Bem vindos à era da informação

"Os meus filhos terão computadores, mas antes terão livros" - Bill Gates

Bem vindos internautas. Bem vindos sedentos por sabedoria. Bem vindos amantes da cultura. Eis a grande era global da comunicação. Já aqui diante de nós a tecnologia ao alcance das massas. Eis a tão aclamada ERA DA INFORMAÇÃO!

Aqui, ali, longe, perto. Em todo lugar, em toda parte. Ao alcance de todas as classes sociais. A rede mundial de computadores interligados e plugados num único canal de pluralidade de raças e culturas. Aqui, ali, longe, perto. Em todo lugar, em toda parte... Bom, isso eu já disse. Mas, tirando o ali, o aqui, o acolá do meu texto, pergunto. E ai? Chegou? Chegou essa maravilhosa era da informação?

Claro que sim. Chegou a todos e a quem quiser conhecer, beber e ceifar dessa era. O problema, agora sim ele, o problema. O problema é quem nem todos sabem o que fazer com tudo isso.

Assim como a TV - ainda que em menor escala de abrangência ao grande público - a internet, vista como uma mídia revolucionária por seu poder de interatividade, me parece estar indo para igual caminho, transformando-se em igual máquina de decapitação de potenciais.

Pra que tantos canais nesse controle remoto?

"São tantos canais nesse bendito controle remoto. Não sei pra que! Eu vou é pedir um desconto na TV a cabo, afinal de todas essas opções o que me interessa mesmo é ver o jogo do meu time à noite, reprise uma hora depois, comentários na madrugada e quem sabe os melhores momentos no domingo."

Não se assuste com essa figura. Ele pode ser você diante da Internet. Dicionários online, cursos a distância, debates presenciais, palestras em vídeo, conteúdo sob demanda, redes temáticas e troca de conhecimento em tempo real. Milhares de serviços, pessoas, interesses cruzados e fontes de informação dos mais diversos tipos a sua espera. E você liga o computador, abre o navegador e a primeira que coisa que escreve é "w w w . o r k u.... "

Puxa vida, pensou você, pra que tantos canais esse maluco - do meu exemplo - quer se ele só pensa em ver um canal? Estranho não é mesmo?

Cuidado, o Orkut te pegou!

Segundo uma pesquisa realizada pelo Pew Internet e American Life Project nos EUA, apenas 35% dos adultos possuem páginas pessoais em sites como Facebook, Bebo e MySpace, enquanto 65% dos adolescentes de 17 anos ou menos possuem conta em pelo menos uma dessas redes de relacionamento.

Todo mundo já sabe que açúcar em excesso dá cáries. Só não sai se contararam aos jovens. Tudo bem, eu estou falando principalmente aos jovens que sofrem desse mal (a meu ver), então dá pra radicalizar e pedir pra apagarem suas contas do Orkut, eles gostam e até entendo. Mas tudo que é demais é sim prejudicial.

Tenho observado o comportamento de amigos, sobrinhos, filhos de amigos e muita gente diante da internet. Boa parte do tempo é gasto com futilidade, navegação sem rumo e muitíssimo pouca produtividade.

Fala a verdade, você conhece alguém que passa mais de uma hora clicando de perfil em perfil, bisbilhotando na página de recados e procurando conhecer os hábitos das pessoas pelas poses, passeios e viagens registrados nas fotos. Conhece ou não? Opa, você é um desses? Cuidado. O Orkut te pegou.

O sistema é sensacional. A idéia é genial e o modelo de distribuição simplesmente incrível. Realmente o Sr. Orkut acertou em cheio. Acertou, foi reconhecido, ganhou visibilidade e está colhendo frutos por isso. Sim, ele está faturando e alto. E você, Sr. Orkuteiro. Quanto ganhou em sua última hora de fuçada?

Nem preciso concluir meu raciocínio não é mesmo? Os desenvolvedores de grandes e potenciais serviços de relacionamento estão lucrando alto ou mesmo fazendo suas histórias, tendo o retorno de seu esforço. E você é mais um pequeno número na estatística milionária das realizações "dos outros". E as suas, começam quando?

