RESUMO:

Este trabalho vem mostrar a importância da filosofia no processo de ensino e aprendizagem nas escolas, universidades e outras instituições de ensino, sendo que ela contribui para o incentivo à pesquisa por intermédio de seus questionamentos, conduzindo a uma aprendizagem constante do estudante no exercício da aprendizagem. A filosofia baseia-se no estudo de questões da existência humana, proporcionando uma reflexão voltada aos acontecimentos da humanidade através de reflexões e debates que estimulam os processos cognitivos, melhorando a potência de raciocinar e de pensar, servindo como um recurso valioso na prática do ensino e aprendizagem. Este artigo objectiva-se a mostrar a necessidade de se implementar abordagens filosóficas nas salas de aula, de maneira a incentivar os estudantes a pensarem por meios próprios, a compreenderem os fenómenos do mundo que os rodeia, a se tornarem pensadores e terem domínio em diversas áreas do saber. 

Palavras-chave: Filosofia; Abordagens Filosóficas; Processo de Ensino e Aprendizagem.

ABSTRACT:

This work shows the importance of philosophy in the teaching and learning process in schools, universities and others educational institutions, being that she contributes to the stimulation of research through its questions, leading to a constant learning of the student in the exercise of learning. Philosophy is based on the study of questions of human existence, providing a reflection on the events of humanity through reflection and discussions that stimulate the cognitive processes, improving the power of reasoning and thinking, serving as a valuable resource in the practice of teaching and learning. This article objective to show the necessity to implement philosophical approaches in classroom, in order to encourage students to think by their own means, to understand the phenomena of the world around them, to become thinkers and have domain in several areas of knowledge. 

Keys-words: Philosophy; philosophical approaches; Teaching and Learning Process.

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo mostra a importância de se utilizar abordagens filosóficas no processo de ensino e aprendizagem nas escolas, universidades e em outras instituições de educação.

Consta-se que a filosofia sempre foi, desde os seus primórdios, um meio para a elaboração de pensamentos e teorias, ajudando no aperfeiçoamento dos processos mentais, formando pensadores e críticos em vários ramos do saber humano – por esse meio, este trabalho dedicou-se a apresentar a utilidade da filosofia nas salas de aulas, de forma a suprir o educador com atitudes filosóficas para ensinar e incentivar a cultura do questionamento, da reflexão e do debate para a boa aprendizagem dos educandos.

A filosofia é um campo do conhecimento que estuda de forma lógica, baseada na razão, as questões da existência, o homem, o modo de viver, a cultura, os valores, a origem e a linguagem, como menciona Chauí (2000, p.11):

A Filosofia seria a arte do bem viver. Estudando as paixões e os vícios humanos, a liberdade e a vontade, analisando a capacidade de nossa razão para impor limites aos nossos desejos e paixões, ensinando-nos a viver de modo honesto e justo na companhia dos outros seres humanos, a Filosofia teria como finalidade ensinar-nos a virtude, que é o princípio do bem viver.

Assim, a filosofia deve ser encarada como um campo do saber ligada directamente à educação, sendo que com ela, o ensino e aprendizagem tornam-se um processo completo, e sobre isto, Teixeira (1968) conceitua: “Se educação é o processo pelo qual se formam as disposições essenciais do homem – emocionais e intelectuais – para com a natureza e para os demais homens, filosofia pode ser definida como a teoria geral da educação.” A filosofia é portanto a busca constante do conhecimento, dando-nos visões claras sobre os factos.

2. TENDÊNCIA PROGRESSISTA LIBERTADORA

A Pedagogia Libertadora, também conhecida como Pedagogia de Paulo Freire, visa numa educação crítica ao serviço da transformação da consciência social, onde o professor actua como um libertador da consciência do estudante, fazendo-o ter a percepção crítica em relação à vida social e ao mundo que o cerca. O pensamento de Freire (1992), objectiva-se na construção de uma sociedade mais justa, formando e preparando o estudante para adequar-se aos diversos elementos existências que a sociedade traz no seu currículo evolutivo.

