Famosos pela grande falange, com entidades presentes na maioria dos terreiros, os guardiões denominados Tranca Ruas são importantes pilares da esquerda na Umbanda Sagrada. Denominados de esquerda todas as entidades que se encontram e trabalham dentro do plano vibratório mais próximos a nós. A este plano comumente se dá o nome de trevas, por ser também a morada dos espíritos em evolução que ainda se ligam ao plano terrestre (por vícios, vinganças, culpas e descrença em seu progresso) e costumam ser escravizados por chefes de falange que trabalham com energias de troca negras e fora da Lei Divina. Porém, os guardiões, as Pombogiras, os Mirins e todas as entidades que se denominam de esquerda na Umbanda habitam as trevas em prol da luz. Dizemos esquerda por herança da visão cristã, que cita que Jesus está sentada à direita de Deus Pai, portanto, por essa lógica ultrapassada, os diretos guardiões só poderiam estar situados à esquerda.

São entidades que foram convidadas por mérito de suas ações a trabalhar dentro da Lei e da Justiça Divina. Ou seja, Exu de Lei não faz mal a ninguém em troca de oferenda. Pombogira de Lei não amarra pessoas a pessoas em troca de oferenda. E dirigentes espirituais ou sacerdotes não promete ganhos mundanos em nome de entidades e em troca de dinheiro. As trevas, o plano mais próximo a nós, tem a mais importante potencialidade de transformação e evolução. Afinal, a mudança está sempre em olhar nossas ações tóxicas e que nos atrasam, presentes na densidade da “ausência de luz”. Os trabalhadores de esquerda, portanto, nos fazem olhar nossas atitudes negativas para assim curá-las. A vontade, ou a carência dela, é fator determinante para este estágio de evolução. Se a vontade é real ou não, e dentro de nosso merecimento, o mistério dessas entidades é trabalhado, esgotando vibrações negativas (ou as acentuando) para auxiliar no nosso caminhar.

Os Exus Tranca Ruas, por exemplo, trabalham encaminhando espíritos que estão conectados voluntário ou involuntariamente à nós encarnados, além de serem grandes auxiliadores no encontro de nossos caminhos. Assim o fazem, porque dentro de seu campo de atuação na esquerda, são guardiões desses mistérios: aprisionar e encaminhar zombeteiros, impedir que sigamos caminhos que não sejam de nosso merecimento e limpar as energias que nos impossibilitam evoluir. Suas mirongas envolvem elementos ligados à estradas, porque são regidos por Pai Ogum, orixá dos caminhos de Lei. É também por isso que o trabalho desses guardiões é tão ágil, ligado ao movimento da execução de Ogum.

Seu nome vem exatamente de seu poder de fechar os caminhos dos espíritos fora da lei e pessoas encarnadas, como nós mesmos, que estão na ausência da lei. Quando dizemos na ausência da lei, falamos de nossas sombras, nossas falhas. Não porque somos maus, mas porque somos humanos e passíveis de errar sem nos darmos conta. Em seu trabalho, ao se impedir o movimento, ao se “trancar” caminhos, movimentam-se verdadeiras alternativas evolutivas. Vamos supor que todos os seus esforços em direção a um objetivo não surtam resultados e você busque novas alternativas para alcançar sua meta, olhando seus impulsos destrutivos e corrigindo-os. Podemos dizer que este é um simbólico trabalho da falange dos dedicados Tranca Ruas.

A energia de esquerda, entretanto, ainda é pouco compreendida e muito mistificada. É importante reafirmar que, assim como se pede cuidado à clamar justiça à Xangô ou Amor à Oxum e seus trabalhadores, pede-se cuidado aos pedido à Exu. A esquerda que trabalha dentro da lei, não deixa de executar o retorno. Eles são, inclusive, auxiliadores na execução dos aprendizados e situações delicadas de nossas vidas. Não pelo prazer às nossas situações de vulnerabilidade, mas porque são também essas suas árduas funções. Pode soar amoral, no entanto, deve ser feito pela nossa evolução. Mas não peça o mal de alguém para trabalhadores de lei, especialmente os de esquerda, e espere o seu bem em troca. A lei do retorno é implacável.

Peça aprendizado, clareza, força, limpeza! Nossa tão conhecida forma de dizer “Sr. Exu, abre meus caminhos, alivia minhas dores, me protege dos meus inimigos!”. É assim que a esquerda absorve tudo que não é de seu merecimento, te aconselha e encaminha vossos passos.

Salve nosso Pai Ogum! Ogunhê, meu Pai!

Laroyê, Exu! Exu é Mojubá!

Laroyê, as Senhoras Pombogiras! Pombogira é Saravá!