Alguns fazem sua história. Outros babam em frente ao monitor

Enquanto você está perdendo horas da sua vida, babando em frente ao computador, navegando sem rumo e assistindo o sucesso de outros, existem pessoas que entenderam o potencial da grande rede. As comunidades de relacionamento não são ruins, muito ao contrário, são um grande elo entre pessoas de mesmos interesses, planos e afinidades.

Posso não estar completamente certo, mas como criador nato e artista incansável, seja lá em que atividade, eu acho que produzir é fundamental e necessário ao ser humano. Principalmente o jovem precisar criar para se conhecer. Precisa escrever, filmar, desenhar, planejar, sonhar, rabiscar, enfim, viver em constante mutação de idéias através da produção. E os serviços disseminadores do ócio são um veneno para o curto tempo de autoconhecimento.

Ninguém precisa preocupar-se em criar grandes obras ou gerar grandes revoluções, mas a finalidade maior das redes temáticas interligadas é unir pessoas em prol de crescimento mutuo. Nós sentimo-nos maiores quando encontramos novos pontos de vista. Nós crescemos quando encontramos pontos de equilíbrio em nossas metas e as realizações que podemos alcançar. Nós vibramos em boas energias quando encontramos energias similares.

Tão longe e tão mais longe

Dias atrás, como não de costume, conectei-me para fazer uma pesquisa tarde da noite. Automatizado entrei no meu mensageiro instantâneo, ainda conhecido como MSN. Perdi o rumo da minha pesquisa quando vi subirem as famosas plaquinhas, quase que juntas, de quatro grandes e velhos amigos. Tornei-me visível e fiquei a pensar nas boas vindas que daria a eles.

De repente me vi pensando demais na piadinha que faria. E percebi que já estava eu e os quatro amigos online a mais de 5 minutos. Fiquei olhando a tela fria a esperar. E a pensar. Eu estava quase eufórico quando os vi (a seus nomes) entrarem online. E, no entanto pensei, será que eles estavam também?

Lembrei-me dos bons tempos que vivemos eu e esses amigos. Lembrei-me das festas, das baladas, das roubadas, das roupas diferentes, da vontade de ser diferente. Dos rótulos das tribos em que nos enquadrávamos. Lembrei-me das festas malucas, das madrugadas a falar de sonhos e das chacotas uns com os outros. Lembrei-me de alguns vários momentos muito bons e alguns poucos difíceis e nesses, lembre-me dos abraços de amizade sincera e choro sem formalidades.

Lembrei-me de tanta coisa boa e real. E não entendia o que eles esperavam pra me chamar também.

Talvez, como a mim, estivessem todos lembrando tudo que citei. Ou talvez apenas estivessem ocupados atualizando seus perfis, criando frases para o MSN do dia seguinte, subindo fotos para o álbum virtual. Não sei, sai e não nos falamos mais. Aliás, a tempos não nos falamos. Apenas acompanhamos de longe e pela web a vida um do outros.

Nosso proveito está ao alcance da disciplina

Se a internet veio para unir, para nos plugar, para nos fazer crescer não tenho mais certeza. Mas sei com toda a clareza que ela tem potencial para muito mais. A base de qualquer amizade ou mesmo de negócios é feita por relacionamentos. Você não compra produtos apenas, você compra credibilidade, personalidade e quando menos, necessidades. Mas em muitos casos negócios são feitos com pessoas. A rede veio para viabilizar muito do estreitamento dessas fontes de conexão entre os seres humanos.

O aproveitamento ou não dessas oportunidades não está em nenhuma formula mágica nem mesmo em poderes de aquisição. Na web tudo é possível e quase tudo, relacionado a informação e conhecimento, está a sua disposição. Só uma coisa o separa da matriz de conhecimento, você.

Nós somos inibidores de nosso crescimento e melhor aproveitamento das possibilidades da grande rede. E a conscientização somada a disciplina é a ponte para infinitas possibilidades. O MSN, Skype, Orkut, E-mail, torpedos e todo e qualquer tipo de tecnologia para conexão e comunicação pode aproximar ou esfriar relacionamentos. Depende de como os usamos.

No caso de crianças e adolescentes eu sou completamente a favor de um direcionamento para o uso da internet. Por mais que pais ainda achem que as crianças saibam usar o computador, eu ainda acredito que elas saibam guiar um carro, mas não conhecem o caminho a seguir para chegar a algum lugar. Horas e horas em comunidades são uma grande perda de tempo.

