Havia levantado o rio da Várzea o seu bramido.
O ruído das ondas chegava ao outro extremo do povoado Saltinho.
Os moradores do lugarejo estavão diante de uma enchente.
No ano anterior a falta d'agua tinha castigado-os. Agora o excesso castigava-os.
A sorja plantada nos lugares altos a enxurrada arrastara.
A plantada nos lugares baixos a água encobrira.
Neste ano, certamente, mais uma leva de pequenos agricultores ficariam sem suas terras, assim como acontecera no ano anterior devido a seca: muitos tiveram que entregar suas propriedades ao banco para pagar empréstimos contraídos, restando aos mesmos duas opções; fazer parte do ( MST), ou então bater em retirada à capital, e assim alargar ainda mais o centurão de pobreza que circunda os grandes centros.
A chuva, teimosa, persistia, vez por outra alterando sua intensidade.
Pela primeira vez não via-se, acúmulo de serragem na serraria Progresso, visto que esse pó de madeira serrada estava sendo usado para tentar aplacar o lamaçal nas entradas das casas.
No moinho Três Coqueiros, ao lado da serraria, a troca de grãos de milho por amido de milho, não era como as de outros dias, uma vez que muitos moradores estavão ilhados; impossibilitados de chegar ao povoado.
Devido ao baixo custo, a farinha de milho havia tornado-se popular em toda a região.
O pão de farinha de trigo era um luxo.
Só era feito aos finais de semana, e quando chegava visita: nos demais dias era pão de farinha de milho, e vez por outra pão misturado: amido de milho e de trigo misturados...