Numa aurora de feriado abeirou-me uma questão que descrevia ser uma investigação de réplica há muito tempo. A pessoa que me inquiriu nem tinha ideia que eu, por várias ocasiões, caçava contrapor àquela pergunta, porém ninguém havia me questionado. Aliás, eu tratei do assunto no inciso “O Secreto Beijo Sagrado”, apesar disso foi a partir desta passagem que a interrogação granjeou seiva: “Estou buscando a RESPOSTA de uma PERGUNTA que não quero FAZER”. A dúvida se deu mais ou menos nesta nuança: “o senhor gosta de abençoar ou abençoa porque sua essência exige?”.

Meu revide pôde extrair do meu cerne uma vez que o homem atua segundo sua favorável natureza racional: “Não sou eu que gosto, mas minha essência de padre que me ensina abençoar”. O meu modo de operar abraça minha natureza. A maneira de agir do escorpião é picar, então assim ele o faz; o modo de atuar do leão é matar, ele assim cumpre seu modo de ser como todos os diferentes existentes.

Poderia ser naturalmente objetado: “nem tudo que minha essência me exige eu gosto”. Positivamente! Compreendemos, por experiência, que nem tudo que minha essência me exige eu gosto na sua totalidade, porém na medida que o agir do indivíduo for moldando-se com a exigência, ele fará não por ser uma norma, antes, fará por fazer parte do seu hábito. Porventura, a água do mar poderá vir a ser doce uma vez que as águas das chuvas correm para o mar? Deverás! O ser do mar é ter suas águas salgadas.

Um monge, por exemplo, pode ser que ao chegar num mosteiro não gosta de levantar na madrugada para fazer suas orações. Contudo, a partir do momento em que os dias seguem ele vai assimilando o cronograma do mosteiro e sua vida apresentará numa nova adequação de horário, de rotina, chegando a um determinado tempo que todo o horário do mosteiro perpetrará como parte de sua vida, será seu hábito. Pode ser que um acurado monge não gosta de levantar muito cedo, porém terá que levantar porque aquela rotina de despertar no alvorecer faz parte de sua essência como monge. Com isso, ele terminará que levantar.

Quando se está intimamente unido de forma afetiva com aquilo que é a exigência, ela deixa de ser lei e passa fazer parte de sua vida. Na medida em que o amor reina, mesmo que alguma coisa seja jurisconsulto ela o será para quem ama meramente o amor em forma de atos.

Porquanto se ama, mesmo que há obrigatoriedade nisso, será um amor de vísceras, de contubérnio, de vida; um amor do íntimo do humano: um amor do coração. Assim, o que se poderia articular nesta ocasião? “Faz-se alguma coisa por gostar ou porque a essência exige”?

Padre Joacir d’Abadia, Filósofo autor de vários livros