Lixo cultural e passatempos pouco construtivos em enorme quantidade

Comunidades irrelevantes, amigos virtuais que são completamente estranhos, conversas macro-abreviadas, empobrecimento do vocabulário e uma infinidade de passatempos pouco ou nada construtivos. É nesse ambiente infértil que seu irmãozinho, filho ou sobrinho vive.

As comunidades, por exemplo, de que servem? Deveriam fazer o papel de pontos para debates ou mesmo para encontro de pessoas com mesmos interesses falarem de seus prazeres. No entanto não é o que acontece nas mais famosas, como as comunidades do conhecido serviço Orkut.

Essas, disfarçadas chamariz para interação, na verdade apenas te rotulam e evita o trabalho de você mesmo escrever sobre si. Está tudo lá, mastigado. Filie-se na "Eu ainda assisto o Chaves" e encontro mais 10 duas de saudosos desocupados. Mas a interação acabou ai, vê-se o número de companheiros e ponto. Lá está a comunidade a fazer parte de outras 300 que colecionados sem menor utilidade. E se quiser incrementar seu perfil procure conhecer as muitas animações disponíveis, as firulas nos nomes feitas a base de códigos primários ou mesmo as novas formas de se escrever proparoxítonas usando duas letras e um asterisco. E eis que se formam aos montes os "tecno-alienados" quando deveriam ser mesmo os mais antenados das últimas gerações, tendo as mãos tantas possibilidades de informação.

Horas para criar um novo perfil em um novo e sensacional serviço. Horas para editar as mesmas fotos tiradas a frente do espelho com línguas a esquerda e a direita. Horas lendo recados dos recados de "amigos" próximos, depois dos amigos dos amigos e dos colegas dos amigos dos... bom, me perdi, pois são tantos cliques de perfis em perfis que depois de alguns minutos muitos já não sabem o que estavam vendo, lendo ou querendo fazer. As comunidades, no modelo em que foram criadas e da forma que estão sendo usadas, são mesmo um lixo e um desperdício de tempo!

E onde entra mesmo a era da informação?

"Quem mexe com internet

Fica bom em quase tudo

Quem tem computador

Nem precisa de estudo

Estudar pra quê?

Estudar pra quê?"

E dá-lhe "Pato Fu" no trecho acima de sua música "Estudar Pra Quê" composição de John. Estudar pra quê? Estudar pra quê? Pois é, não é bem assim, mas não sei se todos sabem. Um livro é ótimo, mas não é suficiente tê-lo na estante. É preciso saber usar o que se tem em mãos.

Sim, ela existe e paira por todo lado, ante aos conectados, antenados, aficionados, sedentos por cultura, viciados em novidades, amantes das novas vivências. Aos extremos e aos saudáveis, seja em que nível for, a informação está ai para quem quiser – mas quiser mesmo – aproveitar.

Não são todos que sabem se regrar e aproveitar toda a esfera de possibilidades e conhecimento que o momento em que estamos providencia. Novamente, ainda que em tempos de tecnologia evoluindo em larga escala, soberana é a força do individuo e suas escolhas.

O mesmo vale para a conectividade entre as pessoas em tempos de redes integradas que, ao meu ver, não deve ser rotulada como em tempos únicos de alta taxa de efetividade, nem tampouco como um momento de distanciamento entre os seres. Como já previsto pelo filosofo Pierre Lévy, a internet pode nos distanciar sim, mas a grande tendência é da aproximação. E aqui se faz protagonista novamente a conscientização de cada um sobre como usufruir dos recursos e infinitas possibilidades que a grande rede nos proporciona!

E você, tem feito sua história, aproveitado seu tempo e vivido intensamente esse momento? Ou ainda assiste com controle remoto em mãos o zapear dos seus próprios dedos sem entender o rumo que se segue?

Pense nisso. Conecte-se sim. Mas não se desligue dos seus sonhos e objetivos! Tempo é precioso, a banda já é larga, mas não é infinita!

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Reinaldo Luz Santos

www.reinaldosantos.com.br

Janeiro de 2009