A Ficção do Tempo.

Como um relâmpago.

Produzido por uma descarga elétrica.

Nada diferente.

Após a sua passagem.

O relâmpago não existe.

Dessa forma é a vida.

Quando ela passa.

Ela não existe.

Tudo que existe é o instante.

Quando ele passa.

Fica apenas a sua ficção.

 Ninguém pensa em ficção.

Porque é uma realidade inimaginável.

Então tudo no mundo.

É essa inimaginação.

Gosto da metáfora do relâmpago.

Porque acontece e não acontece.

Quando surge ao infinito.

 Rapidamente.

O fato já se realizou.

Mas ele se repete em outras.

Realidades semelhantes.

 O mundo é essa passagem instantânea.

Tudo que se realiza se esquece.

Como se não tivesse acontecido.

A vida é exatamente dessa forma.

 Nada se apega a nada.

 O desespero é apenas da individualidade.

Daquele que tem que sofrer os efeitos.

Do instante.

 Mas nada se repete da forma que era.

Nem poderá ser o que fora antes.

 Refiro lá na frente.

 Como se o tempo tivesse frente.

Lateralidade.

Passado.

Ou qualquer outro anacronismo.

 O tempo tem um contínuo interminável.

E tudo se realiza nele.

Como se existisse alguma razão.

Para o contínuo ser.

O que ele é.

É exatamente o não ser.

Do ser que é.

 Somos o ser que não somos.

E o ser que será.

Não podemos ser.

 Mas o ser que não somos.

Repete se eternamente.

Como sempre repetirá.

O relâmpago.

Isso enquanto existir a energia do sol.

Porque também acabará.

Naquele instante.

Parte significativa do universo.

Congelará.

A realidade substancial do instante.

Sempre foi o esfriamento.

É que nesse tempo vivemos.

Outro tempo do instante.

Ficará tudo escuro.

 Então o ser que era.

Não será.

Aquele que nunca fora.

Também não será.

Não existirão nuvens.

Os rios transformarão em gelo.

 Tudo recomeçará.

 Mas a repetição da matéria.

Jamais poderá refazer.

Aquele que foi.

Ser outra vez.

Então não seremos.

A possibilidade do não ser.

É real.

Triste.

E melancolicamente compreensível.

Tudo acabará.

Quando não existir o instante.

Edjar Dias de Vasconcelos.