A ERA DAS INFORMAÇÕES REPETIDAS

 

  1. INTRODUÇÃO

Até aqui a humanidade experienciou uma infinita produção de conhecimentos sobre infinitos aspectos do mundo, isto desde a pré-história do pensamento até às épocas contemporâneas, ao mesmo tempo que, pôde testemunhar o firmamento das ideias de diversos pensadores da vida em diversos ares do saber, sobretudo no âmbito das ciências humanas, sociais e das artes (Literatura). O Renascimento, claramente, foi o grande período da história em que estas ciências e outros campos do saber ganharam destaque e desenvolvimento, campos como a Medicina, a Literatura, a Física, a Filosofia, a História e outros mais que hoje conhecemos.

É importante ainda lembrar a hegemonia da religião no período medieval, mais especificamente a Igreja Católica, onde muitos escritos foram produzidos no campo filosófico e teológico, tendo referências como Santo Agostinho de Hipona (354-430) na Alta Idade Média do patristicismo e São Tomás de Aquino (1225-1274) na Baixa Idade Média do escolasticismo; período que também ficou conhecido como Idade das trevas devido ao apagão da cultura filósofo-científica e ascensão da religião, o que fez surgir o período renascentista para o renascimento da prática científica e filosófica na vida social.

  1. A ERA DAS INFORMAÇÕES REPETIDAS

Actualmente, a informação vem-se tornando um instrumento indispensável para qualquer organização social, uma vez que ela ajuda na tomada de decisões e resolução de conflitos. Porém, a informação situa-se em diversos campos, onde a pretensão aqui é tratá-la no campo académico-científico, ou seja, a informação como conhecimento. É importante saber que, já muito conhecimento foi produzido. A maior parte dos conhecimentos produzidos nos dias contemporâneos são, na verdade, baseadas nos conhecimentos dos tempos passados (referindo-se desde os pré-socráticos até à modernidade), o que seria uma espécie de sombras - como diria Platão - dos conhecimentos já produzidos. Daí a veiculação das informações repetidas na sociedade, ou seja, a sociedade passou a formar cidadãos repetidores de conteúdos.

As escolas têm sido seguros expoentes de repetições de informações e conhecimentos para os alunos, uma vez que, os alunos muito pouco produzem novos conhecimentos, afinal, o aluno inteligente passou a ser visto como aquele que na sua jornada acadêmica decorou as páginas do livro. Apenas poucos corajosos conseguem sair dos padrões de conhecimento que o senso comum incentivara.  

  1. A RESISTÊNCIA AO NOVO CONHECIMENTO E O MITO DA CAVERNA

O sujeito, munido pelas suas crenças e visões de mundo, passou a fechar-se para o novo. As pessoas passaram a pôr suas crenças acima das crenças dos outros, em outras palavras, o homem elevou seu ego ao ponto de, radicalmente, achar verdadeiras as suas percepções, isto em detrimento do novo pensar e do novo fazer que um outro alguém o sugere. Os sujeitos acostumaram-se a acreditar naquilo que aprenderam ao ponto de julgarem-se donos da verdade. Nascera então, nas sociedades actuais, uma tendência de se achar verdadeira a ideia, a visão ou a crença que por gerações foi pregada, mesmo que apresente claros indícios de não ser verdade.

Lembremos o mito da caverna de Platão: Imagine homens amarrados defronte ao fundo de uma caverna, cujas mãos, pernas e cabeça não podem sequer movimentar, limitando-se a olharem uma parede no fundo da caverna. Imagine, também, uma fogueira atrás destes homens. Imagine ainda que, mais atrás, está então a saída da caverna e na superfície dela existe uma estrada onde pessoas e animais circulam frequentemente, sendo que, suas sombras, graças à fogueira, são refletidas no fundo da caverna, para a contemplação dos homens amarrados. Acontece que, estes homens estiveram na caverna desde a infância e acostumaram-se a olhar para as sombras acreditando que são as únicas realidades existentes.

