A Erva mate e a madeira nas dinâmicas e processos da economia Paranaense do século XIX

Leonildo José Figueira
[email protected]

RESUMO

Faremos uma análise sucinta da economia do Paraná bem como as dinâmicas e os processos que a envolvem. Sabemos da amplitude do tema e, sem a menor pretensão de esgotá-lo, faremos alguns apontamentos referentes a erva mate e a madeira, como sendo importantes ciclos da economia do Estado que foram importantes, inclusive, para o povoamento de cidades.

PALAVRAS CHAVE

História do Paraná; Ciclo da erva mate; Ciclo da Madeira

ABSTRACT

We will make a brief analysis of the Paraná economy as well as the dynamics and processes that involve. We know the breadth of the subject and, without the slightest pretension to exhaust it, we will do some notes regarding yerba mate and wood, as being important cycles of the state economy that were important, even for the settlement of cities.

KEYWORDS

History of Paraná; Cycle of yerba mate; Cycle of Wood

Durante muito tempo a extração de ouro predominou a economia paranaense, e foi o primeiro ciclo econômico do estado iniciando-se em meados do século XVII. Foi na busca de metais preciosos que os mineradores fundaram os diversos Arraiais espalhados pelo planalto; e como consequência, inicia-se o povoamento do litoral e do primeiro planalto e posteriormente a criação das cidades atuais como Paranaguá, Antonina, Morretes, Curitiba, São José, Bocaiúva do Sul, Quatro Barras, entre outras. Muitas picadas (trilhas) também foram abertas, ou seja, caminhos que ofereciam ligação entre o primeiro planalto e o litoral e até mesmo fazendo ligações entre os Arraiais. Muitas das trilhas se perderam ao deixarem de ser utilizadas, outras foram melhoradas e transformadas em vias de rodagem (como a Graciosa), e outras permaneceram como uso turístico (como caminho do Itupava). [1]

Além da mineração o Estado do Paraná teve a pecuária, a extração da madeira e o ciclo da erva-mate a qual foi responsável pelo enriquecimento de muitas famílias e pelo impulso do planalto em direção a urbanização.

A extração da erva-mate oferecia certa facilidade, pois se tratava de uma planta nativa que não exigia muito desgaste e esforço dos trabalhadores, por isso grande parte da população abandonava os trabalhos da agricultura e pecuária para se dedicar à erva-mate. Esta mudança resultou na escassez de alimentos, gerando uma crise de abastecimento. No caso específico de Quatro Barras, a produção do mate teve início nas fazendas dos padres Jesuítas da Companhia de Jesus, (eram duas grandes fazendas, as quais possuíam o nome de “Fazenda da Borda do Campo”), que se localizavam no Distrito de Borda do Campo. [2]

A erva-mate ou a Congonha (como se diz nas minas) foi um produto importante para Curitiba no que diz respeito à exportação. A tal árvore era comum nos arredores de Curitiba, ou seja, nos matos que circundavam a cidade, principalmente em Borda do Campo, local onde também já se praticou a exploração de metais preciosos. Provavelmente uma das razões pelas quais os jesuítas se estabeleceram neste lugar foi a existência desta planta nativa tão procurada naquele momento. [3]

Dos diversos pontos de povoamento do primeiro planalto paranaense, a Borda do Campo está entre os maiores pontos de concentração de erva-mate, e foi de suma importância para o enriquecimento e crescimento econômico de Curitiba, mesmo antes da emancipação de Quatro Barras.

Cobrindo extensas regiões do Paraná, o uso da erva mate como atividade de exploração, perdurou entre 1820 e 1920, aproximadamente. A expressividade econômica do mate, em certos períodos, respondia por 85% da economia da província e paralelamente desenvolvendo diversos outros setores como algumas estradas de rodagem, estradas de ferro, a navegação fluvial, fundação e povoamento de cidades, melhor representação política, fortuna de muitas famílias do Paraná e região; também o aparecimento de indústrias complementares como a madeira, fornecendo barricas e caixas facilitando e ajudando na própria exploração, produção e exportação do mate.[4]

O historiador Sebastião Ferrarini faz uma breve descrição da exploração da erva-mate, bem como impulso a outras atividades surgindo paralelamente.

O município de Quatro Barras contribuiu para o desenvolvimento econômico do Paraná, através da exploração e exportação da erva-mate. No século passado, esse produto já era exportado através dos portos de Antonina e Paranaguá, em estado semibruto. Depois de colhido o mate é submetido ao “sapeco” para a cristalização da seiva, á secagem nos barbaquás carijós, e finalmente cancheado ou triturado; sendo transportado em surrões de couro ( o que vai dar novo atento à pecuária, então em decadência em função do esgotamento das minas de ouro nas Gerais), posteriormente em barricas (o que vai estimular uma indústria paralela ) no lombo de animais (via Graciosa, Itupava e Arraial) até o Porto de Cima e Morretes, de onde (via Nhundiaquara) era levado aos portos de Antonina e Paranaguá, para ganhar os mercados platinos.[5]

Juntamente com o ciclo da erva-mate, a exploração da madeira foi de grande repercussão na Província do Paraná, em especial a exploração do Pinheiro, e já no século XVIII, precisamente no ano de1798, amadeira era exportada para Portugal e outros países da Europa. O Engenheiro Antônio Rebouças instalou uma sociedade com sede no Rio de Janeiro, a “Companhia Florestal Paranaense”, no ano de 1874 após a abertura da Estrada da Graciosa; esta que veio a impulsionar o surgimento das serrarias ao longo de seu trajeto.

