A felicidade é um conceito ambíguo, dual e … direi mesmo contraditório. Isto porque a meu entender, consiste tanto no discernimento como na falta dele… dado que a sua natureza intrínseca e peculiar a situa entre a utopia, o sonho, e a verdadeira possibilidade.

A utopia é sempre irrealizável.

O sonho, uma mera projeção do desejo.

E a realidade a imposição de condições independentes da vontade. Pois o que é real existe por si, pura e simplesmente manifesta-se e se é verdade que a podemos ou não aceitar é ainda mais verdade que jamais a poderemos alterar, porque a sua natureza é intemporal indestrutível e anacrónica.

Daqui se conclui que a felicidade só existe momentaneamente, em fiats, ou em estados alterados de consciência; Quando nos transcendemos e conseguimos ultrapassar a nossa própria finitude. Só então nos sentimos verdadeiramente felizes, porem, como disse, essa felicidade é sempre breve, inevitavelmente o que nos tornara felizes é ultrapassado por novas aspirações, porque na verdade raramente nos contentamos com o que temos, corremos sempre atras de qualquer coisa, e curiosamente, não raras vezes, quando a alcançamos ela perde para nós o todo o interesse. Paradoxalmente, o nosso carma parece ser viver permanentemente à procura e por estranho que pareça, não para termos o que procurámos uma vez que depois depressa o descartamos, mas simplesmente apenas por continuar a procurar.

Por isso afirmo que sermos ou não felizes depende sobretudo das nossas ambições, do que projetamos para nós próprios e do grau de adequação dessas mesmas projeções á realidade que nos envolve.

Manifesta-se por vezes, em proporção inversa da ambição. E por essa razão, são quase sempre mais felizes os menos ambiciosos.

Ela está sempre mais próximo dos que aceitam livremente o devir, do que daqueles que o procuram condicionar.