É necessário assim, que se implemente nas instituições de ensino, a cultura de uma pedagogia libertadora, que leva o estudante à reflexão, relacionando a aprendizagem académica com os seus dilemas sociais e com os fenómenos do mundo, tornando-o assim, um pensador e um fazedor de opinião, possibilitando-o a analisar logicamente os conteúdos que recebe e confrontar os novos saberes com os velhos para se chegar à ideias lógicas e acertadas, podendo inclusive, recorrer-se ao método cartesiano.

3. O MÉTODO CARTESIANO

O Método Cartesiano é de natureza filosófica, criado pelo filósofo René Descartes, que consiste em um cepticismo metodológico, duvidando de tudo que se pode duvidar, levando a uma investigação metodológica para se chegar a uma certeza. Esta abordagem cartesiana pode ser utilizada nas salas de aulas, para dar incentivo ao estudante, levando-o à prática da investigação.

Este método consiste em quatro passos:

O primeiro passo consiste em não aprovar precipitadamente um novo conhecimento como certo, isto é, duvidar sempre de um conhecimento que não apresenta clareza e consistência; O segundo passo consiste em dividir por partes o novo conhecimento, isto é, dividir o problema em várias partes possíveis para se estudar cada parte em particular para uma compreensão; O terceiro passo consiste em resolver primeiramente as partes de simples entendimento e terminar com as partes que apresentam um maior grau de complexidade - neste passo, também se agrupa novamente as partes separadas em um todo; E por último, o quarto passo, consiste em fazer revisões dos últimos três passos, enumerando as conclusões e certificando-se de que nada ficou de fora.

Esta abordagem pode ser usada nas salas de aulas, sobretudo das universidades, onde a investigação é encarada com maior rigor. O professor pode utilizar esta abordagem, trazendo um problema para os estudantes resolverem utilizando o método, de forma a adquirirem um conhecimento verdadeiro, sendo que, os estudantes, também podem utilizar este método nos seus estudos individuais.

4. INTERDISCIPLINARIDADE

                A filosofia desde muito tempo, actua como um campo do conhecimento universal. Ela relaciona temas de vários campos do saber, permitindo ao estudante ter domínio em diversas áreas do conhecimento, como aponta Mondin (1980, p.6): “(…) enquanto as ciências estudam esta ou aquela dimensão da realidade, a filosofia tem por objecto o todo, a totalidade, o universo tomado globalmente.” Por esta razão, abordagens filosóficas no processo de ensino e aprendizagem permitirá ao estudante adquirir domínio em diversas áreas do saber, mediante à pesquisas e debates.

5. DIALÉTICA PLATÓNICA

                A Dialética Platónica, definida como a arte de dialogar, de debater, de persuadir e de raciocinar, pode ser usada em qualquer instituição de ensino, pois pelo debate, o estudante adquire um senso crítico da realidade, chegando à produtividade intelectual através da discussão com os outros, como realça Demo (1990): “A Dialética em primeiro lugar é convite insistente à discussão e à prática, à criatividade, ao diálogo crítico e produtivo.” A Dialética consiste em uma forma de filosofar através de ideias contrárias com o objectivo de se chegar à uma reconciliação das contradições.

Tanto é que, o estudante, através das ideias dos outros, avalia as suas ideias preconcebidas, produzindo assim novos conhecimentos, fazendo-o chegar ao real significado das coisas – e para isso, ele precisa filosofar, isto é, criar seus pensamentos e apresentar seu conhecimento construído.

6. RETÓRICA, ORATÓRIA E ELOQUÊNCIA

A Retórica é definida como a arte de falar bem, a arte de exprimir-se com a palavra. Ela é sempre mencionada juntamente com a Oratória, que é a arte de falar ao público. Por outro lado, a eloquência é a arte de exprimir-se com facilidade, isto é, a arte de convencer, de gesticular acertadamente ou comover por meio da palavra.

