A escolha de uma nação

"Quando o homem é declarado como 'a medida de todas as coisas', não haverá mais o que é verdadeiro, bom, ou justo, mas apenas opiniões de igual validez cujo conflito só poderá ser resolvido pela força política ou militar; e cada força, a seu turno, entronizará o [seu próprio conceito de] verdadeiro, bom e justo que irá durar enquanto essa força durar."
Bertrand de Jouvenel

Abstendo-se de tecer palavras desagradáveis ? mas necessárias ?, os formadores de opinião no Brasil estão deixando de cumprir seu papel no que tange à cobertura política atual.
Depois de anos a fio pautados por uma postura supostamente neutra, ajudaram a construir um estado de coisas tal que não se torna possível discernir facilmente o certo do errado.
A preocupação atual, e essa é uma tendência que vigora há alguns anos, prima por conferir igual credibilidade aos postulantes que figuram em pólos opostos de uma disputa qualquer. Essa é uma postura protegida por uma película frágil ? mas que na maior parte das vezes se mostra inquebrantável -, e que consiste na aparência de justiça.
Mas atribuir a mesma credibilidade àqueles que mentem de forma contumaz e àqueles que possuem, a priori, reputação ilibada, trata-se de uma distorção. E quando uma verdade está distorcida, já não é mais verdade, e sim uma mentira.
Assim, com mentiras dominando o debate político de uma forma "nunca antes [vista] na história deste país", chegou-se a um ponto em que as verdades encontram-se cada vez mais distantes do olhar comum.
E se as opiniões formadas estão a uma distância longínqua de onde deveriam estar, a responsabilidade maior por isso é daqueles que contribuíram para formá-las.
Cabe a eles, portanto, retomar ou adquirir a honestidade e competência intelectual que fazem com que se alcance e difunda a verdade, fazendo com que ela permeie novamente o debate político.
E isso requer que se rompa a barreira do politicamente correto, que se abandonem as carências de adulação e que seja deixado de lado qualquer receio de desagradar a quem quer que seja.
Por fim ? e principalmente ?, é preciso que se firme um compromisso sincero e irrevogável com a verdade, com valores maiores e mais elevados em detrimento de interesses mesquinhos ou de mero comodismo.

Brasília, 1º de outubro de 2010.