combate veemente à corrupção. Aliás, ele foi desafiado a fazer isso. Pois nunca teve vontade de o fazer por iniciativa própria. Quê a história deste País diga o contrário!

Mas, mesmo assim, não há garantias de que, esta promessa será cumprida, atendendo que, ainda prevalece o cabritismo do antigo Presidente, Joaquim Alberto Chissano (o cabrito come onde está amarrado - só faltou acrescentar: de acordo com o tamanho da corda) nas instituições do Estado, incluindo nas altas instâncias da Justiça Nacional. 

Não há garantias de que, a corrupção será erradicada facilmente porque, ela já está personificada nas veias pulmonares intenstinais, nos testículos e acima de tudo, está instalada não só, no sistema nervoso, como está no fémur dos moçambicanos, de um lado e, de outro lado, falta vontade da parte dos nossos dirigentes de posicionarem-se na vanguarda desta luta. Até porque, são os primeiros beneficiários. 

E, tem outra coisa que preciso dizer para si meu caro. Qualquer acção que for realizada pelo executivo moçambicano sob pressão do F.M.I ou outro gigante econômico, não merece uma avaliação ética, porque a tal acção não envolve agentes livres (sujeitos morais), conscientes das suas intenções e responsáveis dos efeitos da acção. Somos marionetes de agendas que nos são alheias. Mas mesmo assim, ainda nos resta a liberdade de dizer "não" ou de abstenção. Será?

Há  quem me considere de apologista disfarçado dos comportamentos irresponsáveis desviantes que os dirigentes demonstram quando ascendem o topo da pirâmide governativa no nosso País. Bem, se você pensa assim sobre mim, não constitui problema algum, pois como dizia Karl Popper, e estou de acordo com ele, a ciência só progride quando os enunciados que compõem a teoria científica forem passíveis a falseabilidade e isso faz com que, o leitor ganhe tesão e resolva escrever um ensaio falseando este.

Mas porque em fundamentos de Ética dissemos que, nem sempre uma acção pode ser considerada moralmente válida. Pelo facto de ter exigências éticas a respeitar, é quando pensei em determinar as acções realizadas pelo executivo como as que carecem de avaliação ética. Pelo menos, usando Kant como paradigma viável.

O que importa em Kant, quando descutimos acção humana é a intenção que está por detrás da acção e não a própria acção e nem o que virá depois da acção ser realizada como pensara Bentham. Perguntaria a si, o que motivou a intenção do Presidente Nyusi ao ponto de declarar a luta contra a corrupção? Se a resposta for FMI, então, não há agente moral.

Pelo facto de ser signatário da SADC na área de Educação, Moçambique viu-se obrigado a alterar a Lei do Sistema Nacional de Educação. Só para harmonizar os interesses da SADC. Viu?

O executivo moçambicano, ao declarar guerra contra a corrupção não está a proceder por vontade própria. Não teve boa vontade, (Kant) de o fazer ontem, vai ter hoje? Logo, é coagido por forças externas. 

Um outro exemplo. Porque ostenta uma longa história rica de dívidas para com a Rússia, o Estado moçambicano não viu outra saída senão obster-se na votação que condena a incursão militar russa na Ucrânia. Viu meu caro? Não existe nada de graça nesta Terra. Até porque, a própria graça divina é conquistada pelo esforço de ligação do homem para com Deus.

O Estado moçambicano está desprovido de capacidades cognitivas de deliberação moral nas suas decisões. Ele faz isso, porque alguém manda. É refém da obediência dos imperativos hipotéticos. "Se não faz isso, terá aquilo" é assim como funcionam os estados modernos que estão na cauda do Mundo livre. Mas, Moçambique continua livre de dizer não ao Ocidente, assim como absteve-se parecendo estar a favor da Rússia na guerra com Ucrânia. 

É por estas razões que, defino a corrupção como o desvio da humanidade diante da moralidade. A humanidade recuou-se da práctica do Bem. Ou se se practica o Bem é por resultados esperados (utilitarismo) e não o bem por bem. 

O conhecimento (que é um bem, uma virtude) hoje deixou de ser prioridade para maioria (mas também nunca foi) e, quem preocupa-se por ele hoje, não passa de desgraçado, de um morto de fome. 

O mundo está a busca do dinheiro e não do conhecimento, por isso, a religião que sobreviverá será aquela que, providenciar paraísos aos seus crentes cá na Terra. O inferno será o País que não se adequar aos esquemas do Mundo hiper-líquido (Lipovetsky e Bauman). 

Estamos no tempo de comissões. Não será por acaso que, na tenda da BO, apenas julgaram comissões do maior escândalo financeiro desde que Moçambique asteou sua Bandeira Nacional, em 25 de Junho de 1975. 

Mas então, por onde foi a grande parte deste calote? Meu caro, sobre a grande parte não nos é permitido saber e, presumo que, seja esse o segredo que está na posse do Epimeteu. Sei lá do Prometeu.

Não se esqueça que, desaguei até aqui como forma de demonstrar que, não há garantias de que, o direito não é corrompido. A segunda resposta é de que, lamento dizer. E, por que lamento dizer isso?

Porque, a corrupção é um mal que proliferou-se neste mundo possível (Leibniz). Neste mundo possível, a aprendizagem significativa (David Ausuber) é por modelagem (Alberto Bandura). 

Se, os nossos dirigentes solicitam (corrupção activa) e nós aceitamos (corrupção passiva) ou se, nós solicitamos (corrupção activa) e eles aceitam (corrupção passiva), avultados maços de dinheiro com a expectativa de termos uma vantagem à margem do património do Estado, então corremos o perigo de considerarmos esta acção como uma aprendizagem e os nossos dirigentes como nossos modelos. 

E se isso acontecer, então, garanto que, os descendentes dos dirigentes de hoje, terão que, passar por isso amanhã. Logo, voltamos para aquela história de que, o homem nem sempre colhe o que planta. Lembrou-se? Se a resposta for não, o problema é seu. Eu já falei disso aqui.

Aí caímos num círculo vicioso repito. Pois, se a auto-realização (Abraham Maslow), é a meta da existência humana, ela não deve ser sustentada pelo enriquecimento ilícito que é crime ainda de acordo com o Código Penal moçambicano. 

Portanto, se não existe em Moçambique, algum dirigente hoje que, quer que seus descendentes sofram amanhã às consequências dos actos do tal dirigente, então, que volte à moralidade, repito, que voltemos à moralidade, pois toda acção que não pode ser universalizada, não deve ser sustentada. Ela deve ser denunciada como este ensaio procura fazer, embora com muitos devaneios. Os filósofos sempre são assim! (Risos).

Se a corrupção não deve ser passível a transformação de uma Lei universal (Kant), então ela, não deve ser práctica administrativa do nosso executivo. O contrário também serve.