                Actualmente, o mundo profissional ou corporativo requer um domínio no uso da palavra para a resolução de conflitos e para os relacionamentos, assim, o ensino destes três elementos possibilitará um rendimento sustentável no processo de ensino e aprendizagem que formará pessoas capazes de enfrentar as mais diversas situações da sociedade por intermédio da palavra e do bom uso da mesma, o requer a necessidade de se adoptar alguns métodos na sala de aula.

O método da “fala de 5 minutos”

O método da fala de 5 minutos consiste em o professor dar a cada estudante 5 minutos no fim da aula para falar sobre qualquer assunto em frente de seus colegas.

A filosofia não só é um meio eficaz para reflexão e argumentação, como também é um recurso indispensável para os estudantes poderem eliminar o medo de falar em público ou mesmo o medo de falar. Pois, no decorrer de debates, o estudante acostumar-se-á a falar, eliminando a timidez e o medo.

Assim, este método permitirá ao estudante cultivar o hábito de falar, podendo também, aos poucos, dominar a arte da retórica.

O método socrático (maiêutica)

                O Método Socrático é uma técnica de investigação filosófica ou um diálogo filosófico, utilizado primeiramente, pelo filósofo grego Sócrates, em que o professor conduz o estudante a uma reflexão que o possibilita avaliar o seu conhecimento sobre uma dada realidade, levando-o a descobrir os seus próprios valores. Este método divide-se em quatro fases: Exortação, Indagação, Ironia e Maiêutica.

                Na exortação, o professor convida os estudantes para um debate; Na indagação, o professor lança um tema que sirva de objecto para o debate; Na ironia, o professor prossegue o debate com perguntas directas sobre o tema, com a intenção de fazer com que os estudantes reflictam até à exaustão sobre aquilo que pensavam saber, fazendo-os livrarem-se das ideias preconcebidas sobre aquele tema; A maiêutica, a fase final, é a descoberta de um novo conhecimento. O trecho a seguir mostra o diálogo Mênon de Platão, uma conversa de Sócrates com seu discípulo, mencionado por Marcondes (2007, p.36)

SÓCRATES: (...) E agora, Mênon, vê que progressos ele já fez em termos de memória? (...) mas antes achava que sabia e respondeu confiante como se soubesse, sem ter consciência das dificuldades; ao passo que agora sente a dificuldade em que se encontra [...] você acha que ele teria tentado investigar ou aprender o que pensava saber, quando não sabia, se não fosse reduzido à perplexidade (…)?

                O Método Socrático ajuda-nos a entendermos que muitas coisas que achamos serem do jeito que são, na verdade não são - assim, o professor serve como guia para esta descoberta, fazendo perguntas, criando um clima de reflexão, levar os estudantes a livrarem-se de ideias preconcebidas e guiando-os para o real conhecimento sobre aquilo que desconheciam mas que achavam conhecer.

7. INCONFORMIDADE

A filosofia, atendendo ao seu carácter questionador, ajuda o estudante a sair da conformidade, isto é, a não limitar-se com aquilo que aprendeu com o professor e a não se contentar por ideias preconcebidas, fazendo-o investigar para confrontar o conhecimento aprendido. Souza (2004), diz que “quando o aluno vai se tornando capaz de avaliar o mundo em que vive como um todo orgânico, é a partir daí que ele passa a ocupar crítica e racionalmente seu espaço social (…).” Assim, mediante a inconformidade, o estudante recorrerá à reflexão que de certa maneira, o ajudará a enxergar novos saberes.

8. ÉTICA

                A Ética é um campo da filosofia que lida com o que é moralmente certo e errado. Objectiva-se na implantação de uma sociedade justa, onde os que nela habitam possam relacionar-se de forma pacífica, como aponta Alencastro (1997) “a ética está relacionada à opção, ao desejo de realizar a vida, mantendo com os outros relações justas e aceitáveis.” Ensinar Ética na sala de aula é uma atitude inteligente. Com o ensino da Ética o estudante aprende a situar-se na sociedade e a analisar os seus actos, procedendo da melhor forma nas diversas situações.