Ora, imagine agora que um desses homens, de tanto lutar com as cordas, consegue soltar-se e vai logo para a saída da caverna, sendo ofuscado pela luz do sol que quase o queima os olhos. Para poder acostumar-se à luz do sol, o homem olha primeiro para o reflexo do sol na água, em seguida nos objectos e aos poucos consegue olhar para o sol novamente. O mito continua dizendo que, o homem que se tinha libertado, decide então contar para seus amigos o que viu. Ora, seus amigos, acostumados com as sombras na parede do fundo da caverna e achando que aquelas sombras eram as únicas verdades, não só duvidaram do homem, como também decidiram matá-lo.

Este mito ilustra perfeitamente a sociedade de hoje; uma sociedade onde os que nela residem prenderam-se em suas crenças e passaram a descartar qualquer outra ideia contrária àquelas que lhes foi ensinado. Pode-se ainda reflectir que, a verdade, muitas vezes é difícil de aceitar, sendo que, torna-se difícil sair da zona de conforto, daquilo que já se sabe, o que motiva as pessoas a prenderem-se no conhecimento que a escola ou a sociedade como um todo a ensinou. São poucos os que usam a coragem, saem da zona de conforto e trilham o caminho que o novo conhecimento (a verdade) traça.  

  1. O INTELECTUAL NA ERA DAS REPETIÇÕES DO CONHECIMENO

Os poucos corajosos que decidem trilhar o caminho tortuoso do conhecimento são os que chamo aqui de intelectuais, que Platão chamou de filósofos. Vimos no mito da caverna a dificuldade que o homem liberto teve desde o momento que se soltara das amarras que o prendiam. No primeiro momento ele enfrentou a fogueira que projectava as sombras das pessoas e dos animais que passavam pela estrada na superfície da caverna; em seguida, a luz do sol quase que o cegou; ele teve que voltar para seus companheiros e enfrentara novamente a fogueira em chamas; e por último, ele teve que contar para seus companheiros o mundo novo que tinha descoberto fora da caverna, onde teve que enfrentar a zombaria e a violência dos seus próprios companheiros.

O intelectual então vê-se sozinho neste mundo onde as pessoas acostumaram-se a repetir as mesmas ideias tidas como as únicas verdades. Assim está o mundo hoje, as pessoas prenderam-se nos conhecimentos que aprenderam e não mais dão espaço para novas verdades. Os homens fecharam-se para o conhecimento e intitularam-se sabedores de tudo, não dando espaço para o outro poder expressar-se, sendo que, aquele que se dedicara a estudar para ensinar novos conhecimentos, é visto como inimigo, ao ponto de ser zombado e desprezado, como mostra e muito bem o mito da caverna.

E assim vamos rumo à era das informações repetidas, onde os sujeitos abriram mão da busca pelo conhecimento verdadeiro e passaram a adoptar suas crenças e percepções como verdades absolutas. A sociedade tornara-se repetidora de ideias, não dando tréguas para o novo conhecimento que muitas vezes é a verdade.

  1. CONCLUSÃO

Vê-se uma dificuldade em aceitar aquilo que o outro tem a dizer. O desconforto de sairmos da zona de conforto impede-nos de trilharmos novos caminhos que o conhecimento sugere. Aqueles que munidos de coragem decidem trilhar os caminhos do conhecimento e consequentemente da verdade, são muitas vezes zombados e desprezados sempre que vêm com um conhecimento novo. Como consequência, a sociedade tornou-se uma máquina onde os elementos que a constituem repetem as mesmas informações e consequentemente, os mesmos conhecimentos.

  1. REFERÊNCIA

Platão. (380 a.C). A República. Editora Independente, Livros VI e VII, 1-467. Recuperado de www.baixelivros.com.br/ciencias-humanas-e-sociais/filosofia/a-republica