A Espetacular História das Invasões Neerlandesas no Nordeste do Brasil

Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 26/05/2025 | História

O Brasil e suas batalhas. Um dos países que esteve sob o domínio de vários impérios durante a História Moderna, ate se constituir, fisicamente, num dos mais vastos territórios do planeta, que hoje conhecemos, e, com orgulho, temos. E as batalhas de que hoje falo são as invasões neerlandesas, ocorridas durante nosso domínio pela Monarquia Hispano-Portuguesa.

Em 1580 houve a fusão política de Portugal e Espanha, durante o reinado de Felipe II, que passou a ser conhecida como União Ibérica, sendo sua maior e mais próspera colônia o Brasil, herdado de Portugal independente. E isso não passava despercebido pelos neerlandeses, que, em busca de novas oportunidades comerciais (especialmente a tentadora tomada dos engenhos de cana de açúcar situados no Nordeste), da eventual expansão de sua doutrina protestante, inspirada no clérigo Martinho Lutero, em 1624 tomaram de assalto Salvador, então capital da Colônia.

A inicial captura de Salvador foi relativamente fácil. Os neerlandeses comemoraram dias e noites seguidas seu triunfo, incentivados a planejar futuros movimentos, na crença de que a União Ibérica não iria reagir. Chegando a notícia à Península Latina, a Monarquia Hispano-Portuguesa logo não se fez esperar. Como num jogo de xadrez, rapidamente armou suas peças, enviando suas tropas às pressas, mas organizadamente, a fim de reparar a infâmia e recuperar o controle da capital da Colônia. Portugueses e espanhóis, após séculos de rivalidade, agora se encontravam sob a mesma coroa, e lutariam juntos por São Salvador da Baía de Todos os Santos.

Mas o preço seria alto: no século XVII, organizar expedições militares às pressas ao outro lado do vasto Oceano Atlântico significava, quase sempre, lidar com doenças como o escorbuto, péssimas condições sanitárias, mínimo espaço aos marinheiros combatentes, e, somando-se todo este quadro, uma possibilidade de rebeliões. Houve tudo o que podemos imaginar, mas não a desistência. Os hispano-portugueses, não obstante todas as dificuldades decorrentes do deslocamento, chegaram a Salvador e iniciaram a batalha contra os neerlandeses.

Se podemos dizer que a Conquista de Salvador pelos Neerlandeses foi relativamente fácil, os mesmos, também, não resistiriam ao poder das esquadras hispano-portuguesas. A cidade fora cercada pelos latinos, cujo cerco aos invasores não se fez demorar mais que algumas semanas. No fim, dezenas de prisioneiros de guerra neerlandeses e uma das mais espetaculares vitorias militares da História Moderna, por parte da União Ibérica, que se desfez em 1640 por conta da Guerra de Reconquista Portuguesa, quando já se tinha iniciado, alguns anos antes, uma segunda invasão neerlandesa, com os mesmos objetivos de expropriação de engenhos, e mais ao norte (especificamente em Pernambuco, na Paraíba e no Rio Grande de Norte, tendo como um de seus maiores símbolos o rebatismo de várias cidades, como a hoje João Pessoa como “Frederichstadt”).

Naquele segundo período, houve um grande progresso econômico nos territórios ocupados, especialmente por parte do governador neerlandês Maurício de Nassau (conhecido como o “governador do Brasil Holandês”, cujo mandato detinha por ser um funcionário da Companhia das Índias Ocidentais). A liberdade de religião entrara em vigor, e, é claro, também a doutrina protestante, praticada pelos invasores. A arte floresceu, bem como e economia, que, antes, já era a mais próspera dentre as colônias ibéricas.

Mas nada apagava o fato de que se tratava de uma invasão, e Portugal, solitário na sua missão de, mais uma vez, e unilateralmente, expulsar os neerlandeses, o fez apenas em 1654. Isso prova dois fatos antagônicos: durante a União Ibérica os portugueses eram integrantes, de fato, de um exército mais forte, mas, mesmo assim, na nova expulsão neerlandesa evidenciaram que nem a anterior separação da Espanha fora capaz de retirar-lhes o espirito de garra e conquistas.