9. FILOSOFIA NA FORMAÇÃO DO EDUCADOR

                Atendendo à necessidade de implementarem-se abordagens filosóficas no processo de ensino e aprendizagem, cabe também ao professor saber como implementar essas abordagens no percurso do processo de ensino - assim, é necessário, também, que o professor possua uma capacidade de crítica, de debate e de argumentação, de tal modo que inspire seus estudantes, como aponta Falcão (1989), “o profissional que fornece matéria para o trabalho da mente dos alunos precisa ser bem preparado (…).” Para isso, é necessários que se implementem abordagens filosóficas nos cursos de Pedagogia, de modo a que se capacitem os professores ao ponto de formarem pensadores no exercício de suas funções educativas.

Um trecho do texto “A Formação do Professor Secundário” publicado nos Arquivos do Instituto de Educação de São Paulo em 1937, aponta que “somente, portanto, uma cultura filosófica e sociológica do professor será capaz de torná-lo um veiculador de valores.” Assim, a filosofia torna o professor um veiculador de valores e de saberes no processo de ensino e aprendizagem.

10. CONSIDERAÇÕES FINAIS

                Perante os estudos feitos neste artigo, podemos assim dizer, que abordagens filosóficas no processo de ensino e aprendizagem são de suma importância, pois preparam o estudante para a vida.

Assim, a filosofia abarca ferramentas que aperfeiçoam todo o nosso processo cognitivo, dando-nos domínio nas mais diversas circunstâncias da vida, pois, devido à sua interdisciplinaridade, somos levados a conhecer fenómenos de diferentes campos do saber.

                Utilizar a filosofia como recurso no processo de ensino e aprendizagem é investir numa educação de qualidade para a construção de uma sociedade livre e brilhante.

11. REFERÊNCIAS

A formação do professor secundário. (1937). Arquivos do Instituto de Educação, São Paulo, 3(3).

Alencastro, M. A Importância da ética na formação dos recursos humanos. Recuperado de http://www.alencastro.pro.br/textos.htm em 2 de Janeiro de 2018

Chaui, M. (2000). Convite à filosofia. São Paulo: Ática. Recuperado de https://edisciplinas.usp.br/mod/resource/view.php?id=357557  em 2 de Novembro de 2017

Demo, P. (1990). Dialética e qualidade política, in Dialética Hoje.

Falcão, G. M. (1989). Psicologia da aprendizagem. São Paulo: Editora Ática. 5ª edição. Recuperado de https://www.skoob.com.br/psicologia-da-aprendizagem-64481ed71190.htm em 5 de Janeiro de 2018

Freire, P. (1992). Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra. Recuperado de https://websmed.portoalegre.rs.gov.br/escolas/cmet/material/Pedagogia_da_Esperanca.pdf  em 6 de Dezembro de 2017

Marcondes, D. (2007). Textos básicos de ética: De Platão a Foucault. Rio de Janeiro: Zahar. Recuperado de https://marcosfabionuva.files.wordpress.com/2012/04/marcondes-d-textos-bc3a1sicos-de-filosofia.pdf em 7 de Janeiro de 2018

Mondin, B. (1980). Introdução à filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. São Paulo: Paulus. 

Souza,  s.  M.  R  de.  (2004). A  filosofia  no  ensino  médio:  uma  (re)  leitura  a  partir  dos pcns. In: Gallo, S. Danelon, M. Cornelli, G. (orgs). Ensino de filosofia: teoria e prática.ujuí/rs: unijui.

Teixeira,  A. S. (1968). Pequena introdução à Filosofia da Educação, São Paulo: Editora Nacional. Recuperado de www2.unifap.br/Borges/files/2011/02/pequena-introdu%C3%A7%C3%A3o-%C3%A0-Filosofia-da-Educa%C3%A7%C3%A3o.pdf  em 6 de Novembro de 2017