Vamos partir de uma expressão clichê: o mundo virtual nos envolve de todos os lados, queiramos ou não, estamos inseridos no mundo digital.
Mesmo não sendo originais, essas afirmações, a respeito do mundo atual, retratam uma situação que tem sérias implicações sobre nossas vidas e particularmente sobre o ambiente escolar.
Tem implicações sobre nossas vidas porque, além de criar uma infinidade de facilidades para o nosso cotidiano, por vezes nos criam problemas. Tomemos o exemplo dos caixas eletrônicos dos bancos. Facilitam em muito as nossas vidas, mas por vezes, nos deixam na mão. Quem ainda não se viu frente ao caixa eletrônico em que aparece a mensagem desagradável: "terminal inoperante" ou "procure outro terminal". Ou seja: a facilidade eletrônica, digital, virtual... também é problemática. Antevendo essas situações, nos anos 1980 Raul Seixas cantou: "A civilização se tornou tão complicada/ que ficou tão frágil como um computador/ que se uma criança descobrir o calcanhar de Aquiles/ com um só palito para o motor". E o motor da sociedade é hiperdinâmico, mas frágil. Repleto de facilidades, mas também ostentando uma série de dificuldades. Principalmente porque depende de uma linguagem com a qual nem sempre estamos familiarizados.
Mas, qual ou quais as implicações do mundo virtual-digital para o ambiente escolar?
Também são inúmeras. Também aqui cabe um clichê: há ganhos e perdas. Inegavelmente!
Podemos dizer, também, que em função do mundo virtual a grandiosidade do mundo tornou-se pequena, pois as enormes distâncias estão ao alcance dos dedos. Basta clicar um mouse ou digitar um teclado que os universos se apresentam, rapidamente, à nossa frente. Segundos nos separam de uma infinidade de informações, sons e imagens. Essa é a grande maravilha do mundo virtual. Mas, ao mesmo tempo, isso implica em preocupação, pois nem tudo, nesses universos virtuais, pode ser considerado bom para o ambiente escolar.
Olhando desta forma e em si mesma não se pode dizer que a ampla disponibilidade de informações e a larga possibilidade de acesso possam ser vistas como problemáticas. Portanto a disponibilidade e a acessibilidade são aspectos positivos do mundo virtual. Os possíveis problemas não decorrem da disponibilidade e acessibilidade, mas dos critérios a partir dos quais essas informações são acessadas. As informações estão disponíveis, e isso é bom, mas os critérios a partir dos quais elas são acessadas merecem maior reflexão, a ser desenvolvida por pais e professores. Principalmente porque o nem tudo que está no universo virtual é útil e/ou necessário para o ambiente escolar.
Consideremos a seguinte situação. As pessoas que estudaram (do ensino fundamental ao superior) até o inicio da década de 1990, quando precisavam fazer qualquer leitura tinham que se deslocar até uma biblioteca ou livraria para ter acesso ao livro. Após a leitura, as pessoas precisavam elaborar manualmente suas conclusões, utilizando lápis, caneta ou, na melhor das hipóteses, uma máquina de datilografia. Quando, fatalmente, ocorriam erros apelava-se para uma borracha, ou se reescrevia tudo. Os trechos a serem citados num discurso dependiam de criteriosa e atenta tranacrição manual. Tudo isso era um processo demorado.
Com a erupção da informática e da web isso mudou radicalmente. Praticamente toda a bibliografia de que necessitamos pode ser acessada imediatamente, de dentro de casa, nos sites de busca, a partir de algumas palavras chave. E se precisamos de uma citação basta usar teclas de atalho, para copiar e colar. É o mundo do "ctrl c" e "ctrl v".
Em função disso podemos dizer que a facilidade da pesquisa bibliográfica está nos distanciando da pesquisa, pois tudo é "copiável". Dessa forma, se instala a improdutividade e a decadência da ética. O estudante argumenta: se posso copiar, por que vou produzir? Está em decomposição a originalidade. Podemos dizer que todo professor, em qualquer nível de ensino, já se deparou com atividades que alunos simplesmente copiaram de alguma página da internet. Daí a importância dos critérios a partir dos quais se acessam as informações disponibilizadas na web por intermédio deste maravilhoso e traiçoeiro mundo virtual.
Lembrando que uma vez instalada a cultura "ctrl c" e "ctrl v" é possível aumentar a incidência de erros de grafia. Também aqui aumenta a responsabilidade dos pais e dos professores. Para quê? Para ajudar os estudantes a desenvolverem critérios de acesso às informações e uso do mundo virtual. E o critério fundamental é o da ética para que o estudante aprenda que não é errado copiar, o errado é não dizer de quem e de onde copiou.
O desenvolvimento e estabelecimento de critérios podem nos levar a uma postura ética em relação à produção intelectual. Ou seja, respeitando à produção do outro, podemos ajudar nossos estudantes a aprenderem a se fundamentar na produção de outros para desenvolver a própria produção. E isso é aprendizado com ética.
Para chegar a isso, também pais e professores precisam se fundar em critérios éticos.

Neri de Paula Carneiro ? Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.
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