As margens da Graciosa em todo o seu curso (cerca de 100 quilômetros) estabeleceram-se grande números de famílias e em muitos trechos formaram-se verdadeiras povoações tais como Figueira de Braço, São João (até a Barreira) Rio do Meio, Borda do Campo etc. Era muito difícil em toda a extensão da linha encontrar dois quilômetros sem moradores, e era tal o movimento do trajeto que o viajante não passava um quarto de hora sem se encontrar com tropas ou carroças, ou carruagens. Da Borda do Campo a Curitiba (cerca de 30 quilômetros) formou-se uma verdadeira rua.[6]

A exploração da madeira no estado do Paraná devido à sua quantidade e qualidade, foi de grande êxito conseguindo atender os mais exigentes mercados externos; Quatro Barras por sua vez, oferecia grande quantidade de pinheiros.

A Campanha Florestal Paranaense sofreu com as inúmeras dificuldades encontradas para o escoamento da madeira até os portos mesmo com abertura da Estrada da Graciosa, esta não permitia o fácil transporte das madeiras por suas inúmeras voltas, arruinou-se por muito tempo, e a companhia não pode dar saída á grandes quantidades de madeiras que preparava. Foi em função dessa dificuldade de transporte, somada com problemas de administração, além da falta de pessoal especializado, que a empresa foi obrigada a paralisar as atividades despedindo seus funcionários. [7]

A indústria madeireira apresentava dificuldades no início, mas no final do século XIX, começou a se desenvolver e criar espaço de tal forma que no ano de 1900 já eram realizadas exportações regulares para o Rio de Janeiro, São Paulo, Montevidéu e Bueno Aires. [8]

Entretanto o município de Quatro Barras teve importante participação nas principais fontes de economia do estado, participou com grande êxito do ciclo da erva-mate e da extração da madeira sendo uma das mais significativas regiões entre o primeiro planalto e o litoral, no que diz respeito ao desenvolvimento econômico do Paraná.

Referencias Bibliográficas

BALHANA, Altiva; MACHADO, Brasil Pinheiro; WESTPHALEN, Célia Maria. História do Paraná. Curitiba: Grafipar, 1969

FERRARINI, Sebastião. História de Quatro Barras. Curitiba: Educa, 1987.

MOCELIM, Adriana. Projeto conhecendo nossa História – Quatro Barras. Secretaria municipal de Educação, Cultura e Esporte do município.

POMBO, Francisco da Rocha. O Paraná no centenário. Curitiba: Secretaria de Cultura e Esporte do Estado do Paraná; 1980. 2 ed.

PROSSER, Elizabeth Seraphim. Cem anos de Sociedade, Arte e Educação em Curitiba: 1853-1953: da Escola de Belas Artes. Curitiba: Imprensa Oficial, 2004.

REIS, José Carlos. Identidades do Brasil: de Varnhagem à FHC. Rio de Janeiro: FGV, 1999. 

RELATÓRIO TÉCNICO. Levantamento e Zoneamento Arqueológico do Caminho do Itupava – Serra do Mar. Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SEMA Programa Pró-atlântica. Curitiba; maio de 2002.

SAINT-HILAIRE, Auguste de. (1789 – 1853). Viagem pela Comarca de Curitiba. Curitiba: Fundação Cultural, 1995.

TAUNAY. Campos e Pinheirais. Curitiba: Farol do Saber, 1995.



[1] PROSSER, Elizabeth Seraphim. Cem anos de Sociedade, Arte e Educação em Curitiba: 1853-1953: da Escola de Belas Artes. Curitiba: Imprensa Oficial, 2004. p. 30

[2] MOCELIM, Adriana. Projeto conhecendo nossa História – Quatro Barras. Secretaria municipal de Educação, Cultura e Esporte do município.

[3] TAUNAY. Campos e Pinheirais. Curitiba: Farol do Saber, 1995. p. 112.

[4] PROSSER. Op. Cit. p. 34

[5] FERRARINI, Sebastião. História de Quatro Barras. Curitiba: Educa, 1987. p. 406

[6] POMBO, Francisco da Rocha. O Paraná no centenário. Curitiba: Secretaria de Cultura e Esporte do Estado do Paraná; 1980. 2 ed. p. 91

[7] MOCELIM. Op. Cit.

[8] BALHANA, Altiva; MACHADO, Brasil Pinheiro; WESTPHALEN, Célia Maria. História do Paraná. Curitiba: Grafipar, 1969