A evolução do encanamento

Por David Moreno | 17/03/2022 | Tecnologia

A grande concentração de pessoas em  áreas urbanas  proporciona certos privilégios, tais como água encanada em residências. Ao simples girar da torneira, temos acesso a água tratada para consumo, cozinhar e higiene pessoal, entre outras.

A história do encanamento tem suas origens na Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates (atual Iraque).  Canais de irrigação conduziam   águas coletadas nos rios  até as  plantações.

Através de processos mecânicos engenhosos a água atingia níveis superiores, desafiando a lei da gravidade. O manejo de água aperfeiçoou de tal forma que foi possível criar os jardins suspensos da Babilônia, considerados uma das maravilhas do mundo antigo.

No Egito antigo, as águas do Nilo  eram aproveitadas de forma similar. Mas os especialistas,  verdadeiros encanadores da antiguidade,  foram os  romanos. Os aquedutos, canais que conduziam águas  de  fontes distantes  até as  cidades,  foram inspiração para as gerações  futuras.  Até hoje há ruinas intactas de aquedutos em países que foram parte do império.

As famosas casas de banho romanas eram sofisticadas. Haviam  opções  com variadas temperatura e geralmente de  fácil acesso  aos cidadãos.  Com a oficialização do Cristianismo, os locais de banhos coletivos entraram em declínio.  Talvez por  considerarem uma prática  incompatível com os padrões cristãos  ou para manter a  privacidade da higiene pessoal.

No período da Idade Media, as populações urbanas aumentavam e  os problemas de saneamento idem.  Na cidade de Londres por exemplo,  dejetos humanos  eram lançados diretamente no rio Tamis, obviamente sem nenhum tratamento, o que causava mau cheiro.  Esvaziavam os penicos nas primeiras horas da manhã, pela janela frontal e muitas vezes sem olhar quem estava passando. Nhaca!

Várias pragas e epidemias que  dizimaram populações europeias foram causadas a partir da  falta de higiene e manuseio dos esgotos.   Muitos até espiritualizaram a situação, crendo que era a ira de Deus sobre eles,  por alguma razão.

Com o período do Renascimento cultural,  a questão da higiene foi repensada. Sistemas de esgotos começaram a ser implementados.

Séculos depois, a  partir da colonização da América do Norte,  houve mudanças radicais nesta área. No princípio por questões obvias, os banheiros eram do lado de fora, e distanciavam no mínimo 10 metros da residência. 

O método era simples e  perdura  em países de terceiro mundo.  Cava-se uma espécie de poço seco, constrói-se  a estrutura do banheiro em cima. Depois do poço cheio  era soterrado  e  um novo local era selecionado para o novo banheiro.

Banhos eram semanais e porque não dizer – mensais. O costume de tomar banho todos os dias não  é tão antigo.   Esta prática,  segundo dizem,  ainda persistem em alguns países europeus mais frios. Talvez veio dai a inspiração para os franceses produzir perfumes de alta qualidade.

A evolução  nesta área é constante, o mercado expandiu. Os  banheiros agora parte da casa.  Canos de cobre, torneiras, banheiras, chuveiros e  vasos sanitários.  O mercado estava em expansão. Houve época que a oferta era menor que a demanda.

Banheiras de ferro esmaltada  era comum, descarga utilizando água e vasos sanitários já não eram artigos de luxo.

Foi necessário  criar sistemas de esgotos mais complexos. Não bastava lançar  os dejetos nos rios.  Grandes projetos de saneamento foram implantados e  a tecnologia exportada para outros países.

Há  na California,  uma pequena cidade – Santee – localizada  numa região desértica,  que tornou-se modelo na questão do saneamento.   Praticamente 100% de toda água utilizada é reaproveitada.  Depois de passar por diversas processos naturais e químicos, retornam para as torneiras em forma de água potável. É  um oásis no deserto.

Tendo estado em  vários países e  observo  algumas particularidades encontradas no Brasil nesta área.  Em estados do sul e sudeste, onde o clima varia ao extremo,  é comum o uso de chuveiros de resistência.

Nos Estados Unidos,   o sistema é  diferente.   Geralmente, no porão há um tanque de metal que mantém a  água aquecida, pronta para uso assim que aberta a torneira correspondente.

Por isto os canos são de cobre, para suportar tanto a água quente, mas frequentemente nos meses de inverno rigoroso  os canos estouram,  pois forma-se gelo no interior.  É o período em que os encanadores têm mais serviço.

 No Brasil os canos de PVC  substituíram os de ferro.    Nas regiões mais pobres, a caixa de descarga, afixada em alto nível no banheiro  é  padrão, enquanto em áreas urbanas, a descarga de pressão (ou botão) é coisa chique, mas  de preço acessível.

Apenas em aeroportos e áreas de shopping,  utilizam o sistema de pressão. Na maior parte das casas dos Estados Unidos,  ainda utilizam recipientes de louça esmaltada onde fica a água estocada,  pronta para uso.

Já existem  no Japão, vasos sanitários computadorizadas  para controle de fluxo de água e até aquecimento no assento. 

Com a crise  no sistema hídrico, os brasileiros estão mudando a mentalidade em relação ao uso da água.   O  racionamento e contas mais caras, tem  ensinado  a usá-la  de forma racional.

Fico  perplexo  com pessoas que tomam dois ou três banhos por dia. Em algumas cidades da Inglaterra, há hotéis que limitam o tempo  de fluxo de água no chuveiro até no máximo 10 minutos. Alguns estrangeiros foram surpreendidos  enquanto ainda havia sabão pelo corpo.

Enquanto no Brasil, há pessoas que  ficam (ou ficavam)  até meia hora debaixo do chuveiro, sem  sujeira suficiente para ser removida, consumindo não apenas o precioso liquido, mas encarecendo a conta de eletricidade.   O chuveiro elétrico é o grande vilão da conta, por ser em alguns casos, rede especial de 220V.

 Lembro que na década de 80,  quando não se mencionava crise hídrica, era costume lavar o quintal ao invés de varrê-lo primeiro  e depois lavá-lo, se houvesse necessidade.  Domingo  de manhã era sagrado  lavar o carro da família.   A  crise hídrica  tenta ensinar  as pessoas  a escovarem os dentes racionalmente.   Fechar a torneira  enquanto está fazendo a escovação e abri-la apenas quando estiver pronta para o enxágue.

Por enquanto  não foi descoberto água em outros planetas. Há apenas suposições. Portanto cuidemos dela e desfrutemos deste elemento precioso, inigualável,  pois o ser humano com toda sua tecnologia e conhecimento não é capaz de produzir um copo sequer.  Há países que estão investindo em equipamentos para dessalinização da água do mar, prevendo a falta dela em estado natural mas o sistema é caríssimo.  Não há